Marcos Martinelli: Pra sempre repórter

Apesar de exercer cargo de chefia, o gerente de Jornalismo da TV Record no Rio Grande do Sul se considera um eterno repórter

Marcos Martinelli - Reprodução

"Sou determinado e incansável pra buscar o que eu quero com perfeição", garante o jornalista Marcos Martinelli, gerente de Jornalismo da TV Record no Rio Grande do Sul. Sua ampla experiência na área do telejornalismo mostra como o profissional soube aproveitar as oportunidades que teve. Ele passou por todas as emissoras de televisão de Porto Alegre - Pampa, RBS, TVE, SBT, Bandeirantes e agora a Record - e também fora daqui - TV Cultura, SBT, TV Globo e TV Record, todas em São Paulo. "Eu me considero um repórter. Eu "estou" gerente, mas sou jornalista, que é o que eu gosto. Me envolvo, me emociono com o material dos colegas e também da concorrência. Quando vejo uma matéria bem feita, fico feliz que tem gente trabalhando bem."

Aos 47 anos, ele está constantemente em busca de novos desafios. "Estou com a mesma motivação de quando comecei na Rádio Planalto, em Passo Fundo", afirma. Formado em Direito pela PUC, cursou até o sétimo semestre do curso de Jornalismo. Apesar de não ter concluído, é jornalista profissional desde 1979, quando obteve o registro. Tem pós em Jornalismo na Espanha, pela Universidade de Navarra, e mestrado em Economia e Política Latino-Americana, em Londres. E ainda atuou em diversas campanhas eleitorais por todo o Brasil. Por isto, diz, com segurança: "Sou uma pessoa que só tem a agradecer as oportunidades que tive na vida e procuro dar essas oportunidades também".

O jovem jornalista

Martinelli começou a carreira na Rádio Planalto AM, em Passo Fundo, aos 13 anos. Ele conta que quando passou no vestibular para Direito, aos 16 anos, teve sua redação considerada a segunda melhor. Como trabalhava no setor comercial da rádio e tinha um programa jovem chamado "Domingo in Concert", surgiu o convite pra atuar na redação. "O Guaraci Teixeira Sebem, que era gerente de redação, me contratou. Hoje, 30 anos depois, o Guaraci está morando em Porto Alegre e eu ajudei a trazê-lo para trabalhar como locutor na Rádio Guaíba. Ele foi meu chefe lá e agora é meu colega aqui, então, o mundo dá voltas", conta o jornalista, orgulhoso de poder ter ajudado o velho amigo. Em 1981, veio para Porto Alegre em busca de melhores oportunidades. Começou trabalhando na TVE como redator. "A emissora estava num momento difícil? as outras já tinham VT colorido e a TVE era a única que continuava trabalhando com filme preto e branco, era uma tristeza. Apesar da precariedade da estrutura, em termos de informação a emissora era boa e tinha ótimos profissionais que davam qualidade pra televisão". Neste time ele cita Alfredo Daudt, Afonso Ritter, Joseph Zukaustas, Cláudio Emano.

Relembra que trabalhou os cinco primeiros meses sem receber, depois virou chefe de edição de um jornal estadual. "No azar de não receber durante meio ano, eu tive a sorte de conseguir entrar no mercado", considera o jornalista. "Na verdade, eu sempre quis ser repórter, e não conseguia?". Em 1985, surgiu a oportunidade de trabalhar como repórter na RBS TV (na época, TV Gaúcha). Ele já fazia alguns trabalhos para a Rádio Gaúcha, paralelo à TVE, e aceitou a proposta. "No mesmo ano fui escolhido pra ser repórter de rede da RBS TV", conta. Na mesma época também surgiu um convite para trabalhar pro Fantástico, em São Paulo ou no Rio de Janeiro, mas depois foi demitido por ter participado da greve nacional de 1986. "Eu era vice-presidente do Sindicato dos Radialistas e delegado da Federação Nacional dos Jornalistas. Tinha uma atividade sindical intensa. Também tinha sido o 1º delegado sindical da TVE. Fui um dos coordenadores da greve e fui o único demitido da RBS TV", lamenta.

