Tatata Pimentel: Tatata, este irreverente

A irreverência e o famoso "estilo" já aparecem ao revelar o seu nome: "Ninguém sabe, ainda bem". Roberto Valfredo Bicca Pimentel

A irreverência e o famoso "estilo" já aparecem ao revelar o seu nome: "Ninguém sabe, ainda bem". Roberto Valfredo Bicca Pimentel é, na verdade, o estimado comunicador e professor Tatata Pimentel. Aos 66 anos, ainda um amante voraz de literatura, no comando do "Gente da Noite", da TVCom, consagra-se como o apresentador de TV da noite mais requisitado nos badalados eventos da Capital. Porém, ele não é proveniente do mundo da comunicação. Tatata foi um dos professores mais conhecidos nas décadas de 1970 e 1980, quando ensinava aos alunos dos colégios Infante Dom Henrique e Júlio de Castilhos as línguas portuguesa e francesa. A capacidade de se comunicar e se relacionar bem com as pessoas nunca foi desafio para o polêmico Tatata que, com seu jeito extrovertido e elegante de ser, encanta a todos, tanto telespectadores como amigos ou colegas.


Tatata nasceu em Santa Maria, mas já se considera um porto-alegrense, pois reside na Capital há muitos anos. Veio para Porto Alegre ainda criança, com toda a sua família. Já naquela época amava ler e sabia o que queria: seguir os passos da mãe, ser professor. Eu sempre quis dar aulas, independente disso dar dinheiro ou não",conta. Prestou vestibular para os cursos de Letras e Direito, na Ufrgs. Durante o tempo da faculdade, Tatata só dedicou-se aos estudos - tanto, que o seu desempenho rendeu-lhe um bolsa de estudos de Letras na Universidade Francesa de Dakar, em Senegal, na África.


Em 1964, formou-se nos dois cursos e, um ano depois, iniciou sua carreira de professor no Infante Dom Henrique e no Colégio Júlio de Castilhos, o Julinho. Em 1972, o visual "londrino" de Tatata, estilo adotado durante suas viagens pela Europa, chamou a atenção do jornalista José Antônio Daudt, que convidou-o para participar do júri do programa de auditório "Puxa e a Gaúcha", na TV Gaúcha. "O programa de auditório era a grande glória daquela época", lembra, ao falar sobre a primeira das inúmeras participações em programas televisivos.


Em 1974, foi contratado pelo Canal 10, atual TV Bandeirantes,  onde atuou por quase 20 anos, participando de programas consagrados como "Domingo Alegre", "TV Mulher" e "Porto Visão", que perdura até hoje na emissora. Saiu do canal para assumir o quadro "Champanhe", da TV Guaíba. "O meu trabalho em televisão sempre foi ligado a eventos de Porto Alegre, com comentários de escritores, artistas plásticos, músicos, sobre cinema, gente e festa", explica. Em 1989, decidiu cursar Jornalismo, na Famecos, faculdade da PUC na qual viria a ser professor, alguns anos depois, das disciplinas de Teoria da Comunicação e Português. Lecionou para os alunos da Comunicação Social durante 13 anos.


Da sala de aula para a TV


Foram tantos "feitos", que nem ele próprio lembra de todas as datas. Durante os 32 anos de trajetória na TV, conciliou ainda sua carreira de professor com sua atuação como comunicador. "Passei 15 anos dando aulas no Júlio, 10 no Infante e 13 na Famecos. Parei de dar aulas porque não consegui mais conciliar o magistério e a TV", explica. Em 1996, foi convidado por Roberto Appel, naquela época diretor da TVCom, para comandar o programa diário "Gente da Noite". Há dois anos, participa também do "Café TVCom", que foi idealizado juntamente com sua amiga e colega Tânia Carvalho. O apresentador confessa que nunca imaginava ser um profissional de TV, mas que sabia que sua facilidade de se comunicar e falar abririam outros caminhos, além do de ser professor. "A vida inteira eu sempre brinquei de fazer televisão. O trabalho só tornou-se profissional quando entrei para a TVCom. Antes, a minha profissão era o magistério", revela. Tatata salienta que, hoje, não sente falta de dar aulas, pois está muito satisfeito com a ótima repercussão que o programa vem tendo. "A televisão não dá tempo de pensar em dar aula", diz.



