Esperidião Curi: A arte da venda

Publicitário por atividade, sabe mesmo é vender. Com este talento, somou 28 anos em jornal e mais 15 à frente de uma empresa de representações.

Em 1964, Esperidião José Curi ingressou como corretor de publicidade no jornal Zero Hora. A vaga veio por indicação de um amigo jornalista ao então diretor comercial de ZH. Ele tinha 20 anos, e sua atividade se concentrava em captar clientes que não tinham agências para anunciar no veículo. Assumiu a função, pois já possuía experiência na área de vendas das páginas amarelas da Listel. "Na verdade, éramos vendedores e nosso produto eram os anúncios. Depois, a profissão foi se modernizando e ganhando outras denominações dentro dos veículos, mas o que eu sempre fui foi vendedor", entende.


Após um ano como corretor, foi subindo de cargo. Virou assistente de departamento, depois gerente e, por fim, gerente executivo. Curi lembra da época de ZH como um tempo de melhores condições de trabalho. "Pode ser saudosismo. Mas, naquela época, a luta era menos guerreada e a vida era mais romântica. As agências tinham mais verba e havia maior número de clientes no mercado." Quando o Diário Catarinense começou a ser projetado, em 1985, Curi foi transferido e passou a morar em Santa Catarina. Ele foi com mais cinco profissionais, entre jornalistas e administradores, para inaugurar o jornal que começou a circular em 1986.


Sempre tem um jeito


Dos 28 anos de Grupo RBS, Curi destaca histórias curiosas, em Porto Alegre e em Santa Catarina. Na Zero Hora, já atravessou em duas páginas tablóides um anúncio programado para sair em uma standard em um jornal concorrente. Por conta própria, também já retirou um colunista social da ZH para encaixar um anúncio que passou do tempo de publicação em outro jornal. "Isso causou um problemão danado, pois descaracterizamos a estrutura do jornal. Mas acontece que o colunista saiu e o dinheiro entrou", diverte-se. No Diário Catarinense, recebeu o telefonema de uma família de um empresário muito rico querendo de qualquer maneira noticiar a morte do executivo. O jornal já estava em processo de impressão, e o comunicado terminou ocupando meia capa. "Acabou que virou moda por lá. Era sinônimo de status anunciar seus mortos na primeira página", revela. Curi ficou em Santa Catarina até 1988, quando voltou para Porto Alegre.


Em 1992, entrou em um plano de contenção de despesas da Zero Hora e se desligou do Grupo RBS. "Saí amigo de todo mundo, como sou até hoje. Não houve nenhum problema com Justiça do Trabalho. Apenas saí e fui reconstruir a minha vida", conta. No mesmo ano, deu início à Curi e Associados, em sociedade com seu filho mais velho, Fernando Curi. Desde lá, a empresa faz a ponte entre os anunciantes e os veículos de comunicação.


Sonho Mercosul


O profissional explica que, na época, os principais jornais do País começaram a fechar suas sucursais comerciais e a investir em representantes, estratégia que ficava mais em conta para as empresas. Foi assim que conquistou sua principal representada: a Folha de S.Paulo, que é atendida desde o primeiro ano de funcionamento da organização. Além dela, fazem parte da carteira de clientes Globosat, Agora SP, Revista da Folha, Uol, Bol, Revista Kaza, FreeCards, Correio da Bahia, complexos de cinema e, mais recentemente, o Jornal de Brasília.


"Outro fator que nos impulsionou para criar a empresa é que, naquele tempo, começava-se a se falar em Mercosul. Parte da minha indenização da RBS, eu gastei em viagens e acabei pegando representações dos jornais ?El País?, do Uruguai, e do ?Lá Nación?, da Argentina. Mas acabou que o tal Mercosul ficou mais no papel do que na realidade."


Pés nos chão


"Nossa filosofia é ter qualidade e não quantidade. Nós já tivemos a humildade de recusar veículos que tentaram nos contratar, pois tínhamos a consciência de que estaríamos prestando um desserviço para o representado e para nós. Entendemos que é melhor ter um grupo menor de clientes e representá-los efetivamente do que ter em uma pasta três ou quatro vezes mais títulos do que nós temos", explica. Curi classifica seu trabalho como um ?facilitador de negócios?. "Se alguém quiser comprar um anúncio, nós vamos tentar dar a melhor assessoria possível. Tentaremos encaixar o anunciante tanto em jornais que têm páginas definidas como nos que têm espaços indefinidos. E vamos atrás da publicação próxima de assuntos que tenham a ver com o produto do cliente."


Após tantos anos de carreira, Curi está concorrendo ao título de publicitário do ano, uma das principais promoções da ARP (Associação Riograndense de Publicidade). "Eu nunca trabalhei visando a esta indicação, até por que não somos criativos, nem criadores de anúncios. Somos vendedores. Mas fiquei muito feliz, pois acho que é o reconhecimento do trabalho sério que fazemos. E concorrer com quatro profissionais gaúchos que são destaque já é um prêmio", afirma.


Descanso


"Posso me dizer realizado. Com 62 anos, ainda tenho garra, vontade e tesão pela vida. Já sou aposentado, mas não dá pra parar. Um homem que pára morre. Mas também não pretendo trabalhar tanto como fazia antes. Temos uma vida confortável e já não há necessidade de visitarmos vários clientes em um dia", destaca.


Curi é casado há 42 anos, tem três filhos e um neto de quatro anos. "Meu fim de semana perfeito é aquele em que eu posso ir para a praia ou receber minhas três noras, meu neto e meus três filhos em um churrasco e vê-los discutindo e implicando uns com os outros. Eu fico só de cacique, conselheiro e mediador."

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