Ari Teixeira: Do esporte à política

Jornalista fala de suas experiências como editor e assessor de imprensa e autointitula-se um "faz-tudo" do jornalismo

Como assessor de imprensa, ele já está em seu quarto governo. Como repórter, acumula passagens pelas extintas Folha da Manhã e Folha da Tarde e pelo jornal Zero Hora. Definindo-se o 'faz-tudo' do jornalismo, Ari da Silva Teixeira admite que foi parar na editoria de esportes totalmente por acaso, que escrever sobre agricultura foi a realização de um sonho, e que o jornalismo político o conquistou. São 36 anos de experiência, 18 em redações e mais 18 em assessoria de imprensa. "Sempre fui o cara que carrega o piano. Não tem ruim para mim", diz, referindo-se à profissão.

Natural de Porto Alegre, o filho mais velho de Ary (falecido) e Hedy tem o hábito da escrita desde a infância. As brincadeiras com os amigos e o irmão Nei pelas ruas do bairro Menino Deus sempre acabavam descritas em seus "relatórios", produzidos quando chegava da rua.

Aos 14 anos escreveu sua primeira crônica, que acabou transformando em um trabalho de escola. A professora elogiou o menino para a mãe, que disparou no ato: "Meu filho, você tem que ser escritor". Mas ele não queria. Tinha o desejo de trabalhar com agricultura, influência do tempo em que a família morou em Rio Pardo. O clã mudou-se para o Interior em função do trabalho do pai, bancário. "Vivi anos muito felizes em Rio Pardo", recorda Ari, que, por influência daquela época, mora em um sítio em Eldorado do Sul.

A paixão por assuntos da terra levou Ari a prestar vestibular para Agronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). A faculdade, porém, não chegou a ser cursada: já havia sido picado pela mosca azul do jornalismo. A decisão foi tomada quando trabalhou com seu tio Jayme na cobertura das eleições, antecipando a votação. "Eu integrava um grupo que ia ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) apurar a contagem de votos. Me sentia um repórter. Aquilo me conquistou", conta.

Assim, a Faculdade dos Meios de Comunicação (Famecos) da PUC foi o alvo do recém-formado no Clássico, hoje Ensino Médio. "Quando eu coloquei o pé na Famecos, minha vida mudou", brinca, reconhecendo a afinidade que teve com o curso. O pai, quando soube da opção do filho, ficou triste. "Ele dizia que eu morreria de fome. Foi muito realista comigo, mas nunca me proibiu", relembra Ari.
Gremista disfarçado

A escrita divide espaço com a música em sua vida. Na adolescência, chegou a tocar com o amigo e também jornalista Juarez Malta. Mas a banda não durou muito tempo. Ari precisou deixar a paixão pela música um pouco de lado para dedicar-se à faculdade de jornalismo e ao trabalho no banco, que o pai arrumou para ele. "Meu pai me viu soltinho, só escrevendo poesia e tocando na banda de rock com meus amigos e tratou de achar algo para eu fazer." Mais tarde, integraria também Couro, Cordas e Cantos , com o atual secretário de Turismo de Porto Alegre, Luiz Fernando Moraes, outro jornalista.

As atividades bancárias, porém, só serviram para pagar os boletos da Famecos. "Detestei trabalhar em banco", confessa, admitindo que desempenhava melhor a função de atendimento aos clientes. "Gostava de conversar com as pessoas e ajudava a resolver os problemas delas", lembra. 

Pelo terceiro ano de faculdade, o colega de aula Danilo Miralles, mais conhecido com Makako entre os amigos (falecido), avisou que havia uma vaga na editoria de esportes na extinta Folha da Manhã. "Eu não era muito interessado em esporte, não, mas aceitei porque era uma chance de começar", diz. Lá iniciou como estagiário e, em três meses, foi efetivado. 

Apesar de ser gremista, Ari sempre trabalhou como setorista do Internacional. "Era engraçado porque eu comecei a torcer pelo Inter e as pessoas acreditavam que eu era colorado mesmo", recorda. E foi assim que o rapaz, sempre meio desajeitado para jogar futebol com os amigos, tornou-se um craque em cobertura futebolística. "Aprendi que um bom jornalista consegue escrever sobre tudo." Quando a Folha da Manhã fechou, Ari e alguns colegas de trabalho migraram para a Folha da Tarde. Sua demissão ocorreu quando, para apoiar alguns colegas, resolveu aderir à greve proposta em função do atraso nos salários.
Jornalismo político

Indicado pelo jornalista César Krob, que já atuava na área social, Ari foi trabalhar na assessoria de imprensa do clube Sogipa. "Como assessor, aprendi que o mais importante é não deixar de ser jornalista nunca", comenta. Segundo ele, aos poucos, conseguiu entender o formato de texto que cada veículo precisava. "A experiência adquirida nas redações facilitou muito", admite.

