Ticiano Kessler: Escolha certa

Embora cogitasse seguir outra carreira, a convicção de ser jornalista surgiu ainda na adolescência e, assegura, foi definitiva

Ticiano Kessler - Divulgação

Ele passou por quase todas as empresas de comunicação do mercado gaúcho e foi na Band RS onde fincou pé. Lá desde 2013, Ticiano Kessler conta que tem orgulho da escolha que fez, pelo fato de a empresa sempre ter permitido que ele exercesse com liberdade a profissão pela qual é apaixonado. Embora tenha chegado a cogitar ser engenheiro civil, por influência do pai, Antonio Carlos, que trabalhava na área da construção, a convicção de ser jornalista veio aos 16 anos de idade, quando se inscreveu no vestibular.

A inspiração para a carreira foi da escola Concórdia, em Porto Alegre, na qual, lembra, teve professores de Português muito exigentes. "Ali, comecei a gostar de escrever, função que me levou a optar pelo curso, e nunca havia projetado trabalhar em rádio e televisão. Porém, pouco escrevi para ser lido e muito para ser ouvido e visto", compara. Já no colégio, se envolvia com questões relacionadas com a comunicação, como jornais internos, por exemplo. Por não ter ninguém na família que fosse da área, os pais questionaram a escolha, mas Ticiano estava certo de que este era seu destino.

Pelos corredores das redações

Formado em janeiro de 2001 na Famecos, foi, ainda durante a faculdade, que começou a trabalhar. Lembra com carinho do primeiro estágio na rádio-escuta nos porões do Palácio Piratini. Saudoso, cita alguns gestores que marcaram sua passagem no local, como Otília Souza e Clélia de Matos, que o acompanharam nos últimos seis meses do Governo Britto e no primeiro meio ano do Governo Olívio.

Dessa experiência foi para a rádio Gaúcha para produzir o programa Faixa Especial, na época comandado por André Machado e Cristina Vieira. Também dividia seu tempo com as aulas e com a TV Foca, na universidade, na qual era estagiário das professoras Cristiane Finger e Lígia Tricot. Nessa mesma época, a primeira docente foi convidada para apresentar o telejornal local do SBT RS, e Ticiano foi junto para compor a equipe. Orgulhoso, fica feliz ao perceber que participou da reabertura do jornalismo local da emissora.

Ficou na casa entre maio de 2000 e abril de 2003, quando ingressou na equipe da rádio Guaíba, onde ficou pelos seis anos seguintes. Nesse meio-tempo, de 2005 a 2008, com idas e vindas, trabalhou simultaneamente na TV da Assembleia Legislativa, fazendo transmissões do Plenário. "A experiência da rádio se encaixou no perfil de quem eles precisavam, que era de alguém que segurasse uma transmissão ao vivo enquanto nada acontecia", recorda, lembrando que, naquela época, estava tão feliz em rádio, apresentando o 'Acorda Rio Grande', que nem pensava em retornar para a TV.

Porém, em 2007, seus planos mudaram com a chegada da Record ao Rio Grande do Sul, que comprou a extinta TV Guaíba e a emissora na qual trabalhava. A convite do então gerente de Jornalismo da Record RS, Virgílio Abranches, deixou a TV AL para ser produtor. A função, que surgiu pelo fato de ser setorista de segurança na Guaíba, durou breves quatro meses, pois logo foi chamado para ser repórter televisivo.

O funcionamento do trabalho já era conhecido por ele, devido às experiências anteriores. O desafio, no entanto, era novo: trabalharia na madrugada. "Vivi uma das experiências mais desafiadoras da minha vida", declara. Ficou por um ano e meio lidando diretamente com crimes das mais variadas escalas. "A partir daquele momento, passei a ver o quanto tinham situações muito piores do que a minha e perceber como a gente reclama de barriga cheia", analisa. Embora o clima fosse pesado, tem certeza de que foi um período de muito aprendizado e o tornou um ser humano melhor.

Todo mundo é fonte

Sempre pautou sua atuação como jornalista com a seguinte premissa: "Todo mundo é fonte". "Faço uma avaliação com frequência de quantas pessoas foram importantes na minha vida. Tem gestores e colegas, claro, mas os entrevistados foram as mais significativas, porque tiveram disponibilidade de falar comigo, propuseram-se e me abordaram na rua. Aprendi a ouvir todos e, para mim, o jornalismo é assim", sentencia.

Se as fontes são muitas, imagine as histórias. Ticiano, que faz matérias para a editoria da Geral, também substitui o colega Filipe Peixoto, repórter de rede da Band TV. São tantos os relatos, mas de um jamais esqueceu. Foi em seu primeiro trabalho enquanto profissional do Grupo Bandeirantes. Com carta branca da chefia, produziu uma série de reportagens especiais sobre pessoas que trabalham com medo, conteúdo que ganhou o título de 'Trabalhando com medo'. "Ganhei a liberdade de procurar histórias, e isso é o que eu mais acredito no Jornalismo."

Palco de tiroteio, uma casa lotérica foi o cenário de um dos episódios, e o personagem era um policial miliar que, conforme lembra Ticiano, havia levado mais de 10 tiros. "Eu achava que ele tinha morrido, mas o pessoal da empresa disse que ele tinha sobrevivido. Isso enriqueceu o material." Para o jornalista, embora a produção seja essencial, estar na rua faz toda a diferença. "Na rua, a gente encontra coisas que, muitas vezes, em uma ligação tu não vais descobrir. Isso é a essência da reportagem."

