Daniela Entrudo: Senhora Persistência

Publicitária por formação, Daniela Entrudo traça o próprio caminho à frente da GoFun Eventos

Daniela Entrudo | Crédito: Tony Santos
Persistente e dona de si, a publicitária Daniela Entrudo experimentou diferentes posições na comunicação antes de mudar o rumo da carreira e reconhecer em si a capacidade de empreender. Queria tomar as próprias decisões, fazer o próprio caminho. Foi assim que fundou a GoFun, especializada em gestão de eventos corporativos. Hoje, vê no ofício mais da atividade de produtora do que publicitária e não deixa dúvidas de que ama o que faz.
Daniela começou a estudar teatro quando tinha 10 anos e, desde cedo, a relação com a cultura a aproximou da comunicação. A área, no entanto, passou a ser vista como uma possível profissão apenas quando aos 16 anos fez um teste vocacional, que, após encontros com psicólogos, indicou a comunicação como um caminho. Foi então que prestou vestibular para Publicidade e para Jornalismo e, aprovada nas duas seleções, acabou optando pela primeira.
Com mais de uma década de trajetória profissional, acumula experiência em agências, produção de eventos e empresas. Um dos primeiros trabalhos na carreira foi desenvolvido para a Agafarma, onde atuou entre 2000 e 2002. "A gente organizou a convenção de vendas da rede, patrocinada por laboratórios. Foram três dias de vendas de medicamentos, palestras? Acabei me encantando por isso", conta. Antes de apostar de vez no próprio negócio, ainda trabalhou no Departamento de Mídia de agências como Dez (à época, Fischer América), Fullgas, Paim e Scalinatta, e em empresas como Sesc-RS, Grupo RBS e Rede Pampa.
A GoFun, criada em 2010, representou um novo passo na trajetória e resultou em novos aprendizados. "Nas faculdades, pelo menos na minha época, se estudava para estar dentro de agência trabalhando para alguém. Eu não tive uma cadeira que falasse em empreendedorismo, negócios, visão, missão e valores, nada disso. Quando me formei, tinha dúvida sobre que rumo seguir. Hoje, digo que me encontrei", argumenta.
Constante desafio
Foi aos 30 anos que Daniela decidiu dar uma chacoalhada na vida e redirecionar a carreira para a área comercial. Acreditava que assim ganharia mais dinheiro, até que em um trabalho de coaching foi questionada se gostava de vender. A resposta foi um imediato "Não, eu odeio vender", que logo a fez perceber que aquilo não combinava com seu perfil. "Descobri que o que me dá brilho nos olhos é trabalhar com produção. Fazer toda a parte de planejamento, criar o evento e no dia ver tudo acontecer. Foi, por isso, que resolvi abrir a agência", diz.
Entre as realizações à frente da GoFun, guarda carinho especial pelo primeiro trabalho realizado com a empresa. Lembra que, inicialmente, tinha a intenção de atender apenas a eventos sociais, como formaturas, 15 anos e casamentos. Chamada por um amigo para uma conversa, até pensou que trataria sobre o aniversário da filha dele, mas a proposta era para o lançamento da cerveja Miller, marca norte-americana que estava retomando as vendas no Brasil. "Era um baita case e eu não iria dizer que não fazia eventos corporativos, só sociais. Tenho muito carinho por esse projeto não só pela grandiosidade, mas porque foi o primeiro, o que deu o start, e exigiu uma dedicação muito grande."
Quando comemora os cinco anos de atividades da GoFun, Daniela vê no dia a dia de empreendedora um desafio diário. No início, fechava um job e pensava: "Com essa grana, eu sobrevivo cinco meses". Hoje, já não tem mais esta preocupação, mas avalia que o jogo "ainda não está ganho". Não tão à frente do trabalho de produção, concentra-se em manter as relações de bastidores e firmar parcerias. Diferentemente de uma agência de propaganda ou de comunicação, no mercado de produção não há fidelidade e ela ressalta que, neste caso, o importante é ser lembrado.
Trabalhar com produção permite uma rotina menos rigorosa, uma agenda mais flexível, o que, para Daniela, é sinônimo de mais qualidade da vida. No dia a dia, alterna-se entre o trabalho no escritório, contatos para orçamentos, reuniões e visitas técnicas, em um expediente que começa em torno das 9h e pode terminar às 16h ou às 22h. "Ter a liberdade de fazer meu horário é muito bom. No início do ano, tirei férias, fui fazer um curso e me afastei do escritório por 45 dias, o que não conseguiria trabalhando em outro lugar", relata. Ainda neste ano estabeleceu uma nova regra: não trabalhar nas tardes de sexta-feira. Mas lamenta, sorrindo, que só consegui fazer isso duas vezes. Até agora?
