Ana Cássia Hennrich: De braços abertos, sempre

Apaixonada pela vida, Ana Cássia está sempre pronta para um novo desafio na carreira. Formada há 26 anos, a jornalista passou 22 ligada à RBS, onde descobriu novos dons.

Aos 48 anos, Ana Cássia Hennrich possui um currículo extenso na área do jornalismo e do marketing. Começou como produtora na extinta TV Difusora, passando pela RBS, onde também atuou na área de produção e como assessora da diretoria da empresa. Atualmente, junto com a jornalista Catia Bandeira, está à frente da assessoria da Associação do Ministério Público. Também ministra workshops e jobs sobre ética e etiqueta empresarial. Há cerca de um mês, voltou para o rádio, onde faz comentário diário sobre marketing. Mas, talvez seja o trabalho voluntário que há dois anos realiza para o Instituto de Amparo ao Excepcional Adulto (Inamex) o que mais a gratifica ultimamente.      


"Porto-alegrense apaixonada", a jornalista traz da infância, passada entre Júlio de Castilhos e a capital gaúcha, o afeto típico das pessoas que vivem no interior. Otimista sempre, para Ana Cássia não existem nem tempo nem hora ruim para encarar um novo desafio. Da doutrina espírita, traz a generosidade e a capacidade de servir ao próximo. "Acho que o servir é lindo", declara. Cita um artigo de Sthephan Kanitz para a revisa Veja, que diz: "Os brasileiros têm vergonha da palavra servir porque associam à época da escravidão". Para ela, isso é um grande engano. O segredo do sucesso? "Ir com muita vontade, estar disponível, ter entusiasmo naquilo que tu faz. Eu sou entusiasmada", afirma. 


Antes de optar pela profissão, Ana Cássia cursou dois anos de Biologia na PUC. Mesmo não sabendo, ainda, para qual dos três cursos da comunicação direcionar sua formação acadêmica, ela, jovem, pediu reingresso em 1978. "A história de estar ligada, tudo é informação, tudo é uma notícia que tu tem que passar", foi o que a levou optar pelo Jornalismo. Concluiu a faculdade em 1980, e com a formatura surgiu o primeiro emprego na área. Antes, Ana Cássia era sócia de loja de roupas.


Pronta pra mudar


Como em toda sua carreira profissional, a oportunidade do primeiro emprego veio sem sacrifício. Indicada pelo colega de faculdade Aldemar Baldissera, também recém-formado, conquistou vaga de produtora na TV Difusora. Lá, integrou a equipe do programa ?Porto Visão?, apresentado por Tânia Carvalho e coordenado por Claro Gilberto. Da época, relembra o trabalho intenso e a preocupação da família. "Eu ia de manhã muito cedo e saía muito tarde. A minha família ficava preocupada. Que tanto que tu trabalha e ganha tão pouco?". Mas, como para ela esforços nunca representaram medo, o desafio teria sido tranqüilo, se não fosse o nível de exigência do chefe Claro Gilberto. Devido à falta de experiência, muitos xingões e, por conseqüência, lágrimas rolaram. 


Três meses depois, ainda em 1980, recebeu convite do ex-professor Pedro Jacques para atuar como repórter da Rádio Gaúcha. Impulsiva, aceitou na hora. Para sua surpresa, o pedido de demissão não foi bem aceito pela TV Difusora, especialmente por Claro Gilberto, que não teve outra saída. "Cheguei na rádio não sabendo nada. Não tinha noção de como se fazia uma reportagem". Aprendeu tão bem que na nova emissora ficou por quase dois anos.


Apaixonada, e recém-casada, mais uma vez, Ana Cássia seguiu o coração e optou por sair do emprego. O desafio agora era a vida de casada em Caxias do Sul. A mudança ocorreu em razão de convite feito ao seu primeiro marido para trabalhar na cidade. Tudo pronto, lá se foram em busca de novidades.  Na nova cidade, Ana Cássia não trabalhou, "o que foi cruel. Eu ia até na Igreja". Em seguida, já grávida, voltaram para Porto Alegre, e em janeiro de 1982, com a filha Bruna de dois meses, e sem emprego, Ana foi passar o verão em Torres. Mais uma vez, o trabalho bateu à sua porta a convite de Pedro Jacques. "O que estás fazendo?" Ela, com bom humor, respondeu: "Amamentando".


Pronto. No dia seguinte, Ana Cássia já estava no consultório do pediatra de Bruna, em Porto Alegre, perguntando o que aconteceria se deixasse de amamentar a filha. Com as palavras de tranqüilidade transmitidas pelo médico, ela retornou à Rádio Gaúcha, onde assumiu o cargo de produtora do programa Atualidades, comandado por Mendes Ribeiro. "Aí, me apaixonei mais ainda pelo veículo rádio", confessa. 


Profissão: Produtora


Com larga experiência em produção, é com pesar que Ana Cássia percebe a pouca ênfase profissional dada aos produtores de veículos. A jornalista garante que bons programas e boas apresentações dependem muito dos produtores. Também é fundamental o cultivo de um bom relacionamento entre apresentador e produtor. Ela cita como exemplo o período em que trabalhou com Mendes Ribeiro, no programa Atualidades. Em razão do bom relacionamento construído entre eles, com dedicação e confiança, ela tinha autonomia para criar e, portanto, "realizar programas ótimos".


Relembra também o quanto aprendeu em seus trabalhos e o prazer de estar ao lado de profissionais como Mendes Ribeiro e Flávio Alcaraz. "Eles eram pessoas muito loucas, mas muito profissionais. Eram caras que viviam a profissão. Eu, como mais jovem, bebia daquela fonte e não queria nem voltar pra casa", fala entusiasmada. Por tudo, Ana Cássia deixa um recado aos estudantes: "Se tiveres a oportunidade de atuar como produtor, exerça. Porque, além de ser espetacular e apaixonante, te dará pique para trabalhos futuros".


