Jorge Correa: De carona no jornalismo

Jornalista e sindicalista fala com orgulho dos mais de 40 anos dedicados à reportagem e militância

Jorge Correa - Divulgação/Coletiva.net

Jorge Correa é o filho mais velho do operário da indústria Otacílio Rodrigues da Silva e da dona de casa Suely Correa da Silva. O jornalista e sindicalista decidiu sair da sua terra natal, Barra do Ribeiro, aos 17 anos, para estudar e trabalhar em Porto Alegre. Morou em pensão, ia a pé para o trabalho e de carona para a Unisinos, onde se formou em Jornalismo, em 1983. "Eu não tinha dinheiro para pegar o ônibus para faculdade, então, ia para a BR com uma plaquinha e pedia carona, de dedão mesmo", relata.

E é na linha de lembranças que recorda da infância, quando morava em uma cidade pequena e que tinha muito medo. Como o pai trabalhava no Engenho Santo Antônio, como operador de máquinas, lembra que tinha o costume de levar o café da tarde para ele. Porém, para chegar até lá, era preciso atravessar um trapiche e isso o causava um enorme medo. Além disso, também tinha outros receios, como andar de bicicleta, de água e de falar em público. Tudo isso possuía alguma relação com sua timidez, característica que foi sendo superada quando virou coroinha da Igreja, e foi convidado pelo padre para ser leitor de Epístola.

Desta época, resgata ainda a paixão pelo time do coração, o Internacional. Como não tinha televisão, acompanhava os jogos pelo rádio e, quando estava no banheiro, acabava demorando muito, pois se trancava lá para narrar, de forma fictícia, os jogos. Uma espécie de estripulia que gerava incômodo nos irmãos, João Carlos, Vera, José Henrique e Maria Isabel, que também queriam usar o único banheiro da casa. "Eu tinha um fascínio pelos narradores e repórteres daquela época, nem de longe pensava em trabalhar com jornalismo. Pensava que seria bancário", confessa. E, mesmo sem saber do futuro profissional, já era um leitor assíduo do Correio do Povo, impresso que conferia na casa do padre.

Quando chegou à Capital, trabalhou de office boy, auxiliar de crediário e na Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), na área contábil.  Nesta época, cursou técnico de contabilidade no Colégio Comercial Irmão Pedro. O primeiro vestibular foi para esta área, na Ufrgs, mas, por sorte, não passou. Assim, foi influenciado por alguns amigos para migrar para as humanas, tendo entrado na Unisinos, em 1977, e de lá saído seis anos depois com o diploma na mão. Na área de Comunicação, pensava em trabalhar com Esporte, mais precisamente como narrador de futebol, claro. "Mas quis o destino que nestes meus 40 anos de profissão eu jamais transitasse nesta área", relata.

Sensação de liberdade

Divorciado, teve três casamentos. Do primeiro, nasceu o único filho, Marco Antônio, de 32 anos, que é formado pelo PUC e atua na área de Tecnologia da Comunicação. "Meu filho mora comigo e temos uma boa relação. Porém, eu o questiono dele já estar com mais de 30 anos e ainda morar comigo, mas sempre argumenta que hoje é outra época. Bem diferente de mim, que saí de casa aos 17 anos e tive que me virar sozinho", compara. Morador da Cidade Baixa, vai à academia pertinho de casa pelo menos três vezes por semana. Lá, faz musculação, bicicleta e esteira.

Também gosta de ir ao cinema; assistir aos jogos do Inter; ir ao teatro; e aproveitar os barzinhos no bairro boêmio onde mora. Além disso, diz que sempre gostou de caminhadas e que fazia parte de um grupo, porém, hoje está afastado, assim como da hidroginástica. Outra das suas paixões é o ciclismo. Aprendeu a pedalar somente com 25 anos e se apaixonou. "Peguei a bicicleta já adulto e saí andando. Não consigo dimensionar o prazer que tive. É uma sensação de liberdade", compartilha.

É aficionado por filmes históricos, políticos e intimistas, e por Música Popular Brasileira (MPB). Cantores favoritos? A lista é grande e vai desde Elis Regina, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Gal Costa, Raul Seixas, Gonzaguinha, até Beatles (John Lennon, especialmente), Rolling Stones, Queen, Freddy Mercury, Boa Marley, Mercedes Sosa, Joan Baez, Led Zeppelin, Pink Floyd, entre outros. Livros técnicos sobre a Comunicação são citados por ele como essenciais para se manter atualizado, mas a preferência é por obras históricas, já que também é graduado em História, pela PUC.

