Ricardo Vidarte: Multijornalismo e independência

Jornalista esportivo e apaixonado por rádio, Ricardo Vidarte é um profissional que transpira a sua profissão

Acomodação é uma palavra que não faz parte do vocabulário de Ricardo Tochtrop Vidarte, jornalista, radialista e um verdadeiro apaixonado pela notícia e pelo esporte. Aos 54 anos - deles, mais de 30 no jornalismo - Vidarte pode dizer que sua experiência no rádio vem desde criança, quando narrava os jogos de futebol de botão com seu primo, Luís Antônio. Profissionalmente, a trajetória vai de campeonatos gaúchos de futebol a Copas do Mundo e, no currículo, entrevistas com Pelé e Maradona, os maiores da história.

Ricardo Vidarte

Filho do fotojornalista Saturnino, ou Nito, Vidarte com a professora e dona de casa Terezinha Vidarte, Ricardo tem o jornalismo nas raízes de sua família. Além do pai, que perdeu aos nove anos, seu tio Santos Vidarte também foi fotógrafo. Nascido em Porto Alegre, com a morte do pai, acabou se aproximando do tio, que, antes de ir para o trabalho, na antiga Caldas Júnior, deixava o ainda menino Ricardo no Colégio Rosário. No caminho da escola, ouviam rádio, hábito que despertou o interesse de Vidarte. A paixão aumentou e virou uma brincadeira de criança. Junto com Luís Antônio, inventou uma pequena emissora de rádio usando um gravador antigo do avô, Leonardo Tochtrop.

Grandes entrevistas

O antigo prédio da Caldas Júnior, local de trabalho do tio, anos depois virou a segunda casa de Vidarte, que em 1989 foi trabalhar na Rádio Guaíba. Na emissora, teve a oportunidade de cobrir sua primeira Copa do Mundo de Futebol, em 1990, onde viu a eliminação do Brasil pela Argentina, por 1×0, gol de Caniggia com jogada de Diego Maradona. Ao final do jogo, Vidarte teve a honra de entrevistar os dois carrascos brasileiros. Das entrevistas coletivas da época, o jornalista sente falta. "As coletivas eram bem menores do que as de hoje. A gente tinha o contato, o cara conseguia te ver", lembra.

Foi na Copa de 1998 que Vidarte teve sua maior conquista: conversou com o ex-craque brasileiro Pelé, que participava das transmissões da TV Globo. A entrevista exclusiva aconteceu no dia da eliminação do Brasil, no jogo contra a França. "A segurança não queria que nenhum repórter de rádio entrasse no espaço da televisão. Eu fiquei ali, praticamente sem ver o jogo, porque eu queria o Pelé, era a minha meta daquele dia", conta. O ex-jogador Falcão, que também estava na cabine da Globo e conhecia o jornalista do tempo que atuou no Rio Grande do Sul, ajudou no contato. "Fala gaúcho, o que é?", perguntou Pelé ao repórter no intervalo da transmissão.

Além do jornalismo

Apesar da paixão pelo rádio e das referências familiares no jornalismo, a carreira não foi a primeira opção de Vidarte. Ao sair do colégio, cursou Administração de Empresas na PUC, onde se formou. Passou em um concurso público e se tornou servidor do Estado, cargo que lhe garantia certa estabilidade financeira para ajudar nas contas da casa, junto com a mãe e a irmã. Mesmo com a carreira longe do jornalismo, Vidarte já havia feito alguns trabalhos no rádio que, em 1988, lhe renderam uma oportunidade na Rádio Gaúcha. Foi nessa época que tomou uma difícil decisão: largar a certeza do serviço público para cursar jornalismo na Faculdade de Comunicação Social da PUC, Famecos.

Passou pelas rádios Sucesso, Gazeta de Carazinho, Gaúcha, Guaíba, Pampa e hoje faz parte da Rádio Grenal, dedicada exclusivamente ao futebol. Vidarte participou de um projeto da emissora Pampa, entre 1999 e 2007, muito similar à atual Rd Grenal. "Um embrião da Rádio Grenal foi a Rádio Pampa. Nós falávamos praticamente só de futebol, com exceção de um horário na madrugada". Atualmente, a Pampa tem uma programação dedicada a diversas editorias. Além dos microfones, o jornalista também comanda diariamente o SBT Esporte, ao lado de Débora de Oliveira, no canal de televisão aberta. Com o SBT, possui uma sociedade, envolvendo sua empresa - a Vidarte Publicidade. Assim, repartem os lucros do programa, elaborado por ele através da agência.

