Beto Callage: As Faces de Beto

O ano era 1975. Aos 21 anos, o jovem Roberto Callage ainda não tinha certeza da profissão que queria abraçar para a vida inteira. …


O ano era 1975. Aos 21 anos, o jovem Roberto Callage ainda não tinha certeza da profissão que queria abraçar para a vida inteira. Mas sabia que sua vinda ao mundo tinha alguma relação ao processo criativo. "Eu gostava de jornalismo, mas não era jornalista; gostava de teatro, mas não queria trabalhar em teatro; gostava de música, mas não era músico; gostava de cinema, mas não queria fazer filmes". A tendência multimídia acabou levando-o para a publicidade, onde finalmente conseguiu conciliar seus interesses. "Na propaganda, a gente acaba aprendendo a ser um pouquinho de cada coisa, e a possibilidade de experimentar essas várias linguagens sempre me fascinou". Enquanto cursava Publicidade e Propaganda na Famecos, começou a estagiar na redação de uma agência que estava surgindo na época, chamada Raul Moreau Propaganda. Em seguida, surgiu uma oportunidade na agência Caio, do Rio de Janeiro, onde trabalhou com o gaúcho José Montserrat Filho, que considera um modelo na sua trajetória. "Ele é um dos mais brilhantes profissionais da propaganda brasileira e foi uma referência fundamental na minha formação". Passados dois anos, Beto voltou para Porto Alegre e, a partir de então, não parou mais. Ficou tão envolvido com a profissão que nem chegou a concluir a faculdade.
BETO - O MULTIMÍDIA
Ele gosta de descobrir novidades, experimentar coisas. "Eu me divirto trabalhando. A criação se alimenta muito das minhas experiências de lazer, pegando um cinema, lendo, ouvindo música, indo a um lugar diferente, visitando uma exposição de arte, conversando com amigos ou tomando um chope em algum bar". Essencialmente caseiro, Beto reserva os momentos de folga para ouvir música, ler ou assistir a um dos vídeos de sua coleção. Tem preferência pelo jazz vocal e pelos musicais de Hollywood dos anos 40, uma época maravilhosa que, segundo ele "unia música, dança e arte com uma elegância que o cinema nunca mais teve". É um leitor voraz de jornais - principalmente os cadernos de variedades - e tem um grande interesse pela literatura musical e comportamental. Um de seus autores favoritos é o inglês Alain de Botton, estudioso da filosofia do comportamento humano, que escreveu 'Como Proust pode mudar a sua vida', um ensaio sem grandes erudições sobre a relação da obra de Marcel Proust com as atitudes humanas. Além das atividades na agência e do lazer cultural em sua casa, Beto apresenta um programa na Rádio 102 FM, aos domingos às 19h. Em ?Cult?, ele põe no ar seleções de música contemporânea e jazz, garimpadas em sua própria discoteca. "Não tenho uma separação definida entre o trabalho e o lazer, gosto muito do que eu faço, e conviver com isso tudo acaba abastecendo também o meu trabalho", revela Beto.
BETO - O CIDADÃO
Beto Callage é um porto-alegrense nato. Nunca pensou em se mudar para outra cidade, sempre quis permanecer perto da família e dos velhos amigos, companhias que preza muito. "Porto Alegre é uma cidade na medida certa, tem algumas características que as metrópoles perderam, como a tranqüilidade e a convivência entre as pessoas, e ao mesmo tempo tem tudo o que uma cidade grande precisa ter. É adorável para viver". Morador do bairro Petrópolis, Beto Callage, 47, é casado há 18 anos com a ilustradora Bebel, e tem um filho de 23 - Márcio, do seu primeiro casamento. Aprecia as culinárias japonesa e italiana e é um churrasqueiro de mão cheia, daqueles que fazem questão de reunir a família e os amigos aos domingos na beira da churrasqueira. Gremista fanático, vai ao estádio, torce, sofre pelo seu time. Até bate uma bolinha de vez em quando; tentou aprender a jogar tênis, mas disse que "depois de velho" ficou difícil, optando por permanecer com as caminhadas na praça da Encol em companhia da esposa. Também gosta muito de viajar. Florianópolis, seu refúgio, tem tudo o que ele precisa quando quer descansar. No exterior, se identifica muito com o modo de convivência e o jeitão despachado dos italianos. E Londres - a capital multimídia da Europa - é a sua cara. "Estou sempre motivado a ir para lá, é um lugar que reúne música, arte, civilização e um banho de cultura".
BETO - O EMPRESÁRIO
A condição de diretor de uma grande agência como a DCS não impediu que continuasse sendo - antes de mais nada - um operário, que gosta de criar, acompanhar filmagens, discutir roteiros, participar de reuniões de trabalho. "Este é meu trabalho, eu não tenho um cargo puramente administrativo ou de coordenador". Beto faz questão de estar 'do lado de dentro' do trabalho, buscando soluções e vencendo obstáculos. E é justamente este espírito que faz com que seja contra a chamada 'propaganda fantasma'. Para ele, o mercado brasileiro ficou muito fascinado pela premiação e anda produzindo uma propaganda paralela, só para ganhar prêmios. "A premiação é muito importante em qualquer atividade, mas quando ela se transforma em um fim em si mesmo, a propaganda fica totalmente desvinculada de sua função, que é promover resultados para os clientes através do prestígio das marcas". "A Inglaterra faz a melhor propaganda do mundo e lá ninguém dá bola para medalhas e troféus", completa. Mas, mesmo com a desvantagem econômica, o Brasil não ficou para trás: "Produzimos uma propaganda de alta qualidade, com alto profissionalismo e muito competitiva em termos criativos. O brasileiro em geral é bem-humorado, conta piada e ri de si mesmo, produzindo uma comunicação criativa que é o retrato do povo". No seu dia-a-dia de empresário, Beto procura fazer com que predomine a filosofia de vida humanista, com amizade, solidariedade e afetividade. Admite que tem dificuldade em ser mais competitivo, mas não considera isso um defeito. "Eu não costumo fazer pose de publicitário, gosto das coisas simples, dos meus amigos, da minha família, dos meus colegas de trabalho e do meu sócio - Antônio D´Alessandro -, que é também um grande amigo. Tenho a grande felicidade de ter um amigo-sócio e um sócio-amigo, o que foi fundamental para que nós construíssemos e mantivéssemos o nosso trabalho com o fortalecimento da amizade. São valores que eu defendo muito e exerço naturalmente na minha vida".

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