Leonardo Hoffmann: Alma de comunicador

Criado em meio a jornalistas e fotógrafos, Leonardo Hoffmann teve a comunicação como destino natural

Por Juliana Freitas, em 12/09/2014
Muito antes de Leonardo Zigon Hoffman se tornar um empresário da comunicação, sua relação com a área já era íntima. Nos encontros que reuniam fotógrafos e jornalistas amigos de seu pai, o fotógrafo Assis Hoffmann, o empresário se sentia à vontade com aquelas figuras, que apostavam dinheiro nos jogos de sinuca. "O fotógrafo João Batista Scalco, já falecido, me dava dicas para fotografar com teleobjetiva, enquanto eu ensinava-o a jogar sinuca", lembra.
Aos seis anos, Leonardo já ajudava o pai no laboratório de fotografia, revelando e copiando imagens. "Já sujava minha roupa de produto químico nessa idade", conta. Com a mãe, Odete Maria Zigon, também trabalhando na área, como a sucursal do jornal Gazeta Mercantil, a comunicação foi um caminho natural na vida do empresário. Aos 13, já trabalhava nos negócios do pai, como contato publicitário no jornal O Bairrista e produtor executivo na agência de fotos Focontexto e na Vídeo Cine.
Formado em Administração pela PUC e com um MBA em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, Leonardo hoje reconhece que seu maior defeito é assumir muitas responsabilidades ao mesmo tempo. Atualmente, ele dirige quatro empresas, sendo três de comunicação e uma de investimentos. "Eu não lidero negócios grandes, mas importantes e relevantes dentro da atividade", acredita.
Caminho natural
Aos 17 anos, sua mãe o apresentou ao jornalista José Vieira da Cunha (editor deste Coletiva.net), então chefe de jornalismo da TV Guaíba, profissional que, segundo ele, lhe abriu as portas para o mercado. "Em 10 minutos de entrevista ele me disse que eu tinha um perfil de vendedor e me apresentou para o gerente comercial." Foi admitido na hora e durante três anos atuou como contato de publicidade da emissora, se despedindo em 1987, ano em que participaria de uma seleção para trabalhar na Editora Abril.
Foi aprovado neste processo de seleção do grupo paulista de comunicação e começou a atuar em 1988 em Porto Alegre, sendo que um ano depois teria a oportunidade de ir para São Paulo trabalhar na sede da Editora Abril. Na revista Capricho, foi convidado para ocupar o cargo de Gerente de Publicidade, em 1990, proposta que recusou. "Achei que a revista precisava de alguém que inserisse ela no mercado, e eu precisava de alguma publicação que fizesse o mesmo por mim", diz. Sendo assim, a empresa lhe propôs voltar para o Sul, onde passou a ocupar o cargo de supervisor.
Rotina paulista
Leonardo ainda voltaria para São Paulo em 2009, após ser o responsável durante 33 meses pela Caras Sul, publicação online que surgiu da união da Caras RS e da Caras SC. "A publicação foi um sucesso. A revista tinha redação nas três capitais sulistas e contava com uma grande repercussão, consumindo dois terços do meu tempo", revela.
Apesar do sucesso entre os leitores, o projeto foi interrompido devido ao convite para retornar à sede da Editora Abril e dirigir a publicação em âmbito nacional. "Eu cumpri e alcancei o objetivo no momento. Acredito que houve uma falha minha por não ter conseguido administrar e continuar o projeto", admite Leonardo, que tem o desejo de realizar algo similar, utilizando o formato blog, para preencher a lacuna deixada pela Caras Sul.
Em São Paulo, assumiu a direção comercial da revista impressa, atividade que considera um dos seus maiores desafios. "Liderar jornalistas que não se sentem à vontade em ser liderados por um profissional que não é jornalista não foi fácil", diz, lembrando que o período foi de muito aprendizado e compreensão na área jornalística. Junto com a liderança, também pontuou a responsabilidade que foi estar à frente de uma das publicações que no setor revista é a que mais vende publicidade no Brasil, atingindo resultados e inovando na área.
Espírito empreendedor
Ao retornar ao Estado, em 1990, estava de malas prontas para estudar inglês na Califórnia quando recebeu o convite de Fátima Ali, então vice-presidente do Grupo Abril, para implantar a MTV no Rio Grande do Sul. A partir da proposta, criou, juntamente com o empresário Vitor Zatti Faccioni, a Zatti e Zigon, empresa responsável por retransmitir o canal. "Foi o primeiro desafio da carreira. Éramos dois moleques e as pessoas não nos davam credibilidade. Nós implantamos algo que deu grande repercussão", diz, lembrando certa ocasião em que estava sendo entrevistado sobre a emissora pela jornalista Marla Martins, na TVE, e lhe pediram autógrafo na saída, achando que ele fazia parte do casting de artistas do canal.