O exemplo para montar uma empresa própria veio de Pedro Ernesto Denardin, seu padrinho no jornalismo. Segundo Vidarte, Pedro Ernesto sempre foi um homem preocupado com a publicidade e investia em novos negócios. Os dois se conheceram quando Ricardo ainda trabalhava no serviço público, com Luiz Carlos Pereira Silveira Martins, mais conhecido como Cacalo, que lhe apresentou ao radialista. "Ele (Pedro Ernesto) gostou da minha narração e me levou para a rádio." Na época, sua primeira oportunidade foi na Sucesso, uma cooperativa que tinha, além de Pedro Ernesto, Wianey Carlet, Cacalo e Sérgio Boaz. Hoje, acredita que não é possível o profissional da área ter um bom equilíbrio financeiro sem procurar alternativas. "Não vejo como o jornalista pode ter uma vida melhor se a gente não tiver uma participação na publicidade. Os salários são aquém do que os jornalistas merecem", opina.

Paixão pela notícia

Para Vidarte, a reportagem sempre foi a sua maior função. Considera-se um "transpirador", com vontade de buscar a novidade. "Se eu levasse um furo, eu não me preocupava em levar um furo, mas em dar um passo à frente", conta. Como repórter, sempre checa a informação e desconfia do que lhe é dito.  Apesar de não se achar um profissional ótimo em uma função, acredita que exerce bem o necessário. "Eu não narrava nota dez, eu não era repórter nota dez, mas eu era seis, sete, eu fazia tudo com uma boa qualidade", brinca. A característica lhe rendeu boas oportunidades dentro dos veículos pelos quais passou. "Eu era um cara multimídia, então eu era muito escalado pelo mundo porque tínhamos, por exemplo, o Grêmio na Copa Libertadores. A gente tinha que ir uma semana antes para alimentar os nossos ouvintes, não tinha esse negócio de pegar informações na internet."

Luz própria

Hoje, se sente realizado com a sua carreira. Além do trabalho no SBT e na Rádio Grenal, também alimenta um blog sobre esportes - experiência que começou a ter com a Final Sports, um site que faz transmissões de TV e rádio ao vivo. Para Vidarte, uma de suas maiores características é a autenticidade, ou a "luz própria", como classifica. Conta que sempre manteve suas opiniões, independentemente do veículo ou local de atuação. "Quanto maior é a potência da empresa que tu presta serviço como jornalista, menos autonomia tu vai ter de expressão. Penso que o jornalista tem que ser ele próprio. Agora, que eu estou na parte final da minha carreira, eu olho com muito orgulho para as decisões que eu tomei." O radialista ainda tem o desejo de voltar a narrar futebol, no rádio ou na TV, apesar de, atualmente, ter a liberdade de fazer os seus horários de trabalho, facilidade que não acompanha a narração.

Sobre uma das maiores polêmicas do jornalismo esportivo, Vidarte é categórico: afirma que todos os profissionais da área no Rio Grande do Sul possuem um time do coração, Grêmio, ou Internacional - inclusive ele. Entretanto, acha que isso não influencia no trabalho. "Eu tenho time sim. As pessoas, em sua maioria, acham que tu tá condicionado, se tu é colorado ou gremista, a elogiar ou criticar. Eu discordo disso. Pra mim, um bom profissional separa bem a questão crítica da paixão. Eu trabalho pela melhor informação, se eu sou narrador, eu quero dar a emoção pra quem está me ouvindo. Tem que vibrar junto com aquele cara que tá te acompanhando", explica.

Pai dedicado e separado de seu casamento, o maior prazer de Vidarte longe do jornalismo é viajar com o único filho, Arthur, de 13 anos. Os dois foram ao Havaí ver a vitória do atleta Gabriel Medina no mundial de surf, em dezembro de 2014. Nos finais de semana, normalmente vai para uma propriedade que possui em Canela, ou para outras cidades da serra gaúcha. Na literatura, um de seus autores favoritos é o mineiro Ruy Castro, conhecido por escrever biografias, gênero preferido do radialista. "Eu gosto de ler biografias de pessoas que venceram, que fizeram uma história, como o Ayrton Senna ou grandes jogadores que eu acompanhei." Entre os filmes, o seu preferido é Um Estranho no Ninho, de Milos Forman, com Jack Nicholson como protagonista, mostrando que o gosto por trajetórias de superação está sempre presente nas escolhas de Ricardo Vidarte.

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