Gustavo Victorino: Ele é um mosaico

Músico, advogado, engenheiro, jornalista e radialista, confidencia que tem que se multiplicar para dar conta de todas atividades

Gustavo Victorino - Crédito: Jonas Adriano

Conhecido como Gustavo Victorino, poucos sabem que o nome completo do músico, advogado, engenheiro, jornalista e radialista é tão grande quanto o carisma e a quantidade de profissões que acumula. Gustavo Adolfo Victorino Grehs tem no sobrenome um misto de italiano com português, espanhol e alemão, tipicamente um morador do Rio Grande do Sul. Ele nasceu no dia mais bonito da vida da enfermeira Ivonia Victorino, data em que Porto Alegre teve um lindo sol e chuva, em 18 de janeiro de 1956.

Seu pai biológico, Florêncio Grehs, abandonou a mãe ainda grávida, então, os olhos de Gustavo brilham mesmo ao falar do ourives Marino Spíndola Alves, sobre quem tece os mais rasgados elogios e desabafa que foi seu verdadeiro pai. Possuidor de uma dignidade ímpar, tornou-se para ele muito mais que um pai, mas um símbolo. "Foi um homem que até o fim da vida serviu de exemplo para mim. Foi quem me criou, educou e nunca deixou faltar nada", orgulha-se. Também foi com Marino que ele aprendeu, aos 14 anos, a fundir ouro, puxar fio e ter sua primeira profissão, e em uma época que não existiam os equipamentos que têm hoje, então, tudo era feito à mão. Já das irmãs, Márcia e Marina, revela que sempre teve uma relação de muita cumplicidade e parceria.

Recordando o passado, diz que a engenharia e a música já davam o ar da graça na infância, quando montou um violão com fundo de cadeira e corda de pesca, e foi desafiado pelo pai a tocar uma música para ganhar um violão de verdade. E não é que conseguiu? Tocou 'O Barqueiro', do grupo The Brazilian Bitles, e ganhou seu primeiro instrumento aos 11 anos e não parou mais. Nesta área, formou-se no Instituto Palestrina no Rio Grande do Sul e na Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro.

Na pista

Atualmente, Victorino está "na pista", como brinca, explicando que foi um homem de muitas mulheres, mas "sempre uma de cada vez". Discreto, não é de badalar à noite e tão pouco boêmio. Gosta de frequentar restaurantes, é comilão assumido e louco por saladas e sopas. Tendo boa companhia, gosta de viajar, comer fora e assistir a shows. Sobre o que faz nos momentos de lazer, brinca que "dias de folga é coisa de rico", mas que nos raros momentos gosta de ficar em casa tocando piano ou violão. Quando possível, também leva um pouco de música para a casa dos amigos. Gosta de ocupar o pouco tempo disponível que tem com diversão e, nesse caso, o sinônimo não poderia ser outro: música.

Assumidamente beatlemaníaco, destaca que os meninos de Liverpool são sua referência no pop. "Quem gosta de música se apaixona pelos Beatles pelo divisor de águas que eles representaram. Criaram a roda em termos de harmonia funcional no pop", explica.  Já os gêneros musicais favoritos são rock, pop, blues, e é apaixonado por Jazz. Tanto é que ele é o apresentador do Rio das Ostras Jazz & Blues, mas deixa escapar que já teve uma passagem pelo grupo Razão Brasileira, que criou o pagode eletrônico.

Atualmente, mora na Praça Arco Verde, no ponto mais alto da Zona Norte, e diz que lá se sente superfeliz. O apartamento é como se fosse um estúdio de tantos equipamentos que tem. A sala é citada por ele como um local de diversões e de felicidades, pois metade do espaço é composta por instrumentos e a outra metade por livros de Direito, que ele adora. Tanto é que, quando precisa desopilar , além de ir ao clube atirar, gosta de apagar todas as luzes da casa e "ficar viajando" no tempo, quanto toca piano.

Se alguém está esperando que entre seus filmes favoritos tenha alguma mensagem, errou. Ele gosta mesmo é de "cinema pipoca'', de filmes de super-heróis, da Marvel. Mas também adorou 'Nasce Uma Estrela' e a série Game of Thrones. Católico, não frequenta a Igreja, porém, tem muito respeito pelos dogmas, pelo terço e pela bíblia. Confessa que, sempre que possível, faz suas orações.

Multitarefas

Victorino se multiplica para dar conta de tantas atividades que tem no dia-a-dia. Na área do Direito, além de atuar em seu escritório de advocacia, é conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), faz parte do Órgão Especial da entidade no Rio Grande do Sul; da Comissão de Ensino Jurídico (CEJ); e da Comissão das Sociedades de Advogados.

