Cristiane Ostermann: Segura de si

Empresária fala da paixão por empreender e de como despertou para as ações de responsabilidade social

Por Vanessa Bueno



A palavra independência combina bem com esta pisciana nascida em 28 de fevereiro de 1964. Desde cedo ela queria se virar e tomar suas próprias decisões, fato que a levou a começar a trabalhar com 17 anos. "Aos 13 eu já tinha total noção de que eu queria ser adulta", diz Cristiane Ostermann, assumindo que o que sempre lhe deu prazer foi transformar ideias em projetos reais.

Filha mais velha do professor de Filosofia e jornalista Ruy Carlos Ostermann e da professora de História Nilce, ela tentou negar a tendência para a Comunicação. Depois de passar alguns anos dando aula de dança, mudou de rumo, dando início à trajetória na área. Cris, como é conhecida entre os amigos, foi produtora cultural, assessora de imprensa, apresentadora de rádio e TV, mas realizou-se mesmo como empreendedora. Há cinco anos lidera a Signi Estratégias para Sustentabilidade.

Na empresa, ela reúne a experiência adquirida pelas áreas em que passou. E faz o que mais gosta: trabalha com responsabilidade social empresarial. "Eu queria fazer o meu trabalho e saber que estou contribuindo para a construção de um mundo melhor. Estar conseguindo isso é a realização de um sonho", destaca. Especialista em Gestão da Responsabilidade Social Empresarial, ela implanta e acompanha projetos em empresas como Petrobras e Celulose Riograndense. O trabalho, como ela mesma gosta de frisar, é customizado. "Não tenho fórmula pronta, vou testando de acordo com a característica do cliente."
O despertar?

Experimentando, ela também definiu que seu caminho não era nos palcos. Bailarina desde os seis anos, decidiu seguir carreira logo que se formou no segundo grau. Para conseguir bancar o sonho, foi dar aula de ballet, fato que a levou a morar em São Paulo. Mas lá chegou num dilema: ou seria uma bailarina de fundo de palco, dando muita aula para sobreviver, ou buscaria outro caminho. Escolheu a segunda opção e foi trabalhar como produtora cultural. O envolvimento com a área cresceu tanto que, em pouco tempo, a jovem circulava pelas redações de grandes jornais como Folha de S.Paulo e Estadão. Na capital paulista, também aproveitou para fazer cursos de todo o tipo, pesquisar o mercado e ampliar seus conhecimentos. Ambientada com o ofício e satisfeita com sua escolha, decidiu que cursaria Jornalismo.

Antes, fez uma pausa no trabalho em São Paulo para vir a Porto Alegre ajudar na campanha política do pai, que concorria a deputado estadual. Pega de surpresa por um novo amor, optou por retornar de vez ao Estado. O namoro chegou ao fim, mas a paixão pela Comunicação só aumentou. Cristiane auxiliou o pai na elaboração e realização de um curso de formação de comentarista esportivo, trabalhou na produção dos programas de rádio e TV que ele apresentava, e ingressou na Fabico em 1992.

Seu primeiro voo solo, sem a parceria com pai, seria alguns anos depois, quando lançou o CDF, um jornal voltado para vestibulandos. Com o amigo e professor de cursinho Ricardo Russo, produzia e distribuía 35 mil exemplares da publicação na Capital e no interior do Estado. "Este trabalho foi um marco na minha vida. A partir daí percebi que meu negócio é empreender", admite, ressaltando que hoje não se considera uma jornalista - é, antes, uma empresária.
O rádio?

A faculdade trouxe o despertar pelo rádio. Sempre dedicada, esforçou-se para vencer a timidez e tomou gosto pelo microfone. Foi atrás e batalhou um espaço na FM Cultura, onde apresentava o programa Cultura Teen, que mais tarde se chamou Seção das Quatro. A atração era produzida por ela, numa venda casada com o Colégio La Salle, que também anunciava no jornal CDF. "Foi uma fase muito bacana, mas também engraçada porque eu estava no ar no mesmo horário que o meu pai na Rádio Gaúcha."

Depois de três anos desenvolvendo o jornal para vestibulandos, optou por parar com a atividade. Nesta época iniciava outro grande projeto de vida, a maternidade. "Ser mãe exige mais do que a gente imagina", diz, para em seguida ressaltar que, mesmo com muito trabalho, sempre foi uma mãe presente. Giovana, hoje com 13 anos, é filha de Cristiane com o arquiteto Antônio Vigna. Os dois se conheceram nos anos 80, tiveram um breve romance, mas acabaram se afastando. Anos depois, em 1996, reencontraram-se e, apaixonados, oficializaram a união no ano seguinte.

O nascimento da filha não demorou muito para acontecer. Cris casou grávida, "mas sem saber", diz ela. "Sempre imaginei que seria mãe depois dos 30. Estava esperando o pai certo aparecer", brinca. A vida em família, conforme conta, é muito boa. "Meu marido é supertranquilo. Entende e aceita minha rotina de empresária que trabalha muito e não tem horário fixo."
O lazer?

Mesmo com uma vida profissional intensa, ela faz questão de cozinhar para o esposo e acompanhar a vida da filha. Giovana, segundo ela, tem o mesmo ímpeto de independência e também nega a possibilidade de trabalhar com Comunicação. "Ela ainda não sabe o que quer fazer. Embora tenha um bom texto, só sabe que não quer ser jornalista. Vamos esperar para ver o que acontece."

