José Salimen Júnior: Ator, rádio-ator, galã…

Figura memorável na história do rádio e da televisão, José Salimen Júnior concilia a vocação de um comunicador nato com a experiência

Coletiva.net republica esta semana o perfil de Salimen Júnior, em memória ao executivo e publicitário, falecido em 30/07/2011. Este texto foi publicado originalmente em 20/10/2002.
Figura memorável na história do rádio e da televisão, José Salimen Júnior concilia a vocação de um comunicador nato com a experiência de um gestor que se orgulha de seus resultados. Filho de imigrantes sírios, o atual diretor de Expansão do Jornal do Comércio nasceu em Pelotas e começou a trabalhar muito cedo: com oito anos de idade já saia de bicicleta para fazer as entregas das compras feitas no armazém do pai. E foi ainda menino que começou a se revelar como comunicador: caçula de cinco filhos, costumava irradiar as partidas de botão dos irmãos.
Aos 16 anos, estreou na Rádio Cultura de Pelotas como locutor esportivo e começou a trabalhar no vespertino 'Opinião Pública', onde era editor de esportes e produzia uma coluna sobre futebol. É um currículo extenso e rico: radialista, jornalista e publicitário, foi rádio-ator galã, melhor animador de auditório do Rio Grande do Sul por quatro anos consecutivos, pioneiro na implantação da televisão em cores no Brasil. Há anos, teve a idéia de contar em livro todas as histórias que viveu, mas até agora não encontrou tempo colocar tudo no papel. "Sou um cara muito inquieto, sempre gostei de aprender com os mais velhos e também com os jovens", confessa.
Anos Dourados
Na época áurea do rádio, em meados do século passado, novelas, shows de auditório, musicais, orquestras e humorísticos movimentavam grandes elencos. Em 1954, José Salimen foi convidado por Hamilton Fernandes para integrar a equipe da Rádio Farroupilha, como locutor comercial. Então, com 20 anos, mudou-se para Porto Alegre, indo morar numa pensão na rua Duque de Caxias. Um ano depois, encheu-se de coragem, buscou sua noiva em Pelotas e casou-se na Capital.
Em 57, virou animador de auditório, assumindo o comando do 'Vesperal Farroupilha', nas tardes de sábado, tendo como principal concorrente Maurício Sirotsky Sobrinho, da Rádio Gaúcha. Trazia grandes astros da música brasileira a Porto Alegre, como Maysa, Hebe Camargo, Dercy Gonçalves, Jamelão, Cauby Peixoto, Ângela Maria. Foi graças a esse trabalho que Salimen acabou sendo eleito, por quatro vezes consecutivas, o melhor animador de rádio do Rio Grande do Sul. Mas não foi só, pois em matéria de rádio fez de tudo: foi narrador, locutor comercial, radio-ator, animador, locutor-chefe, produtor. "Como não existia televisão, o sucesso do rádio era extraordinário, a programação era muito prestigiada e os ídolos cortejados pelo público", recorda. Acompanhou de perto o surgimento da televisão, tendo sido apresentador de diversos programas e vivido uma fase marcante como narrador de esportes: "Foi um belo momento da minha vida profissional, porque eu iniciei o tipo de narração apropriada para a televisão, ou seja, falando menos e orientando o telespectador.
A maioria dos locutores faz uma narração de rádio na televisão, o que está errado, pois a pessoa está vendo o que está acontecendo", ensina. Também atuou nos bastidores da história da televisão - e com destaque. Como diretor da TV Difusora, foi pioneiro na implantação da TV em cores no Brasil. A primeira estação brasileira a se equipar inteiramente a cores entrou no ar no dia 10 de outubro de 1969 e, em função do sucesso alcançado, Salimen foi convidado para dirigir a TV Rio e a TV Brasília, as quais foram renovadas com equipamentos em cores e modernizadas em sua programação. Outro grande desafio nesta área foi a inauguração da transmissão em cores via Embratel, em 1972. Honrando as origens gaúchas, o primeiro evento escolhido para ser transmitido em rede nacional foi a Festa da Uva, de Caxias do Sul. "Foi uma batalha muito difícil, da qual tenho muito orgulho".