Foi quando surgiu o convite para trabalhar como repórter especial na TV Cultura, em São Paulo. Lá, Martinelli atuou de 1987 a 1988 e implantou o escritório da TV Cultura em Brasília, com entradas ao vivo. Em 1989, foi fazer pós na Espanha com bolsa do governo espanhol durante sete meses. Quando voltou, foi trabalhar como repórter da campanha vitoriosa de Mario Covas ao governo de São Paulo. No segundo turno foi convidado a fazer a campanha de Lula. O candidato não se elegeu daquela vez, mas a experiência rendeu a Martinelli viagens pelo país inteiro. Terminada a campanha, em 1990 passou pelo SBT, mas logo foi chamado para um mestrado na Inglaterra, com bolsa do Conselho Britânico, onde permaneceu por dois anos. "Lá nasceu a "filhota" Eduarda, hoje com 16 anos", conta. Nessa época, ele recebeu a notícia de que seria reintegrado à RBS TV, como repórter de rede. Então retornou.

Em 1993 licenciou-se da emissora para acompanhar a Caravana da Cidadania. De novo, rodou o Brasil inteiro com Lula. Em 1994 participou da coordenação da campanha do também vitorioso Antonio Britto. Voltou para a RBS TV, e em 1998 foi convidado a abrir o primeiro micro-escritório da Globo no mundo, que ia ser em Buenos Aires, mas que acabou não sendo concretizado porque, registra ele, a RBS saiu da composição. Foi o que o levou a pedir demissão da RBS e sair para coordenar a campanha da Teresa Jucá, hoje prefeita de Roraima. No retorno, em 1999, foi trabalhar na Bandeirantes TV em Porto Alegre como repórter de rede. Depois de outras andanças, inclusive no Amazonas, voltou para a TVE em 2001, onde apresentou o Frente a Frente e criou o programa TVE Repórter.

O ingresso na Record

De lá, saiu em 2002 para coordenar a campanha de Antero Paes de Barros, que concorreu ao governo de Mato Grosso. Em 2003, a convite de José Fortunati, foi trabalhar na Secretaria da Educação, e um ano depois saiu para coordenar a campanha do Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu. Em 2005, chegou a trabalhar numa agência de publicidade, no Rio de Janeiro, quando em 2006 foi convidado a ingressar na Record como repórter, em Porto Alegre, ainda afiliada da TV Pampa.

No início de 2007, o diretor nacional da Record, Douglas Tavolaro, convidou Martinelli para dirigir o jornalismo da emissora no interior de São Paulo. Ele era responsável por quatro sedes nas cidades de Ribeirão Preto, Franca, Bauru e São José do Rio Preto. "Eu tive que reformar os estúdios; coloquei jornalismo em toda a programação e tirei a parte da Igreja; implantei o jornal da manhã, que é o "São Paulo no Ar"; ampliei o "Balanço" e aumentei a participação em rede", avalia o jornalista. Lá ele ficou até maio deste ano, quando foi chamado para assumir o cargo que hoje ocupa.

Segundo o gerente, o objetivo principal da emissora é ser totalmente isenta. Tanto que desde que a TV Guaíba foi comprada pela Record, nenhuma matéria sobre a Igreja Universal foi veiculada. "Até mereceria, pois a Igreja ajudou bastante na campanha do agasalho, por exemplo. Mas não entrou. Justamente para mostrar que o tema é isenção, independência", afirma Martinelli.

Histórias, oportunidades e inconformismo

Já são 30 anos de atuação nas emissoras de TV. Ao longo desta caminhada, Martinelli coleciona muitas histórias profissionais que, inevitavelmente, se misturam com as de sua vida pessoal. Um dos fatos mais marcantes para o jornalista nestes anos todos ocorreu em 1993, quando era repórter da RBS TV: levou uma pedrada, que resultou em uma fratura na sétima vértebra cervical. "Eu estava no Jardim Leopoldina II, cobrindo uma desapropriação. Fiquei três meses, quase paraplégico, me recuperando. Mas mesmo assim eu fechei a matéria, que foi a primeira do Jornal Nacional", lembra.

Outro acontecimento que marcou a história de Martinelli foi a queda do avião da TAM, em 2007. "A minha filha e a minha ex-mulher estavam indo para São Paulo e podia ser neste vôo, mas felizmente foram no vôo que saiu dez minutos depois? E eu coloquei a matéria sobre a tragédia no ar aqui, sem saber o que tinha acontecido, se elas estavam ou não no avião? foi horrível", emociona-se. "O jornalismo diário é isso: adrenalina a toda hora. Quem tem coração, sobrevive. Nós vivemos de adrenalina. Tem que ter coração e sangue-frio", completa Martinelli.

