Rafinha Bastos : Ame-o ou deixe-o

Jornalista, ator e humorista. Rafinha Bastos gosta mesmo é de unir piadas e comunicação

Por Márcia Farias
Homem muito alto, um braço tatuado, um leve sotaque paulista e um sorriso fácil. Assim podem ser descritas as primeiras impressões sobre Rafael Bastos Hocsman, ou melhor, Rafinha Bastos. Formado em Jornalismo, na turma de 1998 da Famecos, ele ficou conhecido pela atuação no programa Custe o que Custar (CQC), do Grupo Bandeirantes, visibilidade que aumentou após diversas declarações polêmicas, que, justifica ele, teriam sido apenas piadas. Hoje, Rafinha atua como produtor executivo do programa Saturday Night Live, na Rede TV, e trabalha em uma série de ficção, do canal fechado FOX. "Ainda tenho uns quatro projetos, estou sempre inventando algo, envolvido com as minhas atividades", conta, revelando que sua rotina é basicamente 24 horas de trabalho.
Com 35 anos, 15 de carreira, Rafinha sabe que ainda tem muito para assimilar e admite suas limitações. Identifica, por exemplo, uma dificuldade em reconhecer onde cada piada pode ser usada: "Ainda preciso aprender a separar o humor que faço nos diferentes veículos. Confesso que ainda não tenho esse discernimento". A carreira, claro, lhe trouxe bons ensinamentos.
Entre eles está a possibilidade de unir humor e comunicação, pois acredita que ambos são ferramentas muito vivas. "O humor distorce a história real, sim, mas qualquer forma diferente de contá-la é válida. Aliás, humor é muito mais do que uma piada. Ele permite uma aproximação mais humana com o público", defende, para em seguida reconhecer que sempre teve um tipo de sarcasmo, um humor mais pesado, mas que não pode ficar exagerando na cautela em relação a tudo o que fala, pois deixaria de ser humorista.
O que poucos sabem
Aquele Rafinha Bastos da TV, da internet, das palestras e dos shows de comédia todo mundo conhece, mas têm aspectos de sua vida que poucos sabem - e que ele evita falar. "Jura que a minha vida pessoal interessa para alguém?", espanta-se. Nascido em 5 de dezembro de 1976, foi para São Paulo em 2002, deixando em Porto Alegre os pais e uma irmã. Ele não revela os nomes, e por mais que reconheça o cuidado como uma frescura, prefere evitar o que considera que seria uma exposição para eles. "Meu pai é médico, minha mãe dona de casa e minha irmã é professora de Ioga e trabalha com terapias alternativas", limita-se a contar. Apesar de vir pouco para a capital gaúcha - uma média de duas ou três vezes por ano -, a maior lembrança de infância é jogar futebol na rua Gonçalves Dias.
Colorado desde criança, confessa que anda afastado do time do coração, e se diz "daqueles torcedores que acompanham mais nas retas finais das disputas". Desde muito jovem, Rafinha é um apaixonado por esportes e, aliás, foi no basquete que sentiu a maior emoção de sua vida. Praticava a modalidade a tal ponto que, após formar-se na faculdade, passou uma temporada nos Estados Unidos, dedicando-se ao basquete. De volta ao Brasil, em 2001, foi campeão estadual pela Sogipa. E a sensação da vitória ele explica: "Ganhamos do Corinthians de Santa Cruz, que era o favorito, na casa deles. Emoção como esta não existe. Nenhuma realização profissional vai trazer aquela euforia de volta, nunca".
Casado há oito anos com uma enfermeira, Rafinha tem um filho, e também procura preservar seus nomes. É ao lado deles que gosta de ficar nos poucos momentos de folga. Ir para academia também está entre as atividades preferidas, mas se tem uma que mais lhe atrai, essa tem a ver com a sua cama. "Minha arte preferida é dormir. As três atividades que mais gosto: dormir, descansar e tirar uma soneca", conta, em tom de brincadeira. Outra intimidade revelada é o fato de ter manias: não bebe nada que tenha canudo azul e não come balas de goma que não sejam da cor verde. Por quê? Não sabe, apenas acostumou-se com elas.
O que poucos sabem (parte 2)
Gastronomia, religião, literatura, cinema e música são assuntos também pouco comentados por Rafinha, que gosta mesmo é de falar da profissão. Para começar, à pergunta sobre comida preferida ele responde "as loiras", mas rapidamente garante que está brincando, já que a esposa é morena. Logo, conta que, como um bom gaúcho, gosta muito de churrasco, mas come pouquíssimo. E nada tem a ver com o folclore de que paulista não saberia fazer a iguaria gaúcha. "Isso é uma bobagem. O churrasco é o mesmo, sim." O que, na verdade, o faz evitar é por conta do mal que pode fazer ao seu colesterol.