A terceira via
A propaganda, segundo ele, surgiu na sua vida em decorrência dos salários deficientes do jornalismo. Mesmo acumulando as atividades de galã de novelas, animador de auditório, locutor publicitário, Salimen não tinha automóvel. Como precisava trabalhar muito para garantir o sustento das família - já tinha três filhos -, resolveu montar em Porto Alegre a agência Panam Casa de Amigos, cuja matriz paulista pertencia a um primo seu. Em seguida, fundou a Salimen-Franchini, primeira agência gaúcha a exportar peças para os Estados Unidos, para o cliente Amadeu Rossi, e que também tinha as contas nacionais do Bamerindus e da Technos e por isso acabou se associando com a Denison, em São Paulo.
Posteriormente, tornou-se diretor-presidente da Símbolo Meio Comunicação e Marketing. Mas houve um momento em que sentiu-se saturado da propaganda, e foi buscar uma atividade que o renovasse. Foi então que, há dois anos, ao ser convidado para participar da reestruturação do Jornal do Comércio, assumiu a direção de Expansão da empresa. "O trabalho é a grande força que nos alimenta", diz, ao citar que também exercita seu lado jornalista com a coluna Business ´n Business, publicada às segundas-feiras.
Bastidores
Preocupado em contribuir no campo social, Salimen liderou a primeira campanha regional de doação de órgãos para a Santa Casa, obtendo apoio de todos os veículos de comunicação do Estado, produtores, artistas e fornecedores, fazendo com que a doação crescesse expressivamente. E para a construção do Hospital Santo Antônio, reuniu um grupo de mais de doze agências de propaganda entregando a coordenação do projeto ao presidente da ABAP-RS, Dick Schertel, tendo a ARP destacado como Fato do Ano.
Já faz alguns anos que ele vem pensando em escrever um livro para contar essas e tantas outras histórias. Falta tempo: Salimen trabalha 12 horas por dia, "com muito prazer e entusiasmo" - como faz questão de frisar. Mas ele também valoriza a saúde e o lazer. Com acompanhamento médico, faz ginástica três vezes por semana e costuma caminhar no Parcão. "Depois dos 30, é preciso tomar cuidado", brinca. Aos 68 anos de idade, "seu espírito está muito jovem". Está casado há 22 anos com Arleni, sua segunda esposa, com a qual tem um filho. Juntando com os outros cinco do primeiro casamento e mais nove netos, formou uma grande família.
Salimen destaca o cinema como seu lazer preferido. 'Cinema Paradiso' e 'Perfume de Mulher' são os seus clássicos. Da safra recente, destaca o argentino 'Kamchatka', que para ele é nada menos que "uma obra de arte". Também gostava de assistir a peças, mas ficou traumatizado com a perda do filho, Júnior, que era ator de teatro. "Depois disso, assisti a poucos espetáculos. É uma ferida que não cura nunca", desabafa. Também lê muito, e de tudo um pouco - por exigência da profissão e interesse mesmo. Na cabeceira, atualmente está 'Empresas para Durar', de Jim Collins. Mas ele é um apreciador de ficção e romances, e tem uma admiração especial pelos autores gaúchos.
Dentre as muitas viagens internacionais que já fez, a mais inesquecível foi para Toledo, na Espanha. "Fiquei encantado com a arquitetura, por aqueles mosteiros fantásticos tão marcados pela influência dos árabes". Para ouvir, gosta de ópera e música popular. Integra o grupo Amigos do Margs, apoiando a ascensão de Porto Alegre como pólo cultural e, sempre que pode, gosta de conferir pessoalmente a programação cultural de São Paulo e Buenos Aires, principalmente as óperas. "A vida é assim: trabalhar e alimentar o espírito", resume.
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