Marta Gleich: Uma 'führer' otimista

Sempre interessada nas possibilidades do Jornalismo na web, ela é a primeira diretora de Jornais Online do Grupo RBS

Marta Gleich - Adriana Franciosi

Marta Gleich assumiu, em março último, a direção de Jornais Online do Grupo RBS, o que já considera o maior desafio de sua carreira, toda transcorrida dentro da empresa. A jornalista sempre esteve ligada no universo multimídia e foi a escolha natural para ser a primeira ocupante do cargo, com a missão de levar os jornais da RBS para a web, de uma maneira diferenciada, com sites 24 horas. "Está sendo uma experiência maravilhosa poder viver esse momento da comunicação. É um privilégio poder inventar isso, no sentido de que é uma redação totalmente unificada, na qual online e offline trabalham juntas e distribuem as informações em duas plataformas, ou seja, Zero Hora é uma marca só, distribuindo a informação pelos dois meios. É bem interessante", vibra, ao comentar a função.

Marta é porto-alegrense, onde nasceu em 27 de junho de 1962, e lida com jornal desde a escola. No segundo grau do Colégio João XXIII, escrevia para um jornalzinho editado pelo colega Fernando Eichenberg. "Viemos a nos encontrar de novo em Zero Hora", relembra. Ainda assim, na hora de escolher que profissão seguir, ela se deixou levar pelo fascínio dos desenhos e da criatividade, que a motivavam desde criança. "Nem cogitei Jornalismo, entrei na Arquitetura da Ufrgs [Universidade Federal do Rio Grande do Sul]", conta. Depois de dois anos, percebeu que o curso não era bem o que imaginava: "A Arquitetura era muito técnica, estava virando uma desenhista técnica e aquela criatividade toda que eu tinha não aparecia". A família achou uma temeridade abandonar pela metade um curso tão concorrido, ainda mais, para trocá-lo pelo Jornalismo.

De desenhista a revisora

Em 1982, alheia às súplicas familiares, Marta ingressou no Jornalismo, na mesma universidade. Optou pelo curso porque gostava de escrever e de fotografia, "que é outra coisa que me dá prazer até hoje". Embora estivesse certa de sua nova escolha, a estudante sentia que "perdia tempo" com as aulas. "Confesso que fiz a faculdade - nem devia falar isso, mas? - matando muita aula, porque achava a faculdade muita fraca, com exceção de alguns professores, como o [Sérgio] Capparelli e o Pedro Maciel. Aí, geralmente, eu só entregava os trabalhos e saía na metade das aulas para ir ler, fazer outras coisas", justifica.

Revisoras de Zero Hora foram à Faculdade de Comunicação para falar aos alunos sobre o jornal e comentaram que havia uma vaga no setor. Era 1983, e Marta, que nunca havia trabalhado, resolveu fazer o teste de português que era exigido na seleção - e foi aprovada, claro. "Comecei a trabalhar à noite, no porão da Zero Hora. Era uma pedreira, a gente entrava às 7h da noite e ficava até depois da meia-noite, e sexta-feira tinha um "pescoção" que ia até às 7h da manhã", relata. Quando se formou, em 1985, decidiu que estava na hora de virar repórter. Ela explica que a empresa é rigorosa quanto a esta questão, e só os graduados podem escrever para o jornal.

Emprego garantido na hora imprópria

"Uma noite, me enchi de coragem e bati na porta do Carlos Felberg, que era o editor-chefe. Disse "olha, eu gostaria de trabalhar como repórter". Era noite, no meio do fechamento - o horário mais impróprio -, e ele tava revisando uma página. Me olhou e perguntou "mas quem tu és?". Falei que trabalhava no porão, como revisora. Ele me atendeu por alguns minutos e me mandou fazer um teste. Passei e comecei a trabalhar na Geral", revela. Em 1991, passou a ser editora da área e, depois, atuou como repórter especial. Em 1997, assumiu como editora-chefe de Zero Hora, cargo que ocupou nos últimos 10 anos.

Em 2004, Marta teve uma oportunidade de se aprofundar mais sobre as operações multimídia no meio jornal. Graças a uma bolsa de estudos, foi conhecer a redação de The Tampa Tribune, na Flórida, Estados Unidos, "considerada uma das melhores operações multimídia e conta com uma redação integrada", nas palavras dela, e modelo similar ao que a jornalista vem implantando para os jornais da RBS. O primeiro foi Zero Hora, que estreou sua versão online em 19 de setembro.

No meio náutico

Marta é tão ligada em integração de mídias que resolveu levar isso para dentro de casa. Ela é casada com o jornalista Cezar Freitas, ex-gerente de RBS TV e TVCom e atual diretor de Conteúdo do Canal Rural: "A gente resolveu fazer uma experiência multimídia", diverte-se. Do primeiro casamento, de mais de 20 anos, com o dentista Paulo Antônio, a profissional tem dois filhos: Guilherme, 12 anos, e Gustavo, 8. Totalmente chegada ao meio náutico - mora em frente ao Clube Jangadeiros e tem um barco -, Marta contagiou a todos com sua paixão, inclusive a filha de Cezar, Luiza, de 12 anos, que já fez curso de vela. Já Guilherme é velejador e compete por todo o Brasil. "Meus amigos dizem que eu levo todo mundo para a água", diz.

Seus hobbies, além de velejar, são cinema, leitura e corrida. "Quando tenho tempo corro com o Cezar. Ele que me botou para correr, literalmente", conta. A atenção principal é dedicada sempre aos filhos: "Adoro ficar com eles! São minha prioridade número um, embora eles sempre reclamem, tipo "mãe, tu trabalhas demais"". Assim, admite que não consegue passar tanto tempo com os meninos como gostaria, mas entende que a causa é nobre: "Também adoro trabalhar. Procuro me disciplinar, mas jornal é uma coisa absorvente e acaba nos prendendo. Mesmo depois que saio, tenho a sensação de culpa, porque sempre parece que deixei o trabalho pela metade".

Führer Poliana

O trabalho deve passar a absorvê-la ainda mais agora, quando se prepara para lançar a versão online do Diário Catarinense. Com apenas a ZH no ar, Marta já desenvolveu uma insônia: "Às vezes, acordo às 2h da manhã e vou para o site ver como está. É muito "pirante", tô dormindo bem menos". E se houver alguma coisa errada ou desatualizada, a diretora não hesita em fazer cobranças: "O David Coimbra me chama de "Führer da Zero Hora.com". As pessoas têm uma visão minha de sargentona, mas eu não me importo, porque führer é líder, então me sinto até lisonjeada".

Então, ela se vê desta forma? Sim, admite, acrescentando que espera não assustar as pessoas com sua atitude: "Acho que sou muito realizadora e, nessa ânsia de realizar as coisas, acabo atropelando um pouco, sou meio trator. Tenho que me policiar, melhorar isso e não ser muito dura. Acredito que a maternidade me deixou mais mole". Marta explica que cobra porque tem a expectativa de que as coisas possam melhorar. "Sou uma otimista incorrigível, meio Poliana às vezes. Sempre vejo o lado bom das coisas, não fico remoendo e toco pra frente. Sou uma führer otimista", brinca.

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