Catia Bandeira: Simplicidade e brilho no olho

Sócia-diretora da BH Comunicação, Catia Bandeira percorreu um caminho de coberturas esportivas antes de chegar à comunicação corporativa

Catia Bandeira | Crédito: Tânia Meinerz
"A ética do jornalista é a mesma do marceneiro". A citação é parte do livro ?A regra do jogo?, do jornalista Cláudio Abramo, e também da vida de Catia Bandeira. A frase, com a qual se deparou pela primeira vez na faculdade, serviu de sustentação para a menina nascida em família simples do interior do Rio Grande do Sul, que, na Capital, começava a construir a carreira na Comunicação. Foi com a convicção de que ser jornalista não faz de ninguém superior que encarou o desafio de trabalhar na editoria esportiva, segmento no qual atuou por 14 anos. Hoje, aos 44 anos, a teoria ainda permanece viva para a sócia-diretora da BH Comunicação.
Na juventude, Catia já tinha consciência de que o crescimento profissional dependia apenas dela, portanto, o ofício escolhido precisava ser prazeroso. A sede por conhecimento e informação do pai, que costumava levar um rádio portátil sempre consigo enquanto exercia as tarefas do dia a dia, serviu de influência para que decidisse pelo Jornalismo, uma escolha feita bastante cedo, uma vez que aos 16 anos entrou para a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). "Sempre me atraiu a ideia de contribuir, levar informações para as pessoas, fazer com que elas pudessem ter dados e subsídios para interpretar e tomar decisões", explica.
O diploma da graduação, ela conquistou em 1990 e, um ano antes, entrou para a equipe do jornal A Razão. Foi lá que viveu a primeira experiência em redação, em uma época em que o tilintar das máquinas de escrever ainda ecoava pela sala, as notícias eram transmitidas por telex e a diagramação de páginas ainda dependia da chamada régua da paica. "Peguei uma fase em que tudo era mais manual. Tenho muito orgulho disso. Para mim, foi uma dádiva pegar épocas tão distintas e acompanhar tantas transformações da profissão."
Rica em aprendizado, a vivência na editoria de Geral de A Razão é definida como uma segunda faculdade, um período que serviu de base para que enfrentasse outros desafios. No ano seguinte, foi selecionada para participar do curso de Jornalismo Aplicado do Grupo RBS, que incluía quatro meses de aulas na sede da empresa, em Porto Alegre. Na mesma turma estavam profissionais como Ângela Ravazzolo, Cláudia Laitano, Demétrio Soster, Enir Grigol, Felipe Vieira e Maria Isabel Hammes. As atividades começaram em agosto de 1991 e, no mês seguinte, foi convidada a ocupar uma vaga na editoria de Esporte de Zero Hora. "A experiência da Razão, de fazer cobertura em várias áreas, me deu segurança para encarar aquele desafio. Por dentro, tinha medo, mas fui."
Da aventura à eleição
Foram 13 anos no jornal, em que atuou, especialmente, na cobertura de esportes olímpicos. De competições de aventura que incluíam a prática de atividades como escalada e canoagem a torneios de esqui e campeonatos de atletismo, viajou a países como Estados Unidos, Grécia e Sérvia (à época, Iugoslávia). Desse período, uma lembrança cheia de significados é o som característico da conexão de internet discada. "Conversar com as pessoas, ir às entrevistas coletivas era fácil. O momento mais tenso era a transmissão (do material) e a coisa mais aliviante era quando se ouvia o barulhinho da conexão discada feita", conta.
Recorda que, quando estudante, era sempre a mais nova da turma, de menor estatura e também pouco habilidosa com os esportes, o que a fazia ser preterida na formação de times nas aulas de Educação Física. A situação não chega a constituir um trauma e até alimenta brincadeiras: "Cobri a seleção brasileira, tanto a masculina quanto a feminina, durante vários anos. Acompanhei o Campeonato Mundial Feminino, o primeiro do Bernardinho como técnico, assisti às melhores jogadoras do mundo e convivi com essas pessoas. Posso dizer que cheguei em um estágio do vôlei mais alto do que qualquer colega meu de escola, mais alto, mais habilidoso".
Mas o trabalho no jornal não se restringiu aos esportes. Também atuou em outras áreas, como profissional cedida para editoria de Política em épocas de eleição e Mundo, acompanhando inclusive a cobertura do atentado às Torres Gêmeas, em 2001. Na redação, onde permaneceu até 2004, diz ter construído relações para toda a vida. "Sou muito grata por ter estado lá. Não tenho dúvidas de que muito do que sou hoje e exercito em comunicação corporativa tem ligação com o que aprendi no cotidiano de redação", argumenta.
Rumo à assessoria
Na Fecomércio, teve a primeira experiência com comunicação corporativa, quando o departamento era coordenado pela jornalista Maria Luiza (Malu) Borges. De lá, saiu após um ano e meio, em julho de 2005, para abrir a Bandeira Comunicação e Consultoria, conduzida juntamente com a irmã e também jornalista, Tatiana. Nessa época, conheceu Ana Cássia Hennrich, sua atual sócia. Catia fora indicada por duas pessoas para uma vaga na assessoria de comunicação da Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (AMP/RS), que estava sob a coordenação de Ana Cássia. O trabalho na AMP/RS, segundo Catia, foi um embrião do que viria a ser a BH Comunicação, que surgiu quando Ana uniu-se à sociedade das duas irmãs. Mais tarde, Tatiana deixou a empresa e hoje vive em São Paulo.
