Márcio Blank: Senhor Otimismo

O professor, músico e publicitário conta como faz para conciliar com leveza e criatividade os projetos em que está envolvido

Márcio Blank | Divulgação
Músico, professor e publicitário - não necessariamente nessa ordem. Tão difícil quanto definir apenas uma profissão do porto-alegrense Márcio Blank é apresentá-lo brevemente em um parágrafo. O inquieto gerente de Criação da  Paim Comunicação tem sua trajetória profissional - que se confunde constantemente com a pessoal - marcada pela paixão, dedicação, leveza, otimismo, energia e a forte tendência de querer abraçar o mundo, "de querer TUDO"!
Já no 2º ano do Ensino Médio, no Colégio Anchieta, onde estudou quase toda sua vida, Márcio descobriu a propaganda através do contato que tinha com a extinta Agência Um Propaganda, cujo dono era pai de seu colega João Harter - a quem atribui significante papel na sua carreira. E lembra que nos trabalhos de audiovisual propostos na escola, eles iam para a agência produzir os materiais. "Sempre gostei de desenhar histórias em quadrinhos e lá eu via que era uma coisa possível de se trabalhar. Comecei a me encantar pelo universo de agência e achar tudo muito divertido."
No entanto, seu encantamento pela propaganda tinha uma forte rival, a vontade de ser músico. Esta paixão (herdada da mãe, que toca piano, e do pai, este no violão) desde sempre o levou a aprender "de tudo": violão, saxofone, guitarra, banjo, xilofone. "Eu pensava: será que eu vou seguir a carreira de música ou publicidade? A minha tendência é querer abraçar o mundo. E, no fim, hoje em dia, eu não abro mão da música pra ser publicitário". E para quem acha que a música é seu hobby, ele alerta: "Eu levo a música muito a sério".
Por isso, depois de tantas composições gravadas em seu smartphone, resolveu chamar o irmão gêmeo Gustavo e os amigos Pedro Petracco e Rodrigo Muzell para gravarem um CD. E ao mesmo tempo arranjou um novo desafio musical, aprender a tocar acordeon, que julga ser bastante difícil, apesar das aulas na internet. Persistente, garante: "Mas eu vou conseguir tirar um som. Eu sou muito apaixonado por descobrir e acho que isso tem muito a ver com criatividade, com tu querer sempre o novo, ser muito curioso pra ficar fuçando os instrumentos e ver como funciona".
As rivais que o dividiram no passado, então se unem, pois Márcio acredita que a música influencia diretamente na Propaganda, que também o desafia constantemente. "Todo o criativo precisa do desafio. E tocar um instrumento musical estimula muito." Estímulo, inclusive, é uma das coisas que Márcio destaca ter recebido dos pais durante a infância. Apesar de ele e seu irmão não seguirem o caminho da Medicina como o pai e a mãe, lembra-se deles o deixarem livre e incentivarem para escolher o que quisesse, sempre estimulando a criatividade, tanto através da música quanto do desenho.
A propaganda também o conquistou pelas inúmeras possibilidades, e já nas breves visitas a agências identificou que sua área seria a criação. Em 1997 ingressou na Fabico, e ainda no terceiro semestre, deu a primeira cartada ao pedir ao colega João ajuda para conseguir uma vaga na agência Um. Hoje se diverte ao relembrar: "Não tinha vaga na agência, mas um dia o João me ligou dizendo que eu poderia fazer um free para substituir uma redatora que ia ficar o dia fora da agência. Eu nem sabia direito o que era free, mas fui e consegui fazer muita coisa legal em um dia". O resultado é que "o pessoal", como ele diz, acabou gostando e abriu uma vaga de estágio para ele.
Uma guinada
Márcio conta que sempre quis trabalhar em uma agência grande e para isso, após se formar em 2001, mostrava sua pasta de portfólio em diversos lugares. Tempos depois, o colega de faculdade Felipe Anghinoni (atual proprietário da Perestroika) o indicou para uma vaga na Paim Comunicação, o que considera uma guinada na carreira e onde conquistou inúmeros prêmios, como o Epica Awards 2013, El Ojo de Iberoamérica, Ideia do Ano no Salão da Propaganda RS em 2014, com a campanha do anulador de celular Polar. Conquistou também em 2014 o Effie Awards, com o case Copa do Mundo Cerveja Polar, Profissionais do Ano Rede Globo 2014, com o filme Fanáticos Grêmio/Inter TIM Celular, Profissional de Criação do Ano ARP 2014, além de ser por três vezes Redator do Ano no Prêmio Colunistas RS e no Salão da Propaganda.
Assim, claro que se diz plenamente feliz com tantos prêmios, mas atribui todas as conquistas às pessoas que trabalharam e trabalham com ele. Nesta galeria, cita como exemplos o diretor de arte Fábio Piucco, José Pedro Bortolini e Rodrigo Pinto, diretor de Criação da Paim, que sempre o inspirou, mesmo antes de estar na agência. "Estar cercado de pessoas legais, que te acrescentam, te inspiram e te estimulam é muito legal. O prêmio acaba virando uma consequência dessa inspiração, do trabalho. Eu nunca trabalhei para ganhar prêmio e ter pessoas dispostas a colocar em prática coisas legais deixa o processo muito mais legal e o prêmio acaba sendo consequência disso". Ele destaca ainda que se identifica com os valores da Paim, "uma agência que tem no DNA a criatividade muito forte, uma excelência criativa e inquieta, que provoca a equipe para criar, inovar, fazer diferente".
Aos 37 anos, na gerência de Criação da Paim ele coordena uma equipe de cerca de 30 pessoas, sempre com muito bom humor e otimismo e tentando ver o lado bom das coisas, mesmo nas situações mais adversas, pois acredita que isso pode ajudar a resolver os problemas com mais facilidade. "As pessoas felizes produzem muito mais do que sob pressão", defende. E escolhe duas palavras de que gosta muito para exemplificar como trabalha com sua equipe. Uma é paixão - por alguém ou por alguma atividade: ele acredita que quando sua equipe está apaixonada, ela vai manter a outra palavra: A outra é dedicação, pois "com vontade, pilha, sangue nos olhos e com o coração, a gente vai a qualquer lugar".
