Sergio Stock: Senso de observação

Jornalista, RP e radialista, Sergio Stock fala sobre as lembranças da trajetória na Comunicação, que já soma 30 anos

Sergio Stock - Reprodução

Dois semestres de graduação em Economia não afastaram Sergio Stock de sua real vocação. Jornalista, radialista e relações-públicas, foi na Comunicação que traçou a trajetória que perdura há três décadas, graças a seu perfil e à voz grave, que, ao longo de pelo menos 20 anos, comandou diferentes telejornais em emissoras do Estado. À primeira vista pode ser considerado um cara sério, ideia que aos poucos se desfaz, quando demonstra bom-humor ao recordar os motivos que o levaram a seguir por esse caminho. Confessa que não é 100% extrovertido, mas se ambienta relativamente fácil, característica que, unida ao gosto pela leitura, contribuiu na escolha pelo Jornalismo.

Aos 48 anos, apresentador do telejornal Band Cidade, da TV Band RS, dirige, paralelamente, a empresa própria, a Sergio Stock Comunicação Integrada, que trabalha com assessoria de comunicação, auditoria de imagem, produção de conteúdo e media training, entre outros serviços. O rádio e a TV sempre foram objeto da atenção de Stock. "Sempre tive um grande senso de observação. Acho que, por isso, mesmo que inconscientemente, acabei me transportando para esse mundo", reflete. A trajetória teve início em 1982, quando trocou o emprego de carteira assinada em uma empresa da então iniciante e promissora área de Informática, pela incerteza do rádio.

Foi nos estúdios da extinta Independente AM, do Grupo Emissoras Reunidas, em Caxias do Sul, que viveu as primeiras experiências no meio. A partir daí, explica, "as coisas foram ganhando um aspecto mais profissional". Teve passagens pela rádio Caxias, pela RBS TV - onde permaneceu por 17 anos - e pela Record. Graduado em Relações Públicas pela UCS, turma de 1989, e em Jornalismo pela PUC, em 1995, confia na formação acadêmica como um facilitador em seu desenvolvimento profissional. "Não acredito em trabalho sem estudo e em estudo sem trabalho."

Pessoas e atitudes

Com três décadas de estrada, compreende que todo o dia é recheado de desafios, o que é, para ele, o bacana da profissão. Por isso, procura manter-se sempre atualizado. "Profissional estagnado envelhece fácil", crê. No Jornalismo, existe um momento que é o que faz a profissão valer a pena. "É quando a gente ajuda a melhorar a vida das pessoas. Quando o teu trabalho contribui para a melhoria da situação na vida de alguém, seja com um emprego, tratamento médico, o que quer que seja", conta. Longe da utopia de mudar o mundo ou do risco de transformar o Jornalismo em filantropia, mas acredita na mudança social da atividade, seja ela relacionada a pessoas, a uma cidade, estado ou país.

Na trajetória, diz ter recebido muitas críticas, mas garante que sempre as compreendeu como um aprendizado. Quando se trata de elogios, guarda com carinho especial aqueles feitos por quem o assiste. "Tu ficas uns dias fora e recebe uma mensagem de uma pessoa dizendo que tu estavas fazendo falta. Isso é uma coisa que me emociona, me toca e me incentiva a continuar na luta", esclarece.

Os pais, os familiares e os amigos são referências para Sérgio e é nas atitudes que ele encontra a principal razão para admiração. "Pessoas com determinação e capacidade para mudar suas vidas quando algo não está bem é um perfil que admiro. Não importa se é o presidente dos Estados Unidos ou o Seu Zé da periferia, se tem PhD ou se apenas aprendeu a escrever o nome", explica.

Em família
Filho de Maria (falecida) e Almerindo Stock, guarda recordações da época vivida na cidade natal, Santa Maria. Brincadeiras nas poças d'água formadas pelas chuvas de verão, subir em árvores e jogar bola foram algumas das diversões que fizeram dos primeiros anos do menino uma infância saudável. As visitas ao sítio dos avós maternos, que reunia "o conforto da vida urbana com algumas características da rural" num distrito de Santa Maria, também ficaram na lembrança. Em Caxias do Sul, chegou ainda aos 10 anos e foi no município que, aos 18 anos, viveu as primeiras experiências no rádio, que, mais tarde, o levariam à televisão. A vinda para Porto Alegre aconteceu em 1990, quando foi transferido pela RBS TV.

