Luciane Delgado Aquino: Plugada na web

Ela tem uma preocupação básica: ajudar na construção de um jornalismo mais investigativo e próprio da internet

As múltiplas vielas do jornalismo digital têm sido percorridas nos últimos anos com um cuidado especial por quem precisa estar em contato direto com milhares de informações que navegam na web. Entre tantos, a jornalista Luciane Delgado Aquino, 31 anos, tem nesse território mais do que o atual trabalho, mas uma parcela do seu projeto profissional. E, muito, da sua aspiração pessoal.


A editora-executiva do portal Terra, no Rio Grande do Sul, recebeu Coletiva.Net, na movimentada redação. Bageense de nascimento, Luciane acabou despertando para o jornalismo da era Internet longe da Redação de Zero Hora, onde teve sua iniciação jornalística e deu os primeiros passos dentro do conturbado mundo da notícia. Foi em Barcelona, na Espanha, que ela teve a chance de especializar-se nesse novo veículo de comunicação. "Fui acompanhar o meu marido, que estava fazendo doutorado na área de Direito, e acabei aproveitando para realizar uma pós-graduação nessa área e iniciar um doutorado", ressalta. Foi durante esse período, também, que decidiu voltar para o Estado e encarar a web como futuro na sua profissão.


Hoje em dia, prepara sua tese de doutorado usando uma ferramenta diária e sempre presente: é por email que conversa com seu orientador. A rapidez das informações na Rede, porém, não faz parte dos finais de semana e dos momentos de descontração que passa, quase sempre, no bairro Ipanema, onde mora, em Porto Alegre. "Todo o estresse que é preciso passar para se deslocar no trânsito para chegar à zona Sul da Capital é recompensado pelo prazer desfrutado ao se chegar lá", comenta.


É naquela região que gosta de reunir-se com os amigos, ir a restaurantes e aproveitar a natureza à beira do Guaíba. "Gosto de ficar em casa, com meu cachorro e dois gatos, e podendo fazer coisas que adoro, como me dedicar à jardinagem", diz Luciane. Essa forma de descarregar tensões é dividida com outras atividades manuais. "Também faço algumas coisas como costurar e tricotar, que são ótimos relaxantes", afirma. Para voltar para a cidade, como denomina esse caminho de Ipanema para o Centro, durante os finais de semana, Luciane Aquino reluta, às vezes. As saídas são feitas quando o objetivo é, principalmente, gastronômico. "Sou uma gourmet, adoro provar coisas deliciosas, como carnes exóticas", diz.


A companhia literária


Nesse ponto se diz uma "divorciada" daquela figura estereotipada do bageense ou do fronteiriço gaúcho por natureza. "O churrasco não é minha predileção, troco a carne vermelha por coisas como coelho, rã e peixes, sem problema algum", sustenta. Ao mesmo tempo que afirma não ter uma preferência gastronômica, é uma companheira na hora de fazer dupla com o marido Juarez Jover, que é mais afeito ao sabor da culinária italiana.


Ao mesmo tempo que afirma gostar de assistir a bons filmes no cinema, Luciane tem na literatura a sua distração artística. "Ler ainda é a coisa mais prazerosa a se fazer entre tantas opções", ressalta. Para a editora-executiva do Terra, os livros são uma verdadeira companhia. "Muitas vezes, embora não esteja lendo, acabo tendo sempre por perto ou carregando junto um livro", diz. Para ele, o importante nessa arte de ser um bom leitor é não limitar o gênero literário a que se dedica.


Luciane mostra uma faceta bem própria a de muitos jornalistas quando o assunto é música. Embora diga que gosta, e que compra CDs, não a tem como algo próximo. "Não tenho mais nem o hábito de ouvir rádios FM", revela. E, quando fala em compras, como uma pessoa que vive diretamente ligada ao mundo digital, esclarece: compra quase tudo pela Internet. "Apenas livros é que prefiro ser mais cuidadosa, entrando em boas livrarias e procurando o que é novo, interessante", acrescenta.


O jornalismo político, área na qual trabalhou durante muitos anos em Zero Hora , é bem marcado nos seus posicionamentos. Depois de passar pela Editoria de Política do jornal, teve a chance de atuar como setorista da presidência da República, em Brasília, onde diz ter aprendido muito. Ao mesmo tempo, tornou-se mais crítica quanto ao atual quadro do jornalismo nacional. Quando lembra ser difícil desvincular a opinião profissional da pessoal quanto à política e a economia, Luciane não tem dúvida de se dizer impressionada com o que acontece nessas áreas, no Brasil. "Estamos fazendo um jornalismo pobre nesses assuntos, algo de gabinete, com menos investigação e mais relacionamento entre o profissional e a fonte, o que não colabora muito para esclarecer o leitor e a sociedade", sentencia.


Fazendo tese de doutorado em Comunicação Política na Internet, ela sente-se colaborando diretamente para o que considera o seu projeto pessoal/profissional, no momento. "Quero poder ajudar na construção de um jornalismo mais investigativo e próprio da internet, em que temos um grande trunfo para melhorar essa área, que é a interatividade que é possível se obter, com questionamentos diretos e certeiros ao repórter", entende. Luciane Aquino procura lembrar fatos que tenham marcado esses 11 anos de jornalismo, e se surpreende ao constatar que há muito tempo não tem visto trabalhos na sua área que tenham lhe chamado a atenção. "Nós, da era Folha de São Paulo, vimos esse filão se esgotar aos poucos, sem uma substituição à altura", lamenta.


Para ela, é preciso que se tenha uma maior atenção com assuntos que tenham reflexo direto junto ao leitor, ajudando-o a questionar o que está correto e o que precisa ser mudado. Entre tantas pessoas com quem conviveu nesse setor, Luciane faz questão de ressaltar, de forma direta e única, a personalidade, conduta e honestidade com o jornalismo da ex-colega de ZH, Rosane Oliveira. "Foi uma chefe, uma amiga, uma pessoa culta e especial", diz. Para alcançar o seu projeto de ver um jornalismo melhorado na web, com credibilidade em crescimento e mais apurado, Luciane Aquino aposta como filosofia de vida e caminho para chegar lá a fé inquestionável na verdade. "Acho que as pessoas precisam ser elas mesmas, seguindo condutas éticas, suas crenças e tendo objetivos claros", destaca.

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