Márcia Christofoli: Dom para o ensino

Publicitária conta como o sonho em ser professora se tornou realidade

Clarissa Menna Barreto

Márcia Christofoli | Crédito: Clarissa Menna Barreto/Famecos/PUCRS
Por Luiza Borges
A publicitária Márcia Christofoli é coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da Famecos, na PUC, onde leciona e transmite conhecimentos adquiridos em mais de 10 anos de atuação no mercado de trabalho. Atualmente, ela é responsável pelo aprendizado de futuros publicitários que ingressam na universidade católica. Tal cargo é resultado de uma paixão que carrega desde a infância: o ensino.
A admiração pelo trabalho da mãe, a professora Maria Conceição Pillon Christofoli, despertou o desejo de irradiar sabedoria. Quando pequena, uma de suas brincadeiras prediletas era atuar como educadora. "Eu tinha uns nove anos e já queria ensinar meu irmão mais novo. Colocava ele sentado em uma mesa e me posicionava como professora. Ajudei ele a aprender a ler e a escrever", conta, radiante ao recordar da família e dos bons tempos de criança.
Quem é ela?
Leonina, é uma mulher fiel aos seus princípios. Se considera rigorosa demais consigo mesma e admite que deveria levar as coisas de um modo mais leve. Durante toda a vida se deparou com grandes dilemas que a fizeram pensar e repensar escolhas que, aos olhos de outras pessoas, se tornam tão simples. A mania de organização é uma característica muito forte. Ela precisa manter tudo no lugar para que as atividades fluam numa boa.
Gosta de sol, é amante de praia e acredita que o horário de verão é a melhor invenção de todos os tempos. Não dispensa o jeans do seu armário, peça sempre presente na escolha do look, quase que diariamente. Óculos escuros são acessórios que não podem faltar em sua bolsa. A cor vermelha é a predileta e, sim, isso tem influência também na escolha do time de futebol: colorada de carteirinha!
Solidária, ela se preocupa com o próximo e faz de tudo para ajudar. Só é tranquila no ambiente de trabalho por se permitir ser "cri-cri" fora dele. Conta que é explosiva e às vezes um pouco mal-humorada. Estes defeitos, se puderem assim ser chamados, de acordo com ela, podem ser resultados da tal cobrança excessiva que tem em querer fazer tudo dar certo. E isto, talvez, a torne um pouco ranzinza. Certa vez, reunida em família para o famoso amigo secreto, o irmão a havia tirado. Foi quando ele disse no discurso: a minha amiga secreta é um pouco mal-humorada. Pronto. Em coro, todos responderam: é a Márcia!
Batizada no catolicismo, fez questão de casar na igreja, mas, independentemente da escolha de uma religião, ela acredita na fé e crê que somos feitos e movidos de energia, admira e respeita quem busca e pratica a troca de positividade, em prol do bem do próximo. Já foi lobinha - termo usado para os iniciantes no escotismo -, época que considera ter sido muito importante, pois foi quando aprendeu a conviver em grupo e compreendeu os valores de respeito, amizade e solidariedade. Aprendizados que carrega para a vida.
A base feita de amor e união
Nascida em Porto Alegre, Márcia cresceu em uma família muito unida. Ao lado dos pais, Luiz Alberto Vieira Christofoli e Maria Conceição, e dos irmãos Carolina e Bruno, teve a infância que toda a criança deseja: com muito amor e liberdade para brincar. "Morei em casa a vida inteira. É a mesma que minha mãe mora até hoje e onde nos reunimos para resgatar um pouco daqueles bons momentos." Apesar da separação dos pais quando tinha 12 anos, teve o apoio e presença dos dois em todos os momentos. "Eles sempre tiveram uma relação muito bacana, de amor e respeito", conta.
A relação com os irmãos segue a mesma linha: com o mais novo, cresceu entre tapas e beijos; com a primogênita, dividia tudo. Os veraneios na praia catarinense de Bombinhas também foram recordados com muito apreço. "Essa época foi muito boa. Lembro daquele lugar com muito carinho."
Apesar de ainda não ter filhos, o destino tratou de enviar um anjinho que, se fosse feita por ela, não sairia tão idêntica. Trata-se da afilhada Helena, de cinco anos, filha de Carolina, que carrega características e uma semelhança eminente com a tia. "Todos que nos veem na rua dizem que somos mãe e filha. Ela é muito organizada e braba, igualzinha a mim. Fisicamente também, carrega meus traços. Somos muito parecidas", relata, toda orgulhosa.
Reencontros do destino
Há quatro anos a vida recolocou uma pessoa especial no caminho de Márcia. Por ironia do destino, ele já fazia parte do convívio desde a época da infância. "Sou casada há dois anos, mas nos conhecemos há muito, mas muito mais tempo. Ele é irmão de uma grande amiga de infância da minha irmã. Foi um reencontro da vida". O marido, Carlos Augusto Petersen Chaves, é irmão da melhor amiga de Carolina.
E é com ele que a professora prioriza passar o tempo que tem folga do trabalho. Faz questão de aproveitar a companhia do marido nos finais de semana e focar no trabalho somente durante os dias úteis. E o programa preferido do casal é reunir os amigos para uma boa apreciação gastronômica. "O que mais gostamos de fazer é congregar bons amigos em volta da cozinha. Ele pilota o fogão, eu não", revela.
