Pedro Enio Schneider: Abrindo caminhos

Com mais de 50 anos de experiência na Publicidade, Pedro Enio Schneider tem orgulho em contar, com detalhes, a trajetória que atravessou gerações

Pedro Enio Schneider, diretor da agência New PS | Divulgação
Por Gabriela Boesel
Óculos, cabelos brancos e uma simpatia típica de um senhor de 70 anos. Essa é a primeira impressão que Pedro Enio Schneider passa e, com pouco mais de uma hora e meia de conversa, revela-se um verdadeiro contador de histórias e um orgulhoso precursor da Publicidade no Rio Grande do Sul. Sua trajetória, que ultrapassou gerações, soma mais de 50 anos de experiência em um ramo que ainda não havia se consolidado no Estado, e que Pedro apresentou e desenvolveu. Como resultado, surgiu a New PS, agência que comemora 53 anos ininterruptos de atuação no mercado.
Com formação inicial em Artes, mais tarde agregou ao currículo cursos de Relações Públicas, Administração e Marketing pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mas garante que a prática foi sua maior aliada. Aprendeu desde cedo a empreender e se espelhou em profissionais da área em São Paulo e nos Estados Unidos e, enquanto adquiria conhecimento, apresentou um trabalho inédito e ainda - por que não? - duvidoso para empresas gaúchas que, para sua sorte, acreditaram e o ajudaram a crescer e criar portfólio.
Nascido em Canoas e com descendência alemã, tem orgulho em dizer que, na infância, cresceu no campo e aprendeu a lidar com as atividades da fazenda onde os pais viviam. Tirou leite de vaca, montou a cavalo, plantou e colheu na lavoura. "É uma lembrança muito boa e me trouxe habilidades também. As crianças de hoje nunca viram uma vaca. Eu não só vi, como tirei leite e montei", lembra. Pai de Aline e Régis, e avô de Isabela, Pedro Schneider acredita no trabalho e no conhecimento, e garante que chegou até aqui porque nunca pensou em desistir.
O começo de tudo
Com apenas 12 anos de idade, Pedro deu início à vida artística. Estudante na Escola de Belas Artes, em Novo Hamburgo, mudou-se para Porto Alegre onde foi convidado a trabalhar em uma empresa de propaganda. Começou como ilustrador, e lembra que, naquela época, não existia a tecnologia de hoje. "Tudo era feito à mão e sem cores. Era tudo em preto e branco", recorda.
De volta a Novo Hamburgo, conquistou clientes que ainda mal sabiam como a Publicidade poderia ajudar na prosperidade do trabalho. Esmerou-se, acreditou, mostrou e conquistou empresários do ramo calçadista, atividade econômica do município naquela época e, aos 18 anos, já contava com um portfólio de trabalhos inovadores e uma carteira de clientes considerável para a idade e experiência. Lembra que começou criando embalagens coloridas para caixas de sapato que, até então, eram todas brancas. "Era sem graça, sem desenho e sem cor", conta, e relembra que foi o primeiro a revestir o material com papel colorido, trazendo, ainda, a marca do cliente. "Ficou muito mais bonito, diferente. Quando levava aquela caixa colorida em uma loja, ela saltava aos olhos. Foi um sucesso", recorda, e explica que fazia, sozinho, todo o processo: criação, montagem e impressão.
Material gráfico e pequenos anúncios se tornaram demanda, em uma época em que surgia o Grupo Sinos, empresa de comunicação em Novo Hamburgo. Enxergando no Jornalismo uma nova forma de propaganda, o comércio local começou a contratar Pedro para criar anúncios de varejo. Sozinho, ficou conhecido pelas empresas, mas afirma que, talvez, este tenha sido o maior desafio da carreira: consolidar-se no mercado. "Não era fácil mostrar a importância da Publicidade para os empresários que nunca tinham ouvido falar nisso. Tinha gente que não conseguia enxergar a utilidade desse serviço e isso existe até hoje", revela.
A confirmação
Com a experiência adquirida na primeira agência onde atuou, somada à trajetória individual, Pedro passou a ter mais trabalho do que podia cuidar. Chamou estudantes de Artes e começou a criar um grupo habilidoso e criativo. "Como pioneiro nessa área, consegui muitas coisas em tempo que não tinha ninguém para fazer nada parecido", fala. Os trabalhos, todos feitos à mão, são motivo de orgulho para o profissional, que, mesmo passando trabalho, garante que sempre gostou da função. O passo a passo, ainda que demorado, foi um incentivo na carreira, pois queria fazer, e queria fazer bem feito. "Para cada anúncio, tinha que mandar fazer a composição da peça, e não era fácil, muito menos rápido", confessa, explicando que era preciso enviar o material para a editora do Pão dos Pobres, em Porto Alegre, pois no Vale do Sinos não havia quem fizesse o serviço. "Tu digitava o texto, ampliava ou reduzia para montar nos anúncios, parte por parte", recorda.
Cerca de cinco anos depois do seu início, lembra que surgiram outras agências, o que trouxe também mais profissionais no mercado. E, mesmo com a concorrência, Pedro se orgulha em dizer que a maioria dos funcionários que foram trabalhar nessas novas empresas de publicidade, começou com ele. "Foi aqui que eles aprenderam a trabalhar", orgulha-se.
