Carla Fachim: Espontaneidade contagiante

Apresentadora do RBS Notícias, Carla Fachim diz que o jornalismo a escolheu

Carla Fachim | Crédito: Fabricio Barreto
Antes de começar sua caminhada no jornalismo, a filha de Vera Lucia e Paulo Afonso foi prenda, rainha de Carnaval e cursou Letras. Na adolescência, vivida em São Sepé, no interior do Estado, festeira como era, estava sempre mobilizando os jovens para eventos do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) e, para isso, contava com o apoio dos jornais locais na divulgação. Por conta destas atividades, a jovem Carla Fachim vivia circulando nas redações. "Era uma cidade pequena e eu sempre fui envolvida, estava sempre na vitrine", diz.
Curiosa e apaixonada por jornal impresso desde cedo, aos 16 anos foi convidada por Luiz Carlos Garcia, um jornalista respeitado da região, para ser colunista social de um jornal que ele acabara de criar. Aceitou o convite na hora e se divertiu bastante atrás de fotos e informações para escrever os textos. Quando concluiu o ensino médio, em 1992, foi para Santa Maria realizar um curso preparatório para o vestibular e ingressou na Universidade Federal de Santa Maria, no curso de Letras, com habilitação em inglês.
Um ano e meio de graduação bastou para mostrar a Carla que não estava no lugar certo: decidiu regressar ao curso preparatório e iniciar a graduação de Jornalismo, desta vez na Universidade de Cruz Alta (Unicruz), em 1996. O curso era novidade e, por conta disso, a instituição estabeleceu uma parceria com a RBS Cruz Alta, para os alunos terem contato com a redação da TV. Testada, Carla foi aprovada para o estágio na RBS TV. "O jornalismo me escolheu. A TV me escolheu. Eu não escolhi, eu não tive tempo? as coisas foram acontecendo", acredita.

O acaso que deu certo


Acaso, destino, coincidências? Carla não sabe dizer exatamente o que a levou para o jornalismo e, principalmente, para a TV, mas diz que tudo aconteceu naturalmente. "A TV é o meu primeiro e único emprego, eu só sei fazer RBS. As oportunidades foram surgindo e eu fui indo. Foi uma coisa muito natural, muito suave, muito tranquila", explica. Assim, entrou na RBS com apenas um mês de faculdade, mas ali, na prática, aprendeu muito e viveu novas e gratificantes experiências. O resultado é que, no meio daquele 1996, passou a apresentar o Jornal do Almoço em Cruz Alta.
Quando fechou seis anos de RBS Cruz Alta, surgiu a primeira oportunidade para transferir-se para a Capital. Carla preferiu ficar no interior, "por questões pessoais", e passou a ser coordenadora de Jornalismo na TV. Em 2005, o coordenador da rede regional na época, Silvio Barbizan, foi a Cruz Alta, e desta vez foi Carla quem se apresentou para mudar de ares. "Eu tinha sonhos de ir pra Floripa, mas a colona de São Sepé não teve coragem de pedir pra ir pra lá. Tinha medo de ficar muito longe dos meus pais."
Veio para Porto Alegre em outubro de 2005 e, durante cerca de dois anos, atuou como repórter, até que começou a cobrir folgas de apresentadores, atuar em plantões nos finais de semana e até a cobrir férias em São Paulo. "A experiência foi decisiva pra eu não querer sair de Porto Alegre e ir pra lá. Porto Alegre já me satisfaz em todos os aspectos", afirma, com convicção. Em certo momento passou a acumular apresentações com reportagens, mas a carga horária não fechava. Carla diz que gostava de ambas as funções, "como se fossem irmãs gêmeas", mas a trilha profissional acabou privilegiando a atuação como apresentadora de telejornal.
Como substituta, passou por todos os programas da RBS TV. "Cada um tem um estilo, talvez isso tenha me ajudado bastante. Foi uma escola e tanto", ressalta. Gostou de ser fixada como apresentadora oficial do Bom Dia Rio Grande: "Tive uma bancada pra chamar de minha". Ficou quatro anos ali, madrugando de segunda a sexta, até que em dezembro do ano passado um remanejo na emissora levou-a para a banca do principal telejornal da emissora, o RBS Notícias. "O momento em que a RBS me oportunizou ser apresentadora oficial foi um momento de muita satisfação profissional. O Bom Dia foi espetacular, foi uma escola, e agora estou vivendo outro momento que muito me orgulha, que é sentar ao lado do Elói Zorzetto, que é uma referência, é um ícone do jornalismo gaúcho. Todos os dias eu aprendo muito com ele", relata.