Casado há 13 anos com a também jornalista Árima Stock, é pai de Vinícius e Gabriel, de 20 e 17 anos - do primeiro casamento -, seus dois orgulhos. "O amor mais profundo e descompromissado que se pode ter", acredita. O primogênito cursa Engenharia Elétrica, enquanto o caçula está prestes a concluir o Ensino Médio. Apesar de acompanhar o crescimento dos dois um pouco a distância, diz que aprende muito com os filhos e se esforça para estar sempre o mais disponível possível. "Um desafio futuro é ter uma rotina menos maluca para poder passar mais tempo com eles", conta.

Bastante caseiro, não se incomoda em chegar em casa sexta-feira e, se não tiver nenhum compromisso, permanecer no lar até segunda-feira de manhã. "Não me incomoda em nada, até me agrada. Minha alegria maior é poder ter meus momentos com a família, meus filhos e amigos íntimos", conta. O que faz nesse período? "Cozinho, limpo, arrumo, participo de tudo. Acho que se reunir com a família é algo que, muitas vezes, falta na rotina das pessoas", ressalta.

Extrajornalismo

Torcedor do Internacional, sempre que pode aproveita para assistir aos jogos do time do coração. "Não vamos entrar no mérito do momento atual", brinca. E acrescenta: "Acompanho bastante futebol, e não só as partidas do Inter. Gosto muito e, como jornalista, preciso me informar". Parte da proximidade com o esporte ganhou força nos cinco anos em que atuou no jornalismo esportivo, em Caxias do Sul, como setorista dos clubes Caxias e Juventude.

A leitura de jornais e revistas sempre foi um hobby para Stock, assim como a literatura. Na área, destaca as narrativas biográficas, os relatos históricos e livros-reportagens. "De tudo o que já li, hoje, me sinto quase um não leitor pela dificuldade de tempo para dedicar a boas leituras." No cinema, nada contra os blockbusters, mas os filmes preferidos sãos os "mais densos, com boa fotografia e narrativas concretas". Dono de uma pequena coleção de DVDs, aprecia produções de Charlie Chaplin, Al Pacino e Robert De Niro, entre outros. 'O escritor fantasma', 'Sob o sol da Toscana' e 'Sideway' também compõem o acervo do jornalista, assim como do cinema nacional.

Canções de Adele, Seu Jorge, Toquinho e Elis Regina são algumas das que ganham seus ouvidos. Mas garante que no campo musical não tem preconceitos. O estilo preferido é, de fato, aquele que lhe faz bem no momento. "Se gostar de uma música da Paula Fernandes, vou comprar o CD", explica.

Pensando no futuro

Conviver com os próprios erros, ainda que pequenos, é algo que sempre lhe incomodou. Pode ser no texto, na leitura, quando isso acontece "saio do trabalho pensando: "isso não poderia ter sido dessa forma"", conta. A origem dessa característica, ele explica: "Uma pessoa que trabalhou comigo sempre dizia que nós (jornalistas) não podemos errar. Aceitar o erro é aceitar a baixa qualidade. Se isso acontece, tenho que ter ao menos a humildade de corrigir." Acabou adotando a teoria. Outra particularidade está na organização, como consequência, diz que não tolera bagunça. Já a principal qualidade fica por conta do caráter. "Tenho meus princípios, meus valores, que são imutáveis", assegura.

Para os próximos anos, muitos planos estão guardados. Mas, "pensamento pé no chão, sem muitos devaneios. Sonho tem que ter o tamanho da capacidade de realização", brinca, e em seguida acrescenta: "Tem muitos lugares que pretendo visitar, muitos livros ainda que não li, gente que não conheci", comenta. Autor de 'Fale sem medo', publicado em 2002 pela editora Age, tem entre os projetos profissionais que se encaminham para a realidade a publicação de um novo livro. Desta vez, no entanto, a narrativa deve passar longe de assuntos relacionado ao Jornalismo. "Tenho na minha cabeça um roteiro pré-formatado. Falta pôr no papel", revela.

Acredita que escrever, para jornalista, é condição e não opção, e se diz realizado quando tem tempo para escrever qualquer coisa, "qualquer bobagem". Profissional de veículo e empresário, quer para o futuro uma rotina mais tranquila, mas destaca: "São apenas pretensões, vou me adaptando ao que vier."

Comentários