Claudia Schroeder: Eterno recomeço

Mesmo cheia de convicções, a publicitária admite que está em constante aprendizado e mudanças

Claudia Schroeder | Crédito: Raul Krebs
Por Márcia Christofoli
A baixa estatura, a pele e o cabelo claros e um rosto quase angelical são capazes de esconder uma mulher forte e de convicções. Este é o caso de Claudia Schroeder, diretora de Criação da Selling, formada em Publicidade pela PUCRS há mais de 20 anos. O cargo que ocupa, ela concorda, tem predominância masculina, mas isso não tem influência no seu dia a dia. Nunca teve, aliás. A explicação vem da forma como foi criada, sem ser considerada frágil, com muitos amigos homens e não dando importância para uma possível diferenciação entre os sexos. "O universo masculino nunca me assustou", garante.
A escolha pela área veio muito cedo, quando tinha cerca de 12 anos. Ao conversar com a mãe, a professora aposentada Lígia, afirmou que queria ser dona de revista, por prestar muita atenção nos anúncios, mas ouviu a explicação que quem fazia essa parte eram os publicitários e não os donos dos veículos. "Lembro que ela comprou um manual das profissões para me explicar o que cada uma fazia. A partir disso, queria concluir o segundo grau logo para poder cursar Publicidade", conta, com um sorriso de quem recorda de forma carinhosa.
A veia artística é hereditária, já que a mãe fazia pinturas a óleo e hoje ensina a técnica em porcelana, e o pai, Claudio (falecido por problemas cardíacos aos 69 anos), como advogado criminalista e professor de Latim, trabalhava de forma teatral. Os dons para escrever, desenhar e pintar apareceram ainda na infância e, por isso, acredita que sua escolha surgiu de maneira natural.
Decisão tomada e ensino médio concluído, prestou vestibular na Ulbra e na tão desejada Famecos, da PUCRS. Passou na primeira e precisava se matricular no mesmo dia em que sairia o listão da Católica. Ao retornar para casa, recebeu a notícia que passara também na PUCRS. "Sou de Santo Ângelo e, por isso, achava que meu ensino havia sido fraco e que não teria condições de ser aprovada na primeira tentativa. Foi a primeira vez que chorei de emoção", lembra.
O mundo da poesia
Claudia não precisou entrar no mundo acadêmico para se apaixonar pela Comunicação, pois sua atuação na área chegou ainda no tempo de escola. Quando tinha 15 anos, foi convidada a escrever em um jornal local. A "Tribuna Jovem" começou com uma coluna, virou uma página e logo ganhou duas. Escrevia, desenhava a charge, fazia a diagramação, ou seja, se divertia e aprendia também. A família chegou a acreditar que cursaria Jornalismo, pois já tinha dois primos nessa área - Celso Schroeder, do "Correio do Povo", e Carlos Henrique Schroeder, da Rede Globo.
Foi também na adolescência que deu os primeiros passos como escritora. Apaixonada pelas obras de Mario Quintana, começou a escrever poemas e, aos 14 anos, sua família reuniu os textos em uma publicação. "Tenho até vergonha disso, pois era algo bem amador, com erros de revisão", ri, para, em seguida, relatar que, três anos depois, fez a mesma coisa, dessa vez de forma mais profissional, com novas produções. Surgia o "Elevador Panorâmico", que deu a ela a experiência de palestrar em escolas e incentivar outros jovens a escrever. "Eu dizia a eles: "Sou como vocês, estudo, como, bebo, me divirto e também me expresso através de poesia"."
Já adulta, o material chegou a uma editora, que sugeriu publicar novo livro, com mais poemas inéditos. Com dificuldade de escolher entre tantos, pediu ajuda para a amiga e também publicitária e escritora Claudia Tajes, que não apenas fez a seleção como sugeriu o título que tem hoje, "Leia-me toda". A produção, inclusive, virou exposição itinerante, passando por Chile e Argentina. Ainda foi procurada por uma escritora portuguesa, que havia gostado muito de um dos textos e pediu para publicá-lo no projeto "A poesia é para comer". "Quando fui ter acesso ao material, era um livro enorme e eu ainda estava ao lado de um poema de Chico Buarque. Foi incrível!", exalta.
Muitos passos
O começo da carreira se deu a partir do SET Universitário, que premiava com uma vaga de estágio na SLM. Saiu vitoriosa e entrou para o mercado. Dessa breve passagem, lembra que, na primeira semana, ficou um dia em cada setor, para conhecer a rotina de uma agência. No final do período, não teve dúvidas ao dizer em qual área gostaria de atuar: Criação. Um mês depois, ajudou em um VT para o Supermercado Econômico, e a peça conquistou o Profissionais do Ano, da Rede Globo, e Grand Prix, no Salão da Propaganda, da ARP. "Foi uma coisa louca. E o mercado começou a me enxergar, as portas começaram a se abrir", recorda, cheia de orgulho.
A partir dali, iniciaram-se as experiências. Teve a McCann, onde chegou ao cargo de redatora pela primeira vez; passou uma temporada em Florianópolis, mas voltou correndo por não se adaptar ao perfil profissional do estado vizinho; fez campanha política para o então candidato à Prefeitura de Porto Alegre, José Fogaça. Passou pelo núcleo de Moda da e21; mergulhou no mundo do Design quando atuou na Plano Trio; foi gerente de Criação na Paim, ao lado do amigo de infância Fábio Bernardi, e também passou pela Martins + Andrade, onde aprendeu a atuar com contas públicas.
