Denise Cruz: Radialista por acaso

Dedicada à profissão há 20 anos, Denise Cruz transformou um imprevisto em paixão e assegura que o rádio a conquistou de vez

 

Denise Cruz | Divulgação

Denise Cruz | Divulgação


Por Gabriela Boesel
Animação é a palavra que melhor traduz a jornalista e radialista Denise Cruz, que transmite bom humor e energia, inclusive, pelas ondas do rádio. Com diversas histórias para contar, muitos foram os desafios, os dilemas e as conquistas que ajudaram a construir os 20 anos de profissão que carrega no currículo. Radialista por acaso, Denise fez de um imprevisto sua paixão e assegura que a plataforma de comunicação a conquistou de vez. "Tive a grata surpresa de o rádio entrar na minha vida", conta, feliz.
Adepta do texto, deve ao ex-colega Julio Fürst o fato de, hoje, estar atrás dos microfones. "Se Julio não tivesse dito, eu nunca teria descoberto minha voz", lembra, ao mesmo tempo em que diz que, ainda na faculdade, alguns diziam que tinha voz bonita, mas que não pensava em sair da redação. Afinal, o sonho de criança era estar à frente de uma revista, como editora-executiva.
Formada pela Famecos, da PUC, em 1999, logo ingressou no meio de onde não mais saiu. De estagiária a apresentadora e produtora, a jornalista coleciona passagens por todas as emissoras do Grupo RBS e diz que é grata pelas oportunidades que lhe foram dadas, pois, assim, conheceu diferentes públicos, linguagens e tipos de textos.
Da revista para o rádio
O desejo de fazer revista remonta à época da infância, quando, espectadora da nova "Vale Tudo", da TV Globo, admirava a atriz Lídia Brondi no papel da produtora Solange Duprat da revista Tomorrow. "O enredo da novela era legal, mas eu amava a parte da revista. Era minha inspiração. Isso foi determinante para que eu entendesse o que eu queria da vida realmente", analisa, ao mencionar que estava decidida aos 12 anos de idade.
Por ironia do destino, nunca atuou neste tipo de veículo. Aliás, em nenhum outro. "O rádio começou a me capturar de uma forma que não me deu espaço para pensar em mudar", relata. E não se arrepende. Mesmo assim, conseguiu fazer muito daquilo que tinha vontade, afinal, trabalhou como produtora-executiva antes de assumir na locução.
A entrada no Grupo RBS também aconteceu de forma despretensiosa. Por indicação de uma amiga, se inscreveu para uma vaga na rádio Cidade. "Me ligaram para dizer que essa vaga já havia sido preenchida, e perguntaram se eu aceitaria ingressar na Atlântida. Claro que aceitei", fala, eufórica. Participou também do projeto "Novos Talentos" - a versão da rádio para o "Caras Novas", da RBS TV, e "Primeira Pauta", de Zero Hora (único veículo que mantém a iniciativa) -, e foi chamada para ficar na então Gaúcha 102 FM, a atual Gaúcha, como produtora.
Hoje, na União FM, de Novo Hamburgo, lembra com carinho do início da carreira e dos caminhos e escolhas que a fizeram chegar até aqui. "Ter a possibilidade de começar com esses caras como professores foi um presente", recorda, ao mencionar, além de Julio Fürst, os ex-colegas Tadeu Malta, Alexandre Fetter e Nilton Fernando.
Uma profissão, muitas histórias
Em meio à apresentação do programa Sintonia, que comanda na União FM, onde está desde março deste ano, Denise relembrou diversas histórias que vivenciou com carinho e comicidade. Contou que, ainda como foca, foi designada a entrevistar Ione Pacheco Sirotsky, com um aparelho chamado MD. "Treinei bastante na rádio para saber mexer no aparato. Na volta, quando dei o play para ouvir a entrevista, apertei em alguma coisa e apaguei tudo. Fiquei apavorada", lembra, aos risos.
Outra lembrança remonta à sua estreia, quando foi convidada por Tadeu Malta para apresentar o programa da noite. "Achei que estava arrasando, quando o Tadeu me ligou dizendo que minha voz estava muito baixa e que o técnico havia errado a primeira música. Foi um fiasco", recorda.
Entre tantas experiências, uma merece um lugar especial na memória, afinal, Denise foi a primeira mulher a assumir a apresentação do programa "Notícia na Hora Certa", da Gaúcha, em 2007. "Isso foi uma surpresa. Quando eu abri a porta do estúdio, a redação estava de pé aplaudindo. Achei que estavam só me dando força, até que me contaram. Dei graças a Deus por ter entrado no ar sem saber que era a primeira mulher no noticioso, senão, a perna ia tremer", se emociona, ao relatar que "fazer parte disso é história. Meu maior desafio eu não sabia que estava vivendo".
