Carlos Frederico Matzenbacher : Ele é multifuncional

Médico, jornalista e comentarista de automobilismo fala de seu despertar para a escrita e de como foi parar nas pistas de corrida

Quando criança, Carlos Frederico Matzenbacher queria ser médico, gostava de escrever e brincava com carrinhos de corrida. Na vida adulta, conseguiu unir suas três paixões: Ginecologista obstetra, jornalista e comentarista de automobilismo. Mais recentemente, juntou duas delas ao assumir a assessoria de imprensa da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs). Formado em medicina pela Ufrgs, em 1970, ele explica que seguir esse caminho lhe parecia natural, uma vez em que o pai também é médico. Sempre que perguntado sobre o que eu queria ser quando crescesse, respondia. "Quero ser doutor".
Exerceu a medicina até 2002, quando se aposentou. Durante o período, trabalhou no Pronto Socorro de Porto Alegre por 16 anos e também foi preceptor de residência médica do Hospital Presidente Vargas e chefe do Serviço Médico do Grupo Gerdau. Foi depois da aposentadoria que ele passou a se dedicar exclusivamente a sua segunda paixão, o jornalismo. Mas a formação ele concluiu anos antes.
Ele conta ele que, após separar-se da primeira esposa, em 1979, estava se sentindo muito sozinho à noite. "Alguns amigos me chamavam para o bar, mas eu não gostava muito." Disposto a não entrar para a boemia das noites porto-alegrenses, decidiu prestar vestibular, sem revelar nem ao amigo mais próximo, para jornalismo. A escolha pela área não foi difícil. "Quando eu era menino, escrevia um jornalzinho que circulava pela família", comenta. O gosto pela escrita o seguiu pela juventude. Foi responsável pelo jornal do Colégio Júlio de Castilhos, quando lá estudou. Também produziu o periódico da faculdade de Medicina da Ufrgs, durante os seis anos em que esteve por lá. "Só me dei conta de que tinha o germe do jornalismo quando percebi que meu passatempo era fazer jornal", revela.
Formou-se no curso de Jornalismo em 1984, mas sua rotina já não era tão folgada. Casou de novo, tornou-se pai, expandiu suas atividades como médico, o que o forçou a deixar a segunda profissão em stand by. "Como demorei mais tempo para me formar, tive a oportunidade de acompanhar outros colegas, que hoje são grandes nomes do jornalismo gaúcho, como o Telmo Flor, o David Coimbra e o Juremir Machado."
Em 1985, o Jornal Esporte Motor lançou uma promoção que envolvia conhecimento e prognósticos de corrida de automobilismo. Sendo essa sua terceira paixão, não foi difícil para Matzenbacher vencer o concurso. O prêmio foi uma viagem ao Rio de Janeiro, com ingresso e credencial para assistir à Fórmula 1. Como os organizadores do concurso estavam com dificuldades para conseguir sua credencial, ele avisou: "Sou jornalista, talvez isso ajude." Por conta dessa ocasião, voltou à faculdade para buscar seu diploma e filiou-se ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul.
Dali em diante, passou a combinar suas férias com os períodos em que aconteceriam as corridas. Por essa prática, tornou-se conhecido na cidade. O fato lhe gerou um convite para comentar, pela rádio Gaúcha, o Grande Prêmio Brasil de 1988, ano em que Ayrton Senna foi campeão pela primeira vez. Seu desempenho foi elogiado por Flávio Dutra, produtor da Gaúcha na época. "Se tu fosses jornalista, já estavas contratado". Ao que Matzenbacher respondeu: "Mas eu sou". Assim, a partir de 1989, passou a integrar a equipe de comentaristas de esportes da emissora.
No início dos anos 1990, a Gaúcha ganhou o direito de realizar transmissões diretas dos Grandes Prêmios, e ele passou a cobrir as corridas para a emissora. Em certa ocasião, quando voltava do GP do México, embarcou no mesmo voo de Senna. "Ele me chamava de gaúcho, eu o chamava de campeão. Nos tornamos amigos", conta. Mais tarde, com a morte do piloto, em 1994, protagonizaria um dos momentos mais difíceis de sua carreira de comentarista esportivo. "Dei a notícia que não gostaria de ter dado", comenta. "Galvão Bueno tinha dito no ar que o Senna estava bem, pois havia mexido a cabeça. Mas, como médico, notei que ele tinha descerebrado." Matzenbacher fez o comentário na rádio Gaúcha, em primeira mão, da morte encefálica do piloto, que seria confirmada horas mais tarde. "O fato me marcou muito, pois foi um momento em que pude unir meus conhecimentos de médico e jornalista", registra ele.
