Pedro Maciel: Fim à timidez

Timidez nunca foi obstáculo para o jornalista Pedro Maciel. Pelo contrário, se tornou uma espécie de motivação na busca de seus ideais e objetivos, …

Timidez nunca foi obstáculo para o jornalista Pedro Maciel. Pelo contrário, se tornou uma espécie de motivação na busca de seus ideais e objetivos, justificando sua trajetória de 34 anos de dedicação no jornalismo gaúcho. O fato de gostar de escrever auxiliou na escolha da profissão, embora ele afirme que a paixão pelo jornalismo se manifestou "quase que naturalmente".
Seriedade é um dos traços marcantes desse jornalista e professor que praticamente "dá aulas diárias" para a redação do Jornal do Comércio ao exercer sua função como editor-chefe. Pedro só nasceu na cidade de São Francisco de Assis. Viveu em Bento Gonçalves até os 18 anos, quando veio para a Capital, já decidido a realizar o curso de Jornalismo, no qual se formou em 1971, na Ufrgs. Sua primeira experiência na área foi como estagiário na extinta Folha da Tarde, no último ano de faculdade, durante seis meses. Logo depois da formatura, foi contratado para ser repórter em Zero Hora. Trabalhou lá durante dois anos na editoria Geral. Aliás, Pedro sempre atuou como repórter de Geral, o que considera ter sido fundamental para sua formação profissional e aprendizado jornalístico.
Em 1972, foi convidado para integrar a equipe de reportagem da sucursal da revista Veja, em Porto Alegre. Na época, a representação do Rio Grande do Sul era uma das mais fortes do País e cobria Santa Catarina, Paraná, Uruguai, Argentina e Chile. "Tínhamos uma estrutura muito boa de redação, pois o maior peso da Veja era em Porto Alegre", relembra Pedro. Após 10 anos de atuação na Veja, foi convidado para atuar na RBS TV, onde foi pauteiro e chefe de reportagem até 1986, quando retornou para ZH como repórter especial. Um ano depois, ele voltou para a RBS TV, onde permaneceu até 1988, quando decidiu atuar somente como professor no curso de Jornalismo da Ufrgs, atividade que exercia desde 1982.
Nestes 16 anos dedicados à vida acadêmica, além de lecionar, ele orientou diversas pesquisas de ensino e escreveu dois livros técnicos de redação jornalística. É o autor do "Guia para falar e aparecer bem na televisão" (1993), e "Jornalismo de televisão" (1995), ambos publicados pela Sagra Luzzato. As duas obras continuam fazendo parte de bibliografia de jornalismo das universidades gaúchas e já tiveram outras edições.
A verdadeira vocação
A paixão de Pedro por gastronomia fez com que, em outubro de 1995, Hélio Gama Filho, então diretor do Jornal do Comércio, o convidasse para editar uma página semanal sobre o assunto. Depois da boa repercussão, a coluna passou a circular duas vezes por semana. Em agosto de 1996, a proposta de trabalho de Pedro no JC foi ampliada e ele passou a ser uma espécie de ombudsman do jornal. "O objetivo era melhorar a qualidade do trqbalho da redação. Então eu lia, corrigia e orientava os repórteres nos textos antes que fossem publicados", conta. Após um ano como ombudsman do JC, foi convidado para ser diretor de Redação, no lugar do próprio Hélio Gama Filho, que deixara o cargo.
Em virtude do tempo despendido para os compromissos da universidade, ele assumiu como secretário de redação temporariamente, já que a função de diretor exigiria dedicação em tempo integral. Mas sua decisão pessoal em conciliar as duas atividades foi mantida apenas por mais um ano. Em 1998, decidiu abandonar a atuação como professor para dedicar-se exclusivamente ao JC, onde, desde 2000, desempenha a função de editor-chefe. "Eu sabia que voltaria ao meu caminho original, que é a redação de jornal. Na verdade, eu sempre fui mais jornalista do que professor", revela. Hoje, por "ironia do destino", Pedro até tem vontade de voltar a dar aulas na universidade, mas não tem disponibilidade de tempo para a atividade acadêmica. "Como não fiz os cursos que titulam para a carreira universitária, estou praticamente alijado também desta possibilidade de voltar", afirma o jornalista.
