Raul Moreau: Mix de profissional

Com quase 50 anos de profissão, o publicitário, jornalista e poeta revela algumas, de tantas histórias vividas

Raul Moreau - Reprodução

A porta do elevador se abre no mesmo instante que está saindo do apartamento 703, em um prédio no centro de Porto Alegre, um homem de cabelos grisalhos e riso espontâneo. É com a mão estendida para o cumprimento que o publicitário Raul Moreau Neto diz: "Só vou à padaria comprar pão e já volto. Você toma café conosco, né?".

Enquanto ele não retorna, a esposa Maria Elizabeth (Beth), o filho mais novo do casal, Wagner, de 18 anos, e três gatos, vão mostrando um pouco da rotina da família. Na sala grande, uma mesa de jantar com seis cadeiras, uma estante com diversos livros, quadros na parede, poltronas, dois sofás e alguns objetos de decoração com figuras de felinos completam o cenário.

Moreau chega e pede para conversar em seu escritório. O cômodo conta com um computador e alguns prêmios e livros expostos em prateleiras, desvendando um pouco da história profissional deste publicitário, jornalista, cronista e poeta.

E atenção, ouvintes

Ele nasceu em 12 de novembro de 1943, em Estância Velha, na época distrito de São Leopoldo, e criou-se estudando em internatos. Quando voltava para casa, aos finais de semana, matava a saudade dos pais Ciro Gonçalves Moreau e Zenir Barros Moreau, e de seu primeiro cachorro, que morreu atropelado. Não gostava muito de gatos e, segundo ele, era apaixonado por cachorros. "Mas, tinham que ser dos grandes", explica.

Começou a trabalhar ainda menino. Com 12 anos já era office boy de uma empresa chamada Sidnei Rossi, e com 13 atuava na área financeira do Banco Agrícola Mercantil, no qual assumiu, ao completar 18 anos, a função de caixa. Impulsionado pela admiração e curiosidade que tinha pelo rádio, em setembro de 1962 teve a iniciativa de ir até a Rádio Gaúcha pedir emprego para o então coordenador da equipe esportiva na época, Ari Medeiros dos Santos, o Chinês. Conquistando uma vaga, foi auxiliar do escuta do plantão, e, em paralelo, trabalhava no banco durante o dia. À noite ia direto para a Gaúcha, ficando até o fim do Programa Plantão Esportivo DKW-Vemag, onde passava as informações para Tomaz Neto, o escuta titular, que encaminhava para o plantão de estúdio, Danilo D'avila.

Sua primeira experiência como radialista aconteceu quando um dos locutores simplesmente abandonou a rádio sem avisar ninguém. "Naquela oportunidade o Ari pediu para que eu fizesse a leitura do programa, fiz e a partir disto só fui em frente", conta. As primeiras palavras que disse ao microfone foram: "E atenção, ouvintes, a Gaúcha vai falar em esportes".

Em 1964, foi convidado a trabalhar na empresa americana White Martins, acabou deixando o banco e a rádio. Dois anos depois, Ari dos Santos fez uma proposta para que retornasse à Gaúcha, para trabalhar na produção da Copa do Mundo da Inglaterra. "Ele sugeriu que a cozinha ficasse comigo, pois confiava e gostava do meu trabalho, então aceitei o convite." Além desta cobertura, o jornalista ainda fez a produção das Copas do Mundo de 1978 e de 1982. Na Rádio Gaúcha, desempenhou, ainda, as funções de redator de programas esportivos, plantão esportivo, locutor, comentarista e apresentador de programas entre os quais o Gente Nossa, em que lançava novos valores musicais.

Moreau participou dos programas Revista Esportiva 12 e Domingo Esportivo, da antiga TV Gaúcha, entre 1966 e 1967. Foi também diretor e realizador de 'A mais Bela Voz do Rio Grande', programa com uma hora de duração apresentado por Cândido Norberto e Leonor de Souza, e do Cidade Frente a Frente. Pediu demissão em 1969, após um desentendimento sobre patrocínio do programa. "Fiquei sem o emprego na rádio, e com meu filho para nascer, mas como sempre desenvolvia atividades paralelas, era redator da Prisma Publicidade, também", lembra.

Permaneceu na agência até 1970, quando foi trabalhar como relações-públicas na Mercur Publicidade. Quinze meses depois, foi convidado por Luiz Pauletti para dirigir o Jornal Especial, que circulava encartado nos jornais do interior, com tiragem de 103 mil exemplares. "Em novembro de 1971, minha mulher na época recebeu um buquê de flores, com um cartão escrito assim: "Estamos namorando seu marido. Pedimos sua licença para almoçarmos com ele hoje". Era a agência MPM me contatando para trabalhar com eles. No final daquela semana me desliguei dos jornais e fui trabalhar como assessor de diretoria".