Quando voltou a atuar em redações, desta vez no jornal Zero Hora, passou a se relacionar de uma maneira diferente com os assessores de imprensa. "Busquei valorizar o trabalho destes profissionais, que, muitas vezes, não são reconhecidos pelos diretores das empresas que representam", acredita Arizinho, apelido carinhoso como é tratado pelos amigos - parte em função da baixa estatura, parte devido certamente ao modo gentil e atencioso com que se relaciona.

E foi em ZH que acabou entrando em contato com sua antiga paixão: a agricultura. Lá, trabalhou como repórter do caderno Campo e Lavoura. Quando cobria férias de um colega na Rádio Gaúcha, acabou entrevistando o então secretário de Agricultura do Estado, Carlos Cardinal, que o convidou para assumir a assessoria de imprensa da Secretaria.

Ao fim do governo de Alceu Collares, recebeu o convite para trabalhar na assessoria de imprensa do governo de Antônio Britto. "A política me abriu outro universo", assegura hoje. Como já não conseguia mais sair do meio, ao fim do mandato foi para a Assembleia Legislativa e ainda teria a passagem pelo governo de Germano Rigotto. Atualmente, integra a equipe de assessoria da governadora Yeda Crusius. É responsável pela Editoria de Interior. "Todo o meu esforço enquanto assessor é deixar o assessorado a par do que está acontecendo."
Cozinheiro oficial

Quando não está trabalhando, Ari entrega-se à arte da culinária. O jornalista cumpre o ritual, toda a sexta-feira, de ir ao mercado comprar os temperos e condimentos que vai usar para cozinhar no fim de semana. Os amigos já o recebem em casa com o avental na mão. "Virei o cozinheiro oficial da turma", comenta. Sua especialidade é uma receita de frango à moda indiana, acompanhado de arroz com leite de coco.

Outro de seus lazeres é alimentar o blog www.concriar.blogspot.com, que mantém com crônicas e textos sobre o cotidiano. O cotidiano também é tema de sua coluna semanal no jornal Alto do Taquari, que circula em Taquari e Arroio do Meio. Por causa da coluna, conheceu sua terceira esposa. A jornalista Magali Beckman era responsável por receber o texto de Ari toda a semana. O contato inicial foi por telefone, até o dia em que ela veio à Capital para um curso e os dois acabaram se conhecendo.

"Nossa relação é muito boa, não sinto a diferença de idade", diz, referindo-se aos 23 anos que os distanciam. "Jurei a minha vida inteira que não iria namorar mulher mais nova, mas acabou acontecendo. Fora o fato de que o namoro quase acabou porque ela detestava Beatles, estamos juntos e felizes há dois anos". Em sua terceira união, Ari é pai do fisioterapeuta Tiago, 30 anos, da nutricionista Lísia, 27; e de Tarik, 14. Se considera o pai do diálogo e busca ser parceiro dos filhos.

Como metas para os próximos anos pretende continuar trabalhando com assessoria de imprensa e, talvez, cursar mestrado. "Acho que eu seria um bom professor". Se recebesse um convite para voltar às redações, porém, assume que ficaria tentado a aceitar. "O jornalismo é o meu ofício, quero exercê-lo por mais uns 15 anos ainda." Em seus planos também inclui uma viagem a Portugal e a publicação de um livro. "Me dei um prazo de dois anos para começar a escrever algo", revela. A obra, segundo ele, seria uma novela ou um romance. "Quando eu começo a escrever, o texto aflora. De repente, sai alguma coisa. Por que não tentar?."

Feliz com suas conquistas, orgulha-se em dizer que o elogio mais recorrente em seus 36 anos como jornalista é de que ele é um profissional ético. Mas arrepende-se de ter desistido de um trabalho no Jornal do Brasil, no início da carreira, porque o editor mexia muito em suas matérias. Por isso, hoje sua filosofia de vida é não fugir do conflito. "Eu tento superar os desafios. Cada dia tem uma dificuldade nova para eu vencer e é isso que me mantém vivo."
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