Eduardo Conill: Do luxo à simplicidade

Colunista social fala sobre os prazeres da profissão e o desapego com a vaidade

Por Márcia Farias
Ele mesmo se considera um cara mal-humorado, mas não é como se mostra em quase duas horas de conversa em seu apartamento próximo à Rua Padre Chagas. Entre muitas brincadeiras e sorrisos, Eduardo Real Conill fala sobre sua longa trajetória no Correio do Povo e detalha os prazeres que o colunismo social lhe oferece há mais de 30 anos. Jornalista e funcionário do Banco Central, diz que "caiu nesta área" por acaso, já que conhecia muita gente, era bem relacionado e sempre teve facilidade se expressar e colocar no papel o que pensa. "Tenho prazer em redigir e sou muito feliz com o que faço", assegura. E confessa que gosta dos prazeres que sente ao exercer a atividade - e especialmente de alguns confortos que a posição trouxe, como, por exemplo, ter um lugar privilegiado em um bom restaurante. Mas tem o lado negativo também: Conill cita a impossibilidade de ir a um supermercado com a barba por fazer, uma roupa mais à vontade ou de chinelos, já que a qualquer momento pode encontrar alguém conhecido. E aí se sentiria muito constrangido, não tenha dúvida.

O início de tudo está no extinto Diário de Notícias, onde chegou indicado por um casal de amigos, artistas plásticos, que precisavam de um crítico de Arte. Dali para a coluna social foi um passo - e a 'promoção' veio em seguida, com um convite de Francisco Antônio, o Tonho, um dos filhos de Breno Caldas (dono da extinta Companhia Jornalística Caldas Júnior, que detinha o jornal na década de 1970). Foi uma proposta irrecusável, não só porque a Caldas Jr. era, na época, mais importante e influente, como pelo salário que, calcula ele, representaria hoje algo em torno de R$ 20 mil por mês. O cargo ainda incluía o título de assessor especial da diretoria. Mas viveu um paradoxo: "É bom dizer que, em qualquer uma das atividades, o doutor Breno nunca me engoliu. Sempre fui de vidro para ele e nunca me cumprimentava. Eu custava para a empresa o equivalente a meio salário mínimo por dia de multa no Sindicato, já que não era jornalista com formação acadêmica", conta.

Natural de Pelotas, de cuja infância guarda lembranças gostosas, não sabe dizer se hoje é realizado, mas tem certeza que é feliz e que, se morresse amanhã, iria tranquilo, "grato por tudo que a vida me deu". Algo que ainda quer realizar? Tem sim, mas ele prefere não alcançar para não correr o risco de ficar acomodado. Alimenta também a vontade de ter mais espaço no jornal, para fotos e textos, mas entende que esta é questão editorial e julga o desejo até pretensioso.
O melhor elogio

Claro que, como é normal, Conill gosta muito de ouvir elogios, desde que não seja feito diretamente a ele. Aí não sabe como agir, fica a tal ponto constrangido que sente vontade de que o chão se abra. Diz que sabe ouvir críticas, que recebe de bom grado e garante que, de todas recebidas, poucas não foram, de alguma forma, aproveitadas. "O elogio sincero é dado com gestos de simplicidade. Aquele que sinto não ser verdadeiro, acho nojento", explica.

A situação mais marcante de reconhecimento profissional é contada com emoção e lágrimas discretas. Por conta disto, ele justifica: "Nunca falo deste momento, pois sempre me emociono". Estava em um dia comum na redação do Correio do Povo quando um senhor modesto entrou e pediu para falar com ele. Começou dizendo saber que a coluna não era para ele, um operário, mas que as duas filhas debutariam e que tinham o sonho de aparecer no jornal. Antecipou-se afirmando que já havia falado com as meninas que não seria possível, mas que devia esta conversa a elas. Conill solicitou uma foto das aniversariantes e publicou o evento. Dois dias depois, o operário retornou à redação com um vinho muito simples, como forma de agradecimento. "Foi o melhor vinho que já tomei na minha vida. Não adianta eu ter estado com o Prêmio Nobel, falado com o príncipe não sei de onde, isso tudo passa. Este, sim, foi o melhor elogio que já recebi."
Outras realizações

