Antônio Bavaresco Junior: Colecionador de viagens

Formado pela Famecos em 1986, Antônio Bavaresco é coordenador de Comunicação do Gabinete do prefeito, José Fortunati


Por Cinthia Dias
No segundo andar do Paço Municipal, localizado na Praça Montevidéu, no Centro de Porto Alegre, Antônio Bavaresco Junior se encaminha para um espaço ao ar livre, cheio de bancos de madeira, dentro do prédio antigo. "Vou morrer e aquilo vai ficar eternizado", recorda, sentado e olhando para o céu de Brigadeiro, o tempo em que foi setorista do Grêmio e do Internacional nos jornais Correio do Povo, em 1988, e, um ano depois, em Zero Hora. A oportunidade de acompanhar e escrever sobre futebol foi a realização de um sonho de infância: ser cronista esportivo. "Tenho muito orgulho do que fiz", completa com um sorriso largo.
Ainda que o Jornalismo sempre fosse sua vontade, a escolha foi deixada de lado por birra. Como a irmã mais velha, Selma, entrou para a Faculdade de Comunicação Social da PUC antes dele, Bavaresco acabou optando por prestar concurso para Geologia, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1980. "Pensei: não vou ser jornalista, ela vai ser antes", conta, caçoando da infantilidade da época. Mesmo aprovado na instituição pública, resolveu cursar Letras na PUC, pois já tinha o técnico de Tradutor Intérprete. Dois anos depois, insatisfeito, conversou com um amigo, que lhe aconselhou a trocar. Sem sucesso no processo de transferência, se inscreveu no vestibular de inverno na mesma universidade e passou para Jornalismo. "Acabou, por ironia, que minha irmã exerceu a profissão por pouco tempo", pontuou, e acrescentou que, além dela, tem uma irmã mais nova, Salete, que é socióloga.
Durante a carreira, além dos aprendizados, o profissional firmou relações de amizade que perduram até hoje. Dos vínculos que constituiu ao longo dos 30 anos de profissão, recordou, com carinho, de Flávio Dutra, José Vieira da Cunha e Nobrinho. "São referências para mim por diferentes motivos, como profissionais, amigos e pessoas", diz. Embora tenha citado apenas três, Bavaresco se reúne com 10 colegas da época da TVE, grupo ao qual chama de Confraria, para matar a saudade dos tempos da emissora pública.
Pai e esposo
Superfamília, o jornalista é casado com a publicitária Vera Bavaresco, que é gerente Comercial da Rádio Farroupilha. O casal se conheceu ainda durante a faculdade, como ele mesmo explica, por acaso. Namoraram por quatro anos e, em 21 de outubro de 1989, se casaram. O matrimônio resultou no nascimento de Mariana, 20 anos, e de Gabriela, 12. O gosto entre elas é bem diferente: enquanto a filha mais velha cursa Jornalismo, a mais nova sonha em ser médica. A respeito das decisões profissionais da Mari e da Gabi, como ele as chama carinhosamente, contou que nem ele nem a esposa influenciam.
Ainda que não consigam ficar reunidos muitas horas por dia em função das atividades de cada um, o grupo familiar compensa nas refeições noturnas. O segredo de Bavaresco é atrasar a janta para estar com as três mulheres de sua vida. "Sempre que posso faço isso. Somos muito unidos", afirma e garante que a convivência entre eles é maravilhosa. Apaixonado por elas, é capaz de não se importar em ser voto vencido na escolha de ter ou não um novo mascote pela casa. Como aconteceu em fevereiro deste ano, quando Zeus, um filhote vira-lata, entrou para a família.
Além das refeições, viajar é outra chance para reunir os quatro. Para ele, conhecer outras localidades e pontos turísticos é uma terapia, e agradece a Deus a oportunidade que tem de poder proporcionar isso às filhas. "Quando tu viajas, tu te tornas um personagem de ti mesmo", reflete, ao reconhecer que conseguiu passar o hábito às herdeiras.
30 anos de profissão
Aos 53 anos, teve passagens pela Rádio Sucesso, jornais Correio do Povo e Zero Hora, TVE e Sogipa. Além disso, consolidou sua carreira no setor público como assessor de imprensa em campanhas eleitorais e em órgãos públicos, como na Fundação Gaúcha do Trabalho e na Secretaria Municipal de Urbanismo. Dentre todas as experiências, evidencia a atuação com televisão, especificamente como repórter e editor na RBS TV, entre 1999 e 2002. Das reportagens e coberturas, destaca a Copa América do Grêmio, a saída de Ronaldinho do tricolor gaúcho e a viagem à África para acompanhar um torneio de punhobol.
