Daniel Costa: Empreendedor de ideias

Executivo revela como se tornou especialista em endomarketing, mesmo não sendo um comunicador

Daniel Costa - Divulgação

Santo de Casa não faz milagres, faz endomarketing inteligente. Esta é a premissa seguida há quase quatro anos por Carlos Daniel Rodrigues da Costa, ou apenas Daniel Costa, como é conhecido no mercado. Na empresa, que ele dirige ao lado da esposa, a jornalista Camila Lustosa, e do sócio Parahim Neto, cada cliente ganha um santo padroeiro. Um relicário na sala de reuniões revela, por exemplo, que Santa Clara é a protetora da conta BR Foods. Sicredi tem Santo Expedito como padroeiro e São Longuinho aguarda a próxima conquista da Santo de Casa - Endomarketing.

Daniel, que já teve planos de fazer Medicina, considera-se um vendedor nato. Filho único do representante comercial Antônio Sérgio e da professora de educação especial Lenira, achava que ser médico seria uma decisão acertada para a família. Mas, aos 15 anos, para ajudar o pai, começou a trabalhar em seu negócio de representação comercial.

Quando chegou a época de prestar Vestibular, Medicina já era um sonho distante e a opção foi por Administração. Passou em segundo lugar no concurso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e começou a conciliar as atividades profissionais com os estudos. Na faculdade, a identificação com a área de Recursos Humanos já dava indícios do caminho que seguiria anos à frente. Durante toda sua formação, porém, exerceu atividades na área de vendas. "No início por necessidade, depois porque eu gostava mesmo", conta.

Como vendedor, teve passagens por empresas como Atlas Copco, Conectel, Xerox do Brasil e Claro Digital. Na Conectel, vendia pagers, aparelho antecessor ao celular. No início, oferecia o produto de porta em porta. "Escolhia um prédio comercial no Centro e batia em um a um dos escritórios", recorda. Com o tempo, foi descobrindo nichos e o trabalho ficou mais fácil. Um dia, folheando o jornal, percebeu que as garotas de programa anunciavam seus números de pager como contato.

Contou da ideia para o telemarketing, que agendou sua primeira visita. "Passei tardes inteiras na Madrigal (boate de Porto Alegre) tirando pedido", diz. Por essa e outras, logo tornou-se o melhor vendedor da empresa e conquistou uma vaga na Xerox, seu cliente na compra de pagers.

Mais tarde, a passagem pela Claro Digital seria a última atuação como executivo de empresa. Lá, era responsável por atender a diversas regiões da cidade. Quando surgiu a possibilidade de uma promoção a gerente, foi impedido de assumir o cargo em função de sua pouca idade e do fato de ainda não estar formado. Chateado com a situação, decidiu romper com a empresa, num episódio que chamou de 'um dia de fúria' em sua vida. "Se tu perguntares se eu me arrependo, a resposta é sim. Talvez o meu diretor estivesse certo em dizer que eu era muito novo. Não tive maturidade para entender a situação e esperar", admite.

Mudança de rumo

A vida o levou para outros caminhos e, hoje, prestes a completar 34 anos, sente-se feliz com suas escolhas. "Ainda quero crescer muito, mas acho que estou no rumo certo", destaca. A empresa, que começou com apenas dois funcionários, hoje já conta com 25. Como o endomarketing é a essência de seu trabalho, na Santo de Casa não faltam políticas de valorização do funcionário. Desde manicure para as meninas fazerem as unhas toda semana e massagem de Shiatsu a plano de participação de resultados. "Procuramos fazer o tema de casa bem feito", diz, destacando que a rotatividade na empresa é muito pequena.

Mesmo com alguns erros de cálculo que, segundo ele, atrasaram sua carreira, avalia que chegou onde queria chegar como profissional. É, hoje, o único não-comunicador a trabalhar com endomarketing no Estado. Admite que ainda precisa buscar muito conhecimento, mas já se reconhece como um dos melhores na área. "Não espero galeria da fama. Espero conseguir tornar a Santo de Casa sinônimo de endomarketing no Brasil."

O início

A primeira oportunidade para realizar um trabalho de endomarketing surgiu em 2001. Como não sabia quais seriam os resultados, pediu como pagamento a compra de barracas e equipamentos para o Grupo de Escoteiros Ouro Negro, de Canoas, do qual fez parte dos 14 aos 24 anos, e para onde pretende voltar. "Só estou esperando a Maria Laura (sua filha) chegar na idade de ser lobinha (função de escoteiro iniciante)", explica.

Com o sucesso do primeiro trabalho, deu início à Baze, em parceria com um amigo, em 2004. Como não tinham capital de giro para estabelecer um escritório, cada um atuava em sua própria casa. Responsável pelo comercial da empresa, voltou a bater de porta em porta, desta vez para vender suas ideias de endomarketing. "Fiz 83 visitas antes de conquistar o primeiro cliente", diz, revelando que os primeiros dois trabalhos foram fechados no mesmo dia. "Nunca vou me esquecer daquele dia 24 de abril de 2004, quando fechamos com a Avipal e a Panvel." As contas não eram muito altas, mas, segundo ele, serviram para dar um fôlego até a conquista do próximo cliente. "Foram tempos difíceis. Visitei muito cliente de ônibus."

