José Bacchieri Duarte: Memórias e histórias

Idade não é obstáculo para alguém como ele que, aos 78 anos, fica empolgado ao relembrar sua trajetória, com inúmeras experiências, casos e causos, …

Idade não é obstáculo para alguém como ele que, aos 78 anos, fica empolgado ao relembrar sua trajetória, com inúmeras experiências, casos e causos, tantos que são suficientes para enriquecer o livro que está escrevendo neste momento. Trabalhar nunca foi problema para este jornalista que ainda considera-se em plena atividade, como um "guri novo". Pelo contrário, este é o lema e incentivo para José Bacchieri Duarte marcar cada vez mais sua trajetória profissional. Bacchieri nasceu em Pinheiro Machado, em 1925. Aos 6 anos mudou-se para a cidade de Piratini. Em 1934, foi morar com a família em Pelotas, onde passou metade da infância e toda a fase da adolescência. Começou por acaso sua atividade em jornalismo, no Diário Popular, em 1943. "Foi muito engraçado porque eu não gostava de escrever e nem sabia. Jogava xadrez e fui pedir para publicar uma notícia sobre um campeonato. O redator mandou eu sentar na cadeira e escrever. Só recomendou que deixasse um espaço grande entre uma linha e outra. Logo, estava eu lá trabalhando como cronista esportivo", relembra ele. Sem formação em Jornalismo, seu aprendizado foi mesmo na prática e o pior, segundo ele, sempre recebendo repreensões de todos os lados. "Aprendi tudo com meu ouvido, inclusive o português", diz. Em 1947, veio para a capital e foi contratado para trabalhar no Correio do Povo. Começou atuando na cobertura da Assembléia Legislativa, onde estabeleceu amizades e relações com os deputados. Em outubro daquele mesmo ano, passou a ser funcionário da Assembléia, onde trabalhou durante 49 anos. "Entrei como redator de debates, ocupei quase todas as posições da Assembléia. Só não fui diretor geral", lembra Bacchieri. Trabalhar muito sempre foi seu forte, fato que levou-o a atuar em cinco lugares ao mesmo tempo. "Teve uma época que atuava no Correio do Povo, no Escritório de Municípios - uma espécie de procuradoria das prefeituras -, na assessoria de imprensa do DAER, e fiz a cobertura da implantação da fábrica da Renault em Porto Alegre, além de continuar trabalhando na Assembléia", conta. Durante estes 49 anos de carreira no Legislativo, o jornalista teve paralelamente várias outras funções. E atuou também como empresário, em 1953, quando foi sócio de uma empresa de construção de estradas, a Construtora Continental de Rodovias. "Esta fase foi o ponto alto da minha vida. Na década de 50, quando tinha 30 anos, eu tinha um pique inigualável para fazer muitas coisas juntas", garante. A política A política sempre esteve presente na vida de Bacchieri, que participa das questões políticas desde 1945. Já foi vereador em Pelotas (1952- 1953) - quando estava licenciado do Correio do Povo e da Assembléia -, deputado estadual (1954 e 1964), como suplente. Para ele, a atividade política "mais quente" foi com a fundação do MDB, juntamente com o senador Pedro Simon. "Na atividade política tive grandes oportunidades, geralmente ligadas ao Simon", diz. No governo de Simon, em 1987, Bacchieri foi Chefe de Gabinete do Governador, Secretário de Comunicação Social, Ouvidor Geral do Estado e Assessor Especial. Aos 46 anos, decidiu cursar a Faculdade de Direito, na PUCRS. " Me formei com 50 anos, em 1975. Eu era líder da gurizada, o mais velho da turma", conta. Em 1996, Bacchieri saiu da Assembléia Legislativa e dedicou-se somente a "escrever". Lançou, um ano mais tarde, a obra "100 anos da política brasileira, sob a ótica das lideranças do Rio Grande do Sul". A amizade de longa data e a estima pelo senador Simon levaram-no também a escrever, em 2000, uma biografia do amigo e político, o livro "Pedro Simon. Seu tempo, sua vida". Foi também um profícuo editor, tendo organizado mais de oito publicações, com destaque para o recém-lançado "Os 10 dias em que o Rio Grande do Sul foi parlamentarista". Em 2003, Bacchieri foi convidado pelo governador Germano Rigotto para assumir o comando do Memorial do Rio Grande