Da Economia para o Rural

Logo que entrou na faculdade, bateu na porta do Correio do Povo para pedir emprego. Conseguiu e atuou por dois anos como revisor do jornal do Grupo Caldas Júnior. Em 1980, foi produtor do programa 'Porto Visão', da antiga TV Difusora, que era comandado pela apresentadora Tânia Carvalho, a quem Jorge se derrete em elogios, citando-a como a melhor apresentadora de programas de televisão e explicando que trabalhar com ela foi uma grande escola. "Uma experiência excelente, e eu tive muita oportunidade e contato com políticos, cantores e até com o Leonel Brizola, que nos deu entrevista logo que voltou do exílio."

De 1981 até 1986, trabalhou na editoria de Economia e de Agropecuária, do Jornal do Comércio (JC), local onde fez grandes e perenes amizades. "Não vou citá-las para evitar esquecimentos, mas foram especiais", destaca. Em 1983, fez sua primeira cobertura na Expointer, seguindo por mais 30 anos de cobertura da feira. Três anos depois da estreia, foi convidado pela editora de Economia de Zero Hora (ZH), Eunice Jacques, para trabalhar na redação do jornal, onde permaneceu por 28 anos. A partir de 2000, passou a atuar exclusivamente para o caderno Campo & Lavoura, período que declara como o mais gratificante que teve no Jornalismo. "Sempre como repórter, função nobre da nossa profissão", completa.

Na oportunidade, pôde viajar e conversar com muitas fontes ao vivo, o que destaca ser um grande diferencial para as matérias. Como marco na carreira, salienta os reconhecimentos que recebeu pela dedicação à área de agro, como quatro vezes o Prêmio ARI de Jornalismo, Prêmio Embrapa de Reportagem, entre outros. Teve passagens também pelas assessorias de imprensa da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa). Já seu vínculo com o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul (Sindjors) se deu logo que iniciou na carreira, quando foi escolhido pelos colegas do JC e de ZH para ser delegado sindical, elo entre a entidade e as redações. Depois disso, não parou mais: foi presidente, segundo vice-presidente, secretário, tesoureiro, membro do conselho fiscal, entre outras diversas atividades.

E quem pensa que Jorge está aposentado, se engana. Atualmente, divide-se entre os frellas para a Revista Granja, para Expodireto Cotrijal e as funções de primeiro secretário e gerente administrativo-financeiro do Sindjors. Aos 63 anos, ele não pretende parar, tanto é que os planos para os próximos 10 anos é continuar fazendo reportagens e fazendo suas caminhadas na mata.

Socialista democrata 

Definindo-se como um socialista democrata, acredita que se deve lutar contra as grandes diferenças de renda e de direitos. "Sou lutador dos direitos dos oprimidos, mais pobres e das classes inferiores", orgulha-se. Explica em seguida que, para ser um bom jornalista, é preciso ser ético e responsável com a democracia. Militante assumido, cita a frase que virou um mantra no sindicato: "O trabalho do jornalista vale mais".

Quando pensa em referências pessoais, os pais são citados, isso porque, mesmo com pouco estudo, o ensinaram a ter integridade, ética e moral. Já no campo profissional, as referências são muitas. "São colegas jornalistas importantes na minha vida e é difícil fazer uma lista", citando em seguida diversos nomes e lembrando de mais de 20 colegas de profissão. 

Entre as manias, confessa que é viciado na rede social de Mark Zuckerberg. "Estou sempre com o celular na mão. Antes de dormir e ao acordar, sempre acesso o Facebook". Sabe que é uma tecnologia maravilhosa, mas que também é preciso ser usada com cautela, além de admitir que precisa diminuir o acesso.  Já ao falar sobre qualidade e defeito, explica que se considera persistente e intransigente. Sentindo-se realizado, compartilha que ainda quer escrever um livro na área de Jornalismo e na área de História, e que o lema que define bem sua vida pessoal e profissional é "Eu posso, conseguirei e não desistirei".

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