A partir de então, Leonardo se consolidou como empreendedor. Admite que antes cometera erros por causa da inexperiência, mas acredita que tudo construiu um aprendizado para seguir no mundo dos negócios. A partir daí, os empreendimentos foram aumentando e, hoje, Leonardo é responsável pela Zigon Ad Sales, Zigon Multimídia, Zigon Out of Home e Zigon Administração Participações & Investimentos. Segundo ele, é nesta última que atua como um verdadeiro protagonista, qualificando lideranças para ficar a frente dos outros negócios. "É a empresa responsável pelos investimentos. Então, estou dando uma atenção maior", explica.
Leonardo acredita que o empreendedorismo nasce com o indivíduo. "Tem pessoas que têm por característica ser um executivo e estar incluso em um organograma, e outras nascem para empreender. Acredito que reúno um pouco dos dois." Conforme ele, um empreendedor desconstrói características que o levam a agir por intuição, vontade, desejo ou ambição, para se aperfeiçoar em atividades mais focadas e dentro daquilo que percebe ter capacidade e competência para atuar. Então reflete: "Tenho que cuidar para não assumir empreendimentos que não terei tempo para me dedicar, de forma que os resultados sejam positivos".
A característica de multiempreendedor foi a responsável por uma das críticas que mais o marcou. Quando ainda trabalhava em São Paulo e retornava ao Estado toda sexta-feira para encontrar a família, ouviu dos filhos se eles também teriam que marcar horário para falar com o próprio pai. "Foi algo bem forte", admite.
Sócios eternos
Casado há 13 anos com a arquiteta Cíntia Coelho, Leonardo revela que sua maior qualidade é ser um "baita pai". Seus 'sócios' Camila, de 13 anos, Enzo, de oito, e Luca, de seis, completam a turma que faz seus olhos brilharem a cada lembrança de patriarca orgulhoso. Quando foi para São Paulo, não levou a família porque não queria tirá-los da rotina organizada, nem deixá-los longe dos familiares. "Eu trabalhava das 8h às 23h e não conseguiria ver eles, de qualquer maneira. Hoje eu questiono se a experiência não seria boa", reflete. Para ele, a educação e o bem-estar dos filhos são sua prioridade. "O meu maior desafio é qualificá-los profissionalmente e pessoalmente para serem bem sucedidos em todas as áreas da vida."
Quando está em casa sempre tem uma grande variedade de livros, revistas e jornais em sua volta, publicações que lê simultaneamente. Quando interrompeu o período em que trabalhou ao lado do pai, Leonardo havia decidido estudar cinema, mas resolveu deixar a ideia de lado quando surgiu a oportunidade na TV Guaíba. Porém, o gosto pela sétima arte não morreu e admite que, quando assiste a um filme, presta atenção nos detalhes técnicos. Além disso, o tempo de ócio também é preenchido com os herdeiros. "Gosto de me dedicar a eles e fazer com que tenham experiências prazerosas. Levo na equitação, estudo com eles, sou participativo."
Adepto aos esportes, sua preferência é o hipismo, já que é um apaixonado por cavalos. "Eu gostaria de criar cavalos e de ter uma atividade no setor primário, na agropecuária e criação de gados", conta. No entanto, explica que não quer ver seu hobbie virar um empreendimento. "Estou me segurando para que isso não vire um negócio, porque daí deixa de ser lazer." Leonardo ressalta essa ideia porque o turismo, outra preferência, acabou originando uma agência de produção de conteúdos sobre o tema, trabalho realizado em conjunto com uma jornalista de São Paulo.
Entre os desafios que se colocou, está a vontade de investir na qualificação de jovens que vivem em condições de risco. Certa vez, estava prestes a criar a ONG PAI (Programa de Auxílio ao Indivíduo), em que kits de materiais escolares seriam distribuídos para que os jovens pudessem vender, mas foi desestimulado pelos órgãos públicos, sob a alegação de que aquilo era ilícito. "Ainda tenho muita vontade de abrir um mar de oportunidades para jovens que estão aí e não sabem nem por onde começar", revela.
Revendo sua trajetória, que contou com profissionais como Rose Isoppo, que trabalhou com Leonardo na Editora Abril Sul; Itália Marchiori e Tomaz Solto Corrêa, da Abril São Paulo; Jean Carlo Civita, quando o mesmo atuou na MTV e na TVA; Edgardo Martolio, presidente da Caras; Miriam Gabriel Chaves, jornalista; e Osvaldo de Almeida, já falecido, que dirigiu a Abril e a Caras e lhe deu boas lições sobre vinhos, Leonardo se considera satisfeito com seus resultados. E diz, convicto: "Me sinto realizado pelo que já fiz e motivado por alguns desafios que estão por vir".
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