Tiba Tiburski: Ele é um queridão

Seu nome é trabalho. Tiba Tiburski fala sobre a profissão, as expectativas e a vida em família

Por Márcia Farias

Escrever sobre Evaldo Farias Tiburski é provável que faça as pessoas não reconhecerem quem é. Então, é só esclarecer que se trata mesmo de Tiba Tiburski que tudo fica mais fácil. Aos 41 anos, o diretor de Arte da Moove Comunicação Transmídia se orgulha em dizer que trabalha desde os 13 anos e que não consegue se imaginar aposentado. "Claro que quero mais tranquilidade, pois a rotina e a carga horária pesam em uma determinada época da vida", pondera. Filho de professores, a fruta não caiu longe do pé. Além de editor gráfico há mais de 20 anos, Tiba é estudante de Letras, da PUC, e quer, um dia, dar aula para o ensino superior. "Este é o meu projeto de aposentadoria. Se é para se passar trabalho, que seja em algo que eu goste", reflete.

Antes de enveredar para a área gráfica, ou mesmo para o mundo das palavras, chegou a cogitar seguir o curso de Jornalismo, mas desistiu. Seu pai, João Carlos Tiburski (falecido), professor de português e jornalista, tinha uma publicação chamada Terceira Margem, que circulava em Porto Alegre na década de 1980. Era um modelo alternativo, chamado de "contramídia", foi onde Tiba atuou a partir dos 16 anos. A experiência foi decisiva para não seguir a mesma carreira do pai. "Cheguei à conclusão que nenhuma faculdade me ensinaria mais do que eu estava aprendendo na prática", explica. Este mesmo modelo de jornal alternativo foi implantado por pai e filho em Nova Bréscia e em Santo Antônio da Patrulha.

Um pouco de história

Ao relembrar sua trajetória, Tiba garante que não tem do que reclamar, pois de todos os momentos guarda boas lembranças, mesmo que as recordações tenham marcado de modo negativo. Como foi o caso do período em que morou em Santo Antônio, por cerca de cinco anos, onde fazia de tudo no jornal que editava, escrevia, diagramava, fotografava e vendia. "Passei por situações muito boas lá, mas outras tão ruins quanto", ao relembrar a época de Natal e Ano Novo de 1995. Afastado da família por causa de brigas, ele dividia uma casa com mais dois amigos. Em tempos festivos, cada um foi para um lado e Tiba se viu sozinho. "Comprei uma lata de sardinha, um quilo de arroz e quatro litros de cachaça, e foi com isso que passei aquela semana. Nos primeiros dias de janeiro, percebi que aquela vida não era pra mim", conta. Resolveu voltar.

Entre altos e baixos, também há muitas coisas boas a serem contadas. Como seu começo na gráfica Fotoletras, oportunidade que conseguiu por intermédio do pai. A situação financeira estava ruim, o que fez Tiba ir conversar com os futuros chefes pensando que aceitaria qualquer coisa por um salário mínimo. Quando soube que a proposta era algo em torno de seis vezes mais, quase explodiu de felicidade. "Baixei minha cabeça e comecei a trabalhar. Deu certo. Cerca de quatro meses depois me promoveram e dobraram meu salário", orgulha-se, comentando ainda que a gráfica chegou a ser a maior do Sul do País, era referência no segmento, mas acabou falindo.

Durante aproximadamente cinco anos, Tiba pôde atender a diversos clientes na Fotoletras, muitos que renderam bons relacionamentos. Tanto que acabou trabalhando como freela por algum tempo, após o fechamento da gráfica. Chegou uma hora que não dava mais para trabalhar de casa, já que a demanda começava a aumentar a cada dia. Foi aí que resolveu se aventurar como empresário e abrir o próprio negócio, a Paica Estúdio Gráfico. E para falar da experiência, ele é objetivo: "Sou bom no que faço com Arte, mas péssimo com números. Afinal, dinheiro é feito para gastar, assim como sapato é para usar e mulher é para amar. Simples assim. Não sou bom com cifras".