Conciliar a atividade de jornalista e técnico do Banco Central não foi tarefa fácil. São funções completamente diferentes e ele não esconde que sua paixão maior sempre foi pela coluna. Até hoje não gosta de acordar cedo, mas, na época de bancário, despertava às 6h para dar tempo de passar, ainda pela manhã, na redação e chegar a tempo no BC. Passava muitas horas ocioso enquanto pensava que podia fazer muito mais se estivesse no Correio do Povo. "Era um serviço muito burocrático e chato", recorda. Guarda muitos amigos dos anos no banco, mas não se arrepende de ter se aposentado, há cinco anos, de forma proporcional, com 32 de serviço. Feito café, o jornal vicia: "Eu não aguentava mais, queria me dedicar aos meus textos".

Ao lado de duas atividades tão distintas, outras emoções pontuaram a trajetória de Conill - como apresentar, por muitos anos, a festa de debutantes do Country Clube, função da qual abriu mão há dois anos por acreditar que jovens é que devem apresentar jovens. Em tom de brincadeira, conta que assumiu o posto no lugar de uma pessoa que faleceu e que não queria que o mesmo acontecesse com ele, morrer apresentando baile de debutantes?

Redigir, apresentar e atuar em burocracia. Basta? Para o colunista, não. Hoje, participa do programa de Guaracy de Andrade, no canal 20 da NET, também comentando festas e eventos. "Ele é maravilhoso, um craque, e nossa mistura funciona bem", diz, sobre o apresentador do programa. E tem mais, Conill também contribui na elaboração de um anuário do Rio Grande do Sul, que será lançado pela editora EBGE, cedendo sua experiência na seção de 'Agenda Social'.
Longe do glamour

A profissão de colunista social tem como uma das principais atividades participar de festas e eventos, mas engana-se quem pensa que ele adora o fardo. Na juventude, gostou mais, é verdade, porém, aos 63 anos ele o faz em nome da coluna que assina. Quando é convidado, vai, mas não come nem bebe nestas ocasiões, pois acredita que só está ali por conta do seu cargo no Correio do Povo: "O convite é para o jornal. Se eu achar que é importante para a empresa e para o leitor, compareço, faço meu trabalho e vou embora. Mesmo porque não gosto de chegar tarde em casa". É muito mais pesado, para ele, colocar uma gravata e ir a uma festa do que redigir a coluna.

Considera-se um preguiçoso, daqueles que gosta de dormir, mas não o faz com muita frequência "para não parecer vagabundo". O certo é que adora quando não tem horário para nada. Então, dorme sem culpa.

Quando está longe das funções profissionais, gosta de estar com os amigos, consideradas as pessoas mais importantes na vida. Viajar com eles, então, está entre seus prazeres favoritos. Estados Unidos e Europa são os locais citados como preferidos, mas conhecer Dubai também foi interessante. Este último foi uma oportunidade agora em dezembro, quando o Internacional disputou o Mundial Interclubes. Ir aos jogos ou apoiar o time Colorado? Nem pensar. Só foi a uma partida de futebol na vida, em 1968, quando o estádio Beira-Rio foi inaugurado. Quase morreu de tédio. Confessa que, se tiver que torcer para algum clube gaúcho, o Inter é a opção, mas prefere ficar longe do esporte.