Tudo é aprendizado
Mãe do Matheus, de 11 anos, e esposa do Cristiano há 17, Denise enxergou na saída da RBS, onde atuou por 20 anos, uma oportunidade de rever mudanças e escolhas, e comemora o fato de, hoje, estar na União FM. "Estava acostumada com tiro, porrada e bomba em Porto Alegre. Daí eu chego nesse morro da comunicação e é só verde, mata nativa e um prédio no meio que é onde tu trabalhas. Obrigada", agradece.
A mudança também representou uma aproximação das atividades familiares. "Eu perdi homenagem do Dia das Mães e festas de final de ano, e não estava presente em momentos importantes para meu filho, porque estava respeitando uma escala de trabalho", analisa, mas assegura que não se arrepende. "Me dediquei ao trabalho com apoio e compreensão da minha família", relata. Atualmente, com a vida mais tranquila, garante que buscará manter isso daqui para frente. "Quero poder conciliar cada vez mais meu trabalho, que é onde eu me realizo e sou feliz, com minha vida pessoal, com minha família e com as pessoas que eu amo."
A jornalista se divide entre a emissora hamburguense e a coordenação do curso de Jornalismo na Faculdade São Francisco de Assis, em Porto Alegre. Entre os planos para o futuro, está a vida acadêmica. "Não sei se daqui a 10 anos ainda estarei no rádio, mas acredito que esteja vivendo coisas relacionadas a ele, principalmente na questão de sala de aula, pois acho que é preciso compartilhar experiências e conhecimentos, além de dividir o que enxerguei nesses 20 anos", planeja.
Música, música e música
"Essa é a pergunta mais difícil que alguém pode me fazer", responde ao ser questionada sobre seu estilo musical preferido. MPB, rock, soul e disco music são apenas algumas das preferências da jornalista que assegura gostar de tudo. Confessa que, no carro, costuma ouvir soul, mas que a banda preferida, se precisar eleger uma, é Beatles. "Tudo o que se pensa de música passou, em algum momento, por eles. É uma grande referência", pontua, ao lembrar que o show do Paul McCartney, em Porto Alegre, foi um dos melhores que presenciou.
Cinema também faz parte das atividades culturais da radialista, embora, em função do filho, tenha assistido mais animações do que outros tipos de filmes, ultimamente. Sem falar na Netflix, que a conquistou e que a fez "virar zumbi", de tanto que se viciou na série The Walking Dead. Na literatura, obras técnicas são as mais consumidas por causa da faculdade, e nas férias, dá mais espaço para outras produções, como "Esquerda Caviar", de Rodrigo Constantino, que voltou a ler.
Entre os passatempos preferidos da filha mais nova do seu Hermínio e da dona Margarida, está passar os finais de semana na casa da praia em Atlântida Sul. "É sempre uma festa. Vai toda a família para lá. Adoro", ressalta a colorada. Tanto que costuma dizer que não teria resistência em morar na praia e trabalhar em uma rádio do litoral.
Fã da gastronomia, mas não de cozinhar, Denise gosta de todos os pratos, com atenção especial para os churrascos de domingo e o sushi sagrado de toda semana. Confessa, ainda, que é péssima pilotando o fogão, mas que aprecia o momento em família que o ritual de refeições proporciona.
Várias Denises
Católica não praticante e simpatizante do espiritismo, se considera uma exigente consigo mesma e um pouco preguiçosa quando o assunto é exercício físico. "Me matriculo na academia e no terceiro mês já nem apareço", reconhece. Se diz insegura em alguns momentos, especialmente no que se refere ao filho. "Quero proporcionar a ele um lugar seguro, mas que lugar seguro é esse?", questiona.
Mãe, profissional, dona de casa e atrapalhada são as várias Denises que se dividem em uma mesma personalidade que tem a positividade como ponto em comum. Pois Denise é mesmo assim, gosta de pensar que as coisas acontecem no seu tempo e que as dificuldades devem ser vistas como uma oportunidade de rever escolhas. "É no que eu acredito e o que me força o exercício de reflexão", explica, ao dizer que está sempre pela semana que vem. "Essa semana foi corrida, mas a próxima estará supertranquila. Lógico que não, né? Mas as coisas vão dar certo sempre."

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