Tatiana Forster: Política na veia, gastronomia no coração

Entre receitas e panelas, jornalista descobriu sua grande paixão fora da comunicação, das campanhas eleitorais e dos comícios

Tatiana Forster | Crédito: Gustavo Roth

Nascida e criada no universo político do Rio Grande do Sul, graças ao trabalho ativo de seu pai, André Forster, a jornalista Tatiana Forster - que dirige a Programação, Produção e Operações da TVE da Fundação Piratini - recorda, com carinho e orgulho, os primeiros passos nos bastidores de campanhas e do trabalho do patriarca, que foi presidente estadual do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Muito em função da carreira dele, ela participou desde as manifestações públicas de candidatos e do próprio partido, como carreatas e passeatas pelo Estado, viagens e reuniões internas da sigla até a colagem de cartazes pelos muros da cidade e visitas a comunidades carentes. Também se lembra de enxergar a mãe, Iara Rosa Leite, pintando camisetas e confeccionando bandeiras, manualmente, em casa e nos comitês. Acredita que, dos quatro filhos, sendo um do primeiro casamento de André, foi a herdeira que mais se envolveu no meio.

Quando estava prestes a completar 19 anos, perdeu o pai, vítima de câncer, em 1996. Devido ao legado e à participação dele no cenário político, ela foi convidada a resgatar e abordar isso em um programa de televisão como entrevistada. Na época, era estudante de Jornalismo da Ulbra e conta que, em seguida, surgiu a primeira oportunidade de atuar com TV para apresentar uma atração nacional no setor político. Com este trabalho, uma produtora local a contratou para conduzir a apresentação de um projeto audiovisual do candidato Nelson Harter, que concorria à prefeitura de Pelotas. A partir daí, não parou. "A TV foi me puxando e me envolvendo cada vez mais", diz, completando que quis ser jornalista para escrever em impressos, o que nunca aconteceu.

O tempo passou e, em 2002, coordenou a área de senadores que disputavam uma vaga pelo Estado, durante a campanha de Germano Rigotto para governador do Rio Grande do Sul. No final do primeiro turno, mesmo diante dos 3% de aprovação do aspirante ao cargo nas pesquisas eleitorais, aceitou integrar o núcleo de Produção no segundo turno, quando realizou alguns 'milagres'. "Tarefa dada, missão cumprida", fala, exemplificando com o dia em que um dos marqueteiros a procurou e pediu que encontrasse uma criança, chamada Vitória, que nascesse na data do último programa do Rigotto. "Encontrei no Hospital Fêmina. Foi lindo."

Uma pitada de loucura

A mãe da Amanda, de 19 anos, e do André, de 8, tem uma rotina bastante agitada. Separada há quatro anos, acorda cedo, deixa os herdeiros na faculdade e nas atividades esportivas na Sogipa, respectivamente, e se desloca para o trabalho. No intervalo do almoço, transporta os filhos novamente e retorna às demandas da TVE. À noite, mesmo cansada, faz questão de preparar a janta para a dupla, com quem divide um apartamento no bairro Chácara das Pedras, na Zona Norte de Porto Alegre. Confessa que é na cozinha, em meio aos temperos e panelas, que se encontra. O gosto pela prática vem desde a infância, quando, após a separação dos pais, foi morar com o patriarca e passou a cozinhar por prazer.

Essa paixão a fez, recentemente, encontrar uma brecha na agenda e retornar à universidade, agora na condição de aluna do curso de pós-graduação em Gastronomia e Cozinha Autoral na PUC. Em todas as sextas-feiras à noite e sábados o dia inteiro, volta sua atenção para aquilo que faz o coração bater mais forte. "Não sei por que estou fazendo a especialização, mas estou amando." Ainda assim, garante que está enlouquecida com as aulas, pois elas abriram sua mente para o mundo e lhes deram mais vontade de aplicar todo conhecimento nos pratos em casa.

Entre os aprendizados, passou a refletir sobre a memória que os alimentos deixam na vida das pessoas. "Que lembranças quero deixar para os meus filhos?", questiona-se. Para ela, as refeições são um ritual em torno da comida que merecem ser lembradas, no futuro, com alegria. Dedicada e sem nenhum tipo de restrição, a defensora de pratos simples, mas saborosos, come de tudo. Mesmo cozinhando todo o tipo de receita, a que faz sucesso mesmo é maionese, a qual os amigos e familiares apelidaram, carinhosamente, de salada de baTati. "Não é o que mais curto, mas o pessoal sempre exige que eu faça."

