Glauco Pasa: Entre a imagem e o texto

Jornalista não consegue se imaginar em outra profissão

Glauco Pasa - Crédito: Daniel Gebauer Vaz

Existem casais que são para a vida toda, onde um não existe sem o outro. Porém, dizem que, para um casamento dar certo, é preciso ter muita doação e esforço de ambos os lados. Para Glauco de Oliveira Pasa, isso se aplica perfeitamente entre imagem e texto: um pertence ao outro. O que não acontece, neste caso, todavia, é a dificuldade. Quem vê o jornalista criando passagens instantaneamente, cujas palavras saem da cabeça dele direto para as câmeras, logo percebe que este relacionamento acontece de maneira natural. Ou melhor: rápida e certeira, como se referiu o rei do futebol, Pelé, ao elogiar o repórter gaúcho, em um momento que foi entrevistado pelo repórter e presenciou a realização da criação do boletim.

Para chegar até este nível, houve muito empenho e perfeccionismo. Tanto, que não olha os materiais prontos, pois é muito crítico consigo e sempre acha que tem algo a melhorar. Quando ingressou na faculdade, logo descobriu Tino Marcos, repórter esportivo da Rede Globo. Com jeito despojado, texto qualificado e boa entonação, foi fácil se inspirar no futuro colega. "Depois, eu conheci ele pessoalmente e vi que era tão gente boa quanto parecia", comenta.

Além do texto, certeira foi a escolha da profissão. Sem titubear, Glauco se inscreveu para o curso de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria (Ufsm), local onde, posteriormente, graduou-se. E toda essa história começou na infância. "Quem brinca de ser algo acho que no fundo é o desejo de ser", diz ele, ao contar que, com oito anos, olhava o Cid Moreira apresentar o Jornal Nacional e, no dia seguinte, imitava o jornalista. A facilidade de escrever foi outro ponto fundamental, inclusive, ao idealizar atuar em um jornal impresso. Isso porque achava que se adaptaria melhor nas redações deste meio.

Sempre ela, a televisão

Apesar da imitação de Cid Moreira, não se imaginava quando mais velho trabalhando em televisão. Contudo, o acaso acabou o fazendo mudar de ideia - para nunca mais sair da área. Quando ainda estava no início da faculdade, acompanhou um amigo em um teste para uma vaga do Jornal do Almoço de sua cidade. Apesar de não ter o intuito de fazer a prova, acabou sendo convencido pela equipe do programa. Foi então que o colega não passou, mas ele sim. "Depois que comecei a trabalhar em televisão, me apaixonei. Não consegui mais largar a união entre imagem e texto", relata.

Um começo sem pretensões. Assim Glauco define o momento que entrou no mercado. Na ocasião, trabalhou um ano como apresentador de esportes. No restante do tempo em que atuou no Grupo RBS de Santa Maria, que somou seis anos, ancorou um telejornal. Após se formar, resolveu respirar novos ares. Mais precisamente, no SBT do Paraná. No local, ficou encarregado de atuar em Foz do Iguaçu, também na editoria geral. Nesta oportunidade de trabalho, foi pela primeira vez ao exterior fazer uma cobertura, ao se deslocar para o Paraguai com o intuito de cobrir uma tentativa de Golpe Militar.   

Entretanto, após seis meses, o repórter constatou que não se adaptou à Região. Ao receber uma proposta da RBS TV, não pensou duas vezes em regressar ao Estado, mas, desta vez, o destino era diferente. Em 1998, passou a atuar na editoria esportiva da emissora, que adorava fazer devido à liberdade de linguagem, ao investimento em imagens e ao tipo de texto. Repórter de rede, de lá só saiu depois de quase 28 anos de casa. Após, em 2018, começou a dar curso de textos, apresentando-se em visitas a redações e universidades. Foi meses depois que surgiu a possibilidade de trabalhar com internet e soube do interesse da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) em participar das transmissões das divisões acesso. Com o desejo de se inteirar sobre estas veiculações pela internet, decidiu participar do projeto do MyCujoo com a entidade. A partir desta iniciativa, conduz dois programas por semana na plataforma.

Todavia, é claro que não conseguiu ficar muito tempo longe das telinhas. Ainda atua no SBT RS, mas desta vez, como repórter de geral. "Queria trabalhar em uma área diferente, e ando contando histórias mais abrangentes", aponta. Com isso, durante todas as manhãs bate ponto no Morro Santana, enquanto à tarde é na FGF que se encontra. Glauco ainda presta serviços para a Conmebol, na qual é operador de serviços de imprensa. Ele atua como representante da organização junto às assessorias de clubes e jornalistas, com o intuito de proporcionar todas as condições aos profissionais que estão nos jogos a transmitir o seu material. Com isso, sai de casa às 6h, com a ajuda de um bom café preto sem açúcar, e volta em torno das 20h. E, mesmo com tanto trabalho, não reclama. "Se eu não fosse jornalista, acho que só vendendo jornal", brinca.

Desafios

Glauco confessa: ao ingressar no mercado achou que o mundo era lindo e maravilhoso. Feliz, foi cobrir o treino do Internacional de Santa Maria. Porém, o time estava em uma fase difícil. Ao pedir uma entrevista ao técnico, apresentou-se e ouviu do treinador "grande coisa". Na oportunidade que foi para o Paraguai, teve dificuldade em trabalhar no exterior. Isso porque a internet era muito incipiente na época. Além de estar em um território com uma língua estrangeira, precisava pensar em como enviaria o material ao Brasil. Para ele, as dificuldades só mudam de rosto, contudo são sempre as mesmas. "Mas jornalista gosta, a verdade é essa. Esse desafio é o que move a gente", opina.

