Daniel Accampora: Em busca do novo

Foi através da área de vendas que descobriu a vocação para publicidade e o fascínio pela produção

Família, profissão, culinária e cavalos são algumas das paixões do publicitário Daniel Accampora, sócio-diretor da Cápsula Cinematográfica. Atualmente, depois de consolidar o nome da produtora no mercado publicitário gaúcho, o executivo lamenta a falta de tempo para se dedicar às atividades prediletas. Mas, com a experiência de quem teve que conquistar todas as coisas com o próprio suor, acaba relevando o fato porque acredita que o tempo gasto com o trabalho não é tempo perdido. "Acredito muito no trabalho e gosto de trabalhar. O nosso mercado é como se fosse o mar, se você não está vivo e atuante ele te joga pra fora. Acho que as pessoas que se envolvem e se dedicam obtêm êxito. Trabalho desde muito cedo e foi isso que aprendi com minha família, todos trabalharam muito a vida inteira."


Foi através da área de vendas que começou a se interessar pela área da Comunicação: quando criança, o publicitário vivia envolvido em negócios e, sempre que algum vizinho precisava vender um produto, dava logo um jeito de arrumar um tio ou um familiar interessado em comprar a peça. Assim, além de intermediar a venda, arranjava alguns trocados. O caçula de seis irmãos se considera uma pessoa muito ligada à família, tamanho é o vínculo, que só deixou a casa dos pais aos 32 anos. "Era difícil de largar", explica. Aos 38, o executivo ainda se define como um cara parceiro, que está sempre em busca do novo, comprometido com suas atividades, e que procura ter amigos à sua volta, principalmente, no trabalho - sua segunda casa.


Descendente de italianos - seu bisavô emigrou da região de Nápoles para o Brasil, Daniel gosta de cozinhar, reunir-se com os amigos e familiares. Já participou de cursos de culinária e teve uma experiência de uma semana na cozinha de uma risoteria. "Tudo isso por hobby", afirma. É neste cômodo da casa que também demonstra seu potencial criativo: mistura receitas, troca e experimenta novos ingredientes. Entre suas especialidades, estão risotos e massas, todas acompanhadas de um bom vinho tinto seco. Ele diz ter herdado da mãe a "mão boa" para fazer comida. "Não é porque é minha mãe, mas ela cozinha muito bem e todo mundo elogia."  


Apaixonado por produção


Aos 17 anos, foi trabalhar como vendedor em uma loja de confecção de um amigo, mas logo descobriu que não era essa a carreira que gostaria de seguir. Os primeiros contatos com a Propaganda foram feitos nos anos seguintes, na produtora de um primo, a extinta Eficace, na função de office-boy. Com o passar do tempo, mostrou competência em diferentes atividades que exerceu, e passou a atuar na produção de campanhas e comerciais. Durante este período, prestou vestibular para a Ufrgs, mas não obteve aprovação. Ele justifica: "É sempre complicado para quem vem de um ensino de escola estadual com uma base fraca e que ainda é obrigado a trabalhar, porque minha família não tinha condições de pagar uma faculdade particular".


Daniel Accampora de Oliveira, nascido em Porto Alegre a 27 de fevereiro de 1970, é fascinado pelo trabalho de produção. Para ele, o interessante da área é que, apesar de manter uma rotina, sempre conta com novidades e é um desafio a cada dia. "Produção é instigante. Quando comecei, dizia que era uma espécie de gincana, porque cada trabalho é uma tarefa única. Tem que ser muito profissional para agüentar a rotina, afinal, é como se estivesse sentado numa bomba-relógio  prestes a explodir. Só existem duas opções: ou a campanha que você faz dá certo ou não dá. Mas não existe a possibilidade de não dar certo", define.


