Marcelo Aimi: Vivendo de histórias

Publicitário e diretor de Planejamento da agência Conjunto, ele garante que busca sempre evoluir e viver o agora

Crédito: divulgação

Por Patrícia Lapuente

"Uma mãe me agradeceu por ter feito o filho sorrir pela primeira vez no dia." É assim que o publicitário Marcelo Aimi passa as horas em que não está no exercício da profissão: fazendo o bem. Voluntário na ONG 'Viva e Deixe Viver', ele conta histórias para crianças nos hospitais e revela que se sente extremamente responsável pelo o que narra, pois acredita que uma simples leitura pode transformar o dia dos pequenos que enfrentam momentos difíceis.  

Sócio e diretor de Planejamento da agência Conjunto, Aimi atende ao Banco de Alimentos sem receber pelas companhas. Cativar as pessoas por meio de um bem intelectual faz parte da sua rotina e dos publicitários que impactam, por meio de narrativas, quem está sentado no sofá esperando o programa favorito voltar. Porém, ele vai além: atinge o futuro da profissão lecionando para jovens.

Das classes para o quadro negro

Os mestres Marino Boeira e Ilton Teitelbaum mal sabiam que conquistariam a admiração do aluno Aimi, que viria a se tornar, logo depois de terminar o curso na Famecos, professor de tantos outros jovens, que, assim como ele, desejavam um lugar no mercado da Propaganda. Quando se graduou, em 2003, deu aulas no curso técnico de Publicidade e Propaganda da Ulbra e também em cursos livres da área. Porém, a paixão pela sala de aula se consolidou quando foi aprovado para ser docente substituto na Ufrgs. Lecionar, aliás, é tão primordial para ele que a prática molda as decisões em sua vida. Como exemplo está o fato de que, a fim de passar seus conhecimentos adiante, optou por não ser o único proprietário da agência.

Após 10 anos trabalhando na graduação da ESPM-Sul, as outras demandas acabaram pesando. Foi quando decidiu passar para uma nova etapa: a pós-graduação. Atualmente, Aimi dá aulas de especialização nos cursos de Marketing, Marketing Digital, Branding e Gestão de Vendas da ESPM-Sul, UCS e, nos vizinhos catarinenses da Unochapecó.

Estudante insatisfeito com as horas dedicadas aos ensinamentos da parte teórica, foi no mundo acadêmico que percebeu a importância daquelas aulas: sem elas, a faculdade seria apenas um curso técnico. Assim, o então aluno crítico passou a levar a sua insatisfação, aprendizado e inspiração para os próximos 'Marcelos Aimis'. Lembra que nos tempos em que se sentava de frente para o quadro negro ainda havia uma hierarquia entre estudante e professor. Hoje, pensa que esta relação é mais horizontal, ainda que que este novo comportamento tenha trazido uma consequência cultural: os jovens acham que, às vezes, sabem mais do que o professor.

Filosofia de vida

Ele busca não se definir. Pelo contrário, tenta encontrar indefinições, por isso, acredita que é uma eterna dúvida. Esta crença vem do mestrado em Design Estratégico que cursou na Unisinos. O publicitário reflete que é o primeiro momento na carreira acadêmica em que as pessoas têm certeza da sua ignorância, pois a maioria do que é pensado por elas já foi estudado antes.

Outra questão que contribui para esta ideia é o estudo que faz sobre Budismo, filosofia que o fez ter como lema de vida estar presente e focado no agora. Com isso, sente-se realizado, pois percebe que os ensinamentos de Buda mudaram a perspectiva em relação à vida. "O contentamento tem muito mais a ver com o prazer que se sente no que está vivendo no momento do que com o quão alto você chegou", reflete.

Ainda assim, conclui que o seu maior defeito é a vaidade, pois confessa que valoriza a imagem mais do que deveria. Quanto às qualidades, cita que está sempre aberto para o novo, tem muita curiosidade, sem falar no amor pelo ser humano.

Duas famílias, um amor

O amor pelo próximo é explicado pelo fato de que ele pertence a duas famílias. Quando nasceu, a mãe, Izamar, e o pai, Danilo, trabalhavam e não tinham com quem deixá-lo. A solução foi pagar a vizinha, Iberaci, para cuidar do filho. O que Izamar não sabia é que viria a dividir o filho com a sua 'Mãe Negra', como Aimi a chama. O convívio com a vizinha e sua família, o marido Darli, a filha Vera Lúcia e o neto Wiliam, estreitou os laços a ponto de, aos 16 anos, deixar a casa dos pais de sangue e morar com eles. E, em razão de um desentendimento com o pai biológico, permaneceu na casa ao lado pelos 11 anos seguintes. Após muitos anos de terapia, voltou a falar seu Danilo e se reaproximou da família de nascimento, que conta, ainda, com o caçula Filipe.

Foi na oitava série do colégio Maria Auxiliadora, em Canoas, que conheceu a menina Karine. Por obra do destino, após terem um breve romance de adolescente, reencontraram-se anos depois, em 2001, e perceberam o quão parecidos eram. Ambos publicitários, logo o amor renasceu e o resultado foi um casamento em Las Vegas, nos Estados Unidos, com a benção de Elvis Presley, cantor do qual o casal é muito fã.