do Sul, onde exerce o cargo de presidente. O outro lado A fazenda de Pelotas é o refúgio e lazer de Bacchieri e sua família. Casado há 54 anos com Sara, o jornalista valoriza muito estar reunido com seus sete filhos (Magali, Angela, Beatriz, Antônio Carlos, José Luís, Virgínia e Patrícia) e 14 netos. "Tudo que faço é para eles. Todos os êxitos alcançados dedico a minha família", ressalta. É fim de semana, seja verão ou inverno, e lá está ele querendo aproveitar as horas de lazer e descanso. "Na propriedade eu tenho tudo, SKY, internet, piscina, vaca, ovelha, boa leitura, boa música, cheiro de tambo. Desde as coisas mais grosseiras até as mais requintadas", salienta. Quando não está lendo, ele escreve, quando não escreve, lê. Estes são os principais passatempos do jornalista, que declara ter preferências mais restritas na leitura. "Eu tenho os meus textos preferidos. Não leio qualquer coisa". E surpreende ao revelar que não escreve sem escutar uma boa música. "Me perdoe a vaidade, mas quando eu quero escrever bem mesmo, tenho que escutar algo", diz. Aos domingos de manhã, especialmente quando está sozinho, o jornalista adora escutar suas músicas prediletas, só que há uma condição: tem que ser relíquias dos discos de vinil. Gosta de escutar algumas seleções de ópera, como Madame Butterfly , clássicos de Frank Sinatra e orquestras , como a de Ray Conniff. "Eu só não gosto é de barulho", acrescenta. Como atividade física, ele pratica caminhadas, mas confessa que ultimamente a preguiça está falando mais alto. " Eu vou recomeçar, até porque eu estou precisando, por recomendação médica. Mas não tem jeito, tenho andado muito preguiçoso para isso", diz. Entre as muitas viagens já realizadas, Bacchieri ressalta as duas mais recentes. A primeira, quando ele e Sara percorreram, de carro, alguns países da Europa, como Espanha, França e Itália. A outra viagem foi para Israel e Grécia, onde destaca lugares visitados como Telaviv, Jerusalém e Belém. Todos os dias ao anoitecer, após ter cumprido suas tarefas, o jornalista não dispensa seu "velho hábito". Há 40 anos, Bacchieri e Sara tomam uma ou duas doses de um "bom uísque". Seriam, então, cerca de 43 mil doses, ou 1.440 garrafas. Mas Bacchieri assegura: "Claro que eu não tomo um porre". E acrescenta, detalhista como sempre: "Eu sou um bebedor de uísque, mas tem que ser dos melhores. O primeiro que eu tomei foi um White Horse, que ganhei de presente. Desde então nunca mais parei de tomar", confessa. O Salão A filosofia de vida de Bacchieri muda à medida em que os anos vão passando. Segundo o jornalista, seus valores, reações e relacionamentos sofreram muitas mudanças devido às experiências vividas. O jornalista acredita que é um equívoco as pessoas pensarem que o presente deve ser vivido intensamente, como se não tivesse passado nem futuro. Segundo ele, a vida é uma média de toda vivência do indivíduo. "Cada fase de nossa vida temos um tipo de personalidade. O tempo faz com que a gente aprenda muito", avalia. "Se eu tivesse 10 anos a menos do que tenho, juro que ia fazer chover". Este é o pensamento constante de Bacchieri quando faz planos para o futuro. "Eu quero fazer tantas coisas, mas nessa altura da minha vida, os planos esbarram na questão do tempo", diz. Porém, isso não é motivo para não deixar de, pelo menos, começar a pôr em prática seus planos. Dedica-se agora ao "projeto do momento", o livro "O Salão". Batizou o livro com este nome porque todas suas anotações, textos, nomeações, troféus, músicas, fotos e guardados da história foram levados para um salão, construído especialmente para este fim, em sua propriedade de Pelotas. " Levei todas as coisas da minha vida para lá. O salão é como se fosse o meu memorial. Por isso estou escrevendo este livro, não sobre minha vida, mas sobre tudo que já vivenciei", explica Bacchieri, revelando que não sabe se está escrevendo o livro porque tem um salão com todas as coisas de sua vida ou se construiu o salão para escrever o livro. "Acho que as duas coisas", brinca. Nota da Redação: José Bacchieri Duarte faleceu em 09/02/2005.

Comentários