O jornalista sempre carrega consigo a lembrança das dificuldades que teve na infância. "Morava minha mãe, que era separada, minhas três irmãs e eu. A mãe tinha dois empregos. Num ela sempre recebia atrasado, que era o do Estado. Então, quando ela recebia os atrasados a primeira coisa era ir correndo pagar a conta no mercado. Então, essas dificuldades me marcaram muito a infância, por isso eu sempre trabalho pensando no futuro. Eu não faço conta, não uso cheque. Eu não consigo comprar à prestação, pago à vista. É uma fobia de que não posso ficar devendo, nem favor. Se a pessoa me faz um favor, eu faço dois", diz Martinelli. Sobre as dificuldades enfrentadas na trajetória profissional, ele garante: "Tive sempre muita sorte, que são as oportunidades que se apresentaram e eu fui aproveitando. Na verdade, não houve a menor dificuldade em nada, porque eu tive pessoas que me orientaram ou tempo suficiente para resolver a situação".

Com convicção, diz que "o que me acompanha junto com a sorte é o inconformismo com o não, a dificuldade de aceitar o não. Isso ajuda. Em alguns momentos eu sou autista: o meu mundo está dizendo que tem que dar certo e tem que dar, porque as condições existem para que aconteça. Mesmo que falte um degrau ou um pedaço da escada, tem como chegar lá em cima". E acrescenta, em tom de brincadeira: "Meu defeito é querer fazer muita coisa ao mesmo tempo. É não respeitar os meus limites e os limites do tempo. É achar que 24 horas é muito pouco, que houve um erro na concepção do dia".

Mais horas num dia

Mesmo assim, Martinelli admite que a divisão do tempo no seu dia-a-dia é complicada. Separado, tem uma filha de 16 anos, Eduarda, fruto do casamento de 20 anos, e procura almoçar com ela ao menos uma vez na semana. Ele tem uma namorada, Carla Khalil, que é funcionária pública. "Final de semana é um pra namorada, outro pra filha", explica. Quando sobra um tempinho, gosta de fazer exercícios físicos, assim como gostaria de ir mais freqüentemente para uma casa que tem em Camaquã. É fã de filme de aventura, mas reconhece que não tem tido tempo de ir ao cinema. "Estou lendo menos do que eu gostaria. Tenho um estoque da Feira do Livro, estou lendo os básicos", diz. Nas férias, prefere ir pra lugares diferentes. "Gosto de mergulhar, de visitar lugares desconhecidos. Mas falta arrumar mais tempo, administrar melhor o meu tempo", assume.

Sobre o futuro, Martinelli prefere não pensar agora. "Estou muito preocupado com o presente. Vou dar o meu melhor agora, pra garantir o meu futuro, seja ele qual for. Sou uma pessoa realizada, pois faço o que eu gosto. Se eu tivesse seguido na área do Direito, poderia estar ganhando mais, e certamente estaria com meu futuro mais tranqüilo, mas talvez não estaria satisfeito assim como estou", analisa o jornalista. "Cada dia é uma satisfação: minha primeira matéria em rede, minha primeira entrada ao vivo no exterior, o primeiro prêmio? Então, a maior satisfação é o reconhecimento e as amizades que eu fiz. Algumas inimizades também, é claro, e que eu pretendo manter", brinca.

Martinelli segue um "segredo" para realizar o que quer: "É não esperar nada. Eu não espero nada e ganho tudo. Não tenho expectativa, não atribuo erros e eventuais problemas que eu tenho a outros, não tenho inveja, não sou ciumento, não tenho cobiça e não sou apegado a nada. Isso é uma tranqüilidade, o que vier é lucro", revela. "Eu acho que quando se trabalha de forma honesta, dedicada e com respeito, não tem como dar errado. Hoje eu tenho amizades desde a época da Rádio Planalto. O que mais me chateou foi não poder dar emprego pra muita gente que merecia e precisava. Quando vim aqui pra Record, eu parei de contar em 500 currículos e perdi muitos amigos que achavam que eu tinha que contratá-los? se eu fosse contratar todos os meus amigos, faltaria vaga. Tenho amigos aqui? Tenho. Mas foi uma coisa que eu me policiei. Cada setor, cada jornal, eu contratei ao menos uma pessoa que eu não conhecia pra trazer pessoas novas. O resultado é que hoje nós temos a maior participação em rede, tirando São Paulo, porque o pessoal entendeu a oportunidade que tiveram", desabafa.

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