Adão Oliveira: Muitas histórias para contar

Uma cirurgia no coração levou o jornalista a repensar sua vida, depois de 20 anos trabalhando no ritmo político de Brasília

Este está sendo um ano marcante para o jornalista e para o cidadão Adão Oliveira. Além da mudança cultural geral no cenário de Brasília - onde trabalha e mora há mais de 20 anos -, a vida pessoal entrou numa nova fase recentemente. Sua rotina inclui visitas quinzenais a Porto Alegre, onde a maior parte do tempo é dedicada a conversas, especialmente sobre política.

Em quase três décadas de experiência na área, já testemunhou, viu e viveu quase tudo: momentos de tensão, repressão, golpes, cassações, crises, planos. Também fez diversas viagens internacionais pela América do Sul, pelos Estados Unidos, pela Europa e até para a Antártida. "Meu maior patrimônio são as minhas fontes", resume.

Mas Adão não vive só de ouvir e contar histórias. Também gosta de escrevê-las. Atualmente, está reunindo documentos, depoimentos e discursos, debruçado nos rascunhos de 'A História de Ibsen', nome provisório da obra que pretende lançar na próxima Feira do Livro. "Vou mostrar que a cassação de Ibsen Pinheiro foi um linchamento, pela notoriedade que ele alcançou como presidente da Câmara de Deputados e por seu papel na deposição de Collor", antecipa.

De mala e cuia

Nascido em Canguçu, Adão Oliveira passou a meninice em Pelotas, onde estudou em colégio interno e começou a atuar em comunicação, na rádio Tupanci e no Diário Popular. Com 27 anos, voou para Brasília sem escalas. Do interior do sul do País para a capital federal, foi um choque. "Todo mundo se deslumbra com a cidade no primeiro momento, eu cheguei em uma noite escura, de tempestade, e me aterrorizei", recorda.

Mas o tempo não demorou a se abrir para ele, que, como assessor de imprensa do Ministério do Trabalho no governo do general Geisel, em 1976, começou uma trajetória da qual tem muitas histórias para contar - muitas mesmo. Retornou ao Rio Grande do Sul para ser chefe de gabinete da Companhia de Habitação no governo Guazelli. Sua passagem pelo mercado gaúcho também registrou em seu passaporte a chefia de reportagem da TV Gaúcha e da Difusora e a coordenação de esportes da rádio Gaúcha.

Em 1982, voltou definitivamente para Brasília, assumindo a assessoria de imprensa do Ministério dos Transportes. Da capital federal, escreveu artigos para o Correio Braziliense, foi editor especial de Zero Hora e chefe das sucursais do Correio do Povo e do Jornal do Comércio, sendo colunista deste último até hoje.

'Adão 2003'

O slogan não tem nenhuma relação com a política. Mantendo o bom humor, desmente o boato de que vai concorrer à prefeitura de sua terra natal nas próximas eleições. "Quem faz esse caminho é o elefante, que em uma determinada fase da vida volta ao lugar onde nasceu para viver seus últimos anos", brinca. O 'Adão 2003' renasceu aos 54 anos, após uma cirurgia de revascularização cardíaca. "Mudei para melhor. Estou menos exigente comigo mesmo e mais tolerante com os outros."

A guinada começou pela maior atenção à saúde, alimentação e exercícios, e chegou à mudança de endereço. No ritmo de 'Casa no Campo', imortalizada na voz de Elis Regina, Adão e sua esposa Arianne passaram a viver a 24 km do Palácio do Planalto, rodeados por cachorros, galinhas e uma vaca Jersey. Na sua chácara 'high tech', garante que sua qualidade de vida é ótima. Juntos há cinco anos, o casal está pensando em ter um filho, um irmãozinho para Janaína (26), Marcelo (23) e Letícia (18), frutos do primeiro casamento.

Segundo Adão, só houve um outro momento da sua vida em que ele parou para pensar tão profundamente em si mesmo: em 1988, na Antártida. "Passando quase um mês naquele lugar inóspito, sentado em um morrinho de neve, admirando aquele branco total do horizonte, revi muitos dos meus conceitos." Entre outras tantas viagens que fez, seus cenários preferidos são Chamonix, aos pés do Mont Blanc, na fronteira da França com a Suíça, onde já esteve várias vezes; um fim de tarde em Siena, na Itália; o clima conto de fadas de San Martin de los Andes, no sul da Argentina; e Barcelona, na Espanha, pela qualidade de vida.

Epílogo em branco

A trilha sonora de seus momentos marcantes também é variada, ouve todos os gêneros de música clássica e popular. "É uma questão de espírito. Às vezes às três da tarde, com sol a pino, me dá vontade de ouvir ópera." Descreve com entusiasmo suas cenas de cinema preferidas, como aquela em que Al Pacino dança o tango 'Por una cabeza', em 'Perfume de Mulher', o filme da sua vida.

As restrições do cardápio impostas pela saúde não o afastaram da boemia. Não bebe, não fuma e controla tudo, mas continua passando horas batendo papo em envolta de uma mesa. "O que importa é a conversa, a oportunidade de trocar. Sou careta, mas sou alegre". Admite que não tem muita intimidade com as panelas. É um cozinheiro de um prato só - como ele mesmo diz -, mas a receita é de dar água na boca: "Fettuccine com camarão, azeite, pimentões e azeitonas".

Adão Oliveira é do tempo da máquina de escrever - que fazia barulho, sujeira e tomava tempo dos jornalistas -, mas fez do computador seu grande aliado profissional. Começou a atuar na época da ditadura, viu o Brasil passar pela abertura política, eleições diretas, e garante que "muita coisa ainda vem por aí". Considera-se um workaholic, mas fez da qualidade de vida sua maior bandeira. Nunca Adão Oliveira pensou tanto em Adão Oliveira. "O importante é ser feliz", garante.

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