Considera-se judeu, por ser a religião do pai, mas não é praticante. Vai pouco à sinagoga e diz que não pode ser chamado de seguidor. Para ler, quase nada. "Não é meu forte", confessa. Apesar disso, conta que leu seis vezes o livro 'Terror na Festa', da coleção infantil Vagalume. Quando estudava no colégio Nossa Senhora de Lourdes, ele apresentava, aos finais de ano, uma peça teatral diferente, mas sempre baseada na obra. As músicas favoritas passam pelas bregas americanas e pelo Hip Hop. Para ver na TV, como era de se esperar, ele gosta de comédia, mas engana-se quem pensa em pastelão ou as que fazem pensar. Rafinha prefere comédia romântica, daquelas bem água com açúcar. "É um enorme campo de inspirações. Esse tipo de filme é muito bem costurado, bem feito", explica.
Entre a piada e a comunicação
Quem conhece Rafinha da televisão, fazendo comédia, nem sempre imagina que já exerceu apenas o Jornalismo. Enquanto estudante, atuou na extinta TV Manchete e na TVE. Depois da temporada no exterior, voltou para Porto Alegre e integrou a primeira equipe de trabalho do ClicRBS, em 2001 - um ano depois, passou para a RBS TV. Foi lá que decidiu mudar os rumos e ir para São Paulo. "Cansei de ouvir 'você não pode aparecer mais do que a reportagem'. Comecei a fazer comédia na internet, pois era onde eu tinha mais liberdade, já que nos veículos não havia espaço para brincar", conta.
Foi na capital paulista que surgiu a chance de juntar o que sempre quis: a comunicação com humor. Após participar, por três anos, de uma série de ficção no GNT chamada Mothern, recebeu o convite para um projeto inovador. Resultado: foi o primeiro contratado do programa Custe o que Custar (CQC), da Band, onde permaneceu até 2011. Neste período, mais uma oportunidade, a de trabalhar no programa A Liga, onde, segundo ele, poderia exercer o Jornalismo mais puro. "A Liga era a chance de vivenciar a vida do outro para poder contar algo de forma mais legítima. Sinto mais saudade de lá do que do CQC", revela.
O desligamento da Band foi bastante alardeado pela imprensa por conta de uma piada que Rafinha fez com a cantora Wanessa Camargo (ele disse que comeria ela e o seu bebê - Wanessa estava grávida na época). Mesmo discordando de tamanha repercussão, entende que a saída da emissora aconteceria em algum momento, pois "uma situação idiota" foi a gota d'água de uma série de coisas que aconteceram. "Ao contrário do que a imprensa diz, eu não sofri com isso, só queria dormir tranquilo. Foi uma decisão difícil pedir demissão, mas não me arrependo. A brincadeira toda não tinha mais sentido pra mim."
Pela democracia
Rafinha é o tipo de pessoa que atrai controvérsias. Entre seus seguidores têm aqueles que adoram o que ele faz ou fala, mas têm os que detestam qualquer manifestação sua. Nenhum dos extremos o incomoda, pois acredita que não nasceu para ser unanimidade. Apesar de reconhecer sua popularidade, entende que não é nenhum ator de novela, além de defender que, junto com a visibilidade, surgem os problemas, mas garante que vê tudo isso de forma natural e positiva. Goste-se ou não, uma coisa é certa: Rafinha é um cara extremamente convicto do que pensa e categórico quando se expressa. Para ele, é difícil ter meio-termo. "O elogio me faz feliz, mas não me envaidece, assim como a crítica não me ofende. Cada um tem o seu limite e não sou eu quem tem que controlar isso", simplifica.
Envolvido em diversas situações que geraram prós e contras, Rafinha enfrenta alguns processos judiciais. Em vez de discordar deles, diz que os vê como consequência de frases que foram descontextualizadas e como uma evolução da comunicação. Defensor da democracia, entende que qualquer cidadão pode protestar da forma que achar melhor. "Protestos significam que a minha comunicação chegou, mesmo que não seja positivo pra mim."
Mesmo com tudo isso, ele não se considera um homem polêmico, pois diz que isto não vem do artista que emite a informação. Para ele, a polêmica fica por conta das pessoas que repercutem o que foi dito. "Eu não tenho controle do que é polêmica, ou do que vai virar uma. Por isso que ser polêmico não é uma opção, a opção é ser honesto", diz, acrescentando que "vivemos em uma sociedade hipócrita", onde falar o que pensa nem sempre é fácil.
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