Vida na noite


Tatata não tem uma rotina comum de apresentador de TV. Ele só grava as entrevistas, que são editadas pela equipe de produção do "Gente da Noite". De manhã faz a leitura de todos os jornais e vai definindo as pautas. Após verificar os convites, programa o roteiro com a equipe da TV para a gravação do dia. A prioridade é cobrir eventos que facilitem a gravação, como espetáculos de dança, ópera, música e exposições de artes plásticas. "Eu priorizo o que melhor funciona em televisão. Com a experiência, sei o que dá para ir ao ar e o que não funciona", explica. No meio da tarde, começa a se organizar conforme o evento da pauta.


Ele não tem filhos e mora em um apartamento com os dois sobrinhos-netos, Tiago, 19 anos, e João Henrique, 17. "Lá, a briga é eterna. Cada um lava a sua roupa e limpa as suas coisas, inclusive eu, que prefiro cuidar sozinho das minhas", revela. Nos fins de semana, dedica o tempo livre para organizar e colocar em dia seus afazeres domésticos. "Eu não tenho empregada nem quero ter", conta.


Nas horas de folga, o elementar: Tatata gosta de ler, e, preferencialmente, obras de filosofia contemporânea, em língua francesa. Outra de suas paixões é escutar música clássica. "Só que deve ser apreciada em sua profundidade, com fones de ouvido. Tenho aparelhos de som pela casa inteira. Mas não escuto música clássica para ficar como pano de fundo de conversa", diz. Em outros momentos de lazer, pratica caminhadas: "Gosto muito de caminhar no Parque da Redenção."


Quando pode, vai para a cama cedo, mas confidencia que seu verdadeiro descanso é mais que dormir: "O meu descanso é ir deitar sabendo que não tenho nenhum compromisso agendado para o outro dia. Aí, eu durmo feliz". Tatata sofre de insônia e terror noturno e, por isso, canaliza a maioria de suas atividades à noite, fazendo jus ao nome de seu programa. "Não sei se tem relação com a doença, mas a minha vida é à noite", confessa. 


Parar nem pensar!


Entre as inúmeras viagens pelo exterior já realizadas, Tatata destaca as últimas: visitas a cidades do Leste Europeu, como Berlim, Viena, Praga e Budapeste. Anualmente, nas férias, cumpre a mesma rotina: vai à Europa para passear e renovar o guarda-roupa. Faz parte de seu modo de ser: ele aponta como qualidade seu senso crítico e atento para o mundo moderno. "Para ter uma idéia, eu leio os jornais, rabiscando-os, fazendo anotações sobre as notícias e corrigindo os erros de português". O defeito dele? "Eu sou neurótico e muito chato", explica Tatata, dizendo que é demasiadamente exigente consigo e com os outros, em relação às suas atividades profissionais. "Eu cobro muito, mas sei que nem todas as pessoas estão a fim de serem perfeitas". Atribui a mania de exigir ao fato de gostar muito de trabalhar e à sua filosofia de vida, que é de ser cada vez mais competente. "No mundo de hoje, só a competência ganha", enfatiza.


A paixão pelo que faz e a realização profissional também o motivam a continuar traçando projetos para sua carreira. "Não tenho a menor idéia do que seria de mim se eu não precisasse trabalhar. Mas isso não está nos meus planos", diz. Tatata Pimentel salienta que, aos 66 anos, não pode mais fazer planos e projetos para o futuro. Porém revela que um sonho que acalenta é dar aulas para crianças. "Atualmente eu vivo assim. Cuido da saúde, faço aniversário e dou graças a Deus que estou vivo".

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