Paulo Fona: Quase um gaúcho

Nascido em Manaus e criado em Brasília, ele já conhecia os encantos da capital e do litoral gaúchos muito antes de ser o secretário de Comunicação do Estado.

Ele nasceu em Manaus, em 10 de dezembro de 1953, com o nome de Paulo César Castanheiro Coelho, o quarto Paulo da família, depois de seu pai e dois irmãos. Para diferenciar, acabou ganhando o apelido Fona, comum aos caçulas na Região Norte. Ainda muito cedo, se habituou aos bastidores da política e descobriu que o poder pode ser algo passageiro. "Meu pai recebia muitos políticos do Amazonas e do Brasil em nossa casa, era uma casa aberta, um entra-e-sai de gente. E o irmão dele também tinha sido governador do estado, mas foi cassado em 1964. Então, uma das lições que aprendi é que o poder é muito efêmero", relata Fona. "Minha mãe sempre dizia: "Não se iluda com política, porque um dia as coisas tão de um jeito e, no outro, tão diferentes"", relembra.


Expulso da UnB


Em 1962, o pai, Paulo Ramos Coelho, elegeu-se senador e a família mudou-se para Brasília, onde acabou se estabelecendo, mesmo após a morte do patriarca, num acidente de carro. Foi na capital federal que Fona optou por estudar Sociologia, na UnB (Universidade de Brasília). Fez o curso por três anos e, talvez, o Jornalismo tivesse perdido esse profissional se um amigo não o convidasse para substituí-lo no Jornal de Brasília, durante suas férias. "Quando entrei numa redação, me apaixonei. Mudei de profissão, fiz vestibular para Comunicação e passei. Sempre gostei de ler, meu pai comprava todos os jornais e eu me interessava, mas nunca pensara em ser jornalista até então", conta. Embora tenha aproveitado 80% dos créditos da primeira faculdade, Paulo demorou um tanto para se formar, porque foi expulso da UnB, em 1977, devido à sua participação no movimento estudantil pela redemocratização. As oito matérias restantes, ele só pôde concluir após a anistia, em 1988.


A expulsão não o impediu de conquistar seu lugar no mercado de trabalho nem o intimidou de continuar a atuação em movimentos sociais. Dentre os veículos pelos quais passou, estão as revistas Visão, IstoÉ - onde permaneceu por cerca de sete anos -, Brasil e Comércio Exterior - ambas do Itamaraty, das quais foi editor - e os jornais Opinião, Última Hora, Diário do Comércio e Indústria, O Globo, O Estado de S. Paulo - como coordenador de Geral - Jornal do Brasil - em três passagens, na coordenação de Geral, de Economia e de Política e como chefe de Redação - e Correio Braziliense. Atuou ainda como assessor de imprensa do ministro do Trabalho no Governo Itamar Franco, Walter Barelli. Foi quando teve o primeiro contato com a governadora, então ministra do Planejamento, Yeda Crusius.


Tempos de militância


O trabalho no ministério não foi sua primeira experiência pessoal na política. Além do movimento estudantil, Fona sempre teve forte militância como sindicalista, tendo atuado na direção do Sindicato dos Jornalistas de Brasília por nove anos, do qual foi diretor, com apenas 23 anos de idade, e representante junto à Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas). Ainda participou da fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores), tanto no Distrito Federal como no país. "Fundei o PT também. Ninguém é perfeito", brinca.


Foi secretário de Comunicação da sigla, mas acabou deixando o partido depois que três deputados foram expulsos por votar a favor de Tancredo Neves para a Presidência da República. "Depois me filiei ao PDT, por dois anos, e nunca mais participei de partido. Até dois anos atrás, quando entrei no PSDB", conta. "Após 10 anos de militância ferrenha, de manhã, de tarde e de noite, resolvi dar um break. É muito cansativo", avalia.


