Milton Simas : Pelo que é certo

Na presidência do Sindicato dos Jornalistas, Milton Simas fala sobre a escolha profissional e a entrada para a militância sindical

A aparência pode até ser tranquila, mas o espírito é inquieto. Foi justamente esta característica que levou Milton Siles Simas Júnior do Jornalismo à militância sindical. Aos 49 anos e desde 1º de agosto presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJors), ele acredita que sempre foi um batalhador do que é correto. Há 15 anos na área sindical, crê no poder do diálogo e é com essa convicção que contribui para a luta pelos direitos e reivindicações da categoria.  "Acho que se a gente em determinado momento divergir sobre algum posicionamento, não há nada melhor que o argumento de um e de outro para resolver a situação. A violência só ocorre quando alguém perde o argumento", defende.
Foi o gosto pela cultura, pela música, pelo cinema e literatura que colocou Milton Simas Júnior no caminho do Jornalismo. Até prestou vestibular para outras áreas, mas foi na Comunicação que encontrou afinidade. Formado pela Unisinos, em 1993, chegou a se dividir entre os estudos durante o dia e o trabalho como bancário, à noite. No banco Itaú, onde atuou de 1985 a 1989, teve os primeiros contatos com outro segmento ao qual se dedica hoje, o sindical. "Morava em Cuiabá e trabalhava no banco da meia-noite às 6h. Em 1987, consegui a transferência para Porto Alegre e na primeira greve que teve não pensei duas vezes em entrar com tudo naquela luta", relembra.
Já a militância sindical entrou de vez na vida de Simas um pouco mais tarde, quando, em 1998, ouviu de colegas de redação do Pioneiro: "Vai ter eleição, tu serias o candidato a delegado?" "Depois, passei a delegado regional, inauguramos uma sede, começamos a fazer visitas e, querendo ou não, tu começas a ser reconhecido pela categoria e dentro da sociedade", relata.
Da redação ao sindicato
A estreia no Jornalismo começou no jornal NH, do Grupo Sinos, em 1991, veículo no qual passou pelas editorias de Polícia, Variedades e Geral. Mais tarde, já com a graduação concluída, recebeu convite para trabalhar no Pioneiro, em Caxias do Sul. Lá, permaneceu por quatro anos, até 1998, período no qual teve a oportunidade de trabalhar na editoria de Esportes, Geral e Mundo. Quase na mesma época, foi de repórter a editor na sucursal que o Jornal do Comércio manteve na Serra gaúcha até o final de 1996. Também trabalhou na Prefeitura de Caxias do Sul, nas gestões de Pepe Vargas (1996-2004). "Hoje, costumo dizer que aquela foi a primeira vez que eu soube a data em que iria perder o emprego, 31 de dezembro de 2004", conta.
Em busca de uma recolocação no mercado de Caxias do Sul, diz que encontrou certa resistência de algumas empresas. "Muitos me olhavam como: tu és sindicalista e estava trabalhando em uma administração do PT." Um convite do portal UOL o trouxe de volta à Capital, sua terra natal, onde durante dois anos foi setorista do Internacional. "Peguei o período de ascensão do Inter e eu, como gremista, pensei: vou sair daqui, porque estou dando sorte para este time", conta aos risos. Também assessorou o Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul e coordenou o Departamento de Comunicação do Sindicato dos Bancários, do qual hoje está licenciado.
Cobertura de competições esportivas, casos policiais, eventos tradicionais como a Festa da Uva e visitas presidenciais estão entre as memórias dos tempos de repórter. Acompanhar as sessões no Supremo Tribunal Federal que derrubaram a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão e agora a mobilização da categoria para restabelecer a exigência estão na lista de momentos marcantes da história de Simas.
Na trajetória, são referências os professores Luiz Ferraretto e Elisa Koplin, os colegas Claudio Thomas, Ciro Fabres, Celso Schröder, Vera Daisy, José Torves, José Nunes e José Antônio Silva, entre outros. De cada um, Simas diz ter recebido uma grande carga de ensinamentos que carrega até hoje. "Acho que a gente tem que reconhecer que não é soberano e estar sempre dialogando com os colegas e aprendendo. Nessa vida, ninguém sabe tudo", argumenta.
Lembranças de guri
Filho caçula da professora Julia Odete Laureano Simas e do funcionário público Milton Siles Simas, em uma família que se completa com mais duas irmãs - Márcia e Marinês -, cresceu na Zona Norte de Porto Alegre. Da época, guarda na lembrança brincadeiras simples e tradicionais como taco, bolinha de gude, carrinho de lomba, partidas de futebol e futebol de mesa.
A vida profissional começou ainda bastante cedo, logo que acabou o Ensino Fundamental, então chamado de Primeiro Grau. Porto-alegrense, foi auxiliar de estoque na oficina da concessionária da Volkswagen Guaíba Car, auxiliar de arquivo e de escritório na loja de eletrodomésticos JH Santos. "O que costumo dizer é que na minha vida nunca fui office boy, não sei se por sorte ou azar", conta divertido.
Após o divórcio dos pais, foi morar em Cuiabá, com o genitor, entre 83 e 87. "Ele tinha uma empresa de prestação de serviços, era o braço-direito dele, fazia de tudo um pouco." Recorda que, apesar do trabalho, foi nesse período que obteve as melhores notas na escola. "Passei por média, sem recuperação, então ficava esperando os amigos no bar para jogar uma sinuca depois da prova", lembra.
Cultura e esporte
Solteiro e sem filhos, Simas gosta de preencher os momentos de lazer com música, cinema, teatro, leituras, na companhia de amigos, com viagens à praia e à Serra. "Essa movimentação social é sempre legal", diz. Acompanhar o noticiário e jogos de futebol também são atividades que aprecia. Na literatura, tem perfil eclético, portanto, romance, biografias, história, poesias, e obras, muitas vezes, produzidas por jornalistas ou sobre a própria profissão são suas opções. "Leio de tudo, menos livros de autoajuda", diz com convicção.
Rock and roll e música popular brasileira são os estilos musicais preferidos. Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Zé Ramalho, Alceu Valença são alguns artistas que destaca. Também têm sua atenção canções de Legião Urbana, Barão Vermelho, Ira, Titãs, Charly Garcia, Fito Páez, Soda Stereo, Beatles, Rolling Stones, Eric Clapton e Bob Dylan, nas palavras de Simas, um deus da criatividade. "O trabalho que ele faz é referência para milhares de músicos. Bob Dylan, para mim, está em um altar, assim como está o (Ernest) Hemingway", diz o jornalista, que comemora ter tido a oportunidade de assistir a dois shows do ídolo, um em Buenos aires e outro em Porto Alegre.
É capaz de assistir a diferentes modalidades esportivas, mas admite que, além do futebol, gosta é de assistir à Fórmula 1, basquete e vôlei. "Nós somos privilegiados de poder ver atletas como Usain Bolt, ter acompanhado personalidades como Romário e Ronaldo Fenômeno, que são referências no esporte. Isso é muito legal."
Simas acredita que tem na amizade e generosidade suas principais qualidades. Confessa ser um pouco egoísta em alguns aspectos, ao estilo "o que é meu, é meu. Até cedo, mas me devolva", brinca. Saúde, paz e ter os amigos ao lado é o que Simas quer para futuro. "Não sou um cara muito exigente no dia a dia, posso dizer que sou um cara simples, não sou perdulário. Se daqui a 10 anos estiver com saúde, vou estar feliz", conclui.

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Milton Simas | Crédito: Elson Sempé Pedroso


 

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