Foi na RBS?


A entrada para o mundo executivo foi em 1987, quando recebeu convite do então diretor Institucional da RBS, Roberto Eduardo Xavier, para integrar a equipe da assessoria da direção. "Foi aí que eu passei para a parte mais executiva da empresa". Nessa época, surgiu o interesse pela área de assessoria de comunicação, e durante o longo período no cargo teve a oportunidade de trabalhar com executivos como Jayme, Nelson e Pedro Sirotsky, Marcos Dvoskin, Fernando Ernesto Correa e Carlos Melzer.


Em 1995, ano de lançamento da TV COM, Ana Cássia já com saudade da produção, recebeu convite de Walmor Bergesch, vice-presidente de mídia da RBS, para criar o programa ?Marketing e Negócio?, área que passou a dominar em razão do trabalho junto à direção da emissora. Heitor Kramer, responsável pelo departamento de Marketing, foi seu parceiro na criação e execução da nova atração. A resposta positiva do público fez com que a versão para a rádio CNN fosse planejada. Atualmente, o programa se transformou no ?Multimídia?, que ano passado completou 10 anos junto com a emissora.


A necessidade de inovar fez com que a jornalista participasse da criação de outro programa de rádio, baseado no tradicional ?Sala de Redação?. Foi o ?Sala de Reação?, que iniciou sua transmissão em 1996 e permaneceu no ar cerca de sete anos. A idéia era que as discussões sobre temas variados fossem comandadas por mulheres, que recebiam um convidado que se juntava às comentaristas. "Se não fosse um cara muito esperto, ele não achava vez de falar, porque ali ninguém dava passagem", brinca. 


Novos horizontes


No fim dos anos 90, a convite de seu ex-professor Sérgio Brito, integrou a equipe de professores da Famecos. Permaneceu na universidade por dois anos, e a decisão de se afastar do corpo de professores da PUC se deu devido à dificuldade de conciliar as aulas com suas viagens pela RBS. "Meu lado certinho me deixava preocupada pensando quem daria aula na minha ausência", fala, se referindo à característica herdada do signo de virgem.


Há cerca de dois anos, Ana Cássia desligou-se da assessoria da direção da RBS, ficando apenas com os programas ?Multimídia? e o ?Sala de Reação?. Neste mesmo período recebeu convite para realizar um trabalho de três meses na agência Competence. E como "o desafio proposto por João Satt era muito interessante, mesmo que fosse apenas três meses", Ana Cássia aceitou a proposta, e por questões éticas, afastou-se, de vez, da RBS. Passados dois dias do fim do trabalho, Ana foi convidada para montar a nova estrutura de comunicação da Associação do Ministério Público, na qual atua até hoje. E desde o início de julho, a convite de Leonardo Meneghetti, diretor-geral da Band RS, realiza comentário diário sobre marketing e negócios, dentro do programa Band News Porto Alegre, comandado por Felipe Vieira e Diego Casagrande. 


Dar e receber


De fácil relacionamento, bem humorada, afetuosa e otimista, Ana Cássia prefere não pontuar suas qualidades. "Acho que isso cabe a quem convive comigo", ri. Mas admite que é ótima em executar tarefas. Sem relutância, destaca a teimosia como defeito. "Tento impor uma idéia que acho que valha a pena", confessa, mas admite que também sabe ouvir, "depois de muito resistir".


Hoje, com mais disponibilidade, reserva parte de seu tempo para o Instituto de Amparo ao Excepcional Adulto (Inamex). "Acho que temos que nos doar e fazer isso me deixa feliz". O trabalho desenvolvido por Ana Cássia para a entidade também está ligado ao marketing, mas o que mais lhe traz satisfação são os passeios que realiza com o grupo. Fica revoltada ao observar as reações das pessoas em relação ao grupo. "Minhas pequenas grandes crianças fogem do padrão social e a sociedade não tolera diferenças."  


Leitura, cinema e caminhadas são atividades que realiza nas horas livres. Eclética em relação à leitura, gosta de temas que vão do esoterismo ao marketing. Revistas também estão entre suas preferências. "Sou uma revisteira. Vai de Caras a Veja". Cinema e caminhadas pelo bairro Moinhos de Vento são programas que faz junto ao marido, o advogado Marco Antônio Campos.


Criativa também em sua vida pessoal, Ana Cássia organizou uma confraria em torno de sua bebida predileta, o espumante. "Quando completei 40 anos, reuni 40 amigas para fundar a Confraria do Champagne Cristal de Porto Alegre". Além de degustar a bebida, as confrades se reúnem em torno de especialista que aborda assuntos relacionados ao espumante. O evento tem até slogan: "Para quem já experimentou de tudo e agora só quer o melhor".


Paixão infantil


"Ele é igual a vinho. Quanto mais o tempo passa, melhor ele fica" é a frase que define sua paixão antiga pelo rei Roberto Carlos. Em janeiro passado, teve o prazer de participar de um cruzeiro, que teve três shows do cantor. Não contente em estar lá, e assistir a uma noite do espetáculo, Ana Cássia se passou por assistente de Fernanda Zaffari, jornalista que cobria o evento para o jornal Zero Hora, a fim de ter garantidas outras duas noites de êxtase. O amor é antigo. Começou ainda na adolescência, quando a música de Roberto embalava as reuniões dançantes na cidade de Júlio de Castilhos.


A filosofia de vida que tenta passar para sua filha Bruna, hoje com 24 anos, é viver intensamente, não deixando as oportunidades passar. "Eu agarrei minha vida com unhas e dentes, e o faço o melhor que posso". 

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