Nikão Duarte: O ofício vem de berço

A distância que já esteve do Rio Grande do Sul em suas peregrinações pelas mais diferentes redações do país foi um ingrediente natural para …

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A distância que já esteve do Rio Grande do Sul em suas peregrinações pelas mais diferentes redações do país foi um ingrediente natural para fazer a saudade se traduzir em letras musicais. Apesar de não se considerar um compositor, já teve até música vencedora em festival de nativismo, contando a história do nome da cidade que acolheu sua família, Pinheiro Machado. A paixão pela literatura, por isso, reserva um espaço cada vez mais generoso no cotidiano do coordenador de Comunicação Social da Fiergs, Sesi e Senai, Luiz Antônio Farias Duarte. Para quem não o conhece assim, Nikão Duarte explica: "Herdei o apelido do avô Antônio, o Nico, e por ter nascido um bebê bastante grande, o aumentativo veio desde o berço".

O ofício de jornalista também vem de berço. O pai já trabalhava na área e, com o tio Bolívar Madruga Duarte aprendeu a gostar ainda mais do mundo da comunicação. Aos 48 anos, Nikão coleciona um conjunto de atuações no mercado jornalístico que se estende por quase todos os diferentes degraus de uma redação. "O início da minha carreira profissional não poderia ter sido melhor para uma pessoa que vinha do Interior e era colorado: fui contratado como repórter setorista do Internacional pelo extinto Diário de Notícias, justamente no ano de 1975, no auge do grande time de Rubens Minelli", relembra.

Formado pela Famecos/PUC, em 1977, o jornalista teve passagens também pela Folha da Manhã, Folha da Tarde e Rádio Guaíba, no grupo Caldas Júnior. "Foi um tempo de experiências fantásticas, trabalhando com profissionais como Rogério Mendelski (o primeiro editor que me fez assinar uma matéria como Nikão Duarte), e Walter Galvani, que me levou para a chefia de reportagem da Folha da Tarde com 27 anos, o que realmente marcou esses primeiros anos de trabalho". Após, vieram a sucursal de O Estado de São Paulo, a assessoria de imprensa do Trensurb, o Jornal do Comércio, e a experiência de fundação do Diário Catarinense. Depois, resolveu encarar o mercado de Brasília, iniciando pela sucursal da RBS e passando pelo Congresso Nacional e ANJ. E, por fim, atuou na agência de notícias AJB, no Rio de Janeiro.

Mestre e viagens 

Ao deixar o Rio Grande do Sul a caminho de Brasília, Nikão Duarte viu nascer um outro momento da sua carreira. Após completar o mestrado na Universidade de Brasília, acabou buscando um lugar nos bancos acadêmicos. Só que de professor. Para ele, um momento que pode vir a se repetir, futuramente, por aqui. "Acredito ser uma das mais gratificantes atuações que um profissional pode ter, ao repassar o seu conhecimento e provocar a busca nos seus alunos", ressalta. Para tanto, atualmente vem reservando parte do seu tempo para as aulas do MBA em Marketing, na ESPM, como forma de complementar a sua atuação na área jornalística. A vontade de lecionar, no entanto, perde para o trabalho de edição entre as suas preferências na área. "Poder dar uma concepção a uma publicação, um programa de rádio ou de TV é, sem dúvida, o que mais gostei de fazer entre todas as áreas em que já trabalhei", sentencia.

O trabalho, porém, deixa espaço para algumas atividades de lazer e descontração, que procura garantir junto à atual namorada e aos filhos Bolívar, de 19 anos, e Bernardo, de 18 anos. "Retornei ao Rio Grande do Sul muito para ficar junto aos meus filhos, que iniciavam uma nova etapa escolar e esportiva, no caso do Bernardo, que joga no Grêmio", salienta. Nikão lembra que, muito por causa de sua condição de pai solteiro por alguns anos, se acostumou a um relacionamento que se estendia à cozinha. "Tornei-me um expert em preparar algumas coisas rápidas, como diferentes tipos de sanduíches, e hoje me delicio junto com outras experiências culinárias com produtos incluídos na minha dieta", diz. Mas, é a delícia de viajar e conhecer lugares não-convencionais que mais despertam sua curiosidade e servem para deixar o trabalho para outro momento. "Procuro uma combinação simples nessas viagens que fizemos: o mínimo de conforto com o máximo de prazer, sempre explorando ao máximo os diferentes locais que lá existem".

Literatura e paz

Nas horas de lazer, Nikão Duarte também tem buscado exercitar sua veia literária, principalmente depois da oficina feita com Luiz Antônio Assis Brasil. "De escrever em casa à possibilidade de lançar um livro, existe um caminho longo, mas que posso não me furtar a seguir", revela, ao dizer que pode optar por contar a história de personalidades públicas do Estado. "Acho bom pensar em uma produção que venha a nascer de intermináveis sessões de entrevistas sobre pessoas como um Alberto André, sem nunca descartar, quem sabe, a idéia de um romance", revela, embora reconheça que tal obra deve ter um outro escritor. Por enquanto, prefere manter esta ação apenas como mais uma forma de descontração dentro de uma profissão que trabalha as palavras, diariamente.

Nikão Duarte também tem um cuidado especial em guardar referências que foram importantes na sua trajetória no jornalismo. Entre os muitos nomes que cruzaram seu relato, marcou alguns como Jaime Copstein, Armando Burd, Emanuel Mattos, Ana Amélia Lemos, Euclides Torres, João Souza, André Pereira, Roberto Eduardo Xavier, Adão Oliveira e Zélia Leal. "O maior exemplo entre tantos, porém, veio da força do meu tio Bolívar Madruga Duarte, que abriu para mim as perspectivas de trabalhar sempre dirigido pela ética, dedicação e profissionalismo", ressalta. Preocupado com o futuro, Nikão diz esperar por mudanças no Estado. "Voltei para cá com os gaúchos recuperando a auto-estima, mudando o comportamento frente a sua posição no país e, atualmente, sinto a falta de instrumentos que possibilitem políticas que voltem a desenvolver o Rio Grande do Sul e dar perspectivas para o futuro de nossos filhos", sustentou.

Ao mesmo tempo, o jornalista acredita ser possível chegar a uma nova etapa, sempre usando como filosofia de vida a manutenção da paz. "Tudo passa por essa palavra mágica, que potencializa nossas ações nos ambientes familiar, profissional e dentro do nosso círculo de amizades", diz. Por isso, Nikão Duarte faz questão de ressaltar que não se pode esperar por uma concepção de sucesso, um segredo especial. "Esse sucesso é algo efêmero, relativo, principalmente quando se trabalha com algo em que a instabilidade política, social e econômica tem influência tão grande", resume.

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