O publicitário destaca também a importância do trabalho em conjunto, realizável graças ao "ótimo clima de amizade" que impera na agência, onde "todo mundo se conhece e se chama pelo nome e fica feliz de se encontrar". E não pensa que exista uma área mais ou menos importante dentro da agência. "O criativo não está só na criação, ele deve estar em todo o lugar. A criação tem que saber que a grande ideia não está só com ela. Tem que saber trocar, circular nas outras áreas e ter a humildade de entender que talvez as ideias mais legais virão de muitas cabeças e por isso é importante ser muito aberto para trocar com o máximo de pessoas possível".
A (não) fórmula do sucesso
É apaixonado pela propaganda, cujo produto está na TV, no jornal, no celular, no dia a dia, mas o que mais o encanta é a forma como ela pode tocar o coração das pessoas e engajá-las em uma causa que pode levar a mudar a vida de outras pessoas. Como exemplo disso, destaca a campanha "Seu filho é o que você come". Desenvolvida pela agência para a Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, a campanha provocou polêmica e foi destaque na Archive 2015, revista de prestígio internacional que publica trabalhos criativos. "Foi uma campanha para mostrar a importância da amamentação e da consciência de que tudo que a mãe consome, quanto mais saudável for, mais saudável será a alimentação do bebê".
Márcio transborda leveza e otimismo na hora de criar. Para ele, não existe uma fórmula engessada para criar campanhas ou filmes bons, daqueles que todo mundo pensa "queria tanto ter tido essa ideia", mas destaca que o grande segredo é ter disciplina. Com seu fone de ouvido tocando música clássica ou em uma roda de conversa, o importante, segundo ele, é não deixar o medo predominar, pois considera um sentimento que trava e bloqueia as boas ideias. "Tem de ir colocando tudo pra fora, sem pressão, de forma leve. Talvez as primeiras ideias que eu tenho são muito ruins, idiotices, mas eu estou tirando elas da minha cabeça pra dar lugar para as boas ideias". Nesta pegada, também ensina: "Se tu tiver disciplina e focar durante uma hora em um trabalho, alguma ideia boa vai surgir. Não dá para deixar se contaminar pela pressão. Se eu tenho um trabalho pra entregar amanhã, olha só quantas horas eu tenho até lá. Vamos dedicar uma só bem focada".
Sobre abraçar o mundo
Há quatro anos, por indicação do professor Marcel Viero, Márcio resolveu, "meio por acaso", abraçar mais um desafio - ser professor da Famecos, das disciplinas de Criação I e II. Acabou se apaixonando por mais esta atividade. "Eu sempre curti muito aprender e ensinar e resolvi fazer mais uma coisa diferente. Ser professor é uma via de mão dupla, uma troca." É uma atividade bem diferente da rotina de uma agência, mas é estimulante, diz ele, estar em contato com uma galera que está recém se alfabetizando na propaganda, "com muita vontade de aprender e mostrar coisas. Isso me inspira, me energiza". E resolveu ir fundo na área acadêmica, passando a cursar pós-graduação em Administração em Gestão de Equipe e Liderança, na PUC.
Para manter o bom humor e o equilíbrio e não se deixar contagiar pelos pensamentos negativos, Márcio não abre mão de pelo menos 20 minutos diários de meditação "para renovar o espírito, manter a calma e aumentar a capacidade de percepção das coisas". Pratica natação e lê expoentes da literatura, como Victor Hugo, Shakespeare e Goethe, além de autores contemporâneos, como Adriana Falcão. "Se eu pudesse dar uma dica para estimular a criatividade, é a leitura. Ela é um exercício permanente, pois nos abastece com referências e histórias, além de permitir exercitar a imaginação."
Na música, sua atenção especial vai para Tom Jobim, Chico Buarque, Lenine, rock gaúcho, jazz, Beatles e música clássica - esta porque estimularia a criatividade. Também há um bom espaço para musicais como Miss Saigon e Fantasma da Ópera, pois considera poético as pessoas cantarem, ao invés de conversarem.
Otimista incurável, admira pessoas de bem com a vida e que estejam sempre sorrindo, que "vejam a beleza da vida nas pequenas coisas, como um dia ensolarado, por exemplo". E lembra que essa é uma característica que tem desde muito pequeno. "Se eu comprava um salgadinho com brinquedo ou tinha bolo de banana de sobremesa, eu dizia que aquele era o meu melhor dia. E acho que devemos celebrar os pequenos presentes da vida. Me encantam as pessoas que conseguem perceber uma conversa como sendo a coisa mais legal do mundo, isso é muito melhor do que ganhar um caminhão de dinheiro".
Nesse sentido, Márcio não consegue mencionar um grande sonho, mas espera que um dia sua música consiga emocionar o maior número de pessoas possível. E sonha em conseguir produzir trabalhos cada vez mais inovadores. "Meu maior medo é me acomodar. Quero sempre mais, é isso que me mantém vivo. Se eu gravar uma música e alguém elogiar, já é um grande sonho realizado." A frase que o define surge depois da longa conversa, estampada em tipografia numa parede da Paim Comunicação: O adulto criativo é a criança que sobreviveu. Em cima disso, conclui: "O criativo deve se permitir a ser criança, pois ela se permite sonhar, iludir-se. Sem preconceitos, sem bloqueios".

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