Embora as duas tenham trabalhado no Grupo RBS, conheceram-se apenas após deixar a empresa. "Mesmo sabendo quem ela era, a gente não se conhecia, não éramos próximas. É um "casamento" pelo qual me sinto muito feliz. É muito bom conviver, trabalhar, crescer e buscar os desafios junto com a Ana", afirma. No último ano, a BH firmou uma parceria com a CDN Comunicação, do Grupo ABC, para representar a agência no Sul do Brasil. "Isso foi um divisor de águas, porque possibilita a nossa convivência com uma das maiores agências do País, que transita por diferentes segmentos e vai nos trazer um know-how muito grande. Esse compartilhamento de conhecimento é muito estimulante", afirma.
Das raízes
Natural de em Cruz Alta, Catia é a primogênita de José Anselmo Farias, que, por muitos anos, trabalhou como caminhoneiro e motorista em transporte coletivo, e Terezinha Bandeira Farias, professora, na família que se completa com Tatiana, irmã sete anos mais nova. Do pai, herdou o gosto pela informação, enquanto da mãe recebeu o estímulo para os estudos e a leitura. A mãe lecionava para crianças de primeira a quarta série do Ensino Fundamental e, como não tinha com quem deixar a menina, a levava para a sala de aula. De tanto acompanhar as explicações, Catia aprendeu a escrever com apenas quatro anos e também entrou mais cedo para a escola. "Tive uma infância de vida simples, mas muito tranquila, com pais sempre muito amorosos", ressalta.
Assim como a família, a cidade natal também é motivo de orgulho. Àqueles que não conhecem, costuma contar que Cruz Alta é onde nasceu Erico Verissimo. "É como um embaixador", diz. Ainda no começo de 2014, fez questão de levar a filha, Marcella, para conhecer a casa do escritor no município, hoje transformada em museu. E se há alguém por quem se derrete ao falar é a filha, de 11 anos. "A Marcella trouxe carinho para a minha vida, me tornou um ser melhor, me faz pensar nas coisas, me traz serenidade", afirma. Hoje solteira, Catia tem na filha uma grande parceira, companhia para curtir uma sessão de cinema ou mesmo ficar em casa e cozinhar.
A rotina em agência de comunicação exige, sim, planejamento, dedicação aos clientes e preparação para lidar com o imprevisível, mas reconhece que também possibilita mais fins de semana livres do que o trabalho em redação. Quando isso acontece, gosta de sair e aproveitar o tempo ao ar livre com a prática de atividades simples. "Não fico pensando que tenho que fazer a coisa mais mirabolante do mundo. Posso ir no jardim do Dmae, sentar em um banco ou no gramado e ler um livro, um jornal. Fazer coisas com simplicidade me faz bem, me deixa muito feliz".
Para distrair
Na fuga da ansiedade, tem na natação a principal "válvula de escape", meio pelo qual costuma renovar as energias. Apreciadora das práticas ao ar livre, gosta de atividades que exijam fisicamente e diz que não tem problemas em se sujar ou ter as mãos com calos. "Encaro isso tudo numa boa", garante. Também valoriza o simples, como as caminhadas pela manhã à beira da praia quando possível, os momentos com a família e os encontros entre amigos.
Com as leituras concentradas principalmente em jornais, revistas e artigos na internet, considera que lê muito menos do que gostaria. No momento, o livro que tem sua atenção é ?Open?, a autobiografia do tenista André Agassi, um dos poucos atletas a vencer os quatro torneios de Grand Slam. Quando o assunto é cinema, acompanha a filha para assistir à animação ?Operação Big Hero? e também indica produções como ?Um porco em Gaza?, que, com linguagem cômica, trata do conflito palestino-israelense.
Para ouvir, as músicas preferidas pertencem às gerações entre os anos 1970 e 1990. "Não que quem é hit hoje não seja bom, mas tenho um apego muito grande por essa geração. Reencontrei um CD do TNT dia desses, ouvi e não conseguia mais tirar", recorda, ao citar também as canções de Lulu Santos. Viajar é outra atividade que gosta e ainda pretende praticar mais. "Tem tantos lugares que queria conhecer e outros que gostaria de rever", conta, ao revelar que fazer um intercâmbio e cursar uma segunda graduação são projetos que ainda pensa em concretizar.
Acredita que, por vezes, se mostra uma pessoa intempestiva, que assusta pela sinceridade, podendo parecer rude. "Tento controlar bastante essa ansiedade, justamente para viver melhor e para que as pessoas que convivem comigo também vivam melhor. Tenho tentado ser uma pessoa que contagia, não alguém que contamina as outras com uma energia não tão boa", esclarece. A ansiedade pode ser um defeito, mas uma qualidade de Catia fica por conta do senso de justiça. "Procuro fazer para os outros aquilo que gostaria de receber. Esse é realmente um lema, algo que acredito e levo para vida."

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