Como ele mesmo diz, "o Tiba é o queridão das meninas". E a expressão está longe de ser mentira, como a colega e amiga Luana Rodrigues o descreve: "Ele é sempre bem-humorado, mas com um humor inteligente. Um cara bom de papo, e com ele não tem tempo ruim, pois é muito fácil ficar horas conversando sem ver o tempo passar", relata. Luana ainda completa que Tiba é um homem simples, sem frescuras, "seja no modo de vestir, seja no modo de falar". Segundo ela, é uma pessoa que não é dada a rodeios, alguém direto, mas que o faz sem perder a sensibilidade.

Revista da vida

O filho mais velho da professora Maria Luiza Martins Farias - completam a família Carlos, 37 anos, estudante de Jornalismo e colaborador de Coletiva.net, Ana, 35, dona de casa, e Júlia, 33, engenheira de alimentos, que é irmão por parte do pai - nasceu em 5 de maio de 1972 e gosta de lembrar de quando a família morava em um sítio, em Butiá. "Quando se fala em infância, também gosto de recordar as viagens de trem, para passar as férias escolares na casa dos avós maternos, em Uruguaiana", conta. Para Tiba, o ensinamento passado a ele e o que tenta repassar aos seus é que família é a tentativa de existir nos relacionamentos.

A época da Fotoletras rendeu muito mais do que dinheiro, experiência e bons clientes. Rendeu um amor. Foi na gráfica que conheceu Raquel, com quem é casado há 15 anos e com quem tem a filha Felícia, de oito anos - falar da menina, aliás, faz os olhos do pai brilharem. O maior ensinamento que ele quer passar para a herdeira é o de ser uma pessoa boa, pois o resto ela vai se virar. Os dias de folga, quando existem, são dedicados ao descanso e aos passeios com as mulheres da sua vida. Puxar ao pai na profissão? Não exatamente. Talvez Felícia já dê indícios de trabalhar tanto quanto Tiba, mas não na mesma área, afinal, ela quer ter três profissões, exatamente nesta ordem: artista plástica, manicure e veterinária.

Dizer que a pequena não tem nada do pai pode ser exagero, já que na área gráfica, Felícia acompanha o pai de perto. Há quatro anos, pai e filha montam uma revista juntos. Quando sobra um pouco de tempo entre os dois, Tiba escuta: "Pai, vamos fazer mais um pouco da nossa revista?". Ele, claro, nunca nega. "Neste projeto, onde faço todas as vontades dela, temos a página dos cachorrinhos, dos cavalinhos. Ela desenha a página exatamente como quer que eu coloque no computador", revela, detalhando ainda que, se ela diz que quer um sapo de cabeça para baixo, ele precisa fazer dessa forma. Mesmo com 28 páginas prontas, não há uma meta final. Quando, e se um dia, ficar pronta, eles podem imprimir, ou não.

Quem ele é

Metódico e desorganizado. Essas definições podem parecer um paradoxo, mas é que Tiba se enxerga assim. Em relação ao trabalho, tudo tem momento e processo, mas quando se trata dele mesmo e sua vida pessoal, nada fica no lugar. Entre as manias mais clássicas, ele conta que, no carro, o volume do rádio tem de estar de cinco em cinco. "Se a Raquel coloca o volume no 12, vou lá e troco para 15 ou para 10, e assim por diante", afirma, sem saber explicar algum motivo para tal.

O diretor da Moove Comunicação Transmídia, José Luiz Fuscaldo, descreve alguns detalhes marcantes do colaborador e amigo de quase 20 anos: "O lápis na orelha, sua marca registrada, é quem sabe o que dá a esta grande figura equilíbrio e sabedoria". Para Fuscaldo, o diretor de Arte é um craque no que faz, um grande profissional, além de ser humano de altíssima qualidade. E diz mais: "O Tiba é um cara do tamanho do afeto que as pessoas têm por ele".

Entre suas preferências que o fazem ser quem é está o fato de torcer para o Grêmio. A escolha pelo time, garante, não foi influência familiar, já que o pai torcia para o tricolor, mas a mãe era colorada. "Sou gremista, porque é o melhor time, simples assim", provoca. Apesar da escolha que o faz torcer e acompanhar tudo, não chega a ir ao estádio, pois uma experiência de infância o fez ter certa cautela. "A primeira vez que fui ao Olímpico, acho que com cerca de 8 anos, com meu pai, deu uma grande briga na torcida e isso deixou uma marca ruim. Já levei a Felícia e a Raquel no estádio, mas em jogos menos expressivos", conta. Para ter fé, Tiba diz que se considera cristão apenas. Conheceu muito a religião na infância, pois tinha um grande amigo que era praticante, mas foi criado na Igreja Metodista, então não tem preconceitos, nem mesmo com as que não acreditam em Cristo. "Tem que fazer o bem, o resto é bobagem."