Como primeira tarefa, foi viajar na manhã seguinte, para visitar um cliente do Interior, que a agência estava dispensando. "Quando cheguei lá interrompi a reunião dizendo que, como era meu primeiro dia no trabalho, estava com diarreia. Fui até um telefone público e liguei para a MPM, perguntando se podia segurar o cliente, e fui autorizado. Quando voltei da viagem, criei um novo departamento na agência que acabou sendo o segundo em faturamento da empresa". Em 1975, Moreau foi eleito presidente da Associação Riograndense de Propaganda (ARP) e saiu da MPM.

O episódio de sua saída ganhou repercussão no mercado, pois muitos acreditavam que o profissional abriria uma empresa própria com clientes que eram da MPM. "Houve uma torcida pró e contra para minha saída da agência. Muitos chegaram a apostar que eu estava me desligando para 'roubar' clientes da empresa. Saí, porque na época eu entendi que estava na hora de montar o meu próprio negócio, não roubei nenhum cliente da MPM", ressalta.

A Raul Moreau Propaganda ganhou espaço com a conquista de clientes, muitos dos quais não tinham agência. A empresa permaneceu em atividade por 19 anos, de 1971 a 1994. É com orgulho que abre uma pasta com algumas fotos e recortes de jornal, e começa a ler um anúncio da época. "Raul Moreau Propaganda confessa que nos últimos quatro anos perdeu duas contas muito importantes. A conta de quantas campanhas já fez, e a conta de quantos resultados positivos conseguiu com ela. Depois desta não perdeu mais nenhuma."

Jornalista e poeta

Além de dirigir a agência, Moreau ingressou na Rádio Guaíba, em 1982, para apresentar o programa esportivo 'Manhã de Domingo', no qual recebeu o primeiro prêmio no Concurso de Doação de Órgão. "Recebíamos uma média de 4.200 ligações telefônicas por domingo, e isto era fantástico", revela. Moreau apresentou, ainda, o 'Preliminar', o 'Plantão Esportivo' e foi locutor até 1990. Deixou a Guaíba para ingressar na Rádio Pampa AM, como diretor de Marketing e apresentador do programa Raul Moreau, que ficou no ar por sete anos, de 1990 até 1997, e recebeu o primeiro prêmio no Concurso da Brigada Militar - Operação Golfinho.

Um momento marcante de seus tempos de rádio, segundo ele, foi quando entrevistou Mario Quintana. "Foi uma das últimas entrevistas da vida dele", revela. O poeta fez uma dedicatória, na primeira página de um livro, que ficou eternizada, e o inspirou a escrever uma crônica em forma de poesia, em homenagem a Mario Quintana. A dedicatória que desperta seu orgulho e admiração dizia assim: "Ao Raul Moreau, uma lembrança do seu cúmplice em poesia".

Com cinco livros editados, Moreau ainda traz na bagagem a apresentação de programas na TV Pampa, em 1997, em canais da Net, e uma música gravada em italiano, chamada 'Extreme', além da composição da música 'Sanga, pitanga e sabiá', interpretada por Décio Tavares.

Atualmente, apresenta o programa 'Portal Capital', exibido de segunda a sexta-feira, às 19h na POA TV - Canal 6 da Net. Também escreve no Portal Mix, página semanal de crônicas e noticiário geral, com dicas de saúde e qualidade de vida e história do Rio Grande do Sul e do Brasil. A página circula há oito anos em 18 jornais de 13 regiões do interior do Estado, o que significa uma tiragem semanal de 46 mil exemplares.

Esporte Clube Esperança

Pai de sete filhos, seis homens e uma mulher, o avô de Rafael, 22, destaca que gosta de fazer tudo o que um casal faz e mais um pouco. "Minha rotina é quatro saídas por mês à noite. Vou ao cinema, a algum lugar para dançar e ouvir música, e a um motel", confessa. Casado há 22 anos com Beth, deixa claro que o fato de ir uma noite por mês ao motel não se resume a sua vida sexual. "Sou apaixonado pela minha mulher e escrevi o livro 'Canção da Esperança' dedicado a ela", derrete-se em elogios.

Ele se considera eclético e destaca que é um "homem musical por excelência". "Já ouviu o hino do Grêmio tocado com os dentes?", pergunta. Brincalhão, o agora 'cantor' mostra como canta o hino do clube desta forma. Moreau destaca também que gosta de fazer poesias, mas seu gosto especial é pelas crônicas que escreve. "A inspiração vem de assuntos pontuais que estão acontecendo e são transformados, na maior parte das vezes, em críticas e desafios ao governo atual", revela.

Como ensinamento, Moreu diz que repassa o que aprendeu com uma frase de Mario Quintana, no término do programa na Rádio Guaíba. "Não se deve perder a esperança, pois nunca se viu, no bolso de um suicida, um bilhete de loteria que iria correr no dia seguinte", disse o poeta na ocasião. E completa: "Por isto eu sou o presidente do Esporte Clube Esperança. Nunca perco a fé e acredito que a vida é para ser vivida".

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