Memórias de menina
Natural de Porto Alegre, Daniela cresceu em família pequena e aprendeu desde cedo o valor de ter responsabilidades. O pai, o representante comercial Sérgio Antônio Gomes Entrudo, faleceu precocemente, quando a menina tinha oito anos. Por conta disso, a mãe, a técnica em Enfermagem Eli dos Reis Entrudo, trabalhava muito e Daniela a ajudava nos cuidados com a casa e com o irmão, Guilherme dos Reis Entrudo, quatro anos mais novo e, atualmente, acadêmico de Administração atuante na área comercial em construção civil. "Amo a minha família e minha mãe é a base de tudo, minha musa inspiradora. Tenho um grande exemplo em casa."
Na infância Daniela tinha, sim, pequenos deveres, mas diz que isso não impediu de aproveitar as brincadeiras. "A gente ia jogar fliperama no Centro, na brinquedoteca da Casa de Cultura Mario Quintana, e passava as tardes jogando War", recorda. E o tempo de criança também traz indicativos da veia empreendedora, como quando se reunia com mais duas amigas para vender sanduíche e refrigerante em frente ao teatro do Museu do Trabalho, nos fins de semana de apresentações.
Aos 35 anos, longe do trabalho a publicitária curte uma vida leve, faz academia duas vezes na semana e gosta de andar de bicicleta, seja como atividade física ou meio de transporte. Mais distante das peças de teatro - o que assume como uma falha -, frequenta festas, bares e cinemas, mas o lazer que mais a empolga é viajar. Tanto que, às vezes, prefere não sair todo o fim de semana, para, com esta fugaz "economia", passar algum tempo no Rio de Janeiro.
Para inspirar e distrair
Além de se dedicar aos estudos de Inglês, também ocupa o tempo livre com as leituras, especialmente biografias. Uma obra do gênero que indica trata sobre Bill Graham, produtor norte-americano que descobriu Led Zeppelin, produziu Rolling Stones e teve participação em grandes festivais como Woodstock. Recentemente, finalizou a biografia de Ron Wood, do Rolling Stones, e ainda está na lista a de Steve Jobs.
Para ouvir, o estilo favorito passa pelo rock e pela música brasileira. "Me criei com um tio que era hippie e boa parte do que escuto hoje é por influência dele", explica. A preferência musical, conta, era motivo de estranhamento entre os colegas nos tempos de escola. "Todas as crianças escutavam Cidade e rádios mais populares e um dia perguntaram pra mim que rádio ouvia. Eu respondi Felusp e Ipanema. Todo mundo ficou dizendo: como assim?". Atualmente, escuta bandas "mais moderninhas", como The Strokes, Edward Sharpe & The Magnetic Zeros, Lana Del Rey, Black Keys, Red Hot Chili Peppers e músicos locais como Apanhador Só e Dingo Bells.
Ela admite que entra na cozinha apenas por obrigação. "Segunda-feira é aquele dia em que compro um monte de legumes, faço um sopão e fico comendo por quatro dias", brinca, revelando uma tentativa de simplificar a vida na cozinha. Mesmo assim, faz questão de preparar um prato especial para aqueles que a visitam em casa: sanduíche de carne de panela, com cebola caramelizada e pão sírio. "Essa é a minha especialidade", garante.
Para o mundo
Quando fala em projetos para o futuro, as viagens são o que enchem os olhos de Daniela. "Não morro sem conhecer a Tailândia, preciso andar de balão na Capadócia, conhecer a Grécia, ir a Machu Picchu?". É isso, todos os seus sonhos hoje estão relacionados a viagens. Em breve, pretende começar a planejar a ida para Austin, nos Estados Unidos. A ideia é acompanhar cinco dias do festival SxSW (South by Southwest) e seguir para Nova Iorque. O gosto por viajar é tanto que até virou argumento na hora do trabalho, pois acostumou-se a comentar: "Fecha esse orçamento comigo? Preciso programar minha próxima viagem".
Fidelidade é uma das qualidades que Daniela preza e, acredita, carrega consigo. Particularidade que não diz respeito apenas às próprias ideias, mas aos compromissos assumidos com outras pessoas. "Se digo que farei alguma coisa, me esforço ao máximo para realmente cumprir o que prometi. Isso é uma coisa muito forte em mim", esclarece. Um defeito, segundo ela, fica por conta da criticidade, aspecto que tem trabalhado para não parecer implicante. O fato é que independência e persistência também são marcas da personalidade de Daniela, que se define como uma pessoa para quem não existe difícil. "Se estabeleço um objetivo, vou atrás", sintetiza.

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