Roberto Veronezi Philomena: Talento literário

Sua entrada no mercado publicitário podia ter se dado com um portfólio recheado por poesias

Beto Philomena - Reprodução

Sua entrada no mercado publicitário podia ter se dado com um portfólio recheado por poesias. Essa era uma das experiências que ele vinha alimentando com mais força logo ao sair da Famecos/PUC, onde formou-se, em 1980. A veia literária continuou sendo um de seus talentos, confirmados por sucessivos prêmios alcançados nas agências em que trabalhou, e sacramentados pela conquista do Publicitário do Ano no 27º Salão da Propaganda, na última semana. Mas agora Roberto Veronezi Philomena, ou simplesmente Beto Philomena, como é conhecido por todos, garante que "a poesia fica por conta do meu sócio Luiz Coronel, enquanto me dedico diretamente à Criação".

Há pouco mais de um ano e meio, Philomena assumiu seu "lado empresário", abrindo a Agência Matriz em parceria com Alberto Freitas e Coronel. "Depois de ter passado por muitas agências, aceitei o convite pensando em estabelecer um trabalho a ser realizado dentro de um novo estilo e uma nova filosofia", argumenta ele. A carga de diretor, no entanto, não tirou a vontade de trabalho na área de criação, sua vocação desde o início da carreira. "Depois de formado cheguei a dar aula na Famecos até 1989. Ali fui um dos mais jovens paraninfos, e tive como alunos nomes como Ehr Ray e Eduardo Axelrud, entre outros", lembra. Nessa época, já havia passado pelas agências Standard e Símbolo, "meu primeiro emprego com carteira assinada".

Natural de Florianópolis/SC, comemora os seus 44 anos com uma trajetória invejável no mercado gaúcho. Diretor de Criação desde 1984, esteve ainda em grandes projetos da Escala, DPZ/RS, Módulo e Centro, sendo que nas duas últimas obteve a premiação como Agência do Ano em seu primeiro ano de atividades. Participou também da criação da Vangard, hoje extinta.

Lar e botão

Assumidamente avesso a participar de muitos eventos sociais, Beto Philomena procura limitá-los para dedicar mais tempo às rotinas domésticas. Mesmo gostando de cinema, arte em que destaca o inglês "Billy Elliot" e as novas obras cinematográficas iranianas e chinesas, como "O Caminho para Casa" (China) e "Filhos do Paraíso" (Irã), tornou-se dedicado adepto do DVD. "Sou caseiro e a qualidade nos permite ter bons filmes à disposição e com aquele tempo a mais para apreciar detalhes", avalia. Com esse espírito, Philomena demonstra ainda mais o seu gosto por ficar em casa e, diariamente, pedalar pelas ruas da Zona Sul, em companhia da mulher Ana Moura. "Adoro receber os amigos em casa para bater papo e jantar", confessa.

Bons restaurantes são uma das armadilhas em que Philomena cai sem vacilar quando o assunto é sair de casa. "Sou eclético na gastronomia, apreciando mais as massas com frutos do mar e, principalmente, um guisadinho com quiabo, que só a mamãe sabe fazer". Outra companhia que ajuda a tirá-lo do estressante pique do mercado é o já tradicional Campeonato de Futebol de Botão da Matriz. "Já estamos na quarta edição desse evento, que vem crescendo em número de adeptos e na qualidade de sua organização", sustenta.

Bicampeão da competição, Beto aproveita e não deixa o lado criativo passar em branco nesse hobby. "Além de produzirmos botões com distintivo do time, eu fiz até um hino para a minha equipe, com produção musical da Plug", comemora. Recentemente, recebeu um ilustre visitante do Conar (do qual é conselheiro há oito anos), Edinei Nardi, para uma tarde de bate-bola nas mesas oficiais instaladas na agência "usando as regras paulistas".

Mídia e Design

A publicidade está no sangue de Beto Philomena. Não só no aspecto criativo, mas na sua visão sobre o mercado, seus tropeços e perspectivas. Numa carreira em que destaca o que aprendeu com pessoas como Antônio Mafuz, Beto Callage, Roberto Lautert e Washington Olivetto ("a quem devemos citar sempre, na busca por mandar bons fluidos para que tudo saia bem no final"), o executivo da Matriz reconhece que muitas coisas estão sendo feitas de maneira incorreta. Por isso, não poupa os exageros em algumas ações de mídia externa, marketing direto e o telemarketing. "Alguns publicitários extrapolam no uso de certos procedimentos, até mesmo assustando o consumidor com suas idéias, suas tentativas de tornar-se quase um familiar desse futuro cliente da marca", analisa.

Para ele, existem outras mídias, como os pisos de calçada, os floordoor, que podem ser tão ou mais eficientes. Por isso, Beto Philomena considera a consolidação da marca um fator preponderante no mercado atual. Ele cita bons exemplos quando relembra algumas campanhas de sucesso, como a Semana do Cliente Manlec, dirigidas pelo então estreante Jorge Furtado. "Com recursos menores do que outras redes, mas com uma presença marcante, conseguimos resultados surpreendentes durante muitos anos dessa campanha".

Entre suas preferências atuais, está o trabalho "Apaixonados por carro como todo o brasileiro", feito para os Postos Ipiranga. Também cita a atuação de agências nacionais como a Almap, Talent e a Age, "que vem surpreendendo a todos pelo belo trabalho que tem realizado na área de Criação". Ele também ressalta a importância de o Brasil abrir os olhos e não se deixar subjugar pelos conceitos internacionais. "Precisamos criar um design nacional, aproveitando a criatividade e a exuberância brasileira, e usando cada vez melhor o potencial de nosso turismo para apresentar isso ao mundo inteiro", sentencia.

Sucesso e Ano Novo

Feliz não só pela conquista do Publicitário do Ano, Beto Philomena também comemora dois importantes GPs no Salão, nas áreas de TV e jornal, que "são os veículos de maior preferência dos gaúchos". Nesse momento, o diretor da Matriz não deixa de citar dois trabalhos que o emocionaram e que já rendem frutos neste e para o próximo ano: as campanhas "Anjos", para a Cia. Zaffari, e "Você é o que você lê", feita para a 47ª Feira do Livro de Porto Alegre. "Já estamos pensando em novidades para o próximo ano, usando esse conceito como uma base muito bem aceita por leitores e livreiros", salienta.

Para caminhar em direção ao sucesso, Beto Philomena acredita que o ideal é tentar fazer o que gosta na maior parte do tempo em que está acordado, "indo ao encontro das pessoas de quem gosto e não de contatos em eventos de exposição gratuita". Em vez de considerar-se um homem de sucesso, prefere admitir ser "alguém que conseguiu pequenas vitórias". E cita Bob Dylan para dizer o que mais gosta e o move: "Acordar de manhã e à noite ir dormir, fazendo o que verdadeiramente gosto nesse período".

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