Delmar Gentil: Simples, porém exigente

Presidente do Sindicato das Agências de Propaganda e VP Financeiro da Dez, Delmar Gentil valoriza as pequenas coisas

Por Márcia Farias

Encantamento. Foi por conta deste sentimento que Delmar Gentil, 49 anos, entrou no mercado publicitário. Em 1994, pouco depois de deixar a atividade de bancário, surgiu um convite de Fábio Socolowski (um dos fundadores da Dez), a quem conheceu quando atuava no Bradesco. A missão era organizar o setor administrativo e financeiro da agência Dez. Com uma família grande se formando - ele é pai de quatro filhos - e percebendo que precisava de mais renda, topou o desafio. "Quando cheguei lá, em uma agência que tinha um ano, com quatro jovens publicitários, tudo era muito bagunçado. O setor financeiro nem tinha computador", recorda, sorrindo. Ele lembra que foi preciso tranquilidade para colocar ordem na casa. Aos poucos, os projetos foram implantados, as operações passaram a ser padronizadas, enfim, tudo começou a tomar forma.

A ideia inicial era ficar cerca de três meses, apenas para completar a renda. Neste aspecto, os planos não deram certo, e o trimestre se transformou em 19 anos de dedicação à Propaganda. Tanto que no final do ano passado assumiu como presidente do Sindicato das Agências de Propaganda do Estado (Sinapor-RS). "A cada dia que passava percebia que estava adorando aquela loucura, a falta de rotina. Trabalhar com pessoas e ter desafios diários me encantou, definitivamente", lembra, ao mesmo tempo em que ressalta que, por gostar de ser provocado, o fato de não ter rotina é o que o move até hoje, pois o dia começa de uma maneira, mas nunca termina igual. Para ele, é preciso jogo de cintura e flexibilidade para lidar com isso. Por mais que as tarefas do dia não saiam como o planejado, acredita que não é necessário sofrimento, apenas organização para reformular a agenda. "Cuido das áreas de financeiro, administrativo, operacional e tecnologia. Claro que tem coisas pontuais, que precisam ser feitas todos os dias, mas pensar as prioridades é um exercício diário", pontua.

Estar em uma posição de liderança também é algo que o instiga. Delmar acredita ser uma pessoa agregadora, que se preocupa com os outros e com o ambiente em que convive. Ele admite que, algumas vezes, é visto como exigente (e até ríspido), mas essa não é a regra geral. Trabalhar pelo bem-estar da equipe é uma de suas atividades preferidas. Por isso, volta e meia, inventa um mimo para os colaboradores, seja um bolo com chá em dia de chuva ou TVs ligadas em dia de jogos do Brasil, entre outras ações. "Saber lidar com pessoas é meu grande desafio. Fazer com que elas se sintam bem no ambiente de trabalho e dar ferramentas para isso é muito gratificante", diz, destacando, em seguida, que deixar claro o papel de cada um na agência, passando informações precisas, pode contagiar todo mundo.

Tradição

Natural de Porto Alegre, Delmar Antônio Gentil Júnior é o caçula de três - completam o trio a professora aposentada Virgínia e a publicitária Simone, que trabalha na Competence. O filho do funcionário público estadual Delmar e da dona de casa Mirna vem de família grande. Tanto que sua principal lembrança de infância é a casa da avó, que vivia cheia nos finais de semana, o que era facilitado pelo fato de a maioria morar na mesma rua. "Eram 45 pessoas almoçando juntas", detalha. A união da família não mudou nada desde que ele deixou de ser criança. Ainda hoje, almoços na casa da mãe, aos sábados, são sagrados.

O hábito de reunir muita gente, Delmar aprendeu direitinho. Se no sábado ele almoça com a mãe e seus familiares, o domingo é dedicado aos amigos, filhos, genros e nora, já que gosta de ter todos por perto. Também entra na programação de final de semana uma ida à feira, ao Mercado Público e à Ceasa, para garantir a alimentação da semana e a decoração da casa. "Faço isso todos os sábados de manhã há 20 anos. É tão carimbado que, agora, temos um grupo no condomínio que faz o mesmo, todo mundo junto. É uma grande festa", detalha.

A grande família

Casado há 30 anos com a professora Marília, o tempo não permitiu que Delmar esquecesse como se faz um elogio à esposa. E não os poupa: "Sou um cara apaixonado pela minha mulher. Ela é uma guerreira, uma leoa, uma mãe exemplar, maravilhosa. É o equilíbrio da família", derrete-se, enquanto complementa que ele é uma pessoa mais sentimental, mais calma, que gosta de dialogar mais, enquanto Marília é prática e enquadra todo mundo que necessite. Para quem vem de família grande, é natural que faça o mesmo na vez dele. Quando tinha 30 anos já era pai de quatro filhos: Débora, pós-graduada em Marketing, 28 anos; Bruna, fonoaudióloga, 25; Mariath, 24, cursa administração; e Gabriel, 20, faz o mesmo curso de Mariath.