Ele foi para a Band trabalhar na edição local do Brasil Urgente e também participava do Band Cidade, até começar a fazer, ainda, matérias para a rede. Inclusive, chegou a ser sondado para deixar o Estado para integrar o time da Bandeirantes em São Paulo. Contudo, considera suficientes as matérias que produz para serem transmitidas nacionalmente. Uma delas foi bem recente, quando, em novembro último, esteve na Argentina para acompanhar as buscas de um submarino desaparecido. "Fui para São Paulo para ficar duas semanas e acabei permanecendo pouco mais de um mês", cita.  

Contabiliza que, somente em 2018, produziu nove reportagens especiais, entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. "Ao mesmo tempo em que tu pensas que é mais uma viagem e um tempo longe de casa, vem o sentimento de que é mais uma oportunidade. Estar na estrada, rodando, é a melhor forma de aprender e crescer", acredita, ao mencionar que conhece todos os cantos do solo gaúcho, de ponta a ponta, sem contar os assuntos diversos que aborda. "Isso estimula o repórter, é a arte de contar histórias."

Quando sobra tempo...

Estar na rua, em frente ao prédio que morava no bairro Navegantes, é a principal lembrança da infância. Nascido em Porto Alegre, recorda que, naquela época, brincava muito com os vizinhos, subia na pitangueira da rua e jogava bolita nos canteiros, sempre sob o olhar atento da mãe, Rosane. "Tive uma infância muito saudável. Nunca aconteceu nada, a não ser um tombo e um joelho ralado e isso me marcou muito." Recorda que, embora a família não tenha passado dificuldades no que se refere a finanças, foi uma infância simples, quando um jogo de pega-pega era o suficiente para se divertir.

Saudoso, comenta da irmã caçula, Taiane, que deixou o Brasil há pouco mais de um ano para morar na Austrália. A saudade é tanta que está planejando uma visita e, por enquanto, a dupla reserva as manhãs de sábado para se comunicar, em função do fuso horário. "Quando criança, a gente não se aguentava, mas agora é só amor", garante.

Aos 38 anos, é casado e divide a morada com a vira-latas Zuleika, que foi resgatada no litoral gaúcho, pela mãe, que reside em Tramandaí. Aliás, a praia é quase sua segunda casa, pois vai com frequência para visitar os pais e para administrar o portal de notícias Litoral na Rede, o qual criou em 2016. Devido ao site e às viagens, sua rotina é intensa e tempo de sobra que é bom, quase não tem. Mas, para ele, isso não é problema. "Não tenho medo de trabalhar. Além de enobrecer, é a única maneira de tu cresceres de forma consistente", pontua e acrescenta que largar o ofício não está nos planos, apenas pensa em desacelerar.

Nesses raros momentos de descanso, aproveita para assistir a um pouco de televisão. Como trabalha no veículo, confessa que acompanha TV não como telespectador, mas como jornalista, buscando referências e aprendizado. "É extremamente importante ver o que está acontecendo no mercado e quais são as novidades. É preciso estar atento", destaca. Também gosta de série, com destaque para as de drama e de comédia, especialmente quando está um pouco mais estressado. 

Entretanto, o que realmente prefere quando está de folga é se reunir com os amigos e com a família. Pelo fato de apreciar uma mesa farta, não hesita em convidar as pessoas para degustarem seus pratos. Estar na cozinha, para ele, é uma terapia. No que diz respeito à leitura, admite que tem lido menos do que gostaria e, quando consegue, acaba focado em obras dedicadas ao trabalho, e que estejam relacionadas, especialmente, à convergência digital, assunto do qual é especialista pela Unisinos.

Repassando conhecimento

Como se não bastasse a vida agitada pela Band TV e pelo site Litoral na Rede. Ticiano é funcionário horista da Faculdade São Francisco de Assis - Unifin. Afastado da docência desde 2017, lecionou, durante três semestres, nas disciplinas de 'Telejornalismo' e 'Técnicas de Entrevista e Reportagem'. Gosta de repassar seus conhecimentos, mas entende que não tem tempo suficiente para se dedicar à sala de aula. Pensa, sim, em voltar, mas, primeiro, precisa encaixar os horários na agenda.

Em função da rotina intensa, pouco consegue se exercitar e deixa a atividade física a cargo dos dois passeios diários com Zuleika, porém, tem como meta para 2019 voltar a frequentar a academia. Ainda sobre esporte, é colorado por influência da família e muito foi ao Beira-Rio torcer pelo Internacional. Mas, mais uma vez, a falta de tempo foi responsável por deixar as idas ao estádio. "Sou aquele torcedor que vibra quando o time ganha, mas não sofre quando ele perde. E não vou entrar em briga nem estou preocupado com provocação", assegura.

Batizado na igreja católica, resume seu envolvimento com a religião na crença em Deus. Não frequenta templos e respeita todas as filosofias e doutrinas. "Existe uma força muito grande que é Deus e, graças a ele, estamos aqui. Essa é minha fé", esclarece e, por isso, convive tranquilamente com pessoas que seguem todas as crenças.

Persistente, teimoso e workaholic são três palavras que Ticiano escolhe para resumir sua personalidade. Confessa, já foi pior e mais intenso, mas, com a vivência, conseguiu dar uma equilibrada. Ao mesmo tempo, considera-se impulsivo e aficionado ao trabalho, e, também, paciente com as pessoas. "O jornalismo me ensinou a necessidade de dividir e de ensinar", declara. No entanto, se tem uma característica que segue na sua essência, essa é a perseverança: "Quando eu quero algo, vou atrás. Me prova que eu não consigo".

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