Luiz Coronel: Com estrelas no coração

Afinal, que Coronel sou eu? E que comando tenho sobre minha alma, desguarnecida cidadela, se dos mosquetões só faltam flores e há um pierrô...

Luiz Coronel - Reprodução

"Afinal, que Coronel sou eu? E que comando tenho sobre minha alma, desguarnecida cidadela, se dos mosquetões só faltam flores e há um pierrô de sentinela? [?] Afinal, que Coronel sou eu? Se ponho mapas na mesa, é sempre minha atitude encontrar a mim mesmo em todas latitudes. E nos levantamentos que faço vejo templos, canteiros, abraços e para minha promoção não sonho em ter mais estrelas que as que brilham em meu coração".

Nada mais justo que definir o perfil de um escritor e poeta com sua própria poesia. É assim que Luiz de Martino Coronel expressa um pouco de sua personalidade em uma de suas obras literárias, Álbum de Retratos, com o texto "Que Coronel sou eu?". São muitas histórias para contar, tantas que renderiam uma longa biografia deste bageense, que com sua sensibilidade e empatia encanta a todos que o rodeiam. Hoje, aos 65 anos, o diretor-institucional da Agência Matriz sempre destacou-se muito pela poesia e pela criatividade, tanto na publicidade como na literatura. "A poesia é uma amante maravilhosa e muito louca, que me visita altas horas da noite, me tira da cama e me leva para o computador.

Aliás, o computador tem sido na minha vida uma espécie de 'guarda carcerário', me prende muito. Eu tenho fascínio e alegria pela criação. Um criador só está maduro quando sua alegria de criar é maior do que sua ansiedade de ego", observa.

Múltiplas facetas

"As pernas da professora são ternas. São ternas e eternas as pernas da professora", foi o primeiro poema escrito por Coronel, ao observar o cruzar de pernas de sua professora da primeira série. Desde então, qualquer palavra é inspiração para o publicitário criar e recitar imediatamente uma poesia. Aos 19 anos decidiu morar em Porto Alegre para estudar. Coronel é formado em Direito e Filosofia, ambas pela UFRGS. Seu primeiro emprego foi em 1961, como vendedor de polígrafos de curso pré-vestibular. Sua primeira atuação na propaganda foi como redator na agência Vox Publicidade, em 1963. Depois de concluído o curso de Direito, exerceu a magistratura no Estado durante cinco anos, de 1965 a 1970. Foi professor de História e Literatura, em cursos de pré-vestibular, e Teoria Geral do Estado, na Faculdade de Ciências Jurídicas, por 12 anos. Em 1971, fundou a Êxitus Publicidade, junto com Plínio Monte e Ricardo Campos.

Atuou como diretor de criação da agência até 1999, quando surgiu a oportunidade de unir seu trabalho ao dos publicitários Alberto Freitas e Betho Philomena. Em 2000, fundaram a Agência Matriz, que ainda é dirigida pelos três sócios. Hoje, embora não esteja ligado diretamente com o departamento de criação da agência, ele ainda imprime um traço pessoal lá, fundamentado na poesia. Segundo Coronel, a poesia foi inserida na sua forma de fazer propaganda. Mas não é só a poesia que preenche a vida de Coronel. Mesmo com uma agitada rotina de compromissos na direção da Matriz, ele ainda tem disponibilidade de estar à frente de eventos nacionais e internacionais do setor de publicidade. Presidiu o Festival Mundial de Publicidade de Gramado, em 1996. Também atuou como presidente nacional da Alap (Associação Latino-Americana de Propaganda), em 1999. Desde 2001, é presidente internacional da entidade.

Além disso, é compositor, sendo letrista de mais de 30 músicas regionalistas, das quais destacam-se "Gaudêncio de Sete Luas" e "Corda de Espinho". Também é muito requisitado como conferencista, para ministrar palestras em congressos, eventos e seminários, onde prefere abordar temas ligados a História, Literatura e questões sociais. E as múltiplas facetas desse publicitário não param por aí: Coronel atua ainda como comunicador, com a assinatura de poesias no Correio do Povo há oito anos, e recitando poemas no programa Câmera 2, da TV Guaíba, há 15. "O meu destino de escritor já estava traçado desde a infância. Aos 11 anos, meu tio colocou a mão na cabeça e disse: meu sobrinho não vai ser nada mais que um poeta. Naquela época, já lia vorazmente Camões em espanhol", conta o autor de 32 obras.