Para esquecer

Com a vitória de Germano Rigotto para comandar o Governo do Estado, a jornalista assumiu um cargo comissionado na TVE, onde teve sua primeira passagem pelo veículo, que somou oito anos. Começou como produtora, passando por diferentes atrações, sob a direção-geral de Carlos Bastos, a quem demonstra gratidão pelas oportunidades dadas. Em uma delas, foi parar na reportagem do programa Radar e, logo depois, na apresentação da atração ao lado de Leo Felipe, com quem compartilhou muito conhecimento musical. Na atração, conviveu com bandas das quais se tornou fã, como Bidê ou Balde, Cachorro Grande, Papas da Língua, Ultramen e Vera Loca. "Amo os conjuntos do nosso Estado e isso tem tudo a ver com o Radar", expôs, acrescentando que o contato com esse mercado se deu, ainda que de forma tímida, na infância, quando seus pais escutavam discos de vinil.

Do período, não esquece de momentos engraçados. Dentre eles, a confusão ao vivo que fazia com o nome dos colegas Domício e Dirceu, que virou motivo de piada interna da equipe; os músicos que chegavam bêbados para participar do Radar; e o copo plástico que ficou na bancada durante a exibição de um jornalístico. "Ninguém no estúdio viu e ficou muito bagaceiro." Ainda, guarda, orgulhosa, as aparições na telinha nos telejornais do meio-dia e da noite, apesar de ter sofrido de Síndrome do Pânico durante uma fase na emissora. "Pensava que ia morrer toda vez que entrava no ar." Procurou ajuda, com tratamento supervisionado por psiquiatra, mas não quis voltar à apresentação e, desde então, nunca mais esteve em frente às câmeras.

A atuação no canal de TV pública se estendeu até o fim do mandato de Yeda Crusius, em 2011. Ao sair do veículo, com o desejo de se desvincular da política, fundou a Carlota Filmes, produtora com a qual buscou fazer conteúdos audiovisuais, principalmente na área da Gastronomia. Em dois anos, criou canais de receitas, como o Receitas para Compartilhar e Receitas Zaffari, produziu filmes para construtoras e se especializou em vídeos empresariais. Dentre eles, destaca o trabalho para a operadora Claro em comemoração ao aniversário de Brasília.

Apesar da vontade de sair da política, "a cachaça" falou mais alto e, em 2015, aceitou o convite do jornalista Tiago Dimer para coordenar a campanha de TV e rádio do então candidato José Ivo Sartori, atual governador gaúcho. Segundo Tati, como é chamada pelos colegas de mercado, a experiência foi ótima e lhe oportunizou conhecer melhor o trabalho do aspirante em Caxias do Sul, onde era prefeito. Após Sartori ser eleito, a jornalista atuou como coordenadora de Eventos na Secretaria de Comunicação do Estado por um curto período e, logo em seguida, a convite do presidente da Fundação Piratini, Orestes Andrade Jr., assumiu como diretora de Programação, Produção e Operações da TVE, função que desempenha desde janeiro de 2017.

Sem medo de se reinventar

Com quase 20 anos de carreira, Tati busca conduzir sua trajetória inspirada em seu pai, pelo legado que deixou não somente no meio político, mas também pelas ideias à frente do tempo. Profissionalmente, tem como referência o jornalista Ricardo Boechat, da Band, devido ao jornalismo opinativo não ser sensacionalista e com argumentos, e o sócio e fundador da Perestroika, Tiago Mattos, por defender uma educação menos verticalizada e postos de trabalho mais horizontais.

Não sabe o que estará fazendo daqui a cinco anos, mas segue na esperança de conseguir deixar de vez a atuação com política. "Quem sabe agora, na especialização, alguém me dá uma chance em alguma cozinha?", brincou, às gargalhadas. Além do riso fácil, entre as características estão o gosto por trabalhar, não ter frescura e pôr a mão na massa, literalmente. Ao mesmo tempo, avalia que teimosia é seu grande defeito, porque, "depois que passa uma determinada situação, vejo que nem sempre tenho razão".

Se pudesse, a irmã-gêmea de Leandro estaria viajando neste exato segundo, preferencialmente para o Rosa, em Santa Catarina, na companhia dos amigos. De todas as praias que visitou, estimula, sempre que tem oportunidade, que as pessoas conheçam Fernando de Noronha. Para ela, nenhuma fotografia é capaz de retratar com fidedignidade as paisagens e a beleza da natureza daquele lugar. Seu sonho é morar de frente para o mar e espera que possa realizá-lo no futuro. "Bem clichê, tá? Nunca é tarde para se reinventar", declara, referindo-se ao fato de que não tem medo de mudança e nem das voltas que o mundo dá.

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