Da rádio, migrou para a televisão, tendo passagens pela TV Guaíba, Band TV e TVCom. Em 1997, assumiu o Pit Stop, da Band, onde permaneceu até 2000, quando se tornou vereador de Porto Alegre, pelo PPB. "Precisei deixar o programa por causa da Lei de Imprensa, que não permite conciliar os cargos." Hoje, faz comentários sobre o automobilismo no programa Poa Esportes, do canal seis da Net. Na semana seguinte à entrevista para Coletiva.net, embarcou para a Alemanha para cobrir o Salão do Automóvel de Frankfurt, evento realizado nos anos ímpares, que ele faz questão de dizer que foi a todos da última década.
Aposentado há sete anos, Matzenbacher teve passagens por revistas e chegou a montar uma estrutura para fazer assessoria de piloto. Como o projeto não prosperou, aceitou o convite do presidente da Amrigs, Dirceu Rodrigues, para assumir a assessoria de imprensa da entidade. "Estou gostando muito do que eu faço, porque, como sou médico e jornalista, consigo transitar bem entre esses dois mundos", comenta.
Na Amrigs, o profissional retomou a 'Confraria de Esportes', evento em que recebe profissionais de destaque da área. "Passamos de seis participantes para 30". Atualmente, está organizando a semana em homenagem ao 'Dia do Médico', que ocorre em outubro. Planeja criar um clube de viagens na entidade, onde os profissionais possam se reunir para comentar suas experiências e trocar informações. E desenvolve um programa de webTV para o site.
Em paralelo, trabalha na criação e desenvolvimento de um programa de web TV, sobre lançamentos de automóveis, e na produção de um livro sobre a história do Clube do Comércio, do qual é sócio. Também está fazendo a genealogia de sua família e produz uma obra que chama de um 'projeto a oito patas', "porque mãos seria muito óbvio", com textos de humor. Acaba de finalizar o Almanaque da Fórmula 1, que aguarda patrocínio. Profissional multimídia, Matzenbacher mantém, ainda, um blog, está no orkut e no twitter.
Quando não está envolvido com um destes muitos projetos, gosta de jogar tênis, reunir-se com os amigos para jantar e sair para viajar. O médico e jornalista soma 76 viagens para o exterior. Pelo mundo, já viajou de balão, visitou as pirâmides do Egito, andou em carro de Fórmula Indy e fez safári na África. "Sou um aventureiro", resume. Nas horas vagas também se dedica a curtir os três filhos, com os quais já percorreu a Europa de mochila, e, como faz questão de frisar, viajou individualmente com cada um para a Disney.
Pai zeloso, preocupou-se com a intenção dos filhos em seguir sua primeira profissão. "Quando eles comentaram que queriam fazer Medicina, eu avisei que é muito difícil". A prole acabou migrando para outras áreas, mas não muito longe das escolhas do pai. Patrick, 28, é publicitário, Guilherme, 21, está cursando Direito, e a caçula Carolina, 18, acaba de ingressar na faculdade de jornalismo. "A opção da Carolina foi uma agradável surpresa para mim", garante ele.
Os filhos são frutos de sua segunda e terceira união. Matzenbacher já casou quatro vezes, mas ainda considera-se um aprendiz. "Meus ídolos Neruda, Picasso e Vinicius de Moraes casaram muitas vezes mais". Aos 64 anos, tem uma namorada de 26, e orgulha-se de sua boa forma. "Há 20 anos, imaginava que estaria mais velho nessa fase. Sou um homem atualizado com as mudanças do tempo", comemora.
Se não fosse médico nem jornalista, o profissional faria alguma coisa relacionada à arte. Aliás, ele é uma espécie de 'crítico de arte'. Seu blog traz a cobertura das experiências culturais pela capital gaúcha. Nascido e criado em Porto Alegre, chegou a pensar em morar fora, mas não consegue. "Aqui estão os amigos, e os meus são patrimônio". Com a turma de amigos, costumava participar das gincanas realizadas em Porto Alegre na década de 1970. "Eu preparava e montava as equipes com muita antecedência. Nós sempre conseguíamos ficar entre os cinco primeiros. "Sou um ser inquieto, jamais vou parar", acrescenta, para concluir, reflexivo: "De certa forma, a arte de ganhar gincanas tem sido a trilha de minha vida." 
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