Rogério Mendelski: Opiniões a granel

Polêmico, o jornalista não deixa de opinar sobre tudo, mesmo à custa de incompreensões. Nem a Bienal do Mercosul escapa.

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Conhecido pela intensidade com que defende suas opiniões, ele tem no bom humor uma fonte de inspiração para manter-se afastado do stress do dia-a-dia de um programa de rádio que se destaca por seu alto nível de audiência. E é graças a esta mesma disposição para dizer com franqueza o que pensa que pode estar despontando para uma carreira política, disposto a concorrer a uma prefeitura da Região Metropolitana. Para tanto, Rogério Vaz Mendelski entende ser necessário, primeiro, pensar na aposentadoria: "Os meus 58 anos, e os 35 anos de atividades, já me reservam esse direito, embora seja uma decisão a ser tomada mais tarde".

Como jornalista, Mendelski iniciou seu trabalho na sucursal do jornal carioca Correio da Manhã "dividindo funções com os colegas Danilo Ucha e Políbio Braga". Ao entrar para o diário, foi contratado como contato comercial e repórter, sob a chefia de Gabriel Mathias. No entanto, faz questão de salientar que sua carreira se divide entre antes e depois da RBS. "Foi aqui que, realmente, me tornei conhecido, pela amplitude do alcance dos veículos", salienta. Mesmo assim, nomina todos os lugares em que trabalhou, como os dois anos de Rede Pampa, os 10 anos na Caldas Júnior e os quatro anos da sucursal gaúcha do jornal O Estado de São Paulo. Mendeslki destaca que, na maioria das vezes, se dedicou apenas a um veículo de cada vez, "a não ser quando tive a oportunidade de assinar a coluna Momento Político, no Jornal do Comércio, junto com a Pampa".

Aventuras e artes 

O rigor de acordar diariamente às 4h da manhã faz de Rogério Mendelski mais um abnegado pelo trabalho, que diz não conhecer a noite de Porto Alegre "há pelo menos 15 anos, já que para acordar nesse horário é preciso não se recolher tarde". Mesmo longe da maioria dos eventos sociais para os quais é convidado, o início das noites de sextas-feiras é de comemoração com uma pequena confraria de amigos, na churrascaria Na Brasa. "Um grupo de amigos, com pensamento homogêneo, e que torna o convívio ainda melhor", enfatiza. Mendeslki, que se considera um apreciador de comidas simples, "sem frescuras". "A culinária francesa e a japonesa não me agradam. Tanto que só fui encontrar no McDonald´s ou em restaurante coreano de comida italiana, uma solução para amenizar a fome quando estive no Japão", acrescenta. É nos finais de semana que Rogério tem o seu hobby mais aventureiro.

Junto com um grupo de amigos, se transforma em um jipeiro. "Arrendamos uma propriedade, no Capão da Porteira, em Viamão, onde podemos desfrutar essa diversão", revela. Às vezes arrisca uma ida mais longe, até a Estrada do Inferno, na região do Bojuru, uma vez que não pode participar de eventos mais longos, que duram até três dias, a bordo de um jipe. No mais, é em casa que se diverte, onde se especializa na gravação de CDs com suas músicas preferidas, principalmente as grandes orquestras, o country norte-americano e alguma coisa de música romântica brasileira da Bossa Nova e da Jovem Guarda. "É bom, também, para presentear amigos", explica.

As opiniões contundentes estão presentes, também, quando o assunto é artes e cultura. Amante do cinema americano, não nega sua predileção por filmes recheados de ação e produções primorosas de efeitos especiais. "Eu não preciso me render àquelas coisas do tipo 'o filme não é bom, mas o diretor é maravilhoso'", sentencia, ao dizer que considera a produção do cinema brasileiro muito frágil. "Na maioria dos filmes, é preciso apelar para cenas picantes de sexo". Da mesma forma, não poupa munição quando o assunto é artes plásticas e, sobretudo, a 3ª Bienal do Mercosul. "Me surpreende esse silêncio bovino das pessoas, que sentem vergonha de dizer que boa parte das obras mostradas eram uma porcaria, pura picaretagem de alguns que querem gozar com a nossa cara", critica o jornalista. Por isso, diz reservar seu tempo para apreciar bons museus e exposições durante suas viagens.