Ao longo da trajetória, ainda aconteceram diversas situações inusitadas. A exemplo de uma partida entre Grêmio e Caxias. O jornalista estava dentro de campo fazendo um relato ao vivo à audiência, quando o juiz iniciou a partida com ele dentro das quatro linhas. Cobrindo jogos do tricolor gaúcho, ainda precisou sair do estádio escoltado junto a outros colegas brasileiros de imprensa. A torcida adversária ficou irritada ao perder o jogo e começou a apedrejar o vestiário, o que acabou atingindo um dos repórteres.

E, de tantos momentos e histórias para contar ao longo das mais de três décadas de atuação, nada supera a repercussão de uma reportagem que fez sobre um torcedor do Aimoré. Sem recursos, o morador de Terra de Areia escreveu uma carta pedindo um fardamento do time do coração. "A matéria sensibilizou tantas pessoas que ele me avisou que não paravam de mandar mantimentos e doações", conta.

Ao acumular diversos prêmios ARI, comenta que estes lhe proporcionam uma grande satisfação. Entretanto, aborda que nenhum enaltece tanto quanto uma pessoa chegar na rua ou até pela internet e elogiar o seu trabalho. "Pois isso fica guardado dentro da gente, ao invés dos troféus que ficam na prateleira", aponta.

Jaguari ou Santa Maria?

Nascido em um hospital de Santa Maria, terra da mãe, Dona Gerusa, acabou sendo registrado em Jaguari, cidade ao lado, onde o pai, Jandir, foi criado. Da pequena cidade de colonização italiana, saiu com quase 16 anos.  Ao lado do irmão mais velho, Gerson, cresceu jogando futebol na rua e de botão. Fazia tudo fora de casa, como andar de bicicleta e subir nas árvores.

Por causa disso, perdeu as contas de quantas vezes foi parar no hospital com o braço ou a perna destroncados. "Nunca soube o que era ficar preso dentro de casa", recorda. Porém, tinha que se comportar na escola, já que era filho da diretora. Na época, também adorava levantar nos domingos de manhã para ver Fórmula 1. O esporte o marcou tanto que, quando o Senna morreu, a exemplo de tantos brasileiros, ficou muito abalado.

Hoje, com dois filhos, Cassiana, 22 anos, fruto do primeiro casamento, e Vicente, nove anos, resultado da atual união com a comerciante Patrícia, olha para trás e enxerga muitas satisfações. No entanto, não se considera uma pessoa realizada, visto que ainda tem muito para fazer. "Acho que esta etapa não irá chegar. Estou sempre em constante procura", diz.

Para o futuro, espera ainda contribuir de alguma forma, mesmo que seja em uma conversa informal. "Nosso meio se renova muito devido às tecnologias, mas a experiência é intrínseca", defende, ao expor que não sabe se trabalhará, entretanto acredita que continuará de olho no mercado e fará críticas construtivas.

Ao crer que seu lema é "viva e torça para que o download seja rápido" define-se como turrão, perfeccionista, mas boa gente. Dentre as qualidades, cita ser detalhista, enquanto o gênio explosivo que não consegue esconder aponta como defeito. "Porém, não sou de brigar, mas de manifestar opiniões e contestar", alega. Católico não praticante e que frequenta uma casa espírita, confessa que tem um pouco de preocupação excessiva com a segurança. Ele confere três vezes a porta antes de dormir para ver se está fechada, além de não se afastar do carro sem garantir que este de fato está trancado.   

Fora do ar

Fora do trabalho, vai muito ao cinema e aos parques com a família. Lá, joga bola com o filho e curte o momento enquanto toma um chimarrão. Aliás, confessa que é viciado em matear. Nestes momentos, procura se desligar de tudo, como é o caso de quando vai à cozinha preparar um risoto ou churrasco - inclusive, é um autodidata na gastronomia.

Enquanto a esposa aproveita para ligar a televisão na Globonews, ele acaba aumentando o volume do rádio para pensar em tudo, menos em trabalho. "Sei que o jornalista precisa estar ligado 24h por dia, mas, agora, depois de muito tempo, me dou a liberdade de ter sábado e domingo", conta. Estas ocasiões ainda propiciam aflorar a descendência italiana e, explica melhor, ao dizer que as pessoas pensam que estão em Caxias do Sul, pois não faltam petiscos como vinho, queijo, presunto e salame.

Além de filtrar os momentos em que, para para ficar de olho nas notícias, também assiste a bem menos futebol e,  às vezes, olha até a gravação da partida. Isso porque, se é um jogo que acontece domingo de tarde, afirma que aproveita agora tudo o que não conseguiu anteriormente. Fazendo academia e se exercitando em casa, só gosta mesmo de acompanhar os jogos da prática cuja paixão se estendeu ao trabalho.

Fora do que é comum, gosta mesmo é de procurar por novos nomes na música, desde MPB até Jazz. "Adoro música brasileira no geral, só não me agradam as comerciais", enfatiza. No lazer, ainda fica na frente da telinha para ver filmes e séries. Enquanto comédia é o gênero favorito, com a família são as tramas de ação e aventura que o prendem, como o lançamento da Marvel 'Vingadores: Guerra Infinita', que o levou ao cinema. Em relação às séries, conta que passou a gostar após ter visto 'Breaking Bad'.

Ele, que está lendo menos do que gostaria, comenta que isso acontece devido ao cansaço e por não ter conseguido se adaptar aos óculos - que recém passou a usar. E, como um bom adorador de histórias, levou isso à vida. "Tinha o desejo de ser algo que contasse histórias, e eu acho que isso se chama Jornalismo".

 

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