O tempo passou, os negócios prosperaram e a empresa crescia. Daniel, que realizou pós-graduação em Gestão de Pessoas e mestrado em Organizações, já ministrava cursos sobre endomarketing, quando se viu obrigado a deixar a Baze, em 2006. Desacordos com seu sócio o levaram a tomar a difícil decisão de deixar o negócio que ele havia começado.

Nessa época, já namorava Camila. Os dois se conheceram no trabalho, porque ambos atendiam ao mesmo cliente. Camila era uma das sócias da Giornale - Comunicação Empresarial. Como o relacionamento ficou sério, e, em um determinado momento, as empresas começaram a concorrer, Camila migrou para a Baze. Com o fim da sociedade de Daniel, o casal, mais ela do que ele, conforme conta, decidiu reiniciar os trabalhos com endomarketing no começo de 2007. "Saí da Baze meio sem saber o que fazer, tinha planos de me dedicar à seleção para o doutorado, mas a Camila me incentivou a começar de novo", revela.

Entre viagens e histórias

Camila, segundo Daniel, é o corpo e a alma da Santo de Casa. Ele não poupa elogios à performance profissional da esposa e assume que não é tarefa fácil conciliar vida pessoal com profissional. Juntos há seis anos, os dois são pais de Maria Laura, de 4 anos. Quando não estão trabalhando, o programa preferido da família é viajar. O gosto por viagens, Daniel aprendeu com os pais. "Na minha infância, nós sempre estávamos viajando aqui e ali. Adoro essa função de planejar e curtir as viagens em família. Mantenho a prática", diz. Como gosta de promover encontros familiares, sua casa já se tornou QG do clã. Aliás, o lar está sendo ampliado justamente para dar conta das visitas de fins de semana.

Outro hábito do casal é a leitura. "Que a NET não me ouça, mas gasto mais com livros do que com TV a cabo", confidencia. E parece que Maria Laura vai seguir pela mesma linha. Acostumada a ouvir as histórias que os pais leem para ela e estimulada por jogos de letrinhas, já começou a ler suas primeiras palavras. "Outro dia ela leu 'manutencao' em uma placa. Daí expliquei a função do cedilha e do til e, na próxima, já saiu um 'recepção'. Ela vai incomodar na primeira série", orgulha-se o pai, que pretende escrever um livro dedicado à filha. "Nós brincamos de construir histórias, começo e ela vai continuando. Outro dia, criamos o personagem Altino (o menino mais alto do mundo), um dos que vai para o livro", revela.

Inspirado pelas criações com a pequena, as leituras, e até as histórias contadas pelo avô Antônio em sua infância, Daniel já arrisca na produção de alguns contos. Caso de A viagem Insólita de Silas Flannery. Cheio de detalhes e narrativas, o texto fala das dificuldades criativas do escritor Silas Flannery, personagem do Italo Calvino.

Caminho certo

Na área profissional, o livro já saiu do plano das ideias. Daniel lançou no início de agosto Endomarketing Inteligente - A empresa pensada de dentro para fora. Uma das pretensões da obra, segundo afirma, é apresentar um referencial teórico. "Este é só o ponto de partida", conta, revelando que já está produzindo um segundo livro, que receberá o nome de Endomarketing para Maiores.

A boa repercussão da obra lhe mostra que está no caminho certo. "Estou fazendo um trabalho para ressignificar o endomarketing", comenta. As turmas de treinamento lotadas, conforme ele, também são um excelente feedback. Empreendedor, diz que quando coloca uma coisa na cabeça, vai lá e faz acontecer. Inquieto, assume que não gosta de rotina e que trabalha por ciclos. "Finalizo um projeto e pergunto: 'Tá, o que eu vou fazer agora?' Não fico muito tempo em cima de uma coisa só." Por esse motivo, prefere ministrar cursos de 16 horas a lecionar cadeiras em cursos de graduação.

Praticante de judô há nove anos, é faixa-roxa e acredita que um de seus objetivos com o esporte é conseguir relaxar. "Ao contrário do que parece, o judô é muito mais focado na estratégia do que na luta", explica. Com o grupo de escoteiros, aprendeu a desenvolver o espírito de cooperação. Mas, nessa área, considera que ainda tem muito a aprender.

Porto-alegrense e gremista apaixonado, assume seu bairrismo quando o assunto é a terra natal ou o time do coração. "Gosto de viajar, mas cidade para morar é Porto Alegre." Se não fosse gestor de endomarketing, talvez fosse dono de pousada, influência de seus passeios. Lugar que destacaria como um dos favoritos? Rio de Janeiro. É para lá que a família vai em sua próxima parada para o lazer em setembro, inclusive. A capital carioca também é o local para onde Daniel pretende expandir os negócios.

Apesar de toda sua dedicação à vida profissional, prioriza sua vida fora da empresa. "O trabalho é realizador, mas a vida acontece lá fora. Isso aqui é só um meio", explica. Tem como norte fazer o que lhe dá prazer. Por isso, sua busca atual é trabalhar de forma mais eficiente e cada vez menos. "Vejo muito empresário dizer que trabalha 18 horas por dia. Imagina o sofrimento quando um negócio não dá certo?", questiona. "A meta da Santo de Casa é que os colaboradores trabalhem com horários mais flexíveis e com mais eficiência, para nunca precisarem estender a jornada para além do horário comercial."

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