Ter família grande também é sinônimo de projetar. Afinal, Delmar precisa pensar em alimentação, ombro amigo, companhia, estudos, entre outros. Neste item, ele se orgulha em contar que a prole cursou (e cursa) Ufrgs. O motivo? Simples: "Falei para eles que, se pagasse uma faculdade particular para a Débora, o mesmo teria que ser feito com todos, e não teria condições. Então, se quisessem isso, deveriam trabalhar para pagar o curso superior. Preferi investir em curso pré-vestibular e deu certo", explica. O convívio com a família é algo que tem como sagrado. Como acredita que essa é a base de tudo, até hoje preserva o hábito de almoçar em casa com todos juntos. "São coisas assim que nos fazem permanecer unidos", resume.

Ter todos por perto, esforço que faz também no trabalho, inclui os genros e a nora. Ele afirma que os trata como amigos, a ponto de sempre incluí-los nos programas, pois acredita que namorar é bom e faz bem para todo mundo. Aliás, ter três filhas mulheres não foi um problema. "Ver o crescimento dos filhos é maravilhoso, é um conjunto de aspectos que fazem com que isso seja especial. O que atrapalha a vida de um jovem é ter uma família instável", garante. Estar perto de jovens também é algo que lhe agrada, pois acredita que esta geração "é muito mais legal" que a da época dele, já que são mais informados, mais equilibrados e mais "do bem".

Beatles? Não, obrigado

Após contar dos seus, é hora de falar de si mesmo. Considerando seus gostos pessoais, Delmar pode ser chamado de 'um cara simples'. Gosta de música popular brasileira, passando por Zé Ramalho, Alceu Valença, Raul Seixas, até "as coisas que os jovens gostam". Rolling Stones também faz muito bem aos ouvidos. O que não gosta? Beatles. Pode parecer estranho alguém dizer isso, visto a geração da qual pertence, mas ele explica: "Tive um cunhado que tinha uma banda e vivia cantando as músicas deles, mas o cara era muito chato. Acho que fiquei traumatizado", conta, rindo. Também gosta muito de filmes, mas, no momento, o que mais recorda é 'V de Vingança', de James McTeigue. Aliás, ele comenta, inclusive, que a obra tem tudo a ver com as manifestações que os jovens têm feito, neste outono de 2013.

Quando se fala em lazer, diz que é exigente, mas não abre mão das coisas simples da vida. Isso se reflete, por exemplo, nos dias que vai na Ceasa, onde se sente bem por estar no meio das pessoas, em uma sensação rústica. Para comer fora de casa vale o mesmo preceito. Pode ser um PF (prato feito), não precisa de luxo, mas o local precisa estar, no mínimo, limpo e organizado.

Por aí

Viajar não é um prazer, mas uma conquista que deve ser comemorada. Há um mês e meio, por exemplo, foi para Londres, França e Turquia e poder fazer uma viagem como essa é a realização de um sonho, sempre valorizado. "Gosto mais de locais históricos e que me proporcionem contato com a natureza. Mais do que ser turista, gosto de me sentir parte do local que estou conhecendo, fujo do lugar-comum", conta, para em seguida revelar que não contrata pacotes turísticos, pois prefere programar as próprias viagens e fazer seus roteiros. Como não poderia ser diferente, a família sempre o acompanha, inclusive os genros. "Daí eu divido. Às vezes vai uma parte, depois vai outra. Gosto de proporcionar isso para eles", afirma.

A Praia do Rosa é o canto especial da turma. Não tem casa lá, pois não gostam de se fixar em apenas um lugar. Escolhem sempre entre duas pousadas, onde sempre ficam. "Conhecemos muita gente lá e é sempre uma festa. Inclusive, foi lá que conheci a Marília", lembra. Para Delmar, o Rosa é uma praia que preserva muito seus cenários ambientais e, apesar de conhecer muito bem a região, estar lá é sempre uma novidade. "Meus filhos brincam comigo dizendo que, quando estou perto da natureza, entro em transe. E é isso mesmo. Tanto que tenho sempre meus momentos sozinhos. Preciso disso, dessa conexão", revela.

É nessas horas, de solidão com a natureza, que ele pensa na vida e em si mesmo. Autoavaliação, aliás, é um exercício que faz todos os dias, antes de dormir. "Sou um cara que preserva o respeito e a ética. Detesto falta de respeito, isso me tira do sério", diz, completando que está sempre tentando aprender, pois não sabe ser acomodado. Se não está apaixonado por algo, é sinal de que algo dentro dele precisa ser arrumado. E conclui: "Posso ser exigente mesmo, comigo e com os outros, mas isso não me tira a simplicidade".

Comentários