Daniele Lazzarotto: No mundo para compartilhar

Filha de professores, publicitária traz para a vida pessoal e profissional os momentos que passou nas salas de aula

Daniele Lazzarotto - Créditos: Leonardo Curtis

Na infância passada na terra natal, em Ijuí, quando não tinha com quem ficar em casa, Daniele Lazzarotto estava quietinha nos fundos das salas de aula ou lendo na biblioteca. Ao pai, Danilo, e à mãe, Maria Ivone, ambos professores, de História e Antropologia, e Português e Literatura, respectivamente, agradece por suas profissões. Deles, Dani, como é conhecida, teve muito mais do que suporte, mas pessoas com quem trocar e perguntar sobre os conteúdos e, principalmente, sobre a vida.

Caracterizada por uma psicóloga como a personagem sagaz e estudiosa Hermione - da série de livros e filmes britânicos Harry Potter -, brinca que é, sim, uma "nerd chata e desinteressante", quando, na realidade, é focada e determinada. Sem muito tempo para o lazer, as últimas leituras foram sobre a área de atuação, enquanto o momento da academia é dividido entre caminhadas na esteira e o aprendizado por meio de podcasts.

Não é para menos: a publicitária está em um momento de transição na carreira. Após 10 anos de experiência com Planejamento em agências, deixou de pertencer a uma companhia - a Morya - para se tornar a sua própria empresa, e, com o propósito de entregar valor às pessoas, lançou a Tricô. Para tal, ela acredita que, hoje, há o desejo de querer ser alguém. "Quero ser a melhor versão do que eu puder ser de mim."

Por fim, planejamento

Embora pareça que a escolha da profissão tenha sido há muito tempo, conta que, na verdade, foi reflexo da decisão da irmã mais velha, Raquel, em cursar Publicidade e Propaganda. Por se achar criativa, em 2005 ingressou na Unijuí, instituição da qual o pai, que era padre até os 42 anos, ajudou a construir, e largou a batina após conhecer Maria Ivone entre um corredor e outro das salas de aula. Com a história dos pais, que continuaram a lecionar no local, "era uma questão de obrigação". Assim, além da filha mais velha e da caçula, publicitárias, a irmã do meio, Flávia, também cursou Direito lá.

O desejo por ser redatora e trabalhar com filmes durou pouco. Logo no início das aulas percebeu que não era "a sua praia", então veio o interesse pelo marketing, mas seu rumo mudou novamente. Ao iniciar as pesquisas para o Trabalho de Conclusão de Curso, começou a estudar sobre marcas e descobriu o que era um planejamento, "cachaça" que jamais largou.

Paralelo à graduação, foi no primeiro semestre, e em 27 de março, dia do seu aniversário, que ingressou no primeiro estágio, na Cooperativa Regional de Energia e Desenvolvimento Ijuí (Ceriluz), no marketing e encerrou o ciclo de três anos como assessora de Comunicação. Ao se formar, em 2009, queria mais e foi então que os olhos brilharam ao descobrir em Zero Hora o trabalho da Competence voltado ao Planejamento de marcas. Cerca de quatro meses após se tornar bacharel, passou em uma seleção de trainee da agência de João Satt. Saiu de lá após dois anos, como executiva de Planejamento, com trabalhos para marcas como Panvel e Paquetá, onde diz que ganhou expertise na área.

Após um pequeno período em outra empresa do Grupo Competence, a Green Propaganda, passou a trabalhar na Morya, em setembro de 2011. Nos sete anos passados na agência dos sócios Fábio Bernardi e Lara Piccoli, tornou-se gerente de Planejamento. "A Morya é uma família. Pessoas que estavam em dias ruins, mesmo assim, estavam disponíveis. Eles conseguem se doar mais para que os outros consigam estabelecer seu ritmo."

De presidente a premiada

Ainda na Competence, a então presidente do Grupo de Planejamento do Rio Grande do Sul (GPRS), Patrícia Carneiro, a convidou, em 2010, para participar dos encontros. Ela não só aceitou, como começou a frequentar e nunca mais parou. Foi assim que ficou à frente do GPRS de 2014 a 2017. Com dificuldade, mas determinação, construiu sua representação política com a alegria de trabalhar voluntariamente aliada ao ensinamento que teve com a convivência com o pai historiador, e a conscientização de saber a importância de quesitos para o comando, como a capacidade de liderança, de ouvir e de mobilizar a equipe.

