Paulo Brito: A voz do "Feitooo!"

De bem com a vida e apaixonado por futebol, o jornalista deu vida a bordões que ultrapassaram as antenas da TV

Paulo Brito | Crédito: Arquivo pessoal
Ao chegar na sala do jornalismo esportivo da RBS TV, é possível perceber por que o futebol é a grande paixão do jornalista Paulo Brito. Camisetas de variados times ocupam grande parte do espaço, e um de seus bordões mais conhecidos é utilizado como cumprimento de boas-vindas: "E aí, tudo belezinha?". A indagação é sua marca registrada e há anos percorre os corredores da emissora.
O guri de Santa Cruz é também criador do "Feitooo!", expressão utilizada durante as transmissões para narrar um gol. A inspiração vem do ídolo, o narrador e apresentador Celestino Valenzuela, autor do bordão "Que laaance!", o qual teve a honra de substituir ao vir para Porto Alegre. "O Celestino sempre me ensinou que um narrador precisa ter uma palavra que marque a sua narração. Isso me incentivou a utilizar no meu trabalho expressões que já faziam parte do meu cotidiano", destaca.
Aliás, pode-se dizer que o mundo da bola é o mundo de Paulo Brito, que desde pequeno percebeu que, de alguma maneira, o esporte faria parte de sua vida. Aos nove anos, começou a jogar e, já na adolescência, representou o Esporte Clube Avenida, time do coração e da sua cidade natal, quando teve a oportunidade de participar de um campeonato Gaúcho. Aos 16 anos, chegou às categorias de base do Sport Club Internacional e, nesse momento, descobriu que não era nos campos que continuaria sua trajetória. "A ideia de ficar trancado em uma concentração não me agradava. Além disso, já namorava. Então, resolvi voltar para a minha Santa Cruz", explica.
Morava ao lado da Rádio Santa Cruz e, sempre que podia, dava uma escapada e pedia aos locutores para utilizar o microfone. Surgiu assim a chance de fazer um teste e, logo, sua voz passou a circular pelas ondas do rádio. Em 1988, a RBS TV inaugurou sua afiliada na cidade e lançou teste para jornalistas. "Lembro que eram uns 600 candidatos. Passei para apresentar os esportes no jornal RBS Notícias local", conta. Lá permaneceu por um ano até ser convidado para suceder Celestino no Jornal do Almoço.
As coberturas
Paulo revela que iniciar ao lado de nomes como os jornalistas e apresentadores Maria do Carmo, Lasier Martins, Lauro Quadros e Paulo Sant"Ana não foi fácil. "De cara, estar ao lado de grandes nomes foi complicado. Já tinha a responsabilidade de substituir uma lenda que era o Celestino e ainda lidar com tamanha experiência, realmente foi incrível", relata.
As narrações televisivas iniciaram-se apenas em 1994, ano em que a RBS passou a ter o direito de exibir campeonatos de futebol e futsal. Na época, fora a rádio, os jogos eram exibidos através de compactos nos programas locais. "Em estúdio, narrávamos o jogo e editávamos para ir ao ar", explica. Paulo foi o primeiro apresentador a ser transferido da rádio para a televisão. "Senti a transformação. Narrar na TV é muito diferente, tem que cuidar o tom de voz, é preciso narrar exatamente o que as pessoas estão assistindo, fora que a adrenalina não é a mesma", salienta. Mesmo afastado das narrações esportivas via rádio, afirma com certeza que voltaria após passar por uma adaptação.
Entre tantas coberturas, o apresentador destaca a Olimpíada de Atenas, em 2004, e os Jogos Pan Americanos, em 2007, no Rio de Janeiro, que cobriu pela Rede Globo. Pela RBS TV, além de jogos do Gauchão, Campeonato Brasileiro e Libertadores da América, os Mundiais de 2006, no Japão, e de 2010, em Abu Dhabi, marcaram a sua carreira. "No Japão, foi a minha primeira grande cobertura estando no local. Ficamos um mês lá. Já nos Emirados Árabes, a experiência de entrar ao vivo a todo o momento em programas locais e nacionais foi muito intensa", comenta.
Quanto aos Grenais, Paulo não tem recordação de nenhum em especial, porém, afirma que cada jogo é único e que é preciso muito preparo. "Grenal é Grenal. É um jogo emocionante. Procuro me cuidar muito um dia antes, durmo cedo, tomo conta da garganta. Preciso estar esperto, pois é uma partida atípica. Tem que pensar em cada palavra que for falar, caso contrário todos ficam contra ti", ensina, do alto de sua experiência de 27 anos de RBS TV.