Márcia confessa ter vontade de ser mãe, mas que ainda não é o momento, pois está envolvida em tantas atividades, como o Doutorado em Comunicação Social, a coordenação do curso, entre outras responsabilidades.
A profissional
Formada em Publicidade e Propaganda pela própria Famecos, afima que a escolha pelo curso aconteceu por acaso. Chegou a prestar vestibular para Medicina, na federal, mas a intensidade de estudo e a total entrega para tal profissão a assustaram. "Foi uma escolha aleatória. Cogitei Jornalismo, pois gosto muito de ler e escrever, mas quando vi que a Publicidade incluía arte, fotografia e toda a parte de criação, foi o curso eleito."
Logo nos primeiros semestres, foi indicada para trabalhar na Escala. A vaga não pedia experiência, mas uma pessoa organizada. O encaixe foi perfeito. Márcia absorveu conhecimento muito rápido e logo passou a ser atendimento da conta das Lojas Colombo. Permaneceu por três anos e, quando se formou, pediu demissão. "Estava em crise e não sabia o que queria fazer. Foi uma época de muito trabalho. Chegava a voltar de madrugada para a agência", lembra.
Um mês foi suficiente para a jovem publicitária refletir e logo ser chamada pela agência Matriz, passando a ser atendimento do Grupo Zaffari. E lá se foram mais sete anos de comprometimento, aprendizado, e muitas experiências. "Foi um ritmo bem louco", admite. Nos últimos anos de Matriz, decidiu se aventurar e fez seleção para o mestrado da Famecos.
Ela não dispensa?
Amante da leitura, não dispensa uma voltinha para apreciar livrarias. Se possível, entra só para ficar olhando as capas dos livros. Adora romance e se cobra por não conseguir ler tanto quanto gostaria. Entre as livrarias que considera encantadoras, cita a de Buenos Aires, a El Ateneo Grand Splendid, e a Livraria Miragem, em São Francisco de Paula. Aprecia autores como a escritora peruana Isabel Allende e a gaúcha Letícia Wierzchowski. Quando algumas dessas lança um livro, Márcia corre para comprar.
Márcia também é apaixonada por música e chegou a praticar aulas de flauta quando criança, mas viu que seu dom era mesmo para ser admiradora. E este quesito ela faz muito bem. Já garantiu ingresso para prestigiar os shows das bandas Coldplay, John Meyer e Paul MCartney. "Estou falida, mas é um presente que me dou", brinca. Além dos shows internacionais, ela e o marido apreciam muito o grupo Teatro Mágico.
Fazer um chimarrão e colocar o pé na estrada é um dos programas que a publicitária mais gosta, seja como carona ou assumindo a direção. Se ganhasse uma viagem, escolheria como destino a Itália, em especial a capital da Toscana, Florença. Aliás, foi na Europa onde aconteceu o noivado. Márcia foi para Portugal, participar de um congresso e levou o marido junto. Confessa, porém, que só não desbravou mais lugares pelo mundo devido ao medo que tem de avião. "Sempre tive esse medo, mas quando perdi um amigo no acidente da TAM, fiquei bem traumatizada", explica.
Bem querer, bem querida
A rotina da coordenadora tem a agenda bem alternada. Cada dia é um horário e um compromisso diferentes. Tem vezes que chega na PUC de manhã e sai à noite. Entre aulas, atendimento a alunos e programação dos conteúdos, sempre encontra um tempinho para ir almoçar com a mãe e, se possível, ainda encaixa as aulas de ginástica que faz com uma personal. Atualmente, cuida de seis turmas, que se dividem entre as disciplinas de Gestão da conta publicitária e Planejamento de Recursos em PP.
Alguns momentos da vida profissional foram marcados por muito carinho e reconhecimento. "Quando saí da Matriz, muitas pessoas me apoiaram e me desejaram sucesso. Isso mostrou que muita gente confiava e acreditava no meu trabalho", lembra. Outro momento recordado com carinho e admiração foi quando assumiu a coordenação da PP na Famecos. "Recebi diversas mensagens, vindas de amigos e alunos, me parabenizando. Foi um reconhecimento imensurável", garante.
Para o futuro, espera continuar atuando com Publicidade, mas sempre em projetos diferentes. "Me imagino fazendo o que gosto. Estarei feliz se tiver condições de me manter e continuar fazendo as coisas que eu amo: comer, assistir a seriados e comprar livros" resume.
Educação é tudo
Márcia revela que nunca pensou que se tornaria uma professora universitária, mas foi um caminho pelo qual a vida a conduziu. "Queria trabalhar com criança. Qualquer atividade que envolvesse o convívio com os pequenos, assim como a minha mãe". Acontece que, de alguma forma, o fascínio e respeito pelo trabalho de dona Maria Conceição germinou. A matriarca, aliás, é sempre citada com muita admiração e respeito, sendo sua referência tanto na vida pessoal quanto profissional.
Hoje, Márcia não trabalha com crianças, como idealizava quando jovem, mas planta conhecimento na cabeça de jovens estudantes que desejam se tornar publicitários, como um dia ela quis. Na sua visão, é um desafio a cada dia, pois lecionar é um processo constante de reinvenção e reformulação. "Fazer parte do aprendizado é uma grande responsabilidade. Não há um dia que não pense: o que fazer melhor para ensinar meus alunos? Sempre reflito sobre uma forma de melhorar a Educação." E de alguma forma, ensinando sobre o que faz de melhor, Márcia Pillon Christófoli sente-se uma profissional realizada e feliz.

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