Para se modernizar, Pedro investiu em máquinas de impressão e computadores, sempre de última geração. Viagens aos Estados Unidos e a São Paulo eram frequentes, o que agregava na evolução da empresa. "Comprei a primeira máquina IBM Composer que, na época, era o primeiro equipamento que, por muito tempo, serviu de instrumento de digitalização para escrever colunas de jornais, mas servia também para a Publicidade, para fazer corpo de letra", explica.
Os títulos eram pequenos, mas com um ampliador fotográfico da Itália, era possível aumentá-los por meio de um processo que, nos dias atuais, seria considerado demorado e trabalhoso. Era preciso fotografar a letra, ampliá-la, revelar o negativo, botar novamente no papel e fazer o logotipo do tamanho desejado. Depois, revelava de novo e colava no texto. Com o fax, o contato com os clientes ficou mais fácil e rápido. Depois veio, em 1992, um scanner de 3 mil BTI, com uma saída a laser. "Me encantei na hora e consegui um para mim", lembra, feliz com a conquista da época.
Mudanças pelo caminho
A agência, que ficava no andar térreo da casa onde Pedro e a família moravam, ganhou um novo espaço em uma sala comercial no Centro de Novo Hamburgo. Com o crescimento e as crises econômicas que enfrentou ao longo de meio século de atuação, Pedro preferiu mudar a estratégia e enxugar a equipe. De 32, foram para oito colaboradores, dos quais dois são da família. A esposa Roseli, que divide a sociedade, é também a responsável pelo setor financeiro, enquanto a filha Aline atua nas áreas de Atendimento, Redação e Planejamento.
Com a era da informática, outra mudança chegou. A palavra New foi agregada ao nome PS - Pedro Schneider -, e uma nova marca surgiu, junto com a tecnologia, como internet, e-mail e telefone. "Jamais imaginaríamos falar algo em viva-voz com alguém, muito menos ter um celular na mão", conta, aos risos, e acrescenta que é da época em que, quando lançaram o celular, foi um grande acontecimento, e o e-mail, então, era a novidade do século. "Hoje a juventude que já entrou o meio digital não sabe como era antigamente. Minha neta, com três anos, sabe mexer em tudo. Eu não sabia fazer isso quando eu tinha 25 anos", descreve.
Parar? Nem pensar
Teimoso por natureza, como ele mesmo diz, não considera a possibilidade de se aposentar, pois acredita que o ser humano não foi feito para parar. Com 70 anos, costuma brincar que tem 28, pois "tem a idade que bota na cabeça", e não a que está na certidão de nascimento. Sua convicção de seguir em frente é tanta que, mesmo realizado, só pensa em se afastar da agência daqui a quatro décadas. "Quando eu chegar aos 110 anos, darei uma revisada no que preciso fazer e pensarei no futuro", diz, aos risos, e se considera feliz com o legado que deixará. "Estou vivo, casei, montei um patrimônio, tive meus filhos, que eduquei muito bem, inclusive fora do País", fala, ao confessar em um sussurro para evitar que a filha escute: "Quero que ela assuma meu lugar".
Separar as tarefas da agência do convívio familiar em casa é uma regra, já que os três colegas de trabalho dividem o mesmo teto. "Quando um começa a puxar assunto, o outro já corta", explica, sério, mostrando que valoriza e respeita esse princípio. Longe da empresa, costuma descansar, mas não esconde que o que mais gosta é brincar com a neta Isabela, que também mora com ele. E Aline confirma. "Depois do almoço é o momento que os dois têm para brincar, e vai desde pega-pega a tocar violão", conta.
Para ler, dispensa livros que, a seu ver, não agregam conhecimento. Prefere obras do estilo "Quem mexeu no meu queijo?" e "Bilionários", pois acredita que ajudam no desenvolvimento pessoal e profissional. Filmes de "mocinho antigo e aventura", como define, são seus preferidos, e no quesito música, as clássicas estão sempre em primeiro lugar e é enfático: "Gosto de música, não de barulho".
Hoje, esporte se resume em caminhadas, natação e academia, mas na juventude foi tricampeão sul-americano de Salto Ornamental. "Antes, desafiava a própria energia, treinava cerca de oito horas por dia, no inverno", recorda. Férias? Essa é uma palavra que Pedro não conhece, mas sempre reserva uma semana a cada semestre para viajar e conhecer lugares. Aliás, essa é uma das atividades que mais gosta: dirigir por locais desconhecidos para explorar novas cidades. Sempre na companhia da esposa, claro.
Com o lema "Nunca vender, sempre ajudar", o publicitário acredita que o capital que as pessoas conquistam não deve se resumir aos carros que se anda, ou à casa onde mora. "É preciso ter trânsito livre, a consciência tranquila e conhecimento do que se faz." Ao longo dos anos de experiência e com o caminho que traçou, Pedro Enio Schneider se define assim: um cara que nunca desiste.

Comentários