Recebeu prêmios no Brasil, Espanha, México (Prêmio Nacional de Poesia, MEC 1973, com a obra Mundaréu). O destaque é para a trilogia, editada em português, espanhol e inglês, Portfólio Poético e Documental do Rio Grande do Sul, composta pelos livros "Porto Alegre que Bem Me Faz o Bem Que Te Quero", "Cidades Gaúchas" e "Pampa Gaúcho, a Terra e o Homem".

Ainda colhendo frutos e prestígio do último livro lançado, "Rio Grande do Sul os sabores de uma grande história", Coronel já trabalha em mais duas obras: "Um Querubim de Pantufas", poesias escritas nos últimos cinco anos, e "Gata Escarlate", comédia que reúne 150 casos sobre o Estado. Os dois livros serão lançados no próximo semestre. Em reconhecimento à sua atuação profissional e trabalhos realizados, em 1984, recebeu o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, concedido pela Câmara Municipal de Vereadores. Em 2001, recebeu o Troféu Negrinho do Pastoreio, da Associação Gaúcha Municipalista, pelo destaque literário em Poesia Contemporânea. Coronel ocupa a cadeira de número 26 na Academia Rio-Grandense de Letras, desde junho de 1999.

A vida em metáforas

"Eu sou reprovado como marido", brinca Coronel, ao destacar que os frutos bons dos seus relacionamentos sãos os quatro filhos: Luciana, 30 anos, Melina, 28, Paloma, 17, e Luiz Mateus, 12. "Estou rodeado de filhos, todos bem encaminhados", diz. Nas horas de folga, Coronel revela que o que mais gosta é de ficar em casa. "Tenho síndrome de ninho. Estou sempre louco para voltar para casa". E lá, aproveita para colocar seus grandes prazeres em prática: ler, escrever e cozinhar. A gastronomia é outra paixão, e aí sua especialidade são pratos com bacalhau. Mas as revelações desse poeta vão além e, entre elas, um velho hábito: caminhar no Parque da Redenção, comendo bergamota. "Meu grande prazer é ficar lá jogando conversa fora, ouvindo histórias e casos, dos quais eu me abasteço para escrever", conta.

Nos fins de semana, Coronel dedica-se a atividades com a família e, claro, à poesia. A música também está presente em sua vida, mas salienta que ela não pode servir de fundo para seu trabalho. Ele só escreve quando há silêncio absoluto. Gosta de escutar a maioria dos estilos musicais, exceto sertanejo e forró. Porém, músicas instrumentais argentinas e tango sempre vêm em primeiro lugar na hora de optar. Outro lazer de que gosta é ir ao cinema. Segundo ele, o cinema é um grande depoimento sobre a vida. Um defeito que Coronel admite ter é a prática de adiar a solução de problemas, não enfrentando-os diretamente. "Levo eles com a barriga e entrego para o tempo, em vez de frontalizar a solução". Entre as virtudes, destaca a generosidade e sua fidelidade aos amigos. Conforme definição própria, outra qualidade é o fato de não ser um "QVA", Quociente Variável de Amizade. "As minhas amizades são muito permanentes, sou muito preso aos abraços e afetos", diz.

Só lamenta que, mesmo com essas virtudes, já tenha magoado muitas pessoas com sua visão de liberdade. "Queria ser pajem, mas não passei de coroinha. Porém, nem por isso, deixei de subir os degraus do templo", declama. O grande projeto de vida de Coronel como escritor é organizar suas obras, reunindo o trabalho regional, as prosas, a poesia universal e temas de conferências. Já como publicitário, almeja a ascensão da agência Matriz e dos funcionários como profissionais de propaganda. E o segredo de sucesso para este Coronel multifacetado? A parceria com os seus sonhos, a obstinação em alcançar os objetivos ao longo de mais de 30 anos de carreira. "O meu dogma é não ter muralhas de autoproteção, apenas uma leveza de viver que faz com que as pequenas coisas não me afetem. Na verdade, o que é pequeno não me merece", sentencia.

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