Beto Souza: História e ficção

Ele perdeu a sua alma para o cinema e a TV. Desde cedo, empolgado pela fantasia da Sétima Arte, decidiu trilhar o caminho da …

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Ele perdeu a sua alma para o cinema e a TV. Desde cedo, empolgado pela fantasia da Sétima Arte, decidiu trilhar o caminho da comunicação. Da geração videoclipe, passou, atualmente, a pensar o Rio Grande do Sul com um olhar diferente. A história e a ficção se misturam no trabalho de Carlos Alberto Costa Souza, ou Beto Souza, como é mais conhecido. Consagrado pelo recente prêmio do Júri Popular do Festival de Gramado Cinema Brasileiro e Latino, o cineasta de "Netto perde sua alma" fala mais sobre seu trabalho, no Perfil da Coletiva.Net. E adianta: dois novos filmes, em parceria com Tabajara Ruas, estarão entrando em produção nos próximos meses.

Aos 40 anos de idade, o porto-alegrense Beto Souza tem o espírito de juventude que se prolonga desde os tempos em que iniciou na produção independente de vídeos e programas para TV. "Meu primeiro emprego na área foi trabalhando na equipe do Sérgio Jockymann, no início da TV2 Guaíba", relembra. Formado em jornalismo gráfico e audiovisual, pela Fabico-Ufrgs, pretende encontrar tempo para fazer um mestrado em cinema. "A produção de Netto me levou a ver muitos filmes clássicos, fazer uma ampla pesquisa e contribuiu para pensar ainda mais em novos projetos nessa área, embora também esteja disposto a produzir mais para a TV", argumenta.

Enquanto isso, Beto Souza aproveita o sucesso do novo filme com o filho Guilherme, de seis anos. "Meus finais de semana são dedicados a ele, a um jantar em casa e, claro, a me atualizar com as novidades do cinema", afirma. Amante do trabalho dos irmãos Cohen, de Stephen Frears e de Jim Jarmusch, o cineasta teve de aprimorar sua visão revisitando clássicos em vídeo para produzir seu mais recente trabalho, como "No tempo das diligências" e "O homem que matou o fascínora", de John Ford.

ARTE E NOVOS FILMES

Além do cinema, Beto tem uma proximidade com outras expressões artísticas. "Fiz dois anos de Arquitetura e aprendi a gostar muito da área de artes plásticas", ressalta, ao enumerar suas preferências por Matisse e Miró. Sua veia gaúcha, no entanto, o faz colocar Vasco Prado e Iberê Camargo, considerado um ícone mundial da modernidade artística, entre os grandes personagens intimamente ligados à arte no RS. No segmento literário, o cineasta faz questão de ressaltar a importância dos grandes clássicos da literatura brasileira.

Hoje, ele prefere ensaios históricos e antropológicos, mais ligados ao trabalho cinematográfico que vem desenvolvendo. "Além da proximidade de amizade, adoro ler o que o Tabajara Ruas escreve, sendo que pelo menos umas três ou quatro obras dele são roteiros perfeitos para serem filmados", sustenta. Prova disso, é que já estão definidos os nomes e os roteiros dos dois próximos filmes. Beto vai dirigir "Encontro em Tambores", que ele define como um misto de policial, road movie e western pampeano. E o próprio Ruas será o responsável pela direção de "Porto Alegre".

Mostrando ser mesmo da geração que bebeu na fonte dos anos 70 e soube aproveitar a ebulição visual dos anos 80, o cineasta tem em mente nomes marcados na lembrança de qualquer um que gosta de rock, quando o assunto é música. "Os dinossauros como Led Zeppelin, Genesis e Wishbone Ash são importantes, bem como nomes mais recentes, como The Cure, Echo & The Bunnymen, sem nunca esquecer os brasileiros e gaúchos Replicantes, DeFalla, Legião Urbana e Titãs", salientou. Mas nenhum outro tem o lugar especial destinado ao Rolling Stones na cabeça musical de Beto Souza.

FRATERNIDADE E PROJETOS 

De uma família de classe média ligada diretamente à política - o pai Renato Souza foi deputado estadual cassado pelo regime militar -, Beto herdou desde cedo a proximidade com as lutas políticas. Do movimento estudantil, passando pelas ações que determinaram a fundação do PT e chegando ao que considera "momento de autocrítica e estabilização como um social democrata clássico", o cineasta foi formando uma história de participação na vida política gaúcha. "Já atuei em diversos momentos, inclusive, com meu trabalho na área de produção audiovisual", assinala. Atualmente, diz ter o pensamento mais voltado para uma forma de ação política que tenha preocupação social, em que se aumente a base produtora para arrecadar mais, com a participação mais efetiva da iniciativa privada.

Nesse ambiente familiar também estão os principais referenciais de Beto Souza. Além do filho Guilherme, os irmãos são base de sustentação para o cineasta. "Somos uma família de seis irmãos com os quais posso contar sempre, que me apóiam ou me criticam, mas que tenho certeza de suas presenças quando necessito".

Dentro do clima de entusiasmo e satisfação com o brilhante percurso iniciado pelo filme "Netto perde sua alma", Beto trabalha naquilo que considera, hoje, o seu grande projeto de vida. Está montando a Piedra Sola Produções, que terá como foco a produção de longas-metragens e programas especiais para TV. "Ali, tenho certeza de que poderei produzir coisas que realmente estou a fim de fazer", diz. Isso vem ao encontro, também, do que afirma ser sua filosofia de vida: "Trabalhar com a emoção, fazendo coisas que toquem as pessoas e que mostrem que precisamos ser corretos, sem passar por cima dos outros". Por isso,

Beto Souza acredita que o segredo do sucesso está na maneira de se fazer a ligação mais perfeita entre o que se gosta, com sua maneira própria, mas sempre pensando em levar isso a todas as pessoas. "É preciso ter sensibilidade para saber que nada é estanque e nem acontece por acaso, já que podemos influir na forma de se fazer coisas cada vez melhores", acrescenta.

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