Do que ele gosta

Arroz, feijão e carne compõem o prato preferido. Por outro lado, como ele mesmo diz que se pode notar pelo seu peso e altura (algo como 50 quilos a mais do que recomendável para sua altura de 1,80cm), come de tudo. Confessa que não é muito fã de massas e molhos, prefere saladas e peixes, por exemplo. Outro gosto especial está nas carnes de caça, como javali, jacaré, capivara, lagarto, entre outras. E isso vem da infância, quando estava em Butiá, pois muito saía para caçar com a regra "matou, tem que comer" - o que, diga-se de passagem, o fez comer passarinho de tudo que é tipo. Além de bom de garfo, ele pilota o fogão sem medo, especialmente para manejar carnes e temperos. Entre as especialidades está a picanha virada, que já foi recheada com diversas opções, dependendo do público que a degustaria.

Para ler, gosta de tudo, desde a Bíblia, passando por Dom Quixote, até os livros técnicos de Economia. "Acho que de tanto ler e entender o que estava lendo, acabou sendo um diferencial na profissão", reflete. Como todo editor gráfico, Tiba já foi um viciado em revistas. Quando trabalhava no Centro, percorria as bancas de lá, gastando, inclusive, muito dinheiro com isso, conforme conta. Para ouvir, também é eclético e diz que não tem problema com nenhum tipo de música, considerando apenas que sejam inteligentes e que tenham melodia. "Gosto muito de música clássica, latino-americana, algo como Armando Sosa, Fagner, Rolando Boldrin, Almir Sater, entre outros. Por outro lado, estava até agora escutando Pink Floyd, assim como curto Led Zeppelin,  Deep Purple, Rush e Queen, por exemplo", detalha. No cinema não foge à regra. Assiste de blockbuster às grandes produções.

Seu nome é trabalho

Se tem uma palavra que norteia a vida de Tiba, esta é tolerância. Algo que tem aflorado ainda mais com a chegada da idade. A famosa crise dos 40 anos passou batida, mas foi só completar 41, para algumas coisas serem mexidas. "Comecei a repensar minha vida, o que quero dela e o que ainda posso fazer por ela", reflete. Atuando na mesma empresa há sete anos, ele conta que o sedentarismo é algo que o está incomodando. Aliás, essa é uma das explicações para seu aumento de peso dos últimos anos. "Gosto do que faço, tenho satisfação nisso, mas passar o dia todo em frente a um computador está acabando comigo. Cheguei em um momento de buscar qualidade de vida", afirma, contando em seguida que "anda louco" para morar novamente em um sítio.

Para o futuro, cerca de 10 anos para frente, Tiba se imagina formado, trabalhando, mas um pouco mais tranquilo. "E, claro, matando uns gaviões por aí, pois a Felícia estará com 18", brinca. Críticas e elogios fazem parte da trajetória, mas nenhum deles o abala, pois o reconhecimento é bom, mas não envaidece, nem conquista. Enquanto os julgamentos mais duros, mesmo os mais perversos, acabam servindo, pois sempre têm um fundo de verdade. Seu nome é trabalho? "Pode ser, mas é bom, pois enobrece e dá dor nas costas", brinca novamente, para completar em seguida: "Minha meta é trabalhar menos e ganhar mais. Quero ter mais tempo para fazer o que gosto. Almejo construir minha autonomia, financeira e intelectual".

Tiba não sabe dizer qual foi o momento de melhor satisfação na carreira, pelo motivo simples de ter saudade de todas as épocas, pois tudo tem o ônus e o bônus. Mesmo sem se considerar saudosista, garante que o melhor momento é agora, o próximo será no ano que vem, e assim por diante. Lema profissional não é algo que está presente na vida dele, mas destaca que trabalho honesto deveria estar na de todo mundo. Ao se autodefinir, o diretor de Arte pensa, ri sozinho e diz: "O Tiba é o queridão, que está aí para somar e tentar construir algo bom. Minha vida foi e é boa, não tenho do que me queixar. Aliás, acho que ninguém deveria reclamar da vida".

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