Cinema? Literatura? Diz que é saudosista e que não há nada de novo nestes dois temas que o atraia, gosta mesmo é dos clássicos. Fora isso, prefere os programas sem muito conteúdo, pois, segundo conta, "o ridículo o atrai". Conill faz questão de se informar e, toda as manhãs, lê Correio do Povo, Zero Hora, Jornal do Comércio e O Sul. A rotina da leitura diária não poderia ser mais incorreta: acontece na cozinha, em pé, tomando Coca-Cola e comendo bolachas. "Admito que leio correndo, mas tenho mais atenção às colunas sociais e, na minha idade, à seção de óbitos, para ver quem ando perdendo", brinca.
Solidão, sim!

Gosta de comer de tudo, mas, admite, menos o que é saudável. Às vezes, até se arrisca a preparar algum espaguete, mas nada incrementado, afinal "a prateleira de molhos prontos do supermercado está recheada de novidades". Após as experiências, a louça fica para a empregada no dia seguinte. Aliás, sobre casa arrumada o colunista revela que já foi um maníaco, quase um portador de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Hoje está mais flexível: "Houve um tempo em que eu fazia uma ronda no apartamento depois que a faxineira saía, só para conferir o trabalho dela, mas a idade mata a maioria dos vícios."

Vindo de família grande, Eduardo Conil preza por estes laços, mas não vê problema nenhum em ficar sozinho. Perdeu a mãe Georgina muito cedo, aos 15 anos, e o pai Mauro, aos 28. O irmão mais novo, Renato, dono de empresas de veículos em Porto Alegre e Brasília, mora na capital federal há muitos anos e, apesar da distância, mantém contato com ele, a cunhada Lia e a sobrinha Renata, com quem estabeleceu uma relação muito afetuosa. Também tem a tia Nilza, que mora em Pelotas, e que ele considera sua mãe: "Quando ela se for, será minha última grande perda". Solteiro convicto, afirma que nunca pensou em se casar e que gosta mesmo é de ficar sozinho, pois odiaria ter que dar satisfação da sua vida. Apesar de a experiência de ter morado com um companheiro por dois anos ser considerada maravilhosa, não pensa em repetir a dose.

Se há algo que norteia sua solidão é o fato de ser muito católico e, inclusive, manter um altar em seu quarto. Aqui, faz questão de esclarecer: "Gosto do catolicismo pela religião e não pela Igreja". Também atribui seu equilíbrio solitário à terapia de muitos anos, que desempenhou um papel de guia na vida profissional e pessoal. Ser desprendido de vaidade ele considera herança do pai, que, apesar de gostar de viagens e boas comidas, não era uma pessoa pretensiosa.
O que o jornal trouxe

Intenso. Esta é uma boa característica para definir Eduardo Conill. Ao olhar para si mesmo, ele se define como alguém muito sensível, afetuoso e carinhoso, mas, por outro lado, uma pessoa que pode ser muito mal-humorada, braba e até barraqueira. "Se achar que estou certo, armo banzé mesmo", garante.

Diz que é do tempo em que soldado tinha que estar no quartel para explicar o fato de fazer questão de ir todos os dias à redação do Correio do Povo, para ver fotografias, conferir correspondências e ser visto. O jornal o mantém vivo, conectado com o mundo e em atividade e isso faz com que não tenha nenhuma pretensão de aposentadoria.

Sobre a atividade como colunista social, entende que tem o dever de informar sobre amenidades, e é nisso que pensa quando escolhe o que publicar. Algo que diz não fazer de jeito nenhum é usar o espaço no jornal para se vingar ou falar mal de alguém, a menos que a pessoa tenha o mesmo veículo para devolver a crítica. Além disso, também garante que respeita as pessoas que não querem aparecer na coluna e que não se incomoda com o fato de muitos confundirem o que faz com revista de fofocas.

Amenidade ou fofoca, não interessa: acredita que aprendeu com a vida a apreciar o que a carreira oferece até hoje. E enfatiza sempre que a vaidade não é nada perto dos valores humanos que preza. Respeito é um deles, mesmo que brinque assim: "É bom que tu vás embora enquanto eu estou bonzinho e bem-humorado".
Imagem

Comentários