Além disso, assina a coluna Nos Bastidores, na Revista Back Stage, do Rio de Janeiro. Escreve artigos por encomenda para jornais como Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil; apresenta programa na Rádio Pampa e faz parte da bancada do Atualidades da TV Pampa. Também é produtor-executivo da Festa Nacional da Música para a área de tecnologia, voltada ao áudio e instrumentos musicais e ainda encontra tempo para ensaiar e se apresentar com algumas bandas, tocando diferentes instrumentos.

Dentre os diversos reconhecimentos que já recebeu, destaca o Prêmio Internacional como o Mais Influente Jornalista na área de Tecnologia Musical da América Latina, que recebeu na Musikmesse, na Alemanha. Mas o maior prêmio mesmo foi um abraço e um elogio do cantor britânico Eric Clapton, em um encontro em Londres, no qual o famoso guitarrista disse que uma das melhores coisas que os brasileiros tinham feito era a Bossa Nova. Gustavo tomou para si o elogio.  

Entre as referências profissionais, destaca a combinação do advogado e político Mendes Ribeiro com o jornalista Flávio Alcaraz Gomes, ambos falecidos. Na Engenharia, tem como guru luthier Grover Jackson. No Direito, diz que gosta muito, apesar de terem pensamentos exatamente opostos, do jurista Lenio Streck e o advogado e político Fernando Gay da Fonseca. Na Comunicação, os elogios são para o vice-presidente da Rede Pampa, Paulo Sérgio Pinto, a quem enfatiza que é, sem dúvida nenhuma, o maior executivo de rádio, televisão e comunicação do sul do País. 

Comunicação

Apaixonado por rádio, deixou emergir uma paixão que tinha desde garoto, que era assistir às partidas de futebol do Clube União e ficar narrando ou comentando os jogos, gravados no velho radinho de pilhas. Assim se deu o início, aos 17 anos, da sua trajetória na comunicação na equipe de repórteres esportivos da Rádio Cinderela, de Campo Bom. Passou também pela Rádio Progresso, de Novo Hamburgo, e trabalhou no Grupo RBS, fora dos microfones, como assistente do jornalista Wilson Müller, assessor direto do então presidente do grupo, Maurício Sirotsky. Também foi repórter da unidade móvel do programa comandado por Celso Ferreira, na Rádio Gaúcha.

Atuou ainda na Rádio Cultura de Florianópolis e, aos 24 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para trabalhar como repórter e apresentador da Rádio e TV Manchete. Foi colunista de economia na Gazeta Mercantil, repórter do Jornal do Brasil e correspondente da Rádio Guaíba de Porto Alegre. Interrompeu o trabalho na comunicação para trabalhar na Washburn, fabricante de violões e guitarras, em Chicago, e retornou para Porto Alegre, em 2004, para cuidar da mãe e trabalhar na TV e Rádio Pampa, onde está desde então.

Demonstração de humanidade

Entre os grandes prazeres que tem na vida, ser doador de sangue e de plaquetas é o que lhe dá mais orgulho. Ele enche os olhos de lágrimas e faz um apelo às pessoas: "Doar sangue é muito mais que um gesto de altruísmo. É uma demonstração de humanidade", pondera. Extremamente emocionado, compartilha que recebeu um telefonema do hospital para que fosse doar plaquetas para um bebezinho de apenas seis meses. Dois meses se passaram e, na semana passada, recebeu a notícia de que a criança pôde, enfim, ir para casa pela primeira vez. "Retorno como este é que enche o coração de emoção e alegria."

Sobre características, explica que talvez a qualidade seja também o maior defeito, pois diz que não é a pessoa que as pessoas ouvem no rádio, enxergam no Tribunal, olham no palco ou assistem na TV. "Minha mãe sempre disse que eu puxei o pior defeito do meu pai que é não brigar. Saindo da frente do microfone, da câmera ou da sala do Tribunal, aquela ferocidade, aquela impetuosidade se vai", confessa. Qual dos dois é o mais autêntico? Ele não sabe dizer, mas diz que prefere ser mais recatado e discreto. 

Sentindo-se realizado, afirma que, quando morrer, vai apertar a mão do "papai do céu" e agradecer por cada minuto que viveu na Tterra. "Não tenho tudo o que quero, mas quero muito tudo o que eu tenho", confessa, compartilhando em seguida que nunca pretende parar de trabalhar. Se tiver que se aposentar, será apenas no papel. "A vida da gente é como andar de bicicleta: se parar, cai", acredita. Definindo-se como um mosaico dele mesmo, justifica que trata de coisas extremamente técnicas, como a área de tecnologia ou do Direito, com coisas românticas e lúdicas, como a música e a comunicação e, no final tudo, se encaixa.

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