Nas andanças, muitas conquistas, prêmios e experiências infinitas. Aliás, sobre as distinções já recebidas, ela é enfática: "É muito legal, claro, mas isso é só a consequência de um bom trabalho. A melhor premiação é quando o elogio vem do cliente, que é para quem realmente trabalhamos". E foi o que aconteceu na sua passagem pela RBA, de Novo Hamburgo, oportunidade considerada um marco na carreira. É que, com a conquista da Luz da Lua, pôde criar campanhas ousadas e com pouca verba, o que resultou em diversos prêmios. "Fomos a primeira agência gaúcha que foi capa da Archive, na mesma edição em que colocamos 10 campanhas. Nunca vou esquecer do elogio feito pelo dono da empresa, quando ele agradeceu por eu trabalhar para ele", orgulha-se.
O período em que trabalhou na DCS também é lembrado com muito carinho, pois foi quando teve, pela primeira vez, um mentor, um grande mestre, uma referência, como ela chama Beto Callage. Uma das contas que atendia era a Olympikus, oportunidade encarada como salto na trajetória. "Não sabia fazer campanhas com tanta verba e queria aprender isso. Lembro que o primeiro filme tinha um investimento de algo como meio milhão de reais e eu disse: "Não sei fazer isso". Mas ouvi do Beto que apenas deveria me libertar do dinheiro. Foi realmente uma grande escola."
Nem só agências
São mais de duas décadas no mercado da Propaganda, e, para ela, fazer isso é se alimentar do mundo, um conceito que sempre tenta ensinar aos seus liderados: "Tem que ler a IstoÉ, mas também a Tititi. Tem que ir em uma festa de elite, mas também de favela. Tem que conversar com o gestor, mas também com o porteiro. Fazer propaganda é se questionar, e fazer isso o tempo inteiro". Foi justamente pensando nos rumos que queria dar à carreira que Claudia experimentou trabalhar por conta própria durante algum tempo.
Foi convidada por um casal para gerenciar a comunicação de uma marca de moda - ainda não lançada. Faz isso até hoje, mais de um ano depois, inclusive colocando a condição de manter esse trabalho ao aceitar a proposta da Selling. Teve também a experiência de ser professora na mesma universidade na qual se formou. Quando aluna, reclamava que sentia falta de ter pessoas do mercado ensinando, então, quis devolver à instituição tudo o que lhe foi proporcionado. "Sempre gostei de ensinar, ter estagiário, compartilhar conhecimento", conta ela, que lecionou as disciplinas de Criação e de Campanha Publicitária.
Apesar de estar disposta a novas oportunidades, uma convicção sempre teve: nunca trabalhar em São Paulo. O motivo? Sabia que a qualidade de vida seria muito inferior e a chance de conseguir voltar para Porto Alegre seria pequena depois. "Quando saí na Archive por uma agência de Novo Hamburgo, provei para mim mesma que não precisava me mudar de estado para desenvolver um bom trabalho", garante.
A mãe do Theodoro
A irmã mais nova de Simone é casada com o artista visual, animador e especialista em VR (Realidade Virtual) Ricardo. Do relacionamento de cerca de sete anos nasceu Theodoro, de três. O pequeno, de acordo com a mãe-coruja, "parece com um anjo", com seus cabelos encaracolados. "Não sou a única a dizer isso. Pode perguntar para a professora, para a babá", brinca, admitindo que é muito babona. Na gravidez, tinha medo de ele ter algum problema, por ter engravidado mais tarde, então, se manteve focada na alimentação saudável - e até hoje a família só consome alimentos orgânicos. Hábito passado ao herdeiro, que frequenta uma escola com a mesma alimentação.
Ser mãe é quase uma segunda vida para Claudia - talvez até a primeira, pois faz questão de se manter presente. "Eu e o Ricardo perdemos pai, então, queremos participar intensamente da vida dele e damos muita importância para a presença familiar", explica. "Ter filho é algo muito maior do que sentir o amor verdadeiro. Acho que é um sentimento que ainda não colocaram nome. Se me pedissem os dois braços pelo meu filho, daria sem anestesia", derrete-se.
Não pensa em aumentar a prole, pois admite ser muito preocupada. Tanto que começou a dormir melhor somente neste ano, pois acordava várias vezes durante a noite para ver se Theodoro estava respirando. "Sei que é um excesso de proteção, uma neurose. Então, acho que um segundo filho me deixaria louca", confessa. Se fosse mais relaxada, possivelmente teria mais um, mas explica que não sente culpa por isso, pois "são renúncias, é da vida".
Ela é multi
A vida em função do filho fez com que, por algum tempo, Claudia esquecesse de si, mas conseguiu se dar conta a tempo de retomar esse lado. Gosta de cinema e de arte em geral, como moda, exposições, ler, escrever, fotografar e garante que faz muitas coisas ao mesmo tempo. E quem escreve, se alimenta de que tipo de leitura? De tudo, segundo ela. Desde Paul Auster, Philip Roth, Mario Benedetti, Ana Cristina Cesar, Daniel Galera, entre tantos outros.
Também adora estar com os amigos e conversar com pessoas inteligentes, tomar vinho - adora uma mesa de bar. O melhor desses momentos para ela é rir e trocar experiências. "Depois que o Theodoro nasceu, deixei isso de lado, mas estou recuperando aos poucos. Inclusive voltei a fazer aula de desenho", diz, reforçando, porém, que a descoberta do mundo materno é o mais gostoso no momento.
A publicitária é o tipo de mulher que, apesar de tantas convicções, a maternidade veio para fazê-la se questionar e admitir que tudo tem vários lados - e que eles precisam ser levados em consideração. Acredita ter renascido com a maternidade, reviu conceitos ao perceber o poder e a fragilidade de ser mãe. Hoje, no entanto, busca recuperar um pouco da Claudia que existia antes do Theodoro. "Nunca fui apenas uma só, então, sou publicitária, escritora, esposa, amiga, e mãe! A Claudia é uma eterna redescoberta."
 

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