O ato de se cuidar antes do Grenal costuma ser corriqueiro para os demais jogos, mas fatalidades acontecem até mesmo com quem é prevenido. Em 1999, foi a Ijuí narrar o jogo que marcava a volta do jogador Dunga para o Internacional. A partida foi transmitida às 22h, horário nobre da Globo, e aos cinco minutos do segundo tempo passou mal. "Comecei a suar e saí correndo para achar um banheiro. Avisei o Renato Marsiglia, que ficou branco ao saber que ficaria sozinho. Foram 15 minutos fora, ainda bem que o jogo estava morno e não teve gols", recorda.
Torcedores e jogadores
Ao descrever a relação que mantém com os torcedores, Paulo revela ter verdadeiro pavor de errar. "Atualmente, sou o jornalista com maior número de seguidores nas redes sociais do Estado. Uso muito o Twitter, principalmente para pesquisas. As pessoas que me xingam, por serem gremistas ou colorados, não dou bola. Agora, se alguém diz que falei sobre uma técnica de forma errada, vou lá conferir e se ele estiver com a razão fico louco de raiva", frisa. O apresentador acredita que tal comportamento se deve a sua origem alemã. "Evito a possibilidade de dar qualquer erro, mas, quando erro, admito. Sei que errar é humano, porém, se for algo muito absurdo, fico brabo comigo mesmo", sustenta.
Assim como no relacionamento com o público, com os jogadores de futebol também exercita uma política: só estabelece uma amizade quando o atleta pendura as chuteiras. Paulo acredita que, pela profissão exigir que expresse opiniões que nem sempre agradam ao jogador, tenta evitar qualquer contato pessoal. "Não interessa se é meu irmão ou filho, se jogar mal falo mesmo. Muitos que falei mal a carreira toda, hoje são meus amigos e ainda jogam futebol comigo. O Tinga e o Clemer são exemplos disso."
Um cara feliz
A rotina esportiva é repetida semanalmente como um mantra. Futebol três vezes por semana e 20 quilômetros de bicicleta nos demais dias fazem o jornalista de 54 anos sentir-se com uma saúde de ferro. "Durmo cedo, não fumo, tenho um fôlego que nem sei de onde sai. Além disso, não tenho nenhum tipo de dor, o que, para um cara da minha idade, é um ótimo sinal", destaca.
A irreverência e a experiência com a TV o levaram a encarar o desafio de subir aos palcos e, ao lado de um primo, montar a banda Paulo Brito e amigos. As apresentações acontecem nos finais de semana e o repertório vai do sertanejo aos grandes sucessos dos Beatles. Somado a essas atividades mantém um escritório, coordenado pela esposa Márcia, que trabalha junto a empresas  a sua participação em eventos e as palestras motivacionais que apresenta.
De uma família de quatro filhos, Paulo é o único menino. O pai advogado ainda tentou fazer com que o apresentador seguisse seus passos. A faculdade de Direito chegou a ser iniciada, porém, recém-casado e com um filho, logo aconteceu a mudança para Porto Alegre, o que o ajudou a desistir da carreira para a qual não nutria grandes simpatias. Casado há 34 anos, é pai de Greice, jornalista com passagem pela RBS e mãe da Isabela, e Pedro, que, com apenas 16 anos, já atua como jogador do 1906 Haidhausen, time conveniado do badalado Bayern de Munique. "Ele é um belo centroavante, goleador de origem. Usei minha experiência no futebol para prepará-lo. Mostrei o certo e o errado", explica, sem esconder uma ponta de orgulho. Paulo é assim mesmo, sente-se orgulhoso pelos filhos terem seguido suas duas maiores paixões e justifica a escolha da primogênita ao revelar que, desde pequena, acompanhava as jornadas esportivas do pai.
De bem com a vida e satisfeito com a jornada percorrida, Paulo acredita que a simplicidade foi o ingrediente que o fez chegar onde está. "Sempre fui a mesma pessoa. Sou amigo de todos que trabalham na emissora, não faço distinção alguma, tomo chimarrão com todo mundo". Sobre o futuro, os planos pós-aposentadoria já estão fervilhando em sua cabeça. "Me criei com o microfone na mão, e quando parar quero praia, jogar bola, cantar." É apaixonado por Capão da Canoa, onde possui casa lá, e quando vai lá "é churrasco todos os dias". Pudera: é o lugar em que se sente bem e onde cultiva histórias "muito especiais". "É o lugar do meu verão", confessa.

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