Porém, o fato de ter sido professor de muitos jornalistas que hoje estão bem sucedidos no mercado traz o orgulho e a sensação de dever cumprido. "É gratificante olhar para o mercado e ver que muitos deles estão aqui. Gosto de pensar que contribuí pelo menos um pouco para a formação profissional deles", confessa com um sorriso de satisfação. Como o trabalho de um editor-chefe é baseado na coordenação do andamento da edição do jornal, até seu fechamento, a primeira coisa que faz no dia, evidentemente, é "se abastecer de informação".
 trabalho de Pedro no jornal inicia à tarde: antes, dedica sua manhã para realizar projetos pessoais, como o livro que recentemente começou a escrever sobre texto jornalístico. "É um tema escasso na bibliografia. Estou fazendo sem pressa, mas acredito que no próximo ano já esteja concluído", diz. A edição do semanal JC Logística é realizada pelo próprio Pedro, que faz questão de ser responsável pelo caderno para não perder o hábito da escrita. "Desde o início eu edito o caderno, pois é uma atividade fixa, prática, que acaba exigindo de mim. Se a gente fica só coordenando e não escreve, a relação se torna burocrática e pobre", afirma.
Por trás das laudas
É casado há 26 anos com a arquiteta Renata. O casal tem dois filhos: Carolina, de 26 anos, do primeiro casamento de Renata, e Antônio, 21. Ela é fonoaudióloga e ele decidiu seguir os passos do pai e estudar Jornalismo, mas, segundo Pedro, sem sua influência na escolha pela profissão. "Eu não me meto nisso, eles têm que fazer o que gostam. Se gosta do que faz, provavelmente vai se dar bem", garante.
Nos fins de semanas, os programas de lazer são sempre realizados em família. Cinema, teatro, shows e espetáculos teatrais têm lugar garantido nesta agenda. Cozinhar é o hobby preferido de Pedro, e as especialidades são variadas: "Sempre gostei de cozinhar, é uma coisa que faço com prazer". Nas horas de folga, gosta de assistir filmes em casa, mas avisa que suas preferências dispensam os que tenham violência. "Prefiro estilos como Sob o Sol de Toscana, que tem uma história bonita", esclarece.
Como atividade física, Pedro faz caminhadas e revela uma curiosidade: em casa não usa o elevador, preferindo as escadas do prédio. "Procuro caminhar aqui na redação também. É o que se faz para manter uma qualidade de vida trabalhando", ensina. O litoral catarinense e baiano são, geralmente, os destinos das viagens da família. "Gostamos muito de ir também para Parati, no Rio, e Antonina, no Paraná". A leitura é outra paixão, e ele aprecia mais obras de ficção, como as histórias de Gabriel García Márquez. "Eu só tenho uma certa resistência com livros de biografia e memórias", revela. Já as preferências musicais são os estilos MPB, Erudita, Jazz e Blues.
Como qualidade, Pedro destaca o gosto pelo seu trabalho e pelas pessoas, característica que acredita ser fundamental para a profissão de jornalista. "Quem não gostar de gente, não pode ser jornalista. Temos que conversar e entender as pessoas. Devemos partir do pressuposto de que qualquer pessoa é interessante e tem coisas para nos contar", aconselha.
Fazer com que o Jornal do Comércio cresça cada vez mais, aumentando o seu reconhecimento e credibilidade junto aos leitores é o grande projeto de Pedro Maciel. Por isso também, aos 54 anos, ele nem planeja "abandonar as pistas" ou parar de trabalhar. Porém, revela que pensa mudar de rumo, não descartando a hipótese de largar o jornalismo e fazer outra coisa. Ele brinca ao afirmar que seu grande sonho é morar em uma praia na Bahia e estudar o sexo dos moluscos de água doce que vivem no mar. "É uma impossibilidade física, claro. Trocando em miúdos, ficar lá de barriga para o ar deitado numa rede".

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