Além de trabalhar e cuidar da família, reserva um tempo em sua agenda para a corrida. "A menos que eu tenha marcado uma reunião com um cliente, na primeira hora da manhã estou lá na Redenção correndo", detalha. A prática, adotada há cerca de dois anos, funciona como terapia para a empresária. Quando viaja a trabalho, o tênis vai junto na mala.

A gastronomia e as viagens também estão entre seus prazeres. Tem o plano de fazer um curso de culinária antes dos 50 e viaja ao menos uma vez por ano para o exterior. O próximo destino será Londres, com o clã. "Nós procuramos preservar esses momentos em família. É uma semaninha em que estamos o tempo todo juntos, descobrindo lugares. Eu adoro." No verão, refugia-se na praia do Siriú, em Santa Catarina, onde os pais têm a residência de verão. "Eu gosto de praia, mas só por um tempo. Sou mais urbana", diz, ressaltando que moraria em São Paulo novamente. "Adoro aquela cidade. Tem muitas opções culturais."

Entre seus gostos também tem espaço especial a literatura. Ela chega a ler três livros de uma só vez e não consegue citar um ou dois preferidos. "Me lembro de ver o meu pai e minha mãe sempre lendo quando eu era criança. Aprendi pelo exemplo", conta. Na casa onde cresceu com os pais e os irmãos Fernanda e Felipe, a biblioteca sempre foi um local de destaque.
O pai?

Cristiane tem uma sintonia admirável com o pai e diz que nunca se desvinculou dele por completo na vida profissional. Atualmente, os dois tocam o projeto cultural Encontros com o Professor. Para ela, eles se completam como profissionais: "O Ruy tem as ideias e eu vou atrás para viabilizar. Somos uma dupla que dá certo. Me dou muito bem com a minha mãe, claro, mas sempre tive mais afinidade com meu pai".

O bom entrosamento sempre existiu. Quando criança, Cristiane era a única de seus irmãos que costumava ir até a Companhia Jornalística Caldas Júnior, onde o pai trabalhava, para passar a tarde com ele. "Eu ficava lá perguntando ?para que serve isso?, para que serve aquilo??. Ele me recebia superbem e ainda me levava para tomar sorvete", relembra.

A fama do pai locutor e comentarista de futebol sempre suscitava a mesma pergunta no colégio: "Mas o teu pai é gremista ou colorado?". Segundo ela, ele nunca torceu para um destes times. Mas, em certas ocasiões, o público se confundia sobre suas preferências. Como a vez em que ela e a irmã Fernanda, torcedoras do Internacional, ganharam bandeiras do time e as estavam exibindo no carro em que andavam com o pai. Diante dos boatos que surgiam pelas ruas onde passava, Ruy olhou para trás, sem entender nada. Quando viu as meninas com as bandeiras percebeu a confusão que estava se instalando. "Ele queria nos matar porque fizemos as pessoas pensarem que ele é colorado", diverte-se.

A sintonia que os une, tanto na vida pessoal quanto na vida profissional, nunca ultrapassou os limites da ética. Pelo contrário, muito vezes, por Cristiane ser sua filha, Ruy deixou de dar os devidos créditos ao seu trabalho. "Qualquer possibilidade de parecer favoritismo a mim, porque sou filha, era vetada pelo meu pai. Ele chega a ter um cuidado meio exagerado", avalia.

Sentiu na pele o que é ser filha de Ruy Carlos Ostermann quando foi convidada para assumir a coordenação da FM Cultura no início dos anos 2000. O boato que circulou, segundo ela, é de que seu pai, na época conselheiro da Fundação Cultural Piratini, teria negociado sua contratação. "Isso nunca aconteceu. Apresentei um projeto para o José Roberto Garcez, que estava assumindo a presidência, ele achou bacana e me convidou", explica.
A responsabilidade social?

Mesmo com os ruídos, ela pôde realizar um bom trabalho e lembra com carinho desta época. Em três anos, apresentou e produziu os programas Cultura na Mesa e Café com Cultura. "Eu era pau para toda a obra lá, fazia de tudo um pouco. Até hoje sou assim. Meu negócio é colocar a mão na massa", conta. Em passagem também pela TVE, apresentou o Jornal da Cidadania, onde despertou para a responsabilidade social empresarial.

Decidida a voltar a empreender, desenvolveu o projeto Gestão Responsável, um programete de rádio produzido em parceria com a Radioativa. A atração continha entrevistas com empresários sobre responsabilidade social e era distribuída para as emissoras de rádio no Estado. A Signi nasceu no ano seguinte, quando Cristiane conheceu as jornalistas Suzana Guimarães e Karen Mendes Santos. Juntas, elas criaram o projeto infantil de responsabilidade social Muda Mundo, implantado nas escolas. A empresa conta hoje com 15 funcionários e também desenvolve projetos culturais, como o Encontros com o Professor.

No ano passado, Cris optou por seguir sozinha com a Signi e agora também está produzindo o documentário Chocolatão, que vai acompanhar a transferência da vila homônima e o trabalho social realizado com a comunidade local. Outros projetos são o Ponto Sul, que tem como objetivo promover a integração entre Argentina, Uruguai e Brasil, por meio da Literatura e apoio à Okna Produções na adaptação para o cinema do livro Porteira Fechada, de Cyro Martins. Com tantas ideias sendo colocadas em prática, o conselho que deixa para quem está pensando em empreender é direto: "Para de pensar e começa. Tenha persistência e paciência, que uma hora dá certo". "É o que eu tenho feito", garante.
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