Eclético apaixonado por artes

Além do 'Rei do Rock', Marcelo cita Beatles como preferência musical. Porém, confessa gostar de muitos gêneros, desde Jazz até Sertanejo Universitário, estilo que compara com a literatura de cordel pela qual é apaixonado. Assim como na música, o humor é imprescindível na escolha das séries na Netflix. Em filmes, o critério da escolha é diferente: tem por guia as indicações do Oscar e tenta assistir a todos para fazer suas apostas antes da premiação.

Aimi afirma que adora como Woody Allen e Pedro Almodóvar contam histórias. O primeiro é devido à maneira reconfortante de suas narrativas. Do segundo, cita o exagero que imprime nos seus personagens, além da trama. "Para mim, Woody Allen é o amor e o Almodóvar, a paixão." Mas não deixa de citar, também, os chamados 'blockbuster' e se diz fascinado pelos desenhos da Pixar, pois acredita que possuem um nível de sensibilidade que é difícil de se encontrar em outras produções. Confessa que já chorou várias vezes ao assistir às animações, e atribui a isso um selo de qualidade. De tanto que gosta, chega a ir de duas a três vezes por mês ao cinema.

Intitula-se 'rato de museu' e diz adorar exposições de arte. Possui, inclusive, uma coleção de canecas que comprou em alguns estabelecimentos. Dentre as visitas que recorda, a do Louvre, em Paris, foi a que mais o impressionou, pois o imaginou tanto que ficou extasiado quando finalmente o conheceu.

Longe da agência

Além de visitar museus, aprecia conhecer novas culturas e conversar com o povo nativo. De recordação, traz na memória desde a experiência do Regime Cubano, em Havana, até o encantamento com cidades como Disney, Londres, Nova Iorque e Paris.

Embora conheça muitos lugares e viaje com frequência é a vizinha Buenos Aires que tem a predileção dele. Karine brinca que ele é um portenho perdido, pois é aficionado por carnes e vinhos. A bebida, aliás, é tão adorada por ele que possui um blog dedicado exclusivamente ao assunto.

Nas horas vagas, gosta de escrever e, principalmente, de ler. Dentre as preferências, destaca os romances e as poesias, e se diz absolutamente encantado por literatura fantástica. Dos autores que mais lhe conquistaram está o colombiano Gabriel García Márquez, do qual já leu quase todas as obras, sendo 'Cem Anos de Solidão' a favorita. "Já li três vezes e, a cada leitura, sou impactado de uma forma diferente", percebe. Ainda cita Machado de Assis e Érico Veríssimo.

Outro hobby é correr. Após o expediente pratica o exercício físico de duas a três vezes por semana, e percorre cerca de cinco quilômetros. Também adora futebol, embora lamente que a bola não goste tanto dele quanto ele dela. Com o pai biológico colorado e o adotivo gremista, foi o tricolor que o conquistou. Acompanha com frequência os jogos, porém faz questão de esclarece: é gremista, não anti-colorado.

No final, tudo são histórias

Antes de ser sócio da Conjunto, Aimi passou por diversas áreas e empresas para chegar à satisfação de ter seu próprio negócio. Cogitou estudar Direito, pois tinha um tio advogado e também admirava como eram ilustradas as narrativas sobre a profissão. No entanto, foi a vontade de cursar algo relacionado às matérias humanas que o levou para a Publicidade e Propaganda. Ao mesmo tempo em que estava na Famecos, cursou parte de Engenharia, na Ufrgs, e de Design, na Ulbra, até se convencer de que deveria ficar mesmo na Publicidade.

Ainda no primeiro ano de faculdade, conquistou o primeiro estágio como redator na finada Fênix Comunicação. Após um ano, foi para a DMV, na sede de Porto Alegre, atual Storck, onde trabalhou na direção de Arte e Planejamento Promocional. Em 2001, foi designer na UP Design e no GAD. Foi quando resolveu empreender e montou a Soul Comunicação ao lado de Márcio Cassol e Rivo Buhler, que logo deixaram a empreitada. Sozinho, Aimi se viu na busca por outra agência de pequeno porte para uma fusão.

Assim, em 2010, encontrou a Conjunto, dos proprietários Guido Zimmermann, Raul Merch e Rodrigo Rey, e nasceu a Conjunto Soul, levando a experiência do digital para um local que estava mais acostumado a trabalhar com a Publicidade off-line. Hoje, o empreendimento voltou a se chamar apenas Conjunto - e Raul deixou a sociedade.

O maior desafio da carreira, porém, foi quando virou a chave de comunicador para empresário: admite que demorou alguns anos para se tornar, de fato, dono de uma agência, com atribuições como ler planilhas, fazer projeções financeiras, sem falar na gestão em si. "Não fui instruído para isso na faculdade." Mesmo com as adversidades, a profissão escolhida lhe trouxe muitas alegrias e satisfações. Para ele, ser publicitário é perceber que "existimos para trazer resultado financeiro para as empresas. É entender o produto ou cliente e transformá-lo em histórias. É fazer histórias que vendam".

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