Desafios e inspirações


Com uma trajetória dessas, não faltam episódios inusitados na vida da repórter e apresentadora. A primeira vez que apresentou o Bom Dia Rio Grande foi um mico. A equipe estava em escala de plantão, com integrantes que não estavam acostumados a produzir o programa - a começar por ela. A colega escalada pra editar o Bom Dia acabou colocando como primeira notícia do roteiro a cópia do relatório da noite anterior. Carla começou o programa ao vivo: "Bom dia! O domingo foi fraco de factual, mas eu fiz umas notinhas". Percebida a gafe, engoliu em seco e chamou a primeira reportagem. "Foi um jornal ?meio punk?", recorda ela. "Eu li a primeira frase de um relatório na minha estreia!"
Quer outra? Em 2009, quando estava como repórter na Expointer, mostrava ao vivo alguns grandes campeões da feira, quando, de repente, uma ovelha começa a caminhar e pisa no seu pé. Carla teve que engolir a dor e seguir tocando a reportagem como se nada tivesse acontecido. Nenhum telespectador ficou sabendo que passou o verão de 2009 sem a unha do dedão do pé por conta do machucado.
Incidentes à parte, Carla entende que a profissão como um todo é muito desafiante. "O desafio maior é transmitir a notícia certa e ele é diário", comenta. A preocupação com a informação correta a acompanha desde sempre, convencida de que "o poder da informação, da palavra e da credibilidade são diretamente ligados à confiança que as pessoas depositam nos jornalistas". "A gente muda vidas, a gente movimenta, fala de pessoas e para pessoas, a gente muda o rumo das coisas, muda a rotina das pessoas", completa.

Realização plena


Em uma das temporadas em São Paulo para cobrir férias, estava no aeroporto esperando o voo de regresso a Porto Alegre quando conheceu aquele que viria a ser seu marido. Era a época do caos aéreo, em 2007, e todos os voos estavam atrasados. Christian puxou assunto e a conversa aconteceu. Estão casados desde julho de 2013 e há nove meses nasceu o filho Lorenzo. Desde então, Carla se considera outra pessoa, "a pessoa mais realizada da face da Terra. Só gostaria de agradecer a Deus pelas graças que recebo todos os dias".
Tanta alegria se explica porque, antes de Lorenzo, Carla e Christian enfrentaram problemas para engravidar. Hoje conta que o pequeno foi "chocado", pois evitou todos os esforços durante a gestação para que tudo corresse bem. A mudança de horário no trabalho beneficiou a proximidade com o filho: "Fazendo o Bom Dia eu só podia dar bom dia pra ele aos domingos e a cada 15 dias aos sábados, quando eu estava de folga. Agora não, eu acordo todos os dias com ele, passo as manhãs com ele".
Nestes dias de folga gosta de estar com a família e diz que qualquer programa, em qualquer lugar, "é maravilhoso". Quando tem tempo livre gosta de correr, ouvir música e assistir a filmes. Ir ao cinema é seu passeio preferido. Quanto às leituras, admite que desde o nascimento de Lorenzo tem dedicado tempo integral aos livros que falam sobre bebês e criação dos filhos. No momento, está debruçada sobre o best-seller internacional "Criando Meninos", de Steve Biddulph, o sétimo que lê sobre o assunto.
A jovem mamãe adora rock brasileiro, é gremista e, entre todas as opções da gastronomia, opta pelo sushi. Não gosta de novela e garante que não assiste BBB, mas não condena quem aprecia. Prefere passar seu tempo assistindo clipes de músicas ou um filme de qualquer gênero, desde que não seja de terror. O maior aprendizado dos últimos tempos veio através do conselho de uma amiga, Denise Maia, que disse para Carla administrar seu perfeccionismo e aprender a aceitar as imperfeições das pessoas - caso contrário, acabaria sozinha. "E eu agradeço muito a ela, porque desde então eu faço um exercício de autocontrole. Eu prefiro casa bagunçada e cheia do que casa organizada e vazia. É o que enche a vida."

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