Em 1993, saiu da produtora e, durante cinco anos, se dedicou a trabalhos freelancers para produtoras do mercado, entre elas a Zeppelin, onde diz ter acompanhado o crescimento da empresa e aumentado seu círculo de relações na Propaganda. Quando se trata de carreira, Daniel faz questão de registrar que o trabalho temporário mais curto e produtivo que teve foi realizado para a Casa de Cinema de Porto Alegre. Por quatro meses, foi convidado para atuar ali, onde produziu episódios do programa Comédia da Vida Privada, de Jorge Furtado, e da minissérie Luna Caliente. "Foi um período muito gratificante e foi uma verdadeira escola, pois trabalhei ao lado de profissionais excelentes", afirma. Daniel ainda atuou por três anos como atendimento na extinta produtora Zero e foi lá que conheceu seus futuros sócios: Robson Langhammer, diretor de Cena; e Alexandre Coimbra, finalizador.


Uma cápsula de soluções


Em 2001, o espírito empreendedor de Daniel falou mais alto e, durante um café com os publicitários Robson e Alexandre, propôs a abertura de uma produtora. No mesmo dia conquistou os dois primeiros clientes: as agências Novaforma e SLM Ogilvy. A partir de então, os sócios juntaram suas economias, alugaram uma sala e compraram equipamentos. Faltava apenas o nome da empresa, pois as primeiras peças eram assinadas como Daniel Produções. A partir de um conceito desenvolvido pelo publicitário Maurício Refatti, surgia a Cápsula Cinematográfica. "Adotamos a idéia de que cápsula era uma coisa concisa, fechada, que atrai as pessoas, e dentro da idéia de que as coisas têm que ser entregues com comprometimento."


A produtora, que começou com uma equipe de quatro pessoas, hoje possui 20 funcionários. Daniel conta que com apenas três meses de vida a empresa foi premiada no Salão da Propaganda e, a partir daí, todo o ano traz para a sede um troféu. Pela experiência adquirida ao longo dos anos, nos momentos de decisões difíceis, o produtor executivo da Cápsula Cinematográfica é sempre chamado para resolver a questão, tamanha é sua responsabilidade e credibilidade diante de sócios e funcionários.


Um eclético


Quando o assunto é cinema ou músicas, o publicitário se diz um eclético. E prova exibindo seu iphone, onde podem ser encontradas as mais diversas trilhas sonoras, exceto pagode e músicas sertaneja. O cantor Bob Dylan e a banda de rock R.E.M são os preferidos. Quando se trata de cinema, afirma que não é do tipo "cinéfilo", pois não guarda nome de diretores, atores e, muitas vezes, custa a lembrar o próprio nome do filme. "Sabe que  fui ao cinema na semana passada e não lembro o nome do filme!? Sou bem amador mesmo!"  Para ler, prefere publicações mais informais e também sobre pessoas e gestão. Um dos últimos livros lidos e que costuma indicar para amigos é Ensaio sobre a Cegueira, do jornalista José Saramago.


Daniel é casado há dois anos com a pedagoga Luciana França. Ainda não tem filhos, mas já vem treinando o enteado Frederico, de 4 anos - sempre citado durante a entrevista e por quem diz ter um carinho paternal. "Sou eu quem o levo e busco da escola. Quando não dá, aviso a Lu, mas a tarefa é minha", conta.


Apesar da rotina conturbada e do tempo escasso, viajar também é um de seus programas preferidos. As férias geralmente são aproveitadas na companhia da família em Santa Catarina ou na Serra gaúcha. Aos 25 anos, influenciado pelos amigos, passou 40 dias na Europa de mochila nas costas e, em 2003 e 2005, voltou ao continente para acompanhar o Festival de Cannes.


Daniel é um bom observador, mas por ser muito atento a tudo, diz que acaba se tornando dispersivo. Determinado, ainda garante que seu foco, por um bom tempo, se manterá no trabalho e no crescimento da empresa, mas já planeja a oficialização do seu casamento e a vinda de um herdeiro.

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