Candidatura e indignação 

Ao dissertar sobre situação política, crise na Argentina e economia nacional, Rogério Mendelski acaba falando de um projeto que, garante, não é de sua autoria, mas no qual estaria bastante interessado. Um grupo de amigos de Viamão, sua terra natal, quer fazer dele o próximo prefeito da cidade, numa coligação de partidos de oposição ao atual governo municipal petista. "Estou com 58 anos e, aqui na RBS, por uma norma da casa, a maioria dos funcionários deixa a empresa ao completar 60 anos, o que me deixa ainda mais à vontade para pensar na aposentadoria e, até mesmo, em perspectivas políticas", revela. Mendelski, porém, prefere mesmo é comentar os fatos políticos e econômicos. Para ele, a Argentina é um exemplo daqueles bons políticos que são péssimos administradores. "De la Rúa assumiu com a chancela de quase todas as esquerdas da América Latina e demonstrou o seu despreparo", argumenta ao se declarar estarrecido com o fato de políticos como o presidente nacional do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, dizer "que foram o FMI e os Estados Unidos que saquearam a Argentina e a atiraram nesse caos".

Crítico mordaz, o jornalista classifica de "gigolôs da crise e proxenetas da tragédia" aqueles que, no início do ano, afirmaram que a economia brasileira ia sucumbir, mas que hoje vêem o país captar mais de US$ 20 bilhões em investimentos externos e apresentar superávit comercial de US$ 2,4 bilhões, em 2001. Uma das estrelas da Rádio Gaúcha Rogério também é firme ao apontar o ex-ministro Roberto Campos, enquanto jornalista e articulista na área econômica, como uma das pessoas pelas quais nutre grande admiração. "Sua fina ironia e mordacidade me ajudaram a entender o que são, realmente, a direita e a esquerda nesse país", avalia. Desse mesmo período, Mendelski resgata um nome que o marcou pela forma com que desempenhou o jornalismo investigativo em meio à ditadura militar.

Para ele, o jornalista Ricardo Kotscho, com uma série de reportagens sobre as hoje conhecidas "mordomias" do governo, balizou as ações investigativas. "Hoje, temos até as câmeras escondidas, mas naquela época ele revirou o lixo dos ministros para saber como eram as coisas", rememora. No campo do jornalismo, Mendelski também ajusta a mira para o Rio Grande do Sul: "O jornalista precisa estar na oposição, mostrando sua indignação como força de combate e não se tornar, simplesmente, um ´chapa branca`, que jogou a toalha, como o que vem ocorrendo hoje aqui no Estado em casos como o da TVE, um canal a serviço do Piratini e do partido".

Filosofia e estudo 

Rogério Mendeslki se diz um apaixonado pelo que faz. É no jornalismo que tem sua inspiração. Por isso, sustenta que a sua filosofia de vida está em encarar as coisas com bom humor, podendo rir de situações mesquinhas. "Não quero ser como esse pessoal do PT, sempre sisudo, que parecem aquele personagem do Jean Paul Sartre em 'A Idade da Razão', o Gomes, que era comunista porque não podia ser simplesmente o Gomes", ironiza. O jornalista diz que a perda da individualidade é algo que não tolera, como ter de abrir mão de suas idéias em nome de uma identidade coletiva.

Manter a audiência do seu programa, que considera uma "crônica eletrônica", é o que também espera como projeto profissional. Para esse sucesso, acredita que o fundamental é nunca esconder as opiniões próprias. "A RBS tem a linha editorial mais aberta e democrática que eu já vi, até mesmo para pessoas que trabalham aqui e saem pelo Estado a dar palestras e criticar a empresa, como verdadeiros algozes", analisa. É por isso que considera a sua entrada no grupo como o capítulo principal de sua história no jornalismo gaúcho e nacional.

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