A campanha, em 2012, do atual prefeito José Fortunati foi outra oportunidade que salienta devido à sintonia com a equipe de trabalho. O resultado da dedicação nessa atividade rendeu uma vaga, em 2013, no quadro de assessores diretos de Fortunati. Um ano depois, assumiu a coordenação de Comunicação do Gabinete do prefeito, cargo que ocupa até hoje - a função é desempenhada ao lado de mais três jornalistas. "Fui e sou muito feliz aqui. Vou sentir falta desse período, com certeza", afirma, orgulhoso.
Horas extras no relógio
Ainda que não tenha muito tempo livre, sempre que pode, acorda cedo e corre seis quilômetros na orla do Guaíba. A prática de exercícios precisa ser feita perto do rio devido à forte identificação que tem com a natureza. A admiração pelo cenário silencioso e sem tanto movimento quanto o Centro o motivou a se estabelecer na Zona Sul com a família.
Como todo bom jornalista, o gosto por livros é grande. De todas as obras que passaram por suas mãos, as que mais prenderam sua atenção foram as histórias da Idade Média. Dentre elas, destaca a trilogia do escritor gaúcho Sérgio Galino, que mistura ficção com realidade ao narrar a biografia da primeira mulher alfabetizada da Europa. Também é fã das publicações de Dan Brown em função das referências turísticas do autor. "Fantástico quando tu já foste ao lugar e lê sobre ele", justifica, e conta que seu livro predileto é "Símbolo Perdido". A paixão pela Literatura é a mesma que sente por filmes. "Acho fascinante quem consegue colocar as ideias no papel e mais ainda quem tira dele e transforma em imagem", exalta.
Se a idade o fez ficar desencanado quando o assunto é música, a Mari veio para recordar a importância das canções à vida. "Ela é uma enciclopédia ambulante", disse. Referência musical para o pai, a estudante de Jornalismo é quem mantém a família informada sobre as novidades a respeito dos mais variados estilos. Além das aulas da filha, entre um noticiário e outro, se dedica aos seriados, que assiste ao lado da esposa ou mesmo sozinho. Das séries, suas duas favoritas são House of Cards e Game of Thrones.
Réu confesso
Há 30 anos sócio da Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos (Aceg), conta que, recentemente, se assumiu gremista. Está errado quem pensa que o motivo está ligado à vergonha pelo time, devido à má fase que o tricolor vem enfrentando nos últimos anos. Desde que começou a trabalhar diretamente com futebol, nunca mais teve uma camiseta da dupla GreNal. A decisão foi tomada para evitar que fosse mal-interpretado pelos seus leitores. "Me sentia frustrado. Todo mundo dizia que ia no estádio e eu ali na frente da TV assistindo pelo Pay-Per-View", explica, e garante que, hoje, perde poucas partidas do Grêmio. Mesmo assim, o placar é sempre 3×1 na residência dos Bavaresco. "Toco flauta no Twitter, mas em casa não, porque gera briga. Faço piada da minha própria desgraça, mas elas não", pondera o torcedor tricolor.
Também confessa ser colecionador de objetos da Coca-Cola. Sem imaginar que se tornaria um hobby, a coleção começou com a compra de um jukebox durante sua viagem aos Estados Unidos, em 2001. Em outras ocasiões, como na Alemanha e na Croácia, comprou garrafas por achar bonitas. "O que ocupava um espaço pequeno ao lado da cama, hoje é uma estante na cozinha com mais de 200 objetos", afirma, e caracteriza: "Sei que é muito estranho e bizarro".
Além disso, revelou que o futuro é incerto e que não sabe o que estará fazendo daqui a 10 anos. Acostumado com as reviravoltas políticas, comentou que possui alguns projetos, mas que, por enquanto, não os abrirá. Fascinado por arrumar as malas e conhecer lugares novos, deseja reativar o blog sobre viagens. Em contrapartida às inseguranças profissionais, a única certeza que carrega é a de que precisa fazer piadas e brincadeiras com as pessoas. Segundo ele, isso é reflexo da necessidade que tem em tornar a vida mais leve.

Comentários