Foi então que optou por se dedicar mais à carreira jornalística e passou por todos aqueles jornais. Profissionalmente, também atuou na direção nacional do PSDB e voltou a encontrar Yeda, que estava fundando o PSDB Mulher, para o qual a equipe de Fona deu ampla divulgação. Com a aproximação das eleições de 2002, o jornalista foi morar no Rio de Janeiro, para integrar a equipe de campanha de Anthony Garotinho. "Eu queria trabalhar em campanha presidencial, era uma coisa que eu nunca tinha feito, a experiência que faltava", revela. De volta a Brasília, foi convidado pelo então governador Joaquim Roriz para ser secretário de Comunicação e porta-voz, cargo que ocupa hoje no Governo do Rio Grande do Sul. "Lá, era um modelo um pouco diferente do daqui. Eu atuava mais como porta-voz, com a governadora Yeda não preciso assumir tanto esse papel, porque ela conversa, tem bom relacionamento com a imprensa", compara.


Ano novo, vida nova


Antes de assumir o desafio proposto pela governadora gaúcha, Fona candidatou-se a deputado federal, obtendo cerca de 7 mil votos. "Foi gratificante, porque era uma campanha sem recursos e concorria pela primeira vez. O partido não elegeu ninguém no Distrito Federal e eu fui o terceiro mais votado", conta. Além de estar sem trabalho, outro fator foi fundamental para que o jornalista aceitasse o convite de Yeda. Ele e sua esposa, a secretária Tânia, criavam o neto Raian, de oito anos, para ajudar a mãe do garoto. No fim do ano passado, ela resolveu se mudar para Fortaleza e levar o filho. "Ele quis ir - contra a minha vontade", queixa-se, "e nós ficamos sem impedimento. Era uma proposta boa, um desafio. E trabalhar com Yeda é gratificante, porque ela é uma pessoa da Comunicação, que atuou muito tempo na área, conhece bem os processos e dá a devida importância para a imprensa".


O Rio Grande do Sul não é uma novidade para Paulo, nem a imprensa local: "Conhecia muito como leitor". Isso porque ele costumava passar suas férias entre Porto Alegre e as praias de Atlântida, Capão da Canoa e Xangri-Lá, durante a adolescência, já que um de seus irmãos casara-se com uma gaúcha. "Agora, vejo os jornais como profissional, como as informações são tratadas. E posso dizer que é com muito profissionalismo. Isso é muito bom para o nosso trabalho, nós estamos aqui para facilitar o acesso dos jornalistas à informação, porque eles são o meio que a população tem para fazer chegar ao poder público as suas reclamações, seus pontos de vista", avalia.


Brasiliense colorado


Fona está casado pela terceira vez. Ele e Tânia estão juntos há seis anos e cada um tem três filhos. Os dele são Rama, Francisco e Tiago, e as dela, Marcela, Daniela e Gabriela. Tânia também tem um neto, Pedro, de sete anos, e seu pai também é gaúcho: "Pedro fala "bah" e é colorado", diz o avô, garantindo que também é torcedor do Internacional e até já foi ao Beira-Rio assistir a uma partida pela Libertadores. "Eu liguei para o Pedro e ele se impressionou: "Vô, tu tá no Beira-Rio!?"", diverte-se. "A governadora [Yeda é gremista] fica chateada, diz que eu tô inventando coisa, mas é verdade. Já assistia aos treinos do Inter no Eucaliptos, quando era moleque", garante. Torcer para times de outros estados é comum em Brasília, onde o futebol profissional ainda é muito recente.


Além de acompanhar a trajetória do Glorioso, Fona tinha o "vício" de jogar playstation com os netos. O videogame veio para a Capital, mas o avô evita jogar sozinho: "Dá muita saudade", confessa. Também jogava futebol, mas acabou abandonando por causa do trabalho - o celular está ligado 24 horas por dia - e admite que sente falta do esporte. Morando próximo à Praça da Encol, tenta seguir o ritmo da esposa, que caminha todos os dias. "Ela caminha, eu me arrasto", diz. Outro hobby é assistir a filmes, loca até cinco DVDs para ver num final de semana: "Uma coisa que eu gostei aqui em Porto Alegre foi das locadoras de vídeo, que têm VHS e filmes antigos. Achei interessante, porque em Brasília as locadoras se desfazem do acervo", conta. Ainda não deu tempo de apresentar o litoral gaúcho a Tânia. "Dizem que eu sou meio workaholic", conta, como se duvidasse.

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