Neste meio-tempo, veio a recompensa: concorreu três vezes como Profissional de Planejamento do Ano, pela Associação Riograndense de Propaganda (ARP). Em 2016, subiu ao palco do Jantar da Propaganda para receber a estrela, conquista que jamais imaginou quando, há 10 anos, veio para a Capital. Símbolo tradicional do mercado, contudo, ressaltou que, mais importante do que o objeto em si, é tudo o que ele significa. Hoje, o troféu se encontra na sala do apartamento que divide com o namorado, Leonardo Curtis, com quem está há cinco anos e conheceu na Morya -, ao lado das fotos dos familiares.

Um vício chamado série

O apartamento do casal ainda abriga o gato malhado Fiapo, que foi abandonado na casa da sogra e conquistou os publicitários que, até então, não gostavam de felinos. Às gargalhadas, revela que vivem em função dele. "É patético, sabe?" Fiapo, que não deixa a dona trabalhar quando sobe na cadeira de Dani, ainda possui uma conta no Instragram "para os nossos (dos namorados) não serem lotados somente com fotos dele".

Intitula-se "viciadinha e voraz", pois, quando não está estudando, é na frente da televisão que se encontra para assistir séries na Netflix. Consome de tudo, desde as séries da Marvel, que considera sem conteúdo, até as "mais elaboradas". Adora as de comédia, que é a distração nos momentos das refeições. Está assistindo 'Perdidos no Espaço' ao mesmo tempo em que revê 'Friends' e 'Fargo', porém, a favorita mesmo é 'Breaking Bad'. "Quando 'Game of Thrones' entra em recesso a gente fica de luto e vê essas coisinhas", brinca.

Gremista, que não acompanha muito, e diurna que acorda e dorme cedo, possui um personal trainer, com quem se exercita na academia do prédio, apesar de detestar. Na culinária, embora seja de origem italiana, tem intolerância ao glúten, ou seja, a massa dá lugar ao risoto frequentemente - o que, para ela, é o mais perto da cozinha italiana. Católica de família, acredita em todo tipo de religião, e se diz mais espiritualizada do que religiosa.

Com uma playlist que varia de Maroon 5 ao uruguaio Jorge Drexler, último show que compareceu, adora música brasileira, principalmente, com a curadoria de Léo. Em relação ao cinema, confessa que odeia blockbuster e prefere os filmes mais dramáticos e lentos, como 'A forma d'água' e 'Que horas ela volta?'.

Não lembra o último livro que leu e que não era relacionado aos estudos, e diz que gosta de todo tipo de literatura, até mesmo de bulas de remédio, pois confessa ser quase uma hipocondríaca. O que prova ao mostrar a bolsa repleta de medicamentos. O Kindle, para ela, foi a melhor compra dos últimos tempos, contém a obra 'Terra Sonâmbula', do escritor português Mia Couto, pronta para ser consumida.

Feminista por obrigação

Ainda está na lista de leitura 'Sejamos todas feministas', de Chimamanda Ngozi Adichie, tema que é total de seu interesse. Por ser mulher, afirma que não tem como não ter ligação com o feminismo. Enquanto presidente do GPRS, presenciou a importância de ter consciência sobre o movimento e lutar por seus direitos. Se, atualmente, consegue transitar pelos espaços com confiança, além de ter a consciência de que conquistou o respeito das pessoas, agradece aos pais, que a elogiavam quando criança, e a fizeram se desenvolver como profissional, como mulher e como pessoa e não como esposa. Por isso, credita a eles o fato de ser livre.

Com a recente descoberta de que seu lema de vida é compartilhar com as pessoas, sua personalidade ainda possui outra característica marcante, a qual considera uma qualidade e um defeito, ao mesmo tempo. Honesta e verdadeira, é um desafio para ela não emitir opinião. O jeito peculiar é uma herança italiana por falar alto e dizer as verdades na frente das pessoas, mas sem ofender.

 Ijuiense de criação e de coração

Dani não passa mais de dois meses sem visitar a cidade de suas origens. Além dos pais serem idosos e da saudade da família, adora reencontrar os amigos de infância, que formou nos 22 anos que viveu lá. Da infância, carrega a lembrança de quando quebrou o braço no aniversário: a tristeza de passar o dia no hospital foi amenizada quando os coleguinhas organizaram uma festa-surpresa. Foi quando aprendeu que os amigos transformam qualquer situação em algo melhor.

Apesar desta forte ligação, pretende, no futuro, trabalhar com profissionais de outros países, a fim de buscar e ampliar referências. Para isso, deseja encontrar lá fora o que ainda não conseguiu achar aqui. Falando em viagem, relembra a vez que ela e Léo foram para a Califórnia, no Estados Unidos, em 2016, que considera inesquecível. A próxima, adianta, será um resgate histórico pela Itália para entender suas origens. Porém, o embarque não será tão cedo, afinal, nasceu uma empreendedora e pretende focar na mais nova Tricô.

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