Claudia Tajes: Talento inerente

A atividade literária, garante ela, ajudou muito em sua trajetória como publicitária e redatora

Claudia Tajes - Reprodução

Discrição e simpatia são os pontos marcantes de Maria Claudia Tajes, uma profissional que, além de consagrar-se como uma das principais redatoras do mercado publicitário, faz parte agora também do time de escritores gaúchos. Aos 40 anos, a publicitária conquista cada vez mais leitores com sua empatia e encanta com seus textos sem pudores e cheios de humor. Quando adolescente, queria ser jornalista. Mas como o pai, Tito Tajes, atuava na área, não quis seguir a mesma carreira, e acabou cursando durante dois anos a faculdade de Geologia, na Ufrgs.

Depois, Claudia estudou durante um ano Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Não se formou em nenhuma das faculdades, mas enveredou pela propaganda: a primeira experiência foi na então poderosa MPM, em 1985, como redatora de criação. Desde então, Claudia vem consolidando sua carreira como redatora publicitária em diversas agências da capital. Na década de 80, atuou também na Martins+Andrade, Nova Forma e McCann Erickson. Em 1986, trabalhou no departamento de comunicação do extinto Diário do Sul, pertencente ao grupo Gazeta Mercantil.

Em 1989, foi contratada para trabalhar na redação da DCS, onde atuou até 1993, quando saiu da agência para integrar a equipe da Paim Comunicação. Em 1995, retornou para DCS, onde contabiliza agora mais de 10 anos de casa como redatora.

A discrição com humor

Em 2000, Claudia estreou na literatura com a novela "Dez (quase) Amores", pela editora L&PM. Segunda conta, sua estréia literária foi por acaso. Em 1999, depois de ter passado por uma fase difícil na vida, começou a dedicar-se a escrever textos "como uma forma de desabafo". Pouco tempo depois, quando achou que deveria publicar o que produzira, apresentou os textos para os editores da L&PM. Resultado: a primeira obra já está na sua sexta edição.

"Depois disso eu nunca mais tive vontade de parar de escrever", conta. Segundo a escritora Cíntia Moscovich, Claudia demonstra, desde sua estréia, "uma habilidade espantosa para desencavar a graça do seio da desgraça". Colocar humor nos amores errados e nos desencontros do cotidiano vem norteando os temas dos três outros livros já publicados: As Pernas de Úrsula (2002), Dores, Amores & Assemelhados (2002), ambos lançados pela L&PM, e Vida Dura (2003), pela editora Planeta.

Neste seu mais recente romance, conta as desventuras de um doador de sêmen profissional. No próximo ano, ela pretende lançar sua quinta obra, que vem preparando ao longo deste ano. O livro tratará da vida sexual de uma mulher feia. Claudia revela que nunca esperou que a carreira como escritora rendesse tantos êxitos. Mas ressalta que a atividade paralela auxiliou muito em sua trajetória profissional como publicitária e redatora. "A gente abre a mente. Essa coisa de publicitário se alimentar de propaganda sempre chega num ponto que esgota", afirma.

A inspiração para escrever vem das histórias que escuta das pessoas que convive. "Geralmente na segunda-feira todo mundo volta com novidades do fim de semana. Eu fico impressionada como todas histórias são parecidas. Só dou uma transformada e coloco um toque de humor. E as pessoas gostam. Que bom, porque eu tenho prazer de escrever", diz.

Offline

Claudia tem um filho, Theo, de 11 anos, fruto do seu casamento com Ricardo Lima, diretor de arte falecido em 2003. Theo é seu companheiro nos programas da lazer e nas horas de folga. Claudia tenta sempre conciliar seu trabalho com as atividades do filho. "Quando posso, levo na escola. A gente vai se adaptando, tento ver ele sempre que há um tempo. Nos fins de semana, eu transporto crianças de um lado para outro. Carrego o Theo e os amigos para tudo que é lugar", diz.

Theo, além de incentivar, prestigia o trabalho de Claudia como escritora. "Ele acha o máximo me ver escrevendo. Fica orgulhoso. Não que seja grande coisa, mas pelo menos ele vê que a mãe dele está tentando", brinca Claudia. Após encerrar suas atividades na agência, Cláudia vai para casa descansar e aproveita para organizar suas tarefas para o dia seguinte: "Depois de chegar em casa, e depois de ajudar o Theo nas lições, eu vou escrever minhas histórias".

A escritora considera-se uma pessoa "não muito descolada", e por isso diz que prefere sempre ficar "na sua", quando está em casa. Viagens também estão incluídas nos programas com Theo e a mãe de Claudia, que sempre a acompanha nos passeios. "O destino é quase o mesmo nas férias, sempre vamos para o litoral". Como atividade física, ela pratica ginástica - geralmente de manhã cedo -, e corrida.

Nos fins de semana, aproveita para ir ao cinema, mas com um detalhe: dispensa filmes violentos. Nas preferências estão produções de Woody Allen e Steven Spielberg. Como não poderia ser diferente, a leitura também está muito presente na vida da escritora. Entre os autores favoritos estão Pedro Juan Gutierrez, Gabriel García Márquez, Sérgio Faraco, Luis Fernando, Verissimo e Martha Medeiros. "Procuro ler sempre as obras dos escritores gaúchos", diz. Na cabeceira está o livro "Reparação", do autor britânico Ian McEwan. Claudia destaca que deseja continuar atuando na propaganda e que não tem planos de parar. Para o futuro, almeja escrever roteiros.

Segundo ela, já surgiram convites para ser roteirista tanto para novelas quanto para filmes. Porém, lamenta que atualmente não tenha tempo disponível para participar destes projetos, já que o trabalho exigiria dedicação exclusiva, o que faz com que o sonho permaneça engavetado. No entanto, ela adianta que um de seus livros será adaptado para o cinema logo e que isso a motiva mais ainda para continuar investindo na literatura. "Acho que uma hora vai sair alguma coisa".

Uma tirada repetida por Claudia conta que quando seus leitores a conhecem pessoalmente, há uma constatação comum: "Como uma pessoa tão quietinha pode escrever essas barbaridades todas?" E, para as pessoas que a questionam se as coisas que escreve já aconteceram com ela, sempre responde com a maior tranqüilidade: "Se tivessem acontecido, eu teria me divertido muito mais nessa vida".

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