Reinaldo Gilli: A mesma fé

A formação é em Administração, mas o Jornalismo está na essência, por isso garante que estar presidente da Record é resultado de sua competência

Ele é nascido em Bauru, no interior de São Paulo, e criado na capital paulista, mas se considera gaúcho, "porque ser gaúcho é estado de espírito". É assim que o presidente do Grupo Record no Rio Grande do Sul, Reinaldo Gilli, define-se. Há três anos, desembarcou no Estado para comandar a empresa ao lado da esposa, a pedagoga Rosângela, e, atualmente, soma 26 anos de atuação na organização. A mudança não foi tão impactante, visto que já havia passado por aqui em 2007, quando foi um dos executivos que participaram da negociação e montagem da TV Record gaúcha.

Dentre os princípios que defende está o dos bons exemplos, que, para ele, devem sempre ser seguidos. "Sou um ser humano falho como qualquer outro, entretanto, procuro ser um exemplo para a minha família e para os colaboradores da empresa", ressalta, ao falar sobre suas atitudes e crenças que são da mesma linha da organização na qual atua.

Não relaciona sua religião ao fato de comandar o grupo e afirma que quando se converteu para a igreja evangélica, aos 17 anos, ainda não vislumbrava o futuro profissional no qual está inserido. Aliás, o Grupo Record foi adquirido pelo bispo Edir Macedo seis anos depois, e Gilli ingressou na empresa em 1991. Considera, inclusive, estar presidente da sucursal gaúcha um reconhecimento de sua formação, dedicação e experiência. Graduado em Administração pela Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid), o executivo tem, ainda, Registro Profissional de jornalista e radialista conferido pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT).

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Gilli foi o primeiro membro da família a deixar o catolicismo para se tornar evangélico. Foi seguido da mãe e dos demais familiares. A companheira e os três filhos também compartilham da mesma fé, escolha que o executivo diz ter sido natural. "Eu me converti quando tinha idade suficiente para decidir qual religião seguir, assim como meus filhos. Acredito que a preferência deles seja reflexo dos meus exemplos", avalia, ao retomar o assunto.

Embora seu livro de cabeceira, como não poderia deixar de ser, seja a Bíblia, não se considera um religioso fanático, pois consegue separar a fé do trabalho. "Essas coisas não podem se misturar nem interferir uma na outra. A fé tem que ser usada com inteligência." Sobre os seus comandados, aproveita para deixar claro que tampouco importa a religião que seguem: "Aqui não é uma igreja, é um local de trabalho. Terminando o expediente e nos dias de folga, cada um professa a fé da maneira como deseja".

Por todos os cantos

Curiosamente, a história sobre sua trajetória foi contada praticamente toda na primeira pessoa do plural, embora estivesse falando o tempo todo dele mesmo. "Durante um ano e meio, trabalhamos na TV Goiás e na rádio Riviera, também do grupo. Depois, passamos pelo Rio de Janeiro, por quatro ou cinco meses, na Engenharia Civil da empresa e começamos um trabalho na área de comunicação, gerenciando a organização em Minas Gerais", relata, ao explicar que, no estado mineiro, coordenava três veículos, assim como aqui, em solo gaúcho.

Antes de assumir na Record, trabalhou como gerente de um supermercado em São Paulo. Prestes a completar 51 anos de idade, já projeta entrar com o processo de aposentadoria, pois completará 38 anos de contribuição, visto que tem carteira assinada desde os 13. Entretanto, não quer parar. "Jovem assim ainda não dá, não é?", brinca, ao mesmo tempo em que diz acreditar que adoecerá quando deixar de trabalhar. Até já poderia estar aposentado, se pudesse comprovar que, desde os 10 anos vendia limão na feira.

Trabalhar e estudar é sua principal lembrança da infância difícil que diz ter vivido. Mas também traz memórias boas, como as férias de Verão quando, aos sábados, nadava na piscina do clube que frequentava em São Paulo. Andar de bicicleta também fazia parte das brincadeiras da adolescência e recorda ter participado de inúmeros passeis ciclísticos. Atividades que abandonou na vida adulta e confessa: "Como sou muito dedicado ao trabalho, acabo não priorizando outras coisas que também são importantes. Mas está nos planos", assegura.

Hoje, pratica caminhada de três a quatro vezes por semana com a cachorrinha Nina, que adotou assim que chegou em Porto Alegre. "É a nossa gauchinha." A mascote substitui os netos que ainda não chegaram. Ela também faz as vezes de filha, já que Reinaldo, de 28 anos, Talita, de 30, e Thaís, de 33, vivem, cada um, em uma cidade diferente. A primogênita é engenheira de software em Blumenau, em Santa Catarina, enquanto o caçula vive no Chile, onde é conferencista. A do meio é a única que seguiu na Comunicação. Ela mora em São Paulo e atua como publicitária.

Tecnologia como paixão

Pesquisar a respeito de tecnologia é seu principal hobby. Passa horas entretido com textos, artigos e reportagens que abordam o assunto que considera fascinante. "Se me perguntarem sobre futebol, não sei absolutamente nada, mas se falarem sobre a nova plataforma da Apple, aí sim eu me interesso", declara o torcedor nada devoto do Corinthians. É tão distante do esporte que nem se deu ao trabalho de escolher um time gaúcho para acompanhar.

A paixão pelas tendências tecnológicas se aplicou na prática quando, em 2004, foi convocado para voltar ao estado de origem e assumir a operação de Engenharia em São Paulo. Nessa época, participou da transição do sistema analógico para o digital e foi diretamente responsável pela migração dos equipamentos na cabeça de rede, onde atuou por seis anos e meio. Também participou da implantação da Record News e da montagem do portal R7.

Nos momentos de lazer gosta de assistir a filmes e séries, desde que estes retratem fatos e histórias reais. Dentre as últimas produções que acompanhou estão O Dia do Atentado (Patriots Day), que reconta o atentado á Maratona de Boston, nos Estados Unidos, e A Promessa (The Promise), sobre o genocídio dos turcos contra os armênios. De séries, destaca Underground, que aborda o período da escravatura nos Estados Unidos. E confessa: "Alguns blockbusters também são importantes. Quem não gosta?".

Um legado e um assado

Na cozinha, sua especialidade é o tradicional churrasco e assegura que não é só porque mora no Rio Grande do Sul. Aprecia a carne no espeto desde que se entende por gente e de tanto gostar, aprendeu a assar como ninguém, tanto que foi eleito o assador oficial da turma de amigos. "Me identifico mesmo com uma boa carne, um espeto, uma boa faca, uma churrasqueira e carvão." Vinho também tem espaço na mesa de Gilli, que diz que o gosto pela bebida também não tem relação com a mudança para o Estado. "Trago esse hábito de alguns anos", explica o filho de Jurandir e Adélia, ambos falecidos.

Quando tem um tempo entre uma tarefa e outra e, principalmente, quando está dirigindo, gosta de ouvir músicas da década de 80 para relembrar a adolescência. Na lista estão nomes como os de Diana Ross e Lionel Richie (na época de The Commodores), além do brasileiro Tim Maia. "Ele foi um grande cantor que, lastimavelmente, foi-se de forma prematura", lamenta.

Acredita que seu legado já esteja em construção e deseja deixá-lo marcado desde agora. "Determinação por fazer algo bem feito é o que tenho procurado deixar não somente para o futuro, mas já no presente." Defende que as pessoas devem acreditar naquilo que fazem e perseguirem seus objetivos, pois o resultado sempre aparece. "Foi assim comigo. Lutei pelo que acreditei e sempre venci em todos os aspectos da minha vida", alega.

E o exemplo? Este sempre volta para a conversa, de forma a ratificar suas atitudes e maneira de pensar. "Como posso amar a um Deus que não vejo, e não amar as pessoas que estão aqui, ao meu lado? Esse respeito que eu procuro ter por aqueles que me cercam, independentemente de quem seja. Respeitar seu chefe é fácil, pois é sua obrigação. Agora, respeitar os mais humildes é questão de índole", reafirma